Augusto dos Anjo |
Conheci os dois no Liceu Nilo Peçanha em Niterói. O neto pessoalmente; o avô, nos
compêndios e seletas literárias que éramos obrigados a estudar, alguns de nós prazerosamente.
Não
sei se o poema mais importante do avô é o intitulado “Versos íntimos”, abaixo transcrito, mas era o
mais comentado e meu preferido.
Versos
Íntimos
Vês?!
Ninguém assistiu ao formidável
Enterro
de tua última quimera.
Somente a
Ingratidão — esta pantera —
Foi tua
companheira inseparável!
Acostuma-te
à lama que te espera!
O Homem,
que, nesta terra miserável,
Mora,
entre feras, sente inevitável
Necessidade
de também ser fera.
Toma um
fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo,
amigo, é a véspera do escarro,
A mão que
afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém
causa inda pena a tua chaga,
Apedreja
essa mão vil que te afaga,
Escarra
nessa boca que te beija!
O neto começou homenageando uma namorada “inventada”, idealizada
na juventude, de origem humilde, que chamou de Aline, no poema a seguir.
Aline
“Aline
surgiu entre os humildes que entoavam uma canção
Olhos
ternos e tensos multiplicavam-se na tarde
Não se
distinguiam as crianças dos criminosos na diluição ébria da taberna
Aline de
cabelos longos
Sugeria
uma flor à beira do abismo”.
Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos, ou Augusto dos Anjos, o avô, nasceu no Engenho
Pau d’Arco, no município de Cruz do
Espírito Santo, no Estado da Paraíba. O neto, Ricardo Augusto dos Anjos, ou Ricardo dos Anjos, nasceu
em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro.
Vejam, e ouçam, o que o neto falou sobre o avô, na entrevista encontrável em http://www.youtube.com/watch?v=e6KV6UtO6l4
O avô foi poeta, professor e advogado, colaborou em jornal. O neto
é poeta, jornalista e redator publicitário, inventando verdades (Mad Men). Está aposentado, mas mantém
atividade intelectual.
Foi buscar paz e tranquilidade na aprazível Nova Petrópolis, na
Serra Gaúcha, mas não conseguiu passar despercebido. Identificado, foi
personagem de uma matéria no jornal local – O Diário – em seguida reproduzida.
"O Diário
Destaque da Semana
Em 16/5/2012
Ricardo dos Anjos |
Nota do blogueiro: Ricardo segue Fernando Pessoa, endossando o conceito do lusitano: “ O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente ”
Nota do blogeiro 2: Conheça um pouco de Nova Petrópolis clicando no link http://www.youtube.com/watch?v=RaJuOHwp4VQ
Esta poema do Augusto dos Anjos é bastante conhecido. E tem uns versos inteitamente verdadeiros. Pouco mais ou menos o seguinte, se bem entendi: é irresistível a vontade de se comportar e reagir como fera, nesta selva em que se transformou a vida em sociedade. Tem sempre, em todas as situações, gente falsa, egoísta, covarde,violenta. Não que as feras irracionais, selvagens, tenham todos estes instintos, mas nelas seria justificável. No homem não.
ResponderExcluirCorrijam-me se estiver errado.
Parabéns Ricardo, por você mesmo e pelo avô.
Ele fez parte da Academia Brasileira de Letras?
Gusmão,
ResponderExcluirVocê leu "Agrolírica", em http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2012/03/carta-da-serra-gaucha-rs.html
Até comentou. Lembra?
Abraço
Eu te topei no Google procurando o Ricardo poeta, rsrs
ResponderExcluirNem é preciso dizer que os homens se comportam como feras, Augusto é muito atual e vai ser pra sempre...
Neste endereço a seguir você encontrará um post do Ricardo publicado aqui no blog, para minha alegria:
ResponderExcluirhttp://jorgecarrano.blogspot.com.br/2012/02/carta-da-serra-gaucha.html
(precisa selecionar e colar na barra do navegador)