4 de setembro de 2010

Preparando para a morte

O assunto não é deprimente. Faz parte da vida. Capítulo final, esta certo, mas pode ser uma apoteose.

Desde há muito, quando morei em São Paulo, no final dos anos setenta, adotei a prática de deixar um roteiro com providências a serem adotadas em caso de acidente grave ou óbito.

Era natural, na medida em nossa vida estava sedimentada em Niterói, e para lá (no para aqui), deveríamos retornar. Não havia o que justificasse a permanência da família por lá.

Assim, as primeiras versões (atualizo, pelo menos, uma vez ao ano), eram datilografadas. Depois passei a digitar e guardar em um disquete. Do disquete passei ao CD e atualmente mantenho em pen drive.

A mídia muda em função das novidades tecnológicas, já os conteúdos em função de vários fatores: bens patrimoniais, número de contas correntes, bancos, códigos e senhas, etc.

Para facilitar informo os números de documentos, dados sobre o plano de saúde, sobre o Parque da Colina (quadra e número do túmulo onde devo ser sepultado), onde estão os documentos principais, tipo escrituras,contratos, etc.

Sempre, em toda minha vida, paguei as contas antes do vencimento. Isto, entre outras coisas, permitirá que não morra inadimplente (rsrsrs). Ademais, se morro em dia de vencimento de alguma conta, quem terá disposição, iniciativa, tempo e estado emocional para a providência de pagar?

Bem, faço isso, como disse, há muito tempo. Todavia, de uns tempos a esta parte, tenho adotado providências mais concretas e imediatas, tais como descartar recortes de jornais e revistas (alguns dos quais já nem lembrava porque guardei), cartas, e coisas tão bizarras quanto meu cacho de cabelo, resultante do primeiro corte feito aos 3 anos de idade. Verdade; até os 3 anos, meus cabelos eram cacheados.

Certas coisas têm valor afetivo para mim, mas para filhos e Wanda, nada significam. É óbvio que uma matéria publicada em jornal estudantil, elogiando minha atuação neste ou naquele episódio, pode deixá-los orgulhosos. Mas até que ponto e por quanto tempo?

Fotos nas quais estou com pessoas absolutamente desconhecidas, que não participaram efetivamente de nossa vida familiar e social, que serventia teriam para eles? Foram registros pontuais, isolados, efêmeros, de eventos profissionais ou encontros fortuitos.

E cartas e fotos de ex-namoradas, as poucas que restaram depois que algumas foram confiscadas, à sorrelfa, pela Wanda. Ela não comenta e eu finjo que nem dei falta, entre outras coisas porque nada significam para mim a esta altura, do alto de nossos 45 anos de casamento. O destino deve ser mesmo o lixo. Na memória já estavam esquecidas.

As pastas com alguns temas específicos: jazz, vinhos, Vasco, e outros, já estão no aterro sanitário há algum tempo, pois este trabalho mais intensivo de descarte teve início há semanas.

E explicação para tanto, nestes casos citados, já dei em posts aqui publicados: internet.

Enfim, não se assustem. Não estou buscando a morte. Quando muito, tenho facilitado, aqui e ali, a missão dela. Não vou a médico, como regra geral. Quando vou nem sempre faço os exames solicitados e nem compro os remédios. E quando os compro, nem sempre os tomo. Acho que é por isso que cheguei aos 70 anos.

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