23 de outubro de 2024

BRADESCO vai vender carnes?


 No século passado eu estava Gerente de Recursos Humanos numa multinacional.

Atuava no Departamento Jurídico, ainda recém-formado, voltado para a área trabalhista.

A Deloitte foi contratada para redesenhar e modernizar a gestão administrativa. Entre outras medidas sugeriu a criação de uma área de recursos humanos e implantar novos conceitos de recrutamento e seleção de pessoal; treinamento e desenvolvimento; administração de cargos e salários (fringe benefits) e atividades correlatas, inclusive basicamente as funções de um departamento de pessoal.

Desta área de administração de recursos humanos chegando ao Brasil, em algumas empresas denominada como “Relações Industriais”, nada ou quase nada eu sabia.

A empresa onde trabalhava resolveu investir em mim e patrocinou cursos no IAG, da PUC, e básico de administração na Fundação Getúlio Vargas, entre outros.

Bem, isto não é um curriculum, pois aos 84 anos, já aposentado, não pretendo voltar ao mercado de trabalho. Tampouco é um reconhecimento e agradecimento à empresa que acreditou em mim e investiu na minha formação, porque isto já o fiz pelos meios próprios e adequados.

Este introito é para comentar a especulação, no mercado, de que o Grupo JBS, gigante multinacional  do segmento alimentício pretende adquirir o Bradesco. Isto mesmo, um dos maiores bancos do país.

O valor de mercado, segundo divulgado, é da ordem de 152 bilhões de reais.

Agora, para esclarecer o contexto, devo comentar um fato que será novidade para muita gente, principalmente das novas gerações.

No passado, até os anos 1960, o pagamento dos salários era feito em espécie, através de envelopes que continham o nome do empregado e os dados referentes a remuneração e encargos incidentes deduzidos.

Era uma operação cara, trabalhosa e com riscos de segurança. Era sacado o total pela tesouraria e um empregado envelopava, segundo a folha de pagamento rodada em máquina de tabulação  holerite (Hollerith), que virou sinônimo de pagamento.

Algumas instituições financeiras passaram a oferecer o serviço, creditando diretamente em conta corrente de cada empregado o valor líquido da remuneração. 

Inicialmente houve uma certa resistência à sistemática, houve até litígio judicial, mas acabou por prevalecer o bom senso.

O empregado abria uma “conta salário” e movimentava como uma conta corrente padrão através de cheques.

Agora chegou o momento de juntar as pontas.

A sede da empresa mencionada lá no início, era na Rua Visconde de Inhaúma (próximo ao Largo de Santa Rita) e nas duas esquinas do quarteirão existiam bancos: numa o então denominado Banco Brasileiro de Descontos (agora Bradesco) e na outra esquina o banco Irmãos Guimarães que desapareceu na esteira de fusões, incorporações e quebras.

Este último era o predileto dos ceboleiros (atacadistas) da Rua da Quitanda, ali próxima.

Quando chegou o momento de escolher em que banco seria depositado o pagamento de nossa folha salarial e dos honorários da diretoria, sugeri, por competência funcional, o Bradesco.

Era um banco novo, com atendimento diferenciado. Bem treinados, gentis e atanciosos os empregados foram os responsáveis pela escolha.

Eram tempos de Amador Aguiar, lendário banqueiro que começou na instituição como bancário lá por baixo, em funções modestas, e virou controlador acionário.

Agora este por enquanto boato, ou rumor, de que as herdeiras pretendem vender o controle para o Grupo JBS, deixa  o mercado financeiro apreensivo.

Estou preocupado porque eles não são do ramo, embora seja um conglomerado multinacional, e sou cliente do Bradesco desde os anos 1960.

Já mudei de cidade, algumas vezes, e mudei de agência, claro, mas sempre fiel ao Bradesco.

Lembro de uma surrada piada, hoje esquecida. Havia um pipoqueiro no porta de uma agência do Bradesco. Um vendedor ambulante procurou o pipoqueiro para lhe pedir dinheiro emprestado. Este retrucou que fizera um pacto com Amador Aguiar. Ele não emprestaria dinheiro e o banco não venderia pipoca.


Um comentário:

  1. A empresa onde trabalhei era o Cia. Fiat Lux, de Fósforos de Segurança.

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