22 de outubro de 2019

A NOVA MONA LISA





"Jovem Dama": obra autenticada por quatro das maiores autoridades em Da Vinci pode ser chave para "código" da vida real.


A NOVA MONA LISA 


Prof. Átila Soares da Costa Filho
Uma conferência em Roma no início deste janeiro - no mesmo ano que marca o 500º aniversário da morte de Leonardo da Vinci - deve marcar a história da arte com mais polêmica sobre o maior gênio de todos os tempos. Sob a condução de Silvano Vinceti, presidente do "Comitato per la Valorizzazione dei Beni Storici, Culturali e Ambientali" da Itália, o evento propõe acrescentar, aos clássicos retratos executados pelo mestre, uma graciosa pintura medindo 61,5 × 54,5 cm. Estamos falando da "Jovem dama com casaco de pele", um curioso óleo sobre madeira de álamo executado entre 1495 e 1499.

Sua origem nos leva a Milão, enquanto Da Vinci estava a serviço de Ludovico, o Mouro, (1495-1499). Da coleção do cardeal Luigi d'Aragona (1500), segue à do Papa Inocêncio XII e a do Bispo de Otranto (Domenico Morelli) em 1700. Já em 1850, vai para Milão, a integrar a coleção do Marqués Moramarco. No início do século XX, chega à Alemanha através de uma família industrial e em 1975 é vendida para outra família do mesmo ramo da qual pertence seu atual proprietário. A obra já teve sua chancela declarada por quatro das maiores autoridades reconhecidas em Da Vinci: o historiador Adolfo Venturi (já em 1921), os professores Ernst Ullman e Carlo Pedretti - provavelmente o maior especialista em Da Vinci de todos os tempos -, e o próprio historiador Silvano Vinceti, mais recentemente em 2018. Embora em muito boas condições de preservação, a "Jovem dama com casaco de pele" chegou a se submeter a uma leve restauração em 1977 pelas mãos dos especialistas Henning Strube e Beate Strube-Bischof. Atualmente, o óleo está alojado em um cofre suíço. Notar que a pintura se faz explicitamente relacionada a duas das obras mais conhecidas de Leonardo, "Dama com um arminho” e a "Mona Lisa" - ou "Gioconda".

O significado. Mais do que uma bela imagem feminina, a pintura nos chama a refletir sobre um dos maiores interesses temáticos de Leonardo: a busca de um ideal de beleza maior que residisse no princípio dual - ou "dos opostos" - nas coisas. Esta questão do dualismo nos remete a Heráclito de Éfeso (535-475 aC) e seus pensamentos sobre o cosmo e o Uno, o devir e a harmonia. Também os estudos sobre Fibonacci e a proporção áurea, a força do equilíbrio simétrico, viriam a ser de singular importância nas composições do gênio. Em particular, na iconografia Da Vinci que aborda o tema da maturidade versus a juventude, vemos alguns exemplos de como tais implicações filosóficas o seduziam.

Assim, de acordo com análises comparativas entre a desgastada "Mona Lisa" e várias de suas jovens e idealizadas mulheres - tão presentes também nas obras de discípulos -, “Jovem Dama” seria apenas um contraponto para seu maior ícone. Aqui, este efeito é claro, onde é evidente a representação de um rejuvenescimento da "La Gioconda". Notar também que o tipo de cabelo é o mesmo em ambas, assim como há um forte elemento circunstancial: a presença de cosmético labial na jovem Lisa (Gherardini), o que só vem corroborar a relação direta entre as duas versões e o confronto de suas idades. Em plenos séculos 15 e 16, o uso desses materiais de tons avermelhados em mulheres maduras - portanto, reservadas - era extremamente inadequado. Inclusive, vários estudos para restaurar as cores originais da "Gioconda" mostraram que seus lábios não seriam muito mais rubros do que parecem atualmente. A "Mona Lisa", enfim, para Leonardo, só deverá existir se houver uma contraposição que a equilibre: uma “Jovem Dama”. Com ela o mestre poderá melhor exercer suas reflexões sobre uma realidade invisível, maior, onde os opostos orquestram o movimento da História e de toda a Criação.
O Prof.Atila Soares da Costa Filho é designer, especialista em História, Antropologia e Filosofia e autor de “A jovem Mona Lisa”, “Leonardo e o Sudário” e co-autor de “Leonardo da Vinci's Mona Lisa: New Perspectives”.

8 comentários:


  1. O autor da postagem, Prof. Átila Soares da Costa Filho tem, entre outras, as seguintes qualificações:

    Possui graduação em Desenho Industrial pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1996), e pós-graduação em História da Arte pela UGB, Volta Redonda (2008), em Filosofia e Sociologia pela FACEL, Curitiba (2011), e, ainda, em História e Antropologia pela Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro (2016). Tem experiência na área de Artes, Filosofia e Sociologia.

    Agradeço penhorado o privilégio que me concedeu de publicar esta didática análise sobre um dos maiores gênios e uma das mais icônicas obras da pintura artística.

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  2. Confesso minha ignorância no assunto .... desconhecia ser "um dos maiores interesses temáticos de Leonardo: a busca de um ideal de beleza maior que residisse no princípio dual - ou "dos opostos" - nas coisas".

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  3. Pois é, Riva.

    Também eu. Daí a importância de termos o privilégio de contar com um estudioso na matéria postando neste modesto espaço virtual.

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  4. Minha ignorância já é conhecida pelo Prof. Átila. Vezes sem conta cometo heresias artísticas em comentários irreverentes em postagens do grupo "Gold master um latin america collections".
    E ainda confesso com a cara mais deslavada. 🙄🙄🙄

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  5. Admitir a ignorância em determinadas matérias, reconhecer as limitações culturais, se e quando acompanhadas de ações e esforços que visem corrigir a insuficiência é o caminho indicado. Ou não?

    Quanto mais aprendemos maior é nossa percepção, do quanto desconhecemos.

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  6. A cidade de Paris etá no Top 10 das mais visitadas no mundo. O Museu do Louvre está no Top 10, dos pontos turísticos/culturais da cidade. E a tela Mona Lisa (Gioconda) está seguramente entre as 10 mais procuradas e visitadas no museu.

    Você pode até se decepcionar com as dimensões do quadro ou com a (falta de) emoção que proporciona, como se ouve aqui e ali, mas é inesquecível. Aquele sorriso ...

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  7. A Monalisa foi uma grande decepção para mim, defronte a ela ... realmente não me passou nenhuma emoção de estar ali.

    Outra, que acho já relatei, foi o Coliseu de Roma. Mal cheguei na rua contemplando a estrutura, esmaecida, falei ...tem certeza que é o Coliseu ?

    E internamente muitas obras, operários, andaimes, difícil conseguir uma visão bacana do local. Tb foi meio "broxante".

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  8. Pelo que depreendi do texto, não se trata de um mero estudo da Pintura de Da Vinci.
    E uma análise do que há por trás das telas. A alma do artista, com sua dualidade e simetria, além dos simbolismos nos detalhes dos quadros.
    Excelente texto do Prof. Átila.

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