É lamentável que o Canto do Rio Foot-Ball Club,
simpático clube com sede em Niterói tenha deixado de disputar o Campeonato
Carioca de Futebol.
O curioso é que o campeonato carioca, como o nome
sugere, era disputado por clubes com
sede na cidade do Rio de Janeiro, antigo Distrito Federal, e o Canto do Rio era
a única exceção. Era o único fora do Rio de Janeiro.
E era formidável a gente poder assistir aos jogos
dos grandes clubes do Rio, porque todos tinham que vir ao Caio Martins disputar
uma partida com o Cantusca, ou no turno
ou no returno.
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Equipe do Canto do Rio em 1956 |
Nesta época eram, com um pouco de boa vontade, seis
grandes clubes no Rio de Janeiro, os tradicionais Flamengo, Vasco, Botafogo,
Fluminense, e mais o Bangu e o América.
O Estádio do Caio Martins lotava.
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Estádio Caio Martins |
O futebol era jogado em outro ritmo. As equipes
tinham seus uniformes tradicionais e reconhecíveis facilmente,
porque o alternativo, ou segundo uniforme, era apenas uma variação do oficial, sempre
mantidas as cores clássicas.
Até mesmo os menores clubes mantinham a tradição em
seus uniformes: Olaria, Bonsucesso, Madureira, Portuguesa e Campo Grande. Além
do Canto do Rio.
O Rio de Janeiro era a “cidade maravilhosa” e
Niterói tinha a “mais bela vista para o Rio de Janeiro”. Stanislaw Ponte Preta
sacaneava dizendo que em Niterói urubu voava de costas.
O inexplicável é que durante anos Niterói teve um representante no campeonato carioca. Agora Saquarema tem, Campos tem, Volta Redonda tem, Friburgo tem, Macaé tem, e Niterói não tem.
Sabem outra coisa que faz muita falta? O serviço
militar obrigatório. Não porque precisamos preparar soldados para a guerra. Até
porque, guerra convencional não teremos mais nem nos filmes feitos em
Hollywood.
Mas porque aqueles jovens, sobretudo os de classe social
economicamente mais baixa, hoje seduzidos pelo tráfico, recebiam
treinamento para se tornarem homens.
As noções de disciplina, responsabilidade, respeito
à hierarquia e higiene pessoal, eram uma tônica na fase de adestramento.
Recebiam roupas e alimentação. Faziam ginastica pela manhã cedo.
E a convivência entre eles, com tratamento
igualitário era muito salutar. Todos faziam faxina, inclusive nos banheiros.
Varriam e coletavam o lixo nos pátios internos. Tiravam serviço como sentinelas.
Até os mosquetões precisavam estar bem cuidados,
com a parte interna do cano bem limpa. Como por exemplo se faz com o cachimbo.
A higiene era controlada com banhos diários, com
água fria. Cabelos cortados com máquina zero evitavam piolhos.
Os uniformes deveriam estar sempre limpos, com a
fivela do cinto reluzente e os sapatos engraxados.
Os rapazes, aos 18 anos, encorpavam, ganhavam massa muscular,
fruto de exercícios (marchas, manobras, ginástica, ordem unida) e alimentação
garantida.
Muitos deles estavam fisicamente preparados para
ingresso nas Polícias Militares dos Estados. E preparados também
disciplinarmente.
Acabou-se. Por que?
Comentei noutro dia, em outro contexto, o
trabalho dos menores de idade, a partir dos 14 anos; era uma coisa positiva
sobre vários aspectos.
Mencionei apenas os empacotadores dos
supermercados. Mas se retrocedermos um pouco mais no tempo, teremos um quadro
mais amplo.
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Empacotador |
A conversa fiada de que eram muito jovens e
deveriam estar nas escolas é pura balela. O trabalho jamais atrapalhou a
frequência a escola.
A maioria dos meus três ou quatro habituais
leitores há de lembrar. Havia lei obrigando a que as empresas mantivessem em
seus quadros de empregados, um percentual de menores que deveria ser
calculado sobre o total de suas folhas de pagamento.
E eram de duas naturezas, claramente definidas em
lei. Um percentual seria de menores aprendizes, que deveriam frequentar cursos
de formação no SENAI ou no SENAC. A grande maioria, ao final do curso era
aproveitada nos quadros efetivos, como eletricistas, marceneiros, mecânicos,
etc.
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Mimeógrafo |
Outro percentual de menores, de caráter
obrigatório, trabalhava nos escritórios, como office-boys. Como é que vocês
pensam que os documentos transitavam entre as salas dos diferentes setores das
empresas? E quem ia aos bancos?
Não havia internet, o sistema reprográfico era a
fotocópia e as circulares eram datilografadas num stencil e depois rodadas em
mimeógrafo.
Nunca mais ouviremos histórias sobre um office-boy
que se tornou presidente de uma empresa ou até banqueiro, como o Amador Aguiar,
do Banco Brasileiro de Descontos, atualmente BRADESCO.
E o que aconteceu? Melhorou o nível de ensino no
país? As crianças estão todas nas escolas? Não! O sistema educacional faliu.
Invenções como progressão automática e provas no sistema de múltipla escolha,
levaram ao surgimento de milhares de analfabetos com diploma primário ou
fundamental.
Na área de segurança outro fato a lamentar. Acabaram
com uma experiência exitosa, que foi a dupla de policiais apelidados de Cosme e
Damião, que patrulhavam os bairros.
Sempre em dupla percorriam as ruas dos bairros e
coibiam pequenos delitos, como a ação de punguistas, brigas nos bares, e com
suas presenças inibiam ou abortavam outras tentativas delituosas.
A guarda noturna, que surgiu tempos depois, tinha
seus méritos, mas ao final sofreu desgaste natural, degradou e finalmente desapareceu.
Agora é cada um por si. Blindar os carros, contratar
segurança privada. As ações conjuntas são no sentido de colocar grades nos
edifícios ou eletrificar cercas. Colocar guarita na esquina com guarda
particular.
E a criminalidade aumentando muito. Discursos e ações
sobre respeito a cidadania de marginais e às políticas de direitos humanos, mal
concebidas e pior ainda delimitadas, tendo a frente populistas, demagogos e hipócritas, foram um incentivo ao crime, por causa da
impunidade.
Bem, pode ser que volte com outras coisas que
acabaram e que fazem muita falta.
Inclusive na área farmacêutica. Que falta fazem o emplastro "Sabiá "e a pomada "Picrato de Butesin".