Às 11 horas da manhã, do dia 31 de dezembro de 1964, na casa dos pais dela, na Rua 25 e março, 65, com as portas e janelas abertas, conforme determina o ritual, o Juiz de Paz realizou a cerimônia de casamento civil. Ou seja, perante a lei já éramos marido e mulher.
Mas na igreja o casamento só aconteceu às 18 horas, na igreja da Consolação. Esnobei usando um terno azul marinho no casamento civil e outro preto como mandava a praxe, para o casamento na igreja.
Verba para viajar para a Europa, nem pensar. Nem para algum destino na América do Sul; e nem mesmo para um Estado do Sul ou do Nordeste.
Fomos para cidade de São Lourenço, em Minas Gerais, que era um destino usual entre a classe média baixa.
Quarenta anos depois voltamos, na mesma época do ano, àquela cidade do circuito da águas e ficamos no mesmo hotel. Estava tudo como dantes.
Casados viemos morar em Niterói, na casa de minha mãe. Meu pai falecera no ano anterior ao meu casamento.
Mais tarde alugamos um apartamento levando apenas fogão e cama. Mesa e cadeiras, assim como geladeira foram comprados a crédito um mês depois. A TV, em preto e branco, demorou um pouco mais.
Vieram os filhos, formai-me em Direito, fui promovido na empresa onde trabalhava, comprei um apartamento financiado, na Rua Miguel de Frias, 245, e depois meu fusquinha (usado) verde.
Agora, decorridos 56 anos, os dois filhos formados e casados, dois netos já universitários, parece que a missão está cumprida.
Fechei o escritório que funcionava num imóvel (sala) próprio que pretendo agora alugar.
Viajamos, menos do que desejava, para destinos na Europa e na América do Sul. Arriscaria dizer que conhecemos o essencial em matéria de arte, cultura e história ocidental da humanidade: Roma, Paris, Londres, Berlim. E ainda cidades e capitais importantes: Madrid, Barcelona, Lisboa, Porto, Viena (bela cidade), Praga, Budapeste, Buenos Aires, Montevideo, e outras menores em tamanho, mas não menos ricas em tradições e história.
Tem um elo faltante nesta história, que seria melhor narrado por minha irmã - Ana Maria - que viveu o episódio. E eu não.
Meu pai conheceu ou não minha mulher? Afinal começamos a namorara e la voltou para Cachoeiro de Itapemirim. Quando noivei fui com a cara e a coragem, sozinho, enfrentar o "italianão" que era o pai da namorada, para pedir a mão dela em casamento.
Conheceu sim e numa decisão adotada por ele, em segredo, sem que eu tivesse sido alertado. Aproveitando uma excursão que fiz até Volta Redonda, para participar de uma olimpíada estudantil, ele colocou no carro, um Austin A70, minha mãe e irmãs, e partiu para Cachoeiro.
Só sabia o nome dela - Wanda - mas ainda assim de algum modo conseguiu localizar a casa dela e, salvo engano, chegou a fazer contato pessoal. Ana Maria poderá vir em me socorro.
A aflição de meu pai era saber com que tipo de mulher eu pretendia constituir família. Minhas viagens para aquela cidade capixaba e as inúmeras cartas trocadas denunciavam que a coisa era "séria".
Ele queria conhecer a família dela, quem eram o que faziam, estas coisas ...
Bem, é claro que quando regressaram da viagem tiveram que me contar o que aprontaram. E deram o "agreement" representado pela falta de restrições.
Mas não nos assistiu no altar e nem conheceu os netos. Faleceu aos 57 anos de idade. Um menino, posso dizer agora do alto de meus 80 anos.
Nota: já relatei boa parte aqui neste espaço virtual. Está em :
https://jorgecarrano.blogspot.com/2012/11/ano-novo-vida-nova.html
ResponderExcluirQuarenta anos depois estava tudo como dantes no sentido urbanístico da cidade, do Parque das Águas, do hotel (o mesmo que ficáramos em lua de mel) e da culinária, se é que me entendem.
ResponderExcluirSim, papai conheceu a família Campanha.
Como fazíamos vez ou outra, papai marcou um passeio sem destino certo. Praticamente um Easy Rider, sem drogas e rock'nroll, como convém a uma família conservadora.
Com certeza o patriarca havia planejado o roteiro e destino da aventura, mas acredito que guardou a surpresa inclusive para nossa mãe.
Partimos prevenidos para pernoites e sem data para voltar.
Um detalhe interessante e que marcou o passeio, foi que eu e Sara, minha irmã, fomos obrigadas a troca de roupa dentro do carro, pois calças compridas e bermudas eram proibidas na cidade de Campos.
De parada em parada chegamos a Cachoeiro do Itapemirim.
Pouco me lembro da cidade nesta ocasião. Me impressionei com o lindo rio encachoeirado que passava praticamente, sob a casa da Wanda.
No mais, fomos recebido com gentileza mas pouco tempo ficamos.
Pelo desenrolar da história, acredito que a namorada do primogênito passou pelo crivo dos zelosos pais do namorado.
ResponderExcluirSim, como mencionei que como não houve restrições e comentários críticos desaprovadores quando regressaram, imaginei que Wanda fora aprovada.
Conta como localizaram-na na cidade. Perguntei a Wanda mas ela não sabe como foi.
E tendo referência prepararam uma "aproximação" como faziam os irmãos Villas-Boas? rsrsrs
Carrano, tá me dando inspiração para um conto... muito legal a história... e, tudo começou com a ida do Liceu a Cachoeiro... sei que vários membros da delegação do colégio namoraram muitas das meninas cachoeirenses... mas, em casamento, só o seu caso... muito boa história...
ResponderExcluirParece que era comum esse tipo de "investigação" sobre "com quem andávamos".
ResponderExcluirEu nunca sofri esse tipo de patrulhamento, sempre fui muito rebelde e não reagia bem a qualquer tentativa de xeretada na minha vida. E expressava isso claramente, não para meu pai (nunca tentou), mas para minha mãe, a Matriarca.
Meu irmão Freddy sofreu muito com esse tipo de "investigação", porque se submetia muito à nossa mãe, como primogênito. Conversava muito com ela, já cega, sobre tudo da vida dele. Ele conta sobre isso em algum post aqui do GE.
Um belo dia cheguei em casa e mostrei a aliança - fiquei noivo.
Hoje, 2020, o patrulhamento é muito pior. Parentes, amigos, colegas, vigiam você pelas mídias sociais, xeretando seus posicionamentos políticos, futebolísticos, sociais, sua reação às causas dos lacradores da humanidade, uma coisa horrorosa.
Sem exagero, eu diria que se você quer ficar em paz hoje em dia, se desliga do Facebook, Twitter, Instagram, WhatsApp, e só use as funções telefônicas do seu aparelho celular. Alô ? Nada mais do que um alô.
Alô pra vocês !