Rodney Gusmão Cavalcanti
Depois de conhecer o seu blog - caro Carrano - e alguns outros igualmente interessantes, fiquei muito motivado a criar o meu próprio.
Depois, refletindo melhor, a empolgação diminuiu, em função da trabalheira e dependência que a manutenção de um blog gera.
Além do mais, não sei se teria tanta coisa para falar, que justificasse um sitio só meu.
Como você já me ofereceu espaço para publicar textos meus, acho que aceitarei, sempre que entenda de algum valor informativo, cultural ou pelo menos seja instigante o que tenho a dizer. E se, óbvio, passar pelo seu crivo, como “editor”.
E já agradeço antecipadamente a oportunidade de publicar a primeira entrada a seguir, que classificaria na categoria de instigante, a partir de uma constatação recente, motivando reações de dúvida, de decepção e de pena da criançada, tudo a um só tempo.
É o seguinte: onde foram parar as canções infanto-juvenis, que cantávamos nas brincadeiras de roda? E não me venham com a pecha de que brincadeira de roda é coisa de bichinha. Tiravamos muita casquinha nestas brincadeiras infantis principalmente no "chicotinho queimado" e no "passar o anel".
Fiquei chocado com o fato de meus netos não saberem senão uma, das mais de cinquenta cantigas infantis, de roda e de ninar, das quais ainda me lembro mesmo passados mais de sessenta anos, desde que as ouvia e cantava. O número deve ser maior, mas umas cinquenta eu lembro mesmo.
Que houve com a petizada? Pobres criaturas. Não têm mais brincadeira de rua, congraçando meninos e meninas, que ocorriam depois da escola e do jantar, e ia até as 21 horas, mais ou menos, quando acabava a novela na Rádio Nacional. Lembra do “Direito de Nascer”, novela radiofonizada que bateu todos os recordes de audiência? Depois ouvia-se: "crianças, para dentro, hora de dormir"
Está certo que brincar nas ruas tornou-se inviável, mas nem nos condomínios fechados ou no recreio das escolas você encontra a criançada brincando de roda e cantando as velhas canções.
Quem não roubou um beijo fortuito na brincadeira de pera, uva ou maçã? Alô Daisy, se você estiver bem (como espero) e por uma eventualidade acessar este blog, saiba que guardo na lembrança os beijos conseguidos a custa de trapaça com os amigos, que me sinalizavam quando era você, para que eu escolhesse uva.
Mas voltando as cantigas, quero ressaltar que a repetição, pura e simples de palavras ou expressões linguísticas contidas em algumas delas, sem preocupação com seu significado, eram coisa pura, inocente.
Lembra da letra? Veja:
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré deci.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré deci.
Quero uma de vossas filhas,
De marré, marré, marré.
Quero uma de vossas filhas,
De marré deci.
Escolhei a qual quiser,
De marré, marré, marré.
Escolhei a qual quiser,
De marré deci.
Eu queria (nome da pessoa),
De marré, marré, marré,
Eu queria (nome da pessoa),
De marré deci.
Que ofício dar a ela ?
De marré, marré, marré.
Que ofício dar a ela ?
De marré deci.
Dou o ofício de (nome do ofício)
De marré, marré, marré.
Dou o ofício de (nome do ofício),
De marré deci.
Este ofício me agrada (ou não)
De marré, marré, marré.
Este ofício me agrada (ou não)
De marré deci.
Lá se foi a (nome da pessoa),
De marré, marré, marré.
Lá se foi a (nome da pessoa),
De marré deci.
E terminava:
Eu de pobre fiquei rica.
De marré, marré, marré.
Eu de rica fiquei pobre,
De marré deci.
Não fazia sentido, mas que importava saber o que era ser pobre de marré, marré, marré. De marré decí.
Se formos pesquisar a origem deste “marré deci”, iremos encontrar muitas teorias, muitas interpretações de sociólogos, antropólogos, historiadores. Algumas são grotescas. A verdadeira origem o tempo apagou; e não demora a própria cantiga desaparecerá.
Quando se tinha seis, oito ou até doze anos, pouco importava o que queria dizer ser “pobre de marre decí.”
Agora, burro velho, fico curioso por saber que diabos vem a ser “pobre de marre decí.”
Se você, Carrano, algum de seus seguidores, ou mesmo visitantes ocasionais do blog souberem a resposta, informem por favor.
Bem, meus netos só conhecem o “Pau no gato”, cuja letra é hoje considerada politicamente incorreta, porque “não se deve estimular a judiação de animais”:
Atirei o pau no gato-to,
Mas o gato-to
Não morreu-reu-reu.
Dona Chica-ca
Adimirou-se-se
Do berrô, do berrô
Que o gato deu:
"MIAU!"
N. da R: Gusmão é fiel seguidor do blog, fazendo sempre comentários oportunos e inteligentes. A lamentar apenas o fato de ser botafoguense, mas como disse o outro, ninguém é perfeito. Podia ser pior.
As ilustrações pesquei no Google.Resolvi publicar todo o e-mail recebido do autor, e não apenas o que seria o post, para deixar claro o contexto.
Gusmão, meu caro.
ResponderExcluirDesconheço a origem de "marré decí".
Fui ao Google, como você, e também não me satisfizeram as explicações encontradas. Algumas verossímeis, mas sem lastro confiável.
Brinquei, também, muito na rua, quando moravamos na São Diogo, na Ponta D'Areia, como já contei aqui no blog.
Também lembro de algumas canções, que ficaram na memória porque as ouvíamos e cantávamos ad nauseam.
Acho que meus netos também não brincam de roda e desconhecem a maioria das nossas brincadeiras. Os apetrechos eletrônicos dominam as diversões.
Obrigado por colaborar.
Abraço
Depois que testemunhamos horrorizados crianças que nem sabem ler manuseando com desembaraço jogos em aparatos eletrônicos, totalmente alheias ao que passa em redor (e isso me parece importante), não só sinto falta das brincadeiras coletivas infantis como temo pelo futuro da sociedade.
ResponderExcluirAbraço
Carlos
Pois é, Carlos, não sou, como você provavelmente não é, radicalmente contra os aparatos eletrônicos. Eles são úteis no desenvolvimento de outras habilidades.
ResponderExcluirMas as brincadeiras ao ar livre, o contato pessoal com outras crianças, as disputas, o ganhar e perder, são importantes na formação do caráter e definição da personalidade.
Ficar escravo dos apetrechos é que não é, na minha avaliação, saudável. Há que usa-los moderadamente. E brincar e cantar muito, porque se a vida é curta, a infância é curtíssima.
Abraço
Gusmão
Carrano,
ResponderExcluirVocê que conhece melhor o Carlos Frederico, me diga como ele prefere ser chamado: Carlos Frederico, somente Carlos, ou somente Frederico. Quem sabe, ainda, Fred.
Abraço
Deixarei que o mesmo responda, caro Gusmão.
ResponderExcluirVocê que me acompanha aqui neste espaço com certa regularidade, há de ter notado que por vezes me refiro a ele apenas como Carlos, outras vezes como Carlos Frederico. Como Frederico, acho que nunca.
Logo, tenho também dúvida a respeito.
Abraço
Pegaram pesado, sem saber. Crise de identidade! rs rs rs
ResponderExcluirNasci Carlos Frederico. Como meu pai (José Frederico, falecido)era conhecido como Fred ou March - e tinha era gente que o conhecia em Niterói, acabei sendo apenas Carlos para diferenciar. É como me conhecem no âmbito familiar original.
Na escola foi variado (tive muitos apelidos). Fui Charlinho para as pessoas que me conheceram no Encontro Jovem do Abel (namorei uma dirigente de encontro com centenas de amigos que por esse nome me conhecem até hoje).
No trabalho fui Carlos ou Frederico (não March) dependendo do setor e, mais importante, para minha esposa e sua família inteira sou Frederico! Em Friburgo sou Freddy, apelido que também uso em e-mails.
Confesso que ao atender telefone às vezes até gaguejo, porque dependendo da pessoa que está do outro lado, meu nome é um!!
Portanto, sintam-se à vontade!
Grande abraço
Carlos (isso é uma sugestão?)
Apenas para complementar: se não me falha, conheci Carrano (porque não Jorge?) através de meu irmão Paulo, que me chama de Carlos.
ResponderExcluirAbraço
Carlos
E o pior nisso tudo é que realmente cada um desses nomes do Carlos é uma pessoa diferente .... rsrsrsrs
ResponderExcluirHmmm ...quem sou eu ? Paulo ? Riva ? Dentinho ? Riva Marques ? Paulo Ricardo ? March ? Barroso (nome de guerra por 18 anos) ?
Jorge Carrano, meu nome é simples assim.E por isso, como nunca tive apelido, não restam muitas alternativas: ou sou Jorge (como dentro da família) ou Carrano, nas escolas que frequentei e nos locais em que trabalhei profissionalmente.
ResponderExcluirDesde o curso primário, porque havia outro Jorge na turma, a professora me tratava por Carrano. E ficou.
Bem, meu pai era tratado por Carrano, assim como meus dois filhos, como regra geral, em diferentes ambientes onde atuam profissionalmente.
Abraços
Gusmão, novos tempos mesmo, fazer o que ? ABra o link ... http://www1.folha.uol.com.br/tec/1033679-celular-interrompe-concerto-da-filarmonica-de-nova-york-pela-1-vez.shtml
ResponderExcluirAlgum de nós, dessa geração, podia imaginar que uma situação dessas aconteceria ?
Abrs
Paulo
O regente (Gilbert) foi muito tolerante com o sujeito. Tinha que mandar retira-lo do recinto.
ResponderExcluirAbraços
A maioria dessas canções e cantigas é um arranjo ou uma adaptação de canções francesas (a maioria), portuguesas e européias de modo geral, trazidas a nosso uso desde priscas eras, com maior afluxo no século XIX. As traduções são às vezes curiosíssimas, e um bom exemplo disso é a canção “Je suis pauvre pauvre pauvre du Marais Marais Marais, je suis riche riche riche d’la Mairie D’Issy”, que virou “Eu sou pobre pobre pobre demarré marré marré, eu sou rica rica rica de marré dessí”… ( Marais e Mairie d’Issy são dois bairros de Paris).
ResponderExcluirMuitas vezes as letras em português nem fazem sentido, pois se destinam mais a uma onomatopéia do que a ser uma tradução literal.
Fazem sim parte de nossa cultura, mas são quase todas de origem européia, popularizadas de cima para baixo, ou seja, primeiro as famílias dos nobres e de gente rica as importavam, as escravas e as crianças, não sabendo cantar em francês ou não entendendo a letra em português às vezes literário, estropiavam tudo, e o resultado é que muitas cantigas de roda etc. são de assunto ininteligível ou de sentido duvidoso, como a de “pega na criança e joga na bacia”, como a de ” Terezinha de Jesus de uma queda foi ao chão”, como a de “Pai Francisco entrou na roda” …
Elas nunca me interessaram justamente por essa falta de sentido de muitas delas.
...capturado na web ...abrs Paulo
No texto publicado mencionei as pesquisas, principalmente na internet,e comentei que nenhuma das explicações que encontrei teriam consistência suficiente para me convencer. Existem muitos blogs que tratam do assunto, até de maneira jocosa. Basta botar no Google "cantigas infantis" e aparecerão muitas páginas. As origens são controvertidas. Sobre ser pobre de marré decí existem várias teorias.
ResponderExcluirEnfim, pelo menos o comentário do Paulo, me "inspirou" um post que escreverei e submeterei ao Carrano, para publicação.
Abraços
Teve uma novela da Globo, que não me lembro qual foi, que explorou muito esse tema das palavras originárias de palavras estrangeiras, "aportuguesadas". Sei, por exemplo, que GRINGO deriva de GREEN, GO !!! ...que era o grito dado pelas populações de cidades da California (que pertencia ao Mexico), quando viam os soldados de verde (americanos) chegando. E por aí vai.
ResponderExcluirAtualmente estamos convivendo com deletar, estartar, printar, hackear, etc.
Abrs, Sds TRIcolores, e um super FDS ! (abreviação twitteira de Fim De Semana rsrsrs).
Nenhuma tentativa de explicação sobre as origens de uma cultura oral não será suficiente, já que carece de documentação. É cultura que se transforma em relação ao tempo e ao espaço...
ResponderExcluirO seu comentário, Carlos, não deixa de ser um documento que os pósteros poderão utilizar quando estudando cantigas infantis no século XXI.
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