Em Niterói, na minha infância e adolescência, havia bondes elétricos em circulação. Desapareceram faz tempo na cidade. No Rio de Janeiro, circulam, ainda, os de Santa Tereza. E na Europa algumas cidades os conservam, seja no modelo antigo, como em Portugal, tanto na capital Lisboa, quanto na cidade do Porto, seja com design mais moderno.
Lisboa |
Porto |
Meio de transporte público muito popular, sobretudo pelo baixo preço da tarifa de uso, hoje inviável seja pelo alto custo da nergia, seja porque atravancariam o trânsito pela lentidão com que andavam.
Santa Tereza - Rio |
Corriam sobre trilhos e eram movidos a eletricidade como já mencionado. Eram abertos dos dois lados, e nos dias de chuva era possível baixar, quando funcionavam, cortinas de lona. Alguns tinham um reboque, que não tinha a possibilidade de autolocomoção.
Nas laterais haviam estribos que deveriam servir para auxiliar no embarque devido a altura do veículo.
Muitos deles possuíam comandos nas duas extremidades, bastando ao Motorneiro (condutor do veículo) mudar da frente para trás, de sorte que podiam retornar ao final de seus trajetos sem necessidade de manobras ou voltas em torno de praças. De igual sorte, os encostos dos bancos, todos de madeira, podiam ser virados para que os passageiros não tivessem de viajar de costas.
A foto abaixo ilustra melhor o que as palavras não conseguem exprimir com clareza:
Bonde Canto do Rio, década 1950, ve-se o cobrador, de quepe |
Embora destinados a facilitar o embarque, os estribos eram ocupados por passageiros quando os assentos estavam lotados, como se viu na foto acima. Falar em preço da passagem e estribo, remete à figura do cobrador. Uma atividade peculiar, arriscada e cansativa.
Ele passeava pelo estribo seguro nos balaustres, para lá e pra cá, recebendo o preço da passagem e dando o troco, sempre pendurado com pouco apoio nos pés, e, pior, tendo que passar pelas costas dos passageiros viajando no estribo, o que exigia esforço e perícia, sem falar no riso de acidente.
O receber o valor da passagem, era uma tarefa que dependia, basicamente, de dois fatores: a honestidade dos passageiros e a boa memória visual do cobrador.
Isto porque a cada parada, embarcavam e desembarcavam passageiros e não havia como o trocador acompanhar este movimento de embarque e desembarque eis que estava envolvido na tarefa de cobrar.
Em Niterói existiam várias linhas de bondes, que atendiam aos diferentes bairros da cidade. Todos tinham como ponto final, no centro da cidade, a Estação das Barcas, onde hoje está a estátua do Araribóia. Por isso, nas décadas de 1940 e 1950, quando alguém precisava ir ao centro da cidade, dizia ”eu vou à barcas”. Bem, as tais barcas faziam, como fazem, a travessia da baia da Guanabara, ligando Niterói ao Rio.
As linhas de bondes de Niterói, das quais me recordo, e cujos nomes encimavam a parte superior dianteira (veja fotos) eram:
- Canto do Rio, na foto acima, tinha como destino a praia de Icaraí. O mais jovens não sabem, mas Canto do Rio era o final da praia, alí onde tem o canal da Ari Parreiras/Joaquim Távora. No meio da pista , na altura da Rua Mariz e Barros, onde há um canteiro central, havia um um posto de gasolina.
- Ponta D’Areia, que ligava, como indica o nome, o centro da cidade ao final do bairro com aquele nome, onde existia uma colônia de pescadores. Bairro preferencial dos portugueses que se instalaram na cidade. Daí porque, atualmente, chama-se Portugal Pequeno.
- Largo do Moura, ia da centro até o final da Alameda São Boaventura, no Fonseca, onde ficava o largo que dava nome à linha.
- Santa –Rosa Viradouro, servia ao bairro de Santa Rosa, onde o final de linha era o local chamado viradouro, no final da Rua Mario Viana.
- Saco de São Francisco, acreditem, era uma linha que ia até a praça do Lido, no bairro de São Francisco, que perdeu o Saco há alguns anos. Acentuei que devem acreditar, porque o percurso era pela Estrada Fróes, que além de íngreme e estreita, é muito sinuosa, com curvas fechadas. E por ela transitavam, também, os automóveis, eis que o túnel ligando Icaraí a São Francisco só foi construído muito depois.
- Barreto – ligava o Centro a este bairro da Zona Norte, a meio caminho para São Gonçalo.- Saco de São Francisco, acreditem, era uma linha que ia até a praça do Lido, no bairro de São Francisco, que perdeu o Saco há alguns anos. Acentuei que devem acreditar, porque o percurso era pela Estrada Fróes, que além de íngreme e estreita, é muito sinuosa, com curvas fechadas. E por ela transitavam, também, os automóveis, eis que o túnel ligando Icaraí a São Francisco só foi construído muito depois.
- Porto Velho – ligava Niterói, a partir das barcas, até o município vizinho, fazendo ponto final no Rodo de São Gonçalo. Esta viagem, de bonde, poderia durar bem mais de uma hora.
Os homens mais jovens, desde a pré-adolescência aprendiam a descer do bonde ainda em movimento. Era uma tarefa um pouco arriscada, mas que com habilidade se conseguia. O truque era estar sempre com o corpo voltado para a frente, de sorte a que ao descer, soltando o balaustre, pudéssemos caminhar alguns passos tão logo os pés tocavam o solo, no mesmo sentido em que ia o bonde. Puro equilíbrio.
É chegado o momento, já que falei do saltar do bonde andando, de contar uma piada que caiu em desuso por motivos óbvios. A piada consistia em perguntar o que é que cai em pé e corre deitado? A resposta correta era chuva. Todavia, se o interlocutor respondesse chuva, corrigíamos dizendo que não, era o português descendo do bonde andando, numa insinuação de que os patrícios não conseguiam tal proeza.
Fonte: Photo Thompson, encontrada no Google.
Habilidade dos cobradores e honestidade dos passageiros, boas lembranças de nossa infância! Junte a isso moer vidro no trilho pra fazer cerol !
ResponderExcluirLembro-me de uma linha que compartilhava a de Santa Rosa até o Largo do Marrão, indo então para o Cubango.
Quanto ao posto na pracinha do Canto do Rio, o que eu me lembro que ficava ali era um bar. Ou teria eu misturado tudo em minha memória de infância? Ou havia ambos?
Prezado Carlos Frederico,
ResponderExcluirHavia ambos, bar e posto.
Quanto ao cerol, será objeto de uma séria de memórias da infância que venho escrevendo nas horas vagas e publicarei aos poucos.
Só que eu moia o vidro utilizando um paralelepipedo, batendo sobre uma base sólida de concreto. Ficava fininho como açúcar refinado.
Obrigado pela visita e comentário.
Aguardo novas contribuições suas.
Abraço
Carrano
Bem, queria escrever série e saiu séria. Não faz mal porque será séria também.
ResponderExcluirNão dexem de ver http://www.tramz.com/br/ni/ni.html
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