10 de setembro de 2010

Religião

Fui coroinha. Isso mesmo que você leu, coroinha. Portanto estive muito próximo da religião católica. Hoje, herege e agnóstico, estou muito distante não só da católica, bem como de qualquer outra, ocidental ou oriental.

Muitos foram os fatores que levaram a este afastamento.

Mas alguns foram predominantes. O principal deles é que cresci e passei a questionar certos dogmas. Comecei a ler histórias sobre o poder da Igreja e de como ela virou um poderoso império explorando a crença e a ignorância dos mais humildes. Li sobre a Inquisição. Sobre alguns Papas tão corruptos quanto devassos. E a versão da criação do mundo, o papel de Deus, o nascimento e a pregação de Jesus, não fazem o menor sentido nos limites de minha capacidade de compreensão, de entendimento.

Minha inteligência limitada e minha parca cultura religiosa são um sério entrave para aceitação do Deus que os homens criamos.

Um Deus que tem que ser temido acima de ser amado e que foi incapaz de prever o fracasso da missão conferida a seu filho Cristo, por certo está longe de ser alguém que tem os poderes que Lhe são atribuídos e que devamos respeitar a amar sobre todas as coisas.

Todavia, coisas mais concretas, que presenciei e vivi, constituíram-se em fatores relevantes para minha descrença nos aspectos humanitários e na farsa contida em algumas das regras, da Igreja católica, que devem ser seguidas. E o mercantilismo, nas religiões sobre as quais li ou ouvi falar é um aspecto deprimente que não consigo assimilar.

A primeira delas foi quando me casei. Vejam que como casaria em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, eu iria precisar de uma “autorização” do padre da paróquia sob cuja jurisdição eu residia. No caso, a da igreja localizada na Vila Pereira Carneiro, porquanto eu residia no bairro Ponta D’Areia.

Para atender meu pedido de fornecimento da tal “autorização”, o padre impôs a condição de que comprovasse que sabia rezar, pelo menos, a Ave Maria e o Pai Nosso.

Ora, gente, naquela mesma igreja, ao que o padre (da minha época de coroinha), em bom latim e de costas para os fiéis apregoava “Dominus vosbiscum”* eu respondia “Et cum spiritu tuo”.**

Achei absurdo e me recusei. Claro, fiquei sem a autorização, que somente foi obtida graças à interferência de minha mãe.

O critério seletivo me deixou decepcionado. Ao invés de aproximar, de atrair, o padre impôs barreiras ao casamento diante de Deus. E, no meu caso, inteiramente destituídas de fundamento.

Mas o pior foi quando, na qualidade de padrinho, tive que pagar o valor do batizado. Perguntei, com discrição, ao padre, quanto deveria pagar. Ele respondeu que dependia se eu queria com sagração ou sem sagração. É evidente que ironizei. Se com sagração é mais caro, então deve ser melhor. Quero com sagração.

Ah! Ia ficar no batizado, mas na última vez que estive numa igreja, não faz nem um mês, para acompanhar a missa de 7º dia do falecimento do Bazhuni, levei um susto com a cantoria, com os apertos de mão e - que coisa não? – as intenções da missa: aniversário de casamento, restabelecimento de enfermo, sétimo dia, um ano de falecimento, graça não declarada, aprovação em concurso, enfim, uma relação de pelo menos vinte pessoas nomeadas uma a uma. E todo mundo paga, como numa sessão de cinema. Negócio lucrativo. Fora as gorjetas recolhidas dos fiéis presentes, com saquinhos estendidos até você.

Onde a missa especial e específica que mandavam celebrar em intenção de um ente querido?

Eu, desde já e através deste post, dispenso missas.


* Dominus vobiscum - O Senhor está com você - Do•mi•nus vo•bis•cum
** Et cum spiritu tuo. – E com teu espírito - Et –cum- spi- ri- tu -tu-o

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