Recebido via e-mail sob o título " Notícias da Câmara dos Deputados".
Por que publicar este noticiário oficial?
Porque um dos projetos de lei, apreciado e aprovado pela comissão de
constituição e justiça, remete-me aos anos 1940/1950.
Era um menino, ginasiano, peladeiro em rua de barro
batido (sem calçamento) e, claro, naqueles longínquos anos pós-guerra,
absolutamente inocente.
Entretanto lembro perfeitamente da exigência de apresentação de documentos especiais a que estávamos submetidos os
brasileiros, em várias situações.
Por exemplo: prestação de concurso público, nomeação para cargo público,
prestação de vestibular para ingresso em universidade pública, e vários outros
fins.
Os documentos eram: Atestado de Bons Antecedentes e Folha Corrida.
Agora, decorridos dezenas de anos, mudança de século, teremos, se aprovado em plenário o projeto, uma lei que tornará obrigatória a apresentação de atestado de bons antecedentes para casar ou, pior se for isso, uma folha corrida fornecida pela autoridade policial.
Tenho acompanhado, porque recebo o boletim supramencionado, a bizarrice, o ridículo, a aberração, de alguns projetos levados a comissão de constituição e justiça.
Em geral me divirto. Legislar sobre situações incontroláveis, é forma mais fácil de criar o que denominamos de "leis que não pegaram".
Ou como você proibir um filho de fumar. Ele não fumará na sua frente, mas e na rua, no colégio, na festinha? Se não houver controle absoluto das variáveis, caímos no inócuo.
Olha só. Não li o projeto, portanto posso estar equivocado. Mas para ser aplicável erga omnes, também as mulheres deveriam ser obrigadas a apresentação da certidão negativa de evento criminal. Ou não? Quantos casos temos de notícia de mulher que matou o marido, ou contratou sua morte, pelos mais diversos motivos: herança, traição, etc.
E os casos de união estável, espontâneos e informais? Arriscaria dizer que atualmente tão numerosos quanto os casamentos formais regulados em lei. E nem sempre com escritura declaratória da união.
E quem não tendo antecedentes criminais, num dado momento delinqua? Pode haver uma primeira vez, por motivações as mais diversas.
Um repertório de projetos de leis, oportunísticos, pontuais, casuais, são comuns no chamado "baixo clero", integrado por parlamentares inexpressivos.
Enquanto isso, questões importantíssimas, como a implantação da pena de morte; liberação e regulamentação do jogo de azar; aborto; eutanásia, limitação do número de mandatos parlamentares e prazo para exercício de funções judicantes nos tribunais superiores, entre outros relevantes temas de interesse da sociedade, não encontram patrocinadores.
Saudades de Amaral Neto, que defendeu arduamente a pena de morte; e de Nelson Carneiro, defensor do divórcio em priscas eras quando só tínhamos o desquite.
Foram quixotescos, combativos e corajosos com suas bandeiras de votos vencidos.
Nota:
1) Não entro no mérito da integridade moral do, por exemplo, Amoral Nato, apelido a boca pequena do parlamentar.
2) Antigamente os pais fumavam mas proibiam (ou recomendavam) que os filhos não fumassem.
3) Nosso Congresso é fisiologista, por vezes folclórico ou risível.
O "Atestado de bons antecedentes" era assinado pelo médico da família, por militar credenciado, por professor, magistrado, ou seja, alguém socialmente reconhecido, inclusive um vizinho.
ResponderExcluirJá a "Folha Corrida" era fornecida pela delegacia de polícia.
Hoje recebi de um amigo um estudo do custo do nosso Judiciário em percentual do PIB, comparado com dezenas de países globo afora .... (é assim que se escreve, Profª Rachel? ).
ResponderExcluirUm massacre, não te enviei porque fiquei com receio que pudesse interpretar como uma afronta ao segmento. Fugindo de debates antagônicos com amigos.
Mas os números são uma vergonha para nós.
E o que vc postou tem tudo a ver com esse custo .... o lance hoje é inventar qualquer porra/dúvida/direito/preconceito/etc e judicializar. Isso significa GRANA para alguém, rachadinhas entre os "adversários", sei lá mais o que.
ResponderExcluirE a relação custo X benefício, não conta?