27 de março de 2010

Ainda as cotas raciais nas universidades


O negro que se preza, não briga por estabelecimento de cotas raciais. O negro que se orgulha de sua raça, que tem dignidade, que se respeita, não quer favores. Ele briga por melhores escolas públicas, de boa qualidade, para todos. Inclusive os chamados remediados, que constituiriam a classe média. E esta não deveria ser uma luta dos negros. Deveria ser de todos os brasileiros.

Quem tem mais de sessenta anos, ou cinqüenta e muitos, sabe e deve lembrar que em Niterói, por exemplo, havia uma escola pública de alto padrão, referência no antigo Estado do Rio de Janeiro (antes da fusão), que era o Liceu Nilo Peçanha.

É verdade que o prédio está lá no mesmo lugar, mas infelizmente a degradação do ensino, por todas as razões conhecidas, levou o Liceu para a vala comum do ensino precário.

Vale acentuar que lá, no Liceu, nas décadas de 50 e 60, estudavam pobres, que se habilitavam através de provas de suficiência, mas também frequentavam seus bancos escolares os filhos de deputados, de médicos conceituados, de empresários bem sucedidos e de governador (fui contemporâneo de um filho de governador e de filhos de vários deputados).

Lá estudava a elite cultural, representada por alunos de bom nível primário (por vezes feito em boas escolas públicas estaduais e municipais), que passavam nas provas seletivas, e, também, a elite social, econômica e política, que eventualmente entrava pela janela, na base do pistolão, que era como se dizia naquela época.

Mesmo os pais que tinham recursos financeiros não colocavam seus filhos em escolas particulares, pois nestas o ensino era reputado inferior ao oferecido pelo Liceu, em Niterói, e ao Pedro II , no Rio de Janeiro. Este último mantido com recursos federais.

Logo, é possível manter alto padrão de ensino em escola pública. É preciso alocar recursos, para qualificar o corpo docente e melhor remunera-lo, para equipar laboratórios, e para fazer a manutenção dos prédios.

E o Liceu não se destacava apenas no quesito de formação curricular, com os cursos ginasial, científico e clássico que oferecia. Seus alunos se destacavam também nas competições esportivas. Nas olimpíadas estudantis realizadas periodicamente.

Sim, havia o curso clássico, no qual eram ministradas aulas de latim e grego, e era voltado para os alunos que pretendiam cursar ciências humanas.

E todos os bons alunos ingressavam nas faculdades, de engenharia, medicina, odontologia, direito e até mesmo nas academias militares, sem necessidade de cursinho pré-vestibular.

As populações da cidade e do estado eram menores, mas em contrapartida a arrecadação tributária era muito menor.

Só que, naquela época, havia menos corrupção passiva, peculato, concussão e prevaricação. E mais vontade política. Mais espírito público.

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