10 de novembro de 2018

Filosofia caseira - aforismos, provérbios populares, frases clássicas

A maioria das boas frases filosóficas que conheço não foram proferidas por quem se apresentava como pensador ou filósofo, ou aceitava estes títulos.

Se não chegam a ser aforismos, têm fundo de verdade ou conselho útil, com viés humorístico. E emanam das massas, de anônimos espirituosos.

Querem exemplos? Façamos associação de ideias.

- Pato novo não mergulha fundo.
- Em rio que tem piranha jacaré nada de costas e macaco bebe água de canudinho.
- Farinha pouca, meu pirão primeiro.
- Missa se espera na igreja.

Frasistas que admiro, autores de sentenças definitivas, irretorquíveis, Nelson Rodrigues e Paulo Alberto Monteiro de Barros, estavam mais próximos de sociólogos do que de filósofos.

Do primeiro coleciono uma verdade inexorável: "Viver é acumular perdas".

Do dramaturgo gosto da que segue:


Daí porque "torcer pelo Flamengo é falta de imaginação", frase criativa e fustigante do americano Jorge Perlingeiro.

Até mesmo comunistas vez ou outra cunham frases profundas. Levam-nos à reflexão mesmo que, digeridas, discordemos delas.




Se Marx estivesse aqui diante de mim, iria redarguir  com um frase lida alhures e cujo autor já não registro: "A filosofia abre muitas portas, atrás das quais nada se encontra."

Se non è vero è ben trovato. Assim como a poesia, a filosofia não é necessária. 

Bons mesmo são os humoristas. O exemplo abaixo é uma prova definitiva da filosofia embutida na frase de Apparício Torelly, um dos ícones do humor inteligente.


E o Millôr? Quantas frases deste mestre do humor, tradutor, roteirista, você se recorda e certamente recorre a elas em meio a conversas? Esta abaixo é ferina e tinha endereço certo.


Meu sogro foi um homem de poucas letras. Descendente de imigrantes italianos, seus pais fixaram residência em Minas Gerais e beneficiavam piaçava. Caso não associe o nome a pessoa, vejas as imagens a seguir:



Se  não tinha o saber  acadêmico, tinha uma enorme sabedoria. Certa noite, em sua casa em Cachoeiro de Itapemirim, onde então residia, quando conversávamos sobre honestidade ele, que fabricava calçados semi-artesanais (sandálias, botas), e sujeito a pequenos furtos de seus poucos empregados, saiu-se com a seguinte parábola:

"Ainda prefiro um pequeno ladrão a um burro. Veja o seguinte. Você tem uma horta cercada. Que faz o ladrão se ambiciona uns quantos pés de couve? Pula a cerca, colhe alguns pés e vai-se também pulando a acerca. E o burro? Ele arrebenta a cerca, entra na horta e enquanto come suas couves vai pisoteando outras atrás e ao seu lado. E na hora de ir embora, farto, ao invés de sair pelo mesmo buraco que fez na cerca, sai pelo outro lado arrebentando outro pedaço. Prejuízo bem maior. A burrice é intolerável.

Volto ao Nelson Rodrigues:


Digo eu que burrice deveria doer. Doer muito.

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