Jorge Carrano
Carioca, do Andaraí, octogenário, vascaíno.
Você acredita nisso? Pensa assim também?
Eu não. Técnico também ganha, como provaram, por exemplo, na Premier League: Alex Ferguson, escocês, 26 anos a frente do Manchester United e Arsène Wenger, francês, 22 anos de Arsenal.
O primeiro técnico de futebol que chamou minha atenção, no Brasil, foi Flavio Costa, que dirigia o Vasco e a seleção nacional.
Vitorioso no Gigante da Colina, mas perdedor de uma Copa do Mundo, em casa, jogando pelo empate, depois de haver aberto o placar.*
O Uruguai reverteu e virou o resultado para 2X1, sagrando-se campeão, pela segunda vez.
Por coincidência, leio hoje que o filho do autor do gol da vitória - Ghiggia - quer vir trabalhar como técnico no Brasil, de preferência no Botafogo ou no Vasco.
Leiam em:
Flavio Costa introduziu no Brasil o sistema WM utilizado na Europa, especialmente na Inglaterra. As equipes, neste sistema, jogavam com dois zagueiros, três jogadores na linha média e cinco atacantes.
O time da Vasco, com poucas variações, tinha a seguinte formação: Barbosa, Augusto e Wilson; Eli, Danilo e Jorge; Friaça, Maneca, Ademir, Ipojucam e Chico.
Mais tarde, seja pelos resultados alcançados, seja pelo folclorismo em torno de seu nome, passei a admirar Gentil Cardoso, pernambucano campeão em vários clubes.
É dele o ensinamento, válido até hoje, contido na frase: "quem se desloca recebe; quem pede tem preferência".
Essa assertiva é válida até nossos dias. Num futebol solidário, os jogadores precisam se movimentar, oferecer opção de passe ao companheiro, deslocarem-se buscando espaço, enfim coisas do gênero.
Outra boa história sobre o Gentil é que sendo ele um defensor da bola na grama, rasteira, explicava: "a bola é feita de couro (na época era mesmo); o couro vem de onde? Do boi ou da vaca não é? E o boi se alimenta do quê? Capim ou grama, né!? Logo a bola tem que ficar rente ao gramado".
Mas a melhor frase dele é a que define e distingue o craque: "o craque trata a bola de você, não de excelência".
Três irmãos - os Moreira - trabalharam como técnicos no futebol brasileiro: Zezé, Aymoré e Ayrton Moreira. Dois deles com um pouco mais de destaque.
Aymoré conseguiu um feito que não lembro de outro treinador que tenha conseguido, dirigindo a seleção nacional: um campeonato mundial (nosso bi), uma Copa Roca (disputada com a Argentina), uma Copa Rio Branco (disputada com o Uruguai), uma Taça Bernardo O'Higgins (disputada com o Chile) e uma Taça Oswaldo Cruz (disputada com o Paraguai).
Zezé, outro irmão Moreira, criou e aplicou o sistema de marcação por zona que fez relativo sucesso no Fluminense. A defesa ficava muito bem protegida. E eu odiava meu time pressionar o tempo todo e ao final da partida o placar mostrar Fluminense 1X0.
Quem não lembra de Rinus Michels, claro se de minha geração ou a do Paulo March, posterior a minha, pois os mais novos não sabem de quem se trata mesmo.
Foi o célebre criador do futebol total (carrossel holandês) implantado na seleção holandesa de 1974, também chamada de "laranja mecânica". Foi uma novidade, tentada, sem sucesso, em outros seleções e equipes. Segundo Rinus, dependia muito do nível de inteligência dos jogadores.
Agora os portugueses estão na moda. No Brasil e em outros países, inclusive na Venezuela, onde José Peseiro dirige a seleção nacional.
Dentre os lusitanos laureados e elogiados, destaca-se José Mourinho. Na Wikipédia seu curriculum é invejável. Leiam:
https://en.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Mourinho
Mas no Brasil técnico português cobiçado é coisa mais antiga, como faz prova o anúncio veiculado pelo Vasco, em 1946, de sorte e permitir a candidatura de Ernesto Santos que era professor na escola de educação física.
Ernesto foi contratado em substituição ao uruguaio Ondino Vieira artífice do "Expresso da Vitória.
Alguns treinadores criam rivalidade séria entre eles. Discutem, se alfinetam e se xingam.
Abaixo flagrante de desentendimento entre Mourinho, então do Chelsea e Wenger, no Arsenal.
Elegantemente trajados mas prontos para as vias de fato.
ResponderExcluirEm 1946, um salário de Cr$ 3.000,00 era alto para o técnico.
Bem, nesta época, as pessoas mais humildes podiam comprar "um tostão e banana machucada". Aquelas que ficavam, não penduradas nos cachos nas quitandas, mas sim sobre o balcão pois haviam despencado ou estavam amassadas.
ResponderExcluirBambis 3 X 0 Urubus
Uma enorme torcida está em festa, os que são contra o time da mulambada.
Confesso que torci muito ontem, porque realmente quero o sucesso do Diniz, uma novidade nesse meio de treinadores ridículos sem estudo, inteligente, centrado, ético, o contrário do Ceni, um mercenário à moda antiga.
ResponderExcluirFoi uma vitória incontestável, mas que deixa uma interrogação : o Vitinho vale o que pagam a ele ?
Well, sobre o post, confesso que nunca prestava atenção no trabalho dos treinadores, meu foco era o time em campo, que claro, é fruto do trabalho da comissão técnica.
Nem em grandes conquistas que vivi como a Copa de 70, não valorizei o trabalho do Zagalo, pra mim os campeões estavam em campo.
Mas o Rinus Michel me chamou a atenção sim. Aquele carrossel da Holanda foi uma coisa fenomenal !! Uma raridade ! Acho que o Diniz é diferenciado, mas tem que deixar o cara trabalhar a longo prazo. Complicado, porque o que importa são os resultados, nunca a evolução de um trabalho.
Fazer o que ?
Vcs viram o Brasil x Uruguai ? A mediocridade do nosso time, jogando com a casinha fechada até achar uma bola (cagada). Depois que achou, foi outro jogo.
Não é somente jogador que tem que jogar, sentir o cheiro da grama ...treinador também tem. E o Tite não faz nada por meses ,,,, é como um jogador sempre voltando de uma contusão.
FLUi
Antigamente, ainda no tempo do futebol amador e no início do profissionalismo, pode ser que técnico ganhasse ou perdesse jogo... Da década de 50 do século passado para cá, duvido que isso aconteça... Exemplos: Flavio Costa, com a super seleção brasileira, não conseguiu ganhar a Copa do Mundo de 50; Zezé Moreira,também com uma excelente seleção, não fez grande coisa na Copa de 54, nem chegando à final. Os dois, arrogantes e professorais, considerando-se os sábios em futebol. Já Feola, mero auxiliar do São Paulo, que pouco entendia de futebol (dizem até que dormia durante os jogos), conseguiu o ambicionado título em 1958. Que o técnico possa ser útil em motivar um elenco, que consiga criar um bom ambiente entre os jogadores e os faça render mais, até concordo. Mas, achar que vai ter êxito enfiando na cabeça do atleta esse ou aquele sistema do jogo, é apenas ilusão. O que decide jogos é a improvisação, o raciocínio rápido, o espírito coletivo dos jogadotes em campo. Atualmente, vemos os técnicos se esgoelando na beira do campo, reclamando agressiva e ostensivamente das arbitragens, como se só os times que dirigem sejam os prejudicados, mudando de equipes como quem muda de camisa e ainda se considerando os salvadores da pátria. Esse Mano Menezes me dá pena... Acho que vc. não lembrou do Fleitas Solich, como um dos treinadores estrangeiros que fez sucesso no Brasil...
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ResponderExcluirRiva,
Concordo com sua opinião em relação ao Diniz.
E também sobre o Rinus Michels.
Por falar no Diniz, sabe que tivemos um técnico, estudioso e inovador, que não fez carreira e escola porque faleceu relativamente cedo?
Refiro-me ao Claudio Coutinho, o do "ponto futuro", do "overlapping", que hoje são adotados sem estes nomes.
Carlinhos,
Não esqueci do "feiticeiro". Revelador de talentos.
Fui ao Maracanã ansioso para ver Puskas e seus companheiros do Honvéd, base da famosa seleção húngara de 1954, e acabei vendo o ataque reserva do Flamengo dando um baile de bola neles.
O ataque principal do Flamengo era Joel, Rubens, Índio, Benitez e Esquerdinha, e o Solich, promoveu Henrique, Dida e Babá (os outros dois do ataque não lembro).
Como escrevo sem planejamento no correr da pena, como se dizia no passado, acabei não encaixando o Paraguaio no post.
Por fim sobre a Copa de 1950 o que tenho a dizer é o seguinte: Perdemos para uma grande equipe. O Uruguai tinha um time talentoso e já ganhara título mundial e olímpico.
Zizinho, Ademir e Jair formavam um trio excelente, mas faltou ao nosso time o que sobrou ao Uruguai: raça, vontade e disposição.
Mais vergonhoso, a meu juízo, foram os 7X1 de Belo Horizonte.
ResponderExcluirE o Abel Braga, hein!?
O Abel Braga não é mais treinador, né .... desde que o filho faleceu tragicamente ele meio que abandonou a profissão, avaliou tudo, quer ficar mais em casa, e também, é mais um daqueles que parou no tempo e no espaço em termos de estudo, investimento na carreira, inovação ... é como muitos outros que estão no mercado brasileiro, levando surras dos estrangeiros.
ResponderExcluirVivem sendo contratados, demitidos e botando uma grana no bolso. Lamento o Abel insistir nisso, não precisa mais.
Vasco está 0x0 ...
Carrano, apenas algumas observações sobre seu penúltimo comentário: concordo integralmente que o Rinus Michels foi um dos pouquíssimos técnicos a inovar alguma coisa no futebol. Também admiro o trabalho do Fernando Diniz, mas nada de novo em matéria de tática.
ResponderExcluirLamento discordar, mas não vi nada de extraordinário no trabalho do Claudio Coutinho. Estávamos sob um regime ditatorial, ele era militar (assim como o Parreira), aproveitou a onda da seleção de 70, realmente excelente e se lançou no mundo do futebol. Nunca nos esquecendo de que a seleção de 70 foi construída por João Saldanha e Zagallo apenas colocou as"feras" para jogar. Tudo bem que em 50 perdemos para uma boa equipe (nada a ver com o título olímpico de 20 anos antes), mas, com a vantagem do empate, fazendo o primeiro gol, jogando diante de um Maracanã lotado, não seria possível perder aquele jogo. Foi "amarelão" mesmo, falta de um treinador na boca do túnel. Sobre os 7 X 1 para a Alemanha, fica para outro comentário...
Abel Braga? Bom animador de auditório, atualmente aparentando muito cansaço...
ResponderExcluirCarlinhos,
Discordar implica pensar diferente. Só este fato, pensar, já seria positivo posto que muita gente que não pensa.
Logo, não é coisa para lamentar senão, quanto a mim, agradecer pelo enriquecimento do debate de ideias.
Dizia minha avó, do ramo português: “se todos pensássemos iguais coitado do amarelo”.
Não vou defender o Coutinho porque tenho uma visão muito especial sobre ele enquanto “técnico” de futebol. Acho que a importância dele estava em sair da mesmice. Ele tinha estudo, como por exemplo o Diniz.
Quanto a ser militar nada tenho contra, antes pelo contrário tentei ser um. E não fosse a discromatopsia teria sido.
Não gosto é de burrice, em militares e civis.
No respeitante a seleção de 1950 e ao resultado da copa, vou recorrer a memória da infância. Tinha 10 anos, não chorei como muita gente e não entendia como aquele timaço poderia perder aquela partida, em nossa casa, com 190 milhões de vozes e preces a favor.
Sem contar o retrospecto no quadrangular final: metemos sete na Suécia e seis na Espanha, enquanto o Uruguai ganhara apertado da Suécia e empatara com a Espanha (razão de nossa vantagem com o empate).
Tampouco acho que o time do Uruguai em 1950 guardava relação com o título de 1930 e a conquista olímpica, citei o fato apenas para ilustrar que o país tinha tradição futebolística.
Mas voltando à memória infantil registro que eram muitas as teses defendidas na imprensa, nas ruas, nos bares e até em casa. Entre elas a de que amarelamos diante do Obdulio Varela. Outra era que entramos de salto alto, já ganhou; outra ainda que comemoramos muito na véspera e os jogadores estavam esgotados. O tal do já ganhou. E, ainda, imputávamos ao Barbosa e ao Bigode as falhas no lance fatal.
Este episódio – a Copa de 1950 – vale uma postagem especial.
A Itália, então campeã (1938) caiu fora nas oitavas e a Inglaterra perdeu para insipiente e incipiente seleção norte-americana, resultado impensável que entrou para a história.
Carrano, obrigado pela réplica. Permita-me a tréplica: quis dizer, apenas, que o Coutinho, se não fosse militar, não teria aparecido para o futebol. Ele, o Parreira, acho que o Carlesso, e até o Dadá Maravilha, só fizeram parte da comissão técnica e dos atletas convocados, por "sugestão" do então Presidente da República. A não ser o Dario, não lembro de nenhum deles ter tradição ou história no futebol. Claro que um militar pode entender de futebol e pretender ser técnico. Acho que mais de 200 milhões de brasileiros também entendem e gostariam de ter jogado ou dirigido uma equipe. Mas, os militares da época não gostavam do Saldanha (comunista de carteirinha) e do sucesso que ele teve ao reerguer a até então desacreditada seleção brasileira. Por isso, introduziram na Comissão Técnica alguns militares para verificarem "se tudo estava em ordem". Zagallo, na época, treinador do Botafogo, sem maior experiência, aproveitou o trabalho de Saldanha e teve o mérito de escalar Rivelino na ponta esquerda e Tostão de centroavante. Quanto aos militares, tenho muitos amigos que cursaram o ginasial comigo no Liceu e chegaram a almirantes, generais, brigadeiros... Só discordo dos 21 anos de ditadura que nos impuseram e da forma como assumiram o governo naquela época...
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ResponderExcluirPois é, Carlinhos, por pouco você não me teria também como um brigadeiro ex-colega do Liceu (rsrsrs).
Saldanha foi o mentor da "feras". E ri muito quando comunicaram a ele a dissolvição da comissão técnica e ele comentou: como dissolvida? Não sou sorvete.
Consta que assim que convidado ele teria enfiado os dedos no bolso superior do blazer de onde girou a lista de convocados.
Não teve suspense e nem dúvidas.
Ah! Carlinhos, para arrematar, não sou como Bolsonaro que enxerga inimigos naqueles que discordam dele.
Errata: do bolsinho TIROU a lista ...
ResponderExcluirE mentor DAS feras...