Ele deve ter sido muito arteiro. Da pá virada, como diziam no
início do século XX, quando ele nasceu. Ou “pintava o sete”.
Por conta disto foi internado no Salesianos Santa Rosa, que
na época tinha este regime. Consta, na tradição oral da família, que ele fugiu
do colégio no surto de febre amarela no país. Ele teria dito, anos depois, que
teve medo de morrer.
Foi para a casa de um parente, onde se abrigou, para não mais
voltar à casa paterna, senão alguns anos depois.
Cresceu. Foi soldado da polícia militar, na cavalaria, na
época da I Guerra Mundial e estava,
juntamente com os demais policiais militares, na reserva para embarque
para o chamado teatro de guerra na Europa.
A guerra acabou, ele deixou a polícia militar e ingressou no
serviço público federal como linotipista no quadro da Imprensa Oficial (Diário
Oficial da União). O salário era curto e ele para aumentar a renda, foi
trabalhar concomitantemente em outros órgãos de imprensa.
Culminou obtendo o registro de jornalista, com averbação na carteira profissional, eis que naquela época não existiam faculdades de comunicação social e o exercício da profissão era regulamentado e controlado com rigor pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), pois eram tempos do Estado Novo, implantado por Getúlio Vargas. Assim, o Ministério do Trabalho promovia o registro na carteira profissional dos que haviam sido aprovados pelo DIP.
Sobre esta fase já me estendi um pouco em http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2012/01/fernando-da-motta-carrano.html
Culminou obtendo o registro de jornalista, com averbação na carteira profissional, eis que naquela época não existiam faculdades de comunicação social e o exercício da profissão era regulamentado e controlado com rigor pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), pois eram tempos do Estado Novo, implantado por Getúlio Vargas. Assim, o Ministério do Trabalho promovia o registro na carteira profissional dos que haviam sido aprovados pelo DIP.
Sobre esta fase já me estendi um pouco em http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2012/01/fernando-da-motta-carrano.html
Nestes jornais em que atuou, xereta e observador, fora da linotipia foi
aprendendo segredos da profissão de jornalista. Nesta área, ao cabo de alguns anos e em diferentes veículo,
fez de tudo, ou quase tudo, desde linotipista.
Foi revisor, copydesk e redator, até que no Estado do Rio de
Janeiro, antes da fusão, dirigiu por seis anos o Diário Oficial. Aquele prédio
da Rua Marques de Olinda, em Niterói, foi construído na gestão dele, sendo
governador o Miguel Couto Filho. Antes o veículo oficial do Estado funcionava
numa velha e precária construção de madeira, na Av. Jansem de Melo.
Ainda no campo de jornalismo, foi co-produtor e apresentador
de programa na rádio Mauá, com noticiário voltado para as coisas do Estado do
Rio, que tinha Niterói como capital.
Teve na sua vida privada, desde a juventude, uma gama bem
diversificada de atividades: frequentou umbanda, faleceu como membro da
maçonaria, dançou em gafieira (com medalha conquistada), foi baterista num
conjunto que se apresentava nesta mesma gafieira, desfilava no carnaval na Sociedade Carnavalesca Tenentes do Diabo,
enfim uma miscelânea de afazeres, obrigações e diversões.
No campo esportivo, presidiu dois clubes em Niterói e São
Gonçalo. No município vizinho presidiu o Carioca F.C. que disputava o campeonato
municipal. E em Niterói presidiu o Sepetiba F.C.
Clubes rubro-negros (os dois) como o Flamengo seu time de infância
e com as mesmas cores da Tenentes do Diabo. Nunca me impôs, ou mesmo insinuou que eu deveria seguir suas opções futebolísticas.
Quando faleceu, em 1963, era o presidente do Tribunal de
Justiça Desportiva, tendo sido auditor durante anos. Falo, claro, do Estado do Rio antes da fusão com o estado da Guanabara.
Mais do que suas palavras foram suas atitudes, seus exemplos de dignidade que moldaram meu caráter. Ou deram os contornos.
Leal aos seus princípios e aos amigos, foi um ser político
com consistentes princípios morais e éticos.
Hoje, dia 13 de abril, completaria 110 anos se estivesse
entre nós.
Rest in peace, meu pai. Sua benção!
Nota do autor: sobre a febre amarela, que tem o mosquito aedes aegypti como vetor, ler em:
http://www.13snhct.sbhc.org.br/resources/anais/10/1345081434_ARQUIVO_SurtodefebeamarelanoRiodeJaneiro.pdf
Agora ele transmite mais dengue, chikungunya e zica, mas é o mesmo mosquito.
Nota do autor: sobre a febre amarela, que tem o mosquito aedes aegypti como vetor, ler em:
http://www.13snhct.sbhc.org.br/resources/anais/10/1345081434_ARQUIVO_SurtodefebeamarelanoRiodeJaneiro.pdf
Agora ele transmite mais dengue, chikungunya e zica, mas é o mesmo mosquito.
Excesso de fumo (duas carteiras por dia) de cigarros fortes, sem filtro, o gosto pelas gordurinha dos contra-filés e até pela pele de frango bem assadinha (um veneno), combinada com vida sedentária e estressante, culminou com infarto fulminante aos 57 anos de idade.
ResponderExcluirEu que atingi 75 anos, ou seja, os mesmos algarismos invertidos, sei o quanto de diferença fazem os 18 anos que vivo a mais.
Parabéns pelo pai que teve, e pelo que o senhor é. Eu o admiro muito. Acordei agora preocupada com a vida e me dei com esta postagem linda.abraços
ResponderExcluirMaria Helena, bom dia!
ResponderExcluirMuito grato pelo carinho e generosidade de suas palavras.
Uma das coisas que mais lamento em minha vida, foi não ter dado o devido valor ao meu pai, enquanto era possível abraça-lo e agradecer.
Minha ignorância, total falta de cultura no assunto, não me permite afirmar que onde ele estiver ou esteve sabe que eu o amava e continuo amando por tudo que ele representou para a nossa família.
Abraço.
Seja bem-vindo ao grupo de seguidores, Rodher.
ResponderExcluirObrigado.
Segundo informações de fontes fidedignas, a pandemia que provocou a fuga de nosso pai do internato foi a gripe espanhola, que matou mais de 35 mil brasileiros.
ResponderExcluirPais ... Base de tudo
ResponderExcluirVerdade, Ana Maria.
ResponderExcluirTroquei a febre, mas as consequências foram as relatadas.
Obrigado pela correção.
Bj.
O virus da espanhola é o nosso conhecido influenza, esse mesmo agora na forma "A" H1N1.
ResponderExcluirA vacinação começará este mês de abril e acho que todos devem ir aos postos de saúde.
Se eu fosse cineasta, certamente faria um filme.
ResponderExcluirSe eu fosse escritora, certamente seria " o livro".
De tudo que li e pude observar, dentre mtas facetas de "seu Carrano" o caráter é a marca registrada de um homem que circulava em ambientes corruptores.
Onde quer que esteja, orgulhoso pelos filhos que aqui se encontram e continuam sua jornada seguindo seus passos, deve estar.
Foi um ser humano com virtudes e defeitos, como somos todos.
ResponderExcluirMuito me orgulho de ser seu filho e espero não ter decepcionado.
Obrigado pelas generosas palavras, Alessandra.