SINOS NÃO SÃO AFEITOS AO SILÊNCIO
Sinos dobram. Por quem e por quê. Nasceram pra isso. Só não podem, e não devem, ser dobrados pela (in)justiça a silenciar como quis (mas não levou) um cidadão ranzinza aqui em Nova Petrópolis, que se sentiu incomodado pelos sonoros badalos. E, seguindo a máxima de que “os incomodados que se mudem”, após pendenga perdida na Justiça, ele mudou. Silenciou, ao invés dos sinos que continuam a anunciar a aurora, o meio-dia e o pôr-do-sol à comunidade nova petropolitana.
Ora, a sonoridade dos sinos desperta, uma vez reencontrada, traz à tona, revolve, sentimentos de ontem. E envolve os de hoje. E sempre me deixam com vontade de ter escrito o que a blogueira Dayana Nóbrega postou no Lemon Drops. Eis o texto dela:
“Eu sento cansada do dia de hoje e em seguida deito meu corpo no chão, com os olhos fechados. O vento corre por mim e pelos sinos. Os sinos soam, e deixam-me ser. Deixam-me ser livre, deixam-me ser simples, deixam-me ser eu.
Pisco os olhos, e, por impulso, abro-os de novo em uma sensação de ter visto algo incomum. Vejo céu, vejo estrelas, vejo sonho. Mergulho no infinito escuro com e pontinhos de estrelas que fazem meus olhos brilhar, com um vento que me arrasta e me faz voar, com sinos que sussurram sorrisos ao pé do meu ouvido. Posso sentir o gosto do alto, posso sentir o cheiro do utópico, sou tomada pela deliciosa sensação do impossível, me encho de mim mesma e permito meu corpo agir conforme sua vontade. Levanto-me e danço sob as estrelas, bailo ao soar dos sinos, sinto você aqui e sorrio.
O céu clareia, o infinito ganha cor e meu corpo ganha peso. Eu me deito novamente e fecho os olhos devagar. O sorriso fica, o vento passa. E os sinos? Ah, os sinos sempre me deixam. Me deixam com saudade, me deixam com vontade. Mas eles voltam, eles voltam com o vento trazendo o infinito pra mim, trazendo um sonho pra nós dois.”
Sinos tangem. E tangem a minha busca literária, e nesse garimpo, mais uma “pérola”, e das mais preciosas e clássicas. Sim, do poeta e religioso inglês John Donne, em suas Meditações VII:
"Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti".
Isso aí. Sinos não são pra qualquer um. Som para os mais sensíveis.
CULTURA ÚTIL
Em se falando de sinos, remetemo-nos ao Vale do Rio dos Sinos, cujo rio leva em seu leito muitas histórias. Entre elas podemos ouvir a de que, quando os imigrantes alemães, por meio desse curso d’água, desbravaram o Nordeste gaúcho, vieram tocando sinos. Outros dizem que caíram sinos no rio de dentro dos navios. O rio tem esse nome porque é sinuoso, tendo muitas curvas, embora sino não seja sinônimo de sinuoso.
O livro “Rio dos Sinos: o sinuoso do Sul do Brasil” já está disponível nas Bibliotecas da Feevale para consulta e empréstimo domiciliar. Há exemplares também disponíveis para empréstimo à pessoas que têm Cartão Comunidade.
A publicação é um projeto da Um Cultural, financiada pelo Ministério da Cultura, com base na Lei Rouanet, e o patrocínio é do Consórcio Nova Via. Foi idealizada com o objetivo de mostrar as belezas e peculiaridades do rio após a catástrofe ambiental de 2006, tendo como base uma pesquisa realizada pelo Centro de Pesquisa e Planejamento da Universidade Feevale – CPP.
VOCÊ SABIA?
O maior sino já fundido em bronze é o Tsar Kolokol, exposto atualmente no Kremlin de Moscou, capital da Rússia.
E o mais antigo sino do mundo de expressão oficial portuguesa foi identificado na Vila de Coruche, Portugal, datando de 1287.
Caro Ricardo
ResponderExcluirRenovo meus agradecimentos já manifestados em email, pela sua colaboração para o blog.
Lembro da referência ao John Donne e ao seu poema, quando li, há nos, “Por quem os sinos dobram”, do Ernest Hemingway.
Por absoluta falta de sensibilidade, não coloco a poesia entre as minhas expressões literárias preferidas. Envergonho-me disto, mas ninguém é perfeito, não é? A meu favor vale ressaltar que aprecio a prosa poética, terreno no qual você é mestre.
Espero que colabore outras vezes.
Abraço
Já contei neste espaço que fui coroinha da igreja dos Sagrados Corações, na Vila Pereira Carneiro.
ResponderExcluirUma das atividades de que mais gostava era repicar o sino convocando fiéis para as Missas matinais, para as Vias Crucis e para as Ladainhas vespertinas.
Como eramos, se bem me lembro, 4 na mesma época, a tarefa era disputadíssima. Todos queriam "tocar o sino".
Havia um único e mísero sino, pois a paróquia era pobre, e a corda que o acionava ficava na lateral da igreja.
São passados muitos anos, e troquei de fé.
Se bem me lembro, Ricardo, de uma antiga troca de mensagens, você também usou, numa época distinta da minha, uma das batininhas com as quais nos paramentávamos para os ofícios e celebrações.
Abração
O Ricardo que assina o post não foi editor do hebdomadário LIG, que tinha distribuição gratuita na zona sul de Niterói?
ResponderExcluirTodos somos parte de um todo, na sabedoria poética de John Donne.
Abraços
Minha família é daquela belíssima região do Brasil.
ResponderExcluirE foi atraves do Rio dos Sinos, que banha algumas cidades serranas, que meus ancestrais penetraram no interior, onde se fixaram.
Helga
Eu também sou fã da poesia em prosa, ou prosa poética, como você denominou. O texto fica gostoso de ser lido, ainda mais quando fala do Sul, nossa região preferida do Brasil.
ResponderExcluirAdoro Nova Petrópolis, sempre que posso revisito-a, em especial o Parque Aldeia do Imigrante. Gosto de admirar o jeitão germânico da cidade.
Abraço
Carlos
Gusmão, fui editor do LIG em períodos alternados até 2004 quando migrei de Niterói pra serrana e bela Teresópolis, que após a tragédia ecológica, e principalmnente administrativa, enfeou: limpeza urbana precária, trânsito caótico e intenso, ruas esburacadas, calçadas idem e imundas, além da favelização crescente. Só onde passa a noiva é que há alguma providência cosmética, superficial...pra atrair (e enganar) turistas. Daí minha decisão de trocar a Serra Fluminense pela Serra Gaúcha.
ResponderExcluirOlá, Ricardo:
ResponderExcluirVisitei seu blog usando o link no post. Gostei muito de "Angústia de verão". Texto e foto.
Abraço