9 de março de 2018

Os culpados não são somente os zagueiros

Fico irritado com alguns comentaristas de futebol. Alguns jamais chutaram uma bola. Não conhecem seu peso, volume e textura.

Bola tipo capotão nunca viram. 

Você dirá que as emissoras de rádio e televisão têm muitos comentaristas ex-jogadores. Alguns até mesmo bons jogadores.

Mas tanto os que nunca jogaram futebol quanto os que jogaram percebem certos aspectos técnicos dos goleiros. Seus comentários são superficiais, focados num lance ou outro de forma isolada.

Falta observação e conhecimento histórico. Vou-lhes dar um exemplo.

O Martin Silva, goleiro uruguaio do Vasco da Gama, tem sido cantado em prosa e verso. Principalmente porque noutro dia defendeu três penalidades numa disputa após empate no saldo de gols depois dos dois confrontos.

Isto acontece e é episódico. As condições emocionais de uma disputa em tiros livres da marca do pênalti são excepcionais.

Durante uma partida não são 5 os cobradores, alguns até sem técnica. As condições físicas já não são as mesmas após os 90 minutos de uma partida muitas vezes disputada em alta intensidade. Desgastante.

Tal fato - defender penalidades - não é determinante para que se possa rotular o goleiro de muito bom, de paredão.

Outros fatores são importantes durante o transcurso de uma partida. Algumas virtudes não são percebidas e enaltecidas por quem comenta. E alguns defeitos, repetidos, não são observados e destacados.

Bom goleiro, nada excepcional.
Observem a reposição de bola em jogo, em tiros de meta. Alguns goleiros invariavelmente chutam a bola pela linha lateral. O Martin Silva faz isso com muita frequência. Tanto com a bola nas suas mãos, quanto no gramado.

O Martin Silva não tem qualquer habilidade com os pés. Tem duas pernas esquerdas.

Mas o pior de seus defeitos é não saber sair do gol nas bolas aéreas. E aí os zagueiros pagam o pato. O time toma 6 gols em bolas cruzadas sobre a área e os comentaristas ficam batendo na tecla de que: o técnico tem que trabalhar o posicionamento da zaga; os zagueiros marcam a bola e não os adversários; o outro não saltou o suficiente e outras bobagens, que por vezes até são verdades.

Mas e o goleiro? Por que ficou estático debaixo da baliza? Em geral têm boa estatura e ainda têm a vantagem de poder esticar os braços e socar a bola. O ideal seria segura-la firme.

Ora, não há como um atacante, mesmo com seu um metro e noventa, atingir a mesma altura que o goleiro poderia atingir com os braços erguidos. 

Dois fatores são essenciais, tempo de bola e impulsão. Isso pode e deve ser treinado.

No Vasco apenas um goleiro, dos inúmeros que vi jogando, preenchia todos os requisitos: boa colocação, elasticidade e impulsão; saber jogar com os pés; e chutar a bola com certa precisão dando verdadeiros passes para os atacantes.

Esse goleiro chama-se Helton. Está em atividade, agora como técnico,  em Portugal. Jogou 8  anos  (1994/2002) no Vasco, e 11 (2005/2016) no F. C. do Porto, onde encerrou a carreira como jogador.

O Helton tinha precisão na saída, alcançava a bola e com um detalhe que a muitos passava despercebido. Muitas vezes ao tocar no solo, depois do salto, já lançava a bola com as mãos (ou com os pés) para um companheiro, porque já havia percebido a sua colocação.


Embora não fosse dos mais altos, tem 1,89 m, tinha excelente impulsão. E coragem para disputar a bola no alto com os atacantes adversários.

O Helton ficou marcado, no Vasco, por ter sofrido um gol em cobrança de falta do Petkovic numa partida contra o Flamengo, em 2001.


Quem assistiu a partida sabe que era indefensável tendo em vista o local onde a bola entrou. Por maior que fosse a elasticidade, considerando o tempo de reação para quem está atrás da barreira, era impossível chegar a tempo de alcança-la antes de entrar.

Alguns goleiros me irritavam por não saber sair da meta para interceptar a bola alta. Um deles era até vergonhoso pois tinha 1,96 m. Refiro-me ao Dida.

Em priscas eras, goleiros de pouca estatura, relativamente, como Barbosa (1,74 m), Castilho (1,81 m) e Gilmar (1,84 m), não tinham grandes problemas porque os juízes invariavelmente marcavam falta quando eles eram tocados estando no ar.

Estes comentaristas que aí estão não lembram, ou não viram, ou não enxergam o futebol como um todo.

Podem, vocês que me leem, observar que na maioria das chamadas bolas aéreas o goleiro poderia sair e tentar rebater socando ou até segurar a bola com firmeza (por vezes vem sem peso).

Mas os zagueiros pagam o pato sozinhos. Embora tenham problemas de colocação e movimentação  (antecipação) para corrigir.

5 comentários:

  1. Fui goleiro até meus 14 anos de idade, quando "descobri" o canhão que tenho (tinha) na perna esquerda. Meu único ídolo em futebol se chama Carlos Castilho.

    O futebol jogado hoje é - vou chutar - 80% bola levantada na área para um bolo de jogadores.
    Isso simplesmente não só intimida o goleiro a sair (pois prefere assistir a defesa atuar ou ver o rebote disso tudo) como também é um risco para ele, risco de insucesso naquele bolo.

    O futebol jogado em outras épocas, do Castilho, Yashin, Mazurkievski, Gilmar, Ubirajara, Maier e tantos outros, era mais de chute de fora da área e/ou penetração mesmo, com um cruzamento da linha de fundo. Eu adorava ver o uruguaio Rodolfo Rodriguez atuar, era quase um zagueiro, a área quase toda era dele !

    Hoje os cruzamentos são bolas "frouxas" levantadas na área para pelo menos 10 jogadores disputarem o lance ..... se vc é goleiro, vai lá ? Claro que não, só naquela "super boa".

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  2. Caro Riva,

    Suas observações são válidas.

    Mas onde estão os "técnicos" que não adotam antídotos. E os reinadores de goleiros? Aqui abro um parênteses para falar desta relativamente nova função. O Vasco, não faz muito tempo, colocou o Carlos Germano, ex-goleiro do clube, como treinador.Ora, um goleiro que nunca segurava uma bola firme, sempre rebatia, pode ensinar ou treinar outro profissional?

    Paulo, o posicionamento nas bolas paradas, por exemplo, pode facilitar a vida do goleiro (se ele for bem treinado). Se ficam todos, atacantes e defensores, postados sobre a linha demarcatória da área, basta no cruzamento, se for mais agudo (mais próximo do gol), deixar que apenas os atacantes avancem. Estes sim terão sérios iscos e contarão até dez.

    O goleiro está de frente para a bola, correndo em sua direção. Ele vem como tudo (e ainda usa o joelho à frente ao saltar como proteção) e pode socar a bola. Se ele fizer isto duas vezes o adversário terá que buscar outra estratégia.

    E tem mais. Os zagueiros podem se postar formando barreiras, ficando diante dos grandalhões adversários, de sorte a que o goleiro tenha espaço para sair. Se o zagueiro for atropelado será falta. No basquete um jogador fica de barreira (não na frente, claro) para outro arremessar. Vira parede lateral.

    Se o cruzamento não for vertical, tão próximo à meta, ainda então sim deve o zagueiro atrapalhar o atacante. Porque saltando junto desequilibra e não permite bom posicionamento para o cabeceio.

    Enfim, tenho mais o que fazer e não posso ficar bolando estratégias para goleiros, mas os caras que ganham para isso têm obrigação.

    A vantagem do goleiro é enorme. No tamanho (em geral), pode usar as mãos e os punhos. Na impulsão, se treinar, também ganhará do atacante porque os mais altos em geral são pesadões. A exceção é o Cristiano Ronaldo que é alto e tem uma impulsão impressionante.

    Mas quantos Cristianos você vê jogando futebol? Roger? Henrique Dourado? Luiz Fabiano?

    Talvez você tenha razão. Mas não custa nada treinar os goleiros desde a base para que eles tenha como fundamento sair do gol, utilizando a enorme vantagem do uso da mãos.

    Quer ver outra coisa que não me conformo? No arremesso lateral o time não aproveitar a vantagem de estar com um jogador a mais no gramado. Sim, porque o que está arremessando está fora de jogo.

    E é bastante comum deixarem espaços livres para alguém receber a bola.

    Observe que por vezes fica um idiota a frente do que vai fazer o arremesso. A troco de quê? Os que precisam ser marcados, sem espaço, são os que poderão recepcionar a bola.

    Mas aí já são outras histórias.

    PS: goleiro que se intimida deveria jogar voleibol porque terá a segurança de uma rede entre ele e o jogador adversário que saltará com ele (rsrsrs).

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  3. A revista "Four Four Two", britânica, listou os goleiros top 10. Vajam:

    https://www.fourfourtwo.com/features/ranked-10-best-goalkeepers-21st-century


    1) Gianluigi Buffon (Itália)

    2) Iker Casillas (Espanha)

    3) Edwin Van der Sar (Holanda)

    4) Petr Cech (República Tcheca)

    5) Manuel Neuer (Alemanha)

    6) Oliver Kahn (Alemanha)

    7) Victor Valdés (Espanha)

    8) David De Gea (Espanha)

    9) Júlio César (Brasil)

    10) Hugo Lloris (França)


    E ai, Riva, concorda?

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  4. Discordo de alguns, mas não conheço os critérios utilizados para se chegar a esse resultado. Julio Cesar é piada ser citado ....

    Dessa lista o melhor para mim é o Neuer.

    Quanto ao seu comentário anterior, olha, os treinamentos na Europa para fundamentos, posicionamento, defesa, goleiros, é um massacre !! Os treinadores brasileiros estão super desatualizados. Basta ver no Youtube alguns treinamentos europeus, e/ou conversar com jogadores que têm a experiência de treinamento europeu. Um massacre !

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  5. Julio César é piada ...de mau gosto.

    Só esta inclusão já desqualifica a lista.

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