4 de fevereiro de 2012

Bandidos togados e nascimento de serpente

As afirmativas de que existem bandidos togados e que estamos presenciando o nascimento de uma serpente (a degradação do Judiciário) não são minhas. São da Corregedora Nacional de Justiça.

Mas são meus os comentários abaixo, feitos a partir de entrevista concedida pelo futuro presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Ivan Sartori, e publicada na edição 2255 da revista VEJA, nas páginas amarelas.

Fiquei estarrecido com a entrevista porque o desembargador comete uma heresia jurídica ao lamentar que os magistrados não têm FGTS. Ora, o FGTS foi criado para garantir aos empregados regidos pela CLT, uma reparação pecuniária (indenização) nas demissões imotivadas.

E os magistrados gozam de vitaliciedade no cargo. Não correm risco de despedida sem justa causa. Lamenta, ainda, não receber horas extras, mas deixa de comentar, por outro lado, que não marca cartão de ponto, não tendo, em consequência,  controle de pontualidade e nem de frequência. 

Mas há coisa mais preocupante. Ele deixa subentendido, para mim, que gostaria de fumar um baseado de vez em quando, eis que afirmou que qualquer pessoa pode experimentar um cigarro de maconha, mas ele não.

Por derradeiro, pergunto, se é possível quantificar o número de juízes que apresentam desvios de conduta, segundo ele 1% (um por cento), então é possível identificar quais são eles. Senão como dimensionar o percentual?

Dê nomes aos desonestos e, de preferência, afaste-os de suas funções, excelência.

Outro pronunciamento infeliz foi o do  ministro Marco Aurélio Mello, relator da ADI, relativa ao campo de atuação do CNJ,  que ficou mordido com o resultado da votação, se apequenou ao ironizar, em entrevista em jornal televisivo, que só falta o Supremo ser despejado do prédio que ocupa. Que comentário infeliz. Perdeu uma grande oportunidade de ficar calado, depois de defender com tanta ênfase o corporativismo das corregedorias.

Aliás que no seu papel de relator do processo foi bastante ajudado pelo ministro Cezar Peluso, também ferrenho partidário da castração do CNJ. O presidente da Corte, com seu costumeiro ar de enfado, fez várias intervenções para grifar ou oferecer novos argumentos ao voto do Relator para esvaziar o CNJ, no que pertine a correição disciplinar.

Quero deixar claro que não se trata de uma perseguição inominada, e que minha intenção não é desmoralizar o Judiciário. Não, muito antes pelo contrário gostaria de vê-lo respeitado, fortalecido, soberano. Todos ganhariamos.

Outra coisa que podem imaginar é que sou um frustrado por não ser juiz. Quando eu podia, eis que estava dentro do limite de idade exigido, ou não tive interesse ou me acovardei com receio de reprovação no concurso. Não sei ao certo. 

Mas de uma coisa estou seguro. Eu seria um péssimo magistrado, que decidiria segundo meus próprios princípios, meus valores, minhas crenças. 

Não conseguiria me manter dentro dos limites impostos pelas leis. Algumas absurdas. Seria uma espécie de Dirt Harry da magistratura.
  

6 comentários:

  1. Como você escreveu no outro dia, a Associação do Magistrados tem um discurso esfarrapado de que os juízes têm atividade estafante por isso precisam de dois períodos de férias. Mas nesta mesma entrevista citada no post, aquele desembargador diz que os juizes tiram um só período de férias e por isso têm muito dinheiro a receber. Além de venderem um período de férias, trocam também por dinheiro os três meses de licença prêmio a que têm direito a cada cinco anos.
    Então é pura balela a necessidade de descanso para esfriar a cabeça. O negócio é grana.
    Fácil fazer a conta, considerando a remuneração de pouco mais de 24 mil. Um mês de férias, mais três de licença, e faturam cenzinho.
    Não estou achando que ganham muito, estou achando é que são de um cinismo a toda prova. Que descanso que nada, o privilégio de duas férias vale é dinheiro.
    Abraço

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  2. Não é omissão, sorry. É que me sinto realmente muito mal quando leio assuntos sobre "justiça". Se for postar meus comentários, com certeza estarão cobertos de rancor, de histórias de decepções vividas com a lei, de injustiças. E vcs, meus caros frequentadores desse blog, não merecem isso. Nem eu ...
    Abrs e amanhã tem Libertadores

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  3. Prezado Paulo,
    Tem certeza de que você entrou no blog certo? E o post seria este mesmo? (rsrsrs)
    De onde você tirou a "omissão"?

    Na Libertadores, teu FLU e do Ricardo, que assina o post de hoje, tem ótimas chances.
    Vou além, dificilmente o taça não virá para o Brasil. Os clubes que nos representarão estão fortes.
    Abraço

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  4. Como servidor do judiciário, fiquei surpreso com alguns comentários do novo presidente do Tribunal de Justiça. Quando o Dr. Sartori fala sobre juízes trabalhando "de forma subumana" esquece de mencionar as condições de trabalho tenebrosas a que são submetidos os servidores do judiciário. Quando o presidente afirma que tem juiz trabalhando até em "banheiro adaptado como sala" é fácil de acreditar, dado o sucateamento do TJ paulista. Mas seguramente esta adaptação inclui alguns itens básicos, como água potável e ar condicionado, os quais estão fora do alcance de boa parte dos serventuários. A questão é a seguinte: e o resto?
    A Constituição de 1988 assegura que ninguém será submetido a tratamento desumano ou degradante, porém os servidores são jogados em salas sem ventilação natural, com cobertura feita com as famigeradas e banidas telhas de amianto, onde seguidamente cai algum pedaço do forro de gesso que jamais é consertado e com temperaturas que chegam a absurda marca de 37°C, além de ratos, pombos e outras pragas urbanas e as inúmeras rachaduras na laje.
    Quanto ao convite para que qualquer cidadão acompanhe o dia a dia de um juiz, devolvo este convite ao senhor, Excelência, com o devido respeito, para que Vossa Excelência possa passar apenas alguns minutos no prédio Anexo do Fórum de Carapicuíba, por exemplo, e constate pessoalmente as verdadeiras condições desumanas às quais são submetidos os servidores do maior tribunal do País. Lamentavelmente as instalações de muitos prédios do Tribunal de Justiça de São Paulo se encontram em um estado lastimável e há muito que ser feito. Só nos resta desejar que essa nova administração seja mais eficaz e justa que as anteriores.

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  5. Caro Clóvis,
    Obrigado pela visita virtual e pelo comentário, muito pertinente.
    A julgar pela entrevista concedida por S. Exa. à revista VEJA, as coisas não melhorarão no Tribunal de Justiça de São Paulo.
    O Dr. Ivan perdeu uma boa oportunidade de ficar calado. Mas pelo visto ele também gosta de aparecer na midia.

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  6. O governador Pezão responsabiliza o Judiciário.

    http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/05/policia-tem-feito-o-seu-papel-diz-pezao-sobre-crime-na-lagoa.html

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