4 de setembro de 2011

Ressacas

Todo mundo sabe o que é ressaca? Não, calma, beberrão, não é desta ressaca que vou falar. É daquela definida no Aurélio e na Wikipédia, como abaixo:
Ressaca é o movimento anormal das ondas do mar sobre si mesmas na área de rebentação, causada por rápidas e violentas mudanças climáticas. (wikipédia)
Ressaca .Bras.: Investida fragorosa, contra o litoral, das vagas do mar muito agitado. (Aurélio)


Praia da Flechas

Continuam interditados trechos da Praia João Caetano, mais conhecida como Praia das Flechas, em Niterói, devido à ressaca que voltou a destruir parte do calçadão. O mesmo trecho já havia sido destruído por outra ressaca há três meses, no fim de maio, e ainda não havia sido reconstruído.

Praia das Flechas - Niterói - durante a ressaca*

As ondas batem com força no paredão do calçadão, por vezes invadem a pista e até atingem o outro lado da rua, chegando a inundar as garagens dos prédios em frente, quando localizadas no subsolo.

Este fenômeno ocorre no litoral brasileiro, de norte a sul. Em algumas praias repete-se com mais frequência e é mais violento, causando grandes prejuízos materiais ao município e a particulares.




Passagem do Irene, na costa ameicana
Esta manifestação da natureza, enfurecida e vingativa, aliada ao Irene, furacão que atingiu a costa leste americana, lembraram-me uma história ocorrida com meu falecido sogro.

A família morava em Cachoeiro de Itapemirim e aspirava ter uma casa na praia, para não depender de convites de amigos que possuíam casas a beira-mar.

A praia mais próxima, e na época ainda pouco badalada, era a de Marataizes. Apenas os mineiros já haviam descoberto esta praia de areias escuras, menos conhecida do que Guarapari e portanto com casas e terrenos mais baratos.

O único terreno ainda disponível bem defronte ao mar, tinha o inconveniente que ficava localizado onde havia uma pequena colônia de pescadores. Eram alguns poucos, que construíram na areia seus barracos de madeira, onde guardavam seus equipamentos (redes, tarrafas, etc) e estacionavam seus barcos.

Que fez meu sogro, achando-se esperto e criativo? Propôs aos pescadores a compra do espaço físico por um acerta importância em dinheiro. Eles poderiam, até, querendo, remover para outro ponto ao seus barracos, pois ele não tinha interesse por eles.

Posso estar enganado, mas na época (muitos anos) gastou em “indenizações” algo como R$ 5.000,00, cinco mil reais. Com a área liberada, empolgou-se e exagerou. Construiu uma casa mas não se limitou a ocupar o terreno junto a rua principal da orla. Avançou numa faixa de areia, onde ficavam os barracos dos pescadores.

Marataizes, várias casas construídas,
 em parte, sobre a areia
A casa ficou boa. Nos fundos construiu um alpendre (varandão) que ficava a poucos metros do mar. Então o acesso ao oceano era muito cômodo, bastava descer alguns poucos degraus de madeira, e já descíamos na areia, quase junto a arrebentação das ondas.

Como título do post é ressaca, obviamente o leitor atento já deduziu o que aconteceu. Isto mesmo, a casa foi desfrutada talvez por uns dois anos. Todavia, decorrido provavelmente este período, uma baita ressaca, que fez história na cidade (atualmente são mais comuns), destruiu a casa toda. Ou quase toda. Na verdade a fachada principal, de frente para a via pública, foi milagrosamente preservada. Então a casa ficou como estas casa cenográficas que têm só a frente. Atrás não tem nada. Vazio total.

Assim ficou a casa; quem passava mais distraído pela rua, via uma casa normal, mas se prestasse mais atenção iria verificar que por trás da fachada estava tudo ruínas, um amontoado de detritos por decorrência da fúria do mar.

Inocência, burrice, comodismo exagerado, não importa o adjetivo. A sorte é que sendo uma casa de praia, no dia da ressaca não tinha ninguém e não houve vítimas. 

Acho que a casa não foi reconstruída. O custo de remoção dos detritos, e reconstrução, seria muito elevado e na época as vacas estavam magras e meu sogro não tinha os recursos necessários. Além de tudo, por se tratar do chamado “terreno de marinha”, tinha uns entraves burocráticos.

Moral da história? Não tem moral, é amoral.

Num blog, por acaso, encontrei um comentário pertinente de um internauta a propósito da reclamação de um dono de uma destas casas que, a exemplo daquela do meu sogro, foi construída de forma ilegal sobre a areia:

15º- Comentário: "Uma vergonha esse cara construir uma casa em cima da areia da praia e ainda querer reclamar. O prefeito deveria seguir em frente com o projeto existente e remover todos daquela área e construir uma praia linda para nos naquele lugar..."
Data: 23/06/2010 às 08:51:00
Assina o Comentário: Paulo
Email:a@a.com
Cidade: Marataízes

Não era uma alusão ao meu sogro, e sim a propósito de um caso mais recente, mas inteiramente aplicável ao meu sogro.

Praia de Marataizes na maré alta







Praia de Marataizes na maré baixa

Fotos: Google imagens
*Marcelo Guimarães, no G1

Um comentário:

  1. Carrano, ouvi comentários de algumas pessoas mais jovens impressionadas com a atual ressaca.

    Nós, mais "antigos", já vivenciamos ressacas bem piores durante nossas vidas. Já vi água invadindo a avenida da Praia de Icaraí (como é mesmo o nome? Jornalista não sei quem Torres?), paralisação do tráfego das barcas por segurança... Ressacas realmente acontecem de vez em quando, não é um privilégio do momento atual, em que se discute aquecimento global.

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