4 de março de 2016

Contratando secretária

A primeira que atendeu ao anúncio chegou cedo. Bonitinha, de minissaia, pernas bem torneadas.

Sentou e percebi uma mancha na batata da perna (panturrilha).

Comentei. - Carmem - este era seu nome – você precisa procurar um dermatologista. Você está com uma mancha estranha na perna. Ela olhou e respondeu. – Isto é uma tatuagem. – E o que significa? 


– É tribalista! – Ah, sei!

Agradeci o interesse em trabalhar comigo e disse que ficaria com o curriculum para contato posterior.


A segunda apareceu com piercing no nariz, na orelha direita e na sobrancelha esquerda. Perguntei. – Você fala minha língua? Como ela estranhou tive que explicar. Temo que você só fale a língua tupi, que eu não entendo. Como assim, perguntou a candidata?

Esta se chamava Vanessa. Então expliquei para ela que a aparência dela com todas aquelas coisas enfiadas no rosto, era de uma primitiva, uma  selvagem. Se não do ramo tupi, então seria tapuia.


Agradeci por ter vindo e informei que ficaria com o curriculum para decisão posterior. Afinal ela era a apenas s segunda candidata com o qual conversara.

Às onze horas aparece uma outra candidata, com fones nos ouvidos, trajes bem informais  e sorriso nos lábios.

Perguntei o que estava ouvindo e ela respondeu: - Pancadão.

Não resisti: - Aquele bate-estaca? Ela acrescentou: - Chama-se punk.

Sei, Vera, já ouvi isto e pensei que os pedreiros tinham começado a obra ao lado de minha casa fora do horário permitido.

Bem, Vera parece não haver entendido a piada. Ela já tirara o fone do ouvido mas não desligara o som, que vazava inundando a sala. Pat. pat, pat, bum.

Obrigado, Vera, farei contato.

Já estava desistindo, mas a campainha anunciou a chegada de outra concorrente ao cargo. Era uma senhora de mais de sessenta anos presumíveis. Ainda não havia examinado o curriculum.

Perguntada se tinha experiência em organização de arquivos; receber e transmitir recados; noções de informática (digitação, impressão, coisas básicas), respondeu que sempre manteve suas gavetas muito arrumadinhas, mas nunca lidou com arquivos. 

Acrescentou que estava planejando fazer um curso de computação porque queria comprar um tablete. - Minhas amigas todas têm. A dificuldade é a artrite nas mãos, arrematou.

Vou deixa-los sem saber o nome desta candidata porque é irrelevante. Ela não sabia direito se sofria de reumatismo, artrite, artrose, ou alguma doença degenerativa. Seus dedos já apresentavam curvaturas.

Foi aí que decidi passar no Ponto Frio, na Ricardo Eletro ou nas Casas Bahia, uma destas que prometem vender mais barato do que as outras, e comprar o que eu precisava. Agora se você liga para meu escritório ouvirá: “Deixe seu recado após o sinal, obrigado!”

Não, eu não discrimino ninguém, algumas pessoas é que se discriminam. Eu sou um ponto na curva. Mas tem gente que gosta de chamar a atenção, de aparecer pela diferença. 


Nota do editor: o caso da senhora com artrite só entrou na narrativa porque envelhecer é uma droga. O autor que o diga.

As imagens são do Google.

4 comentários:

  1. Meu caro, aquela 1ª candidata, pernas torneadas, etc, etc, se não tivesse a tattoo, seria contratada ?
    Resposta : ...........

    Sobre o assunto, tive um patrão por muitos anos, já falecido, que era mega grilado com espionagem nos seus negócios. Ele costumava dizer e fazer : secretária minha tem que ser MUITO FEIA, mas muito feia mesmo, para ninguém tentar levar para a cama, porque lá, na hora do cigarrinho, elas contam tudo da vida da gente.

    PS : Coelhinho da Páscoa que trazes pra mim .......

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  2. Pensei que ela estava com a perna suja por falta de banho, ou fosse um problema epidérmico. Mas era tatuagem, Riva.

    Com aquelas pernas ela iria fazer horas extras ... se eu tivesse menos vinte anos.

    Falando sério: este é um texto ficcional. Só para marcar posição em relação a tatuagem. Mulher bonita fazer tatoo é uma coisa inexplicável.

    A Gisele Bündchen tem uma discreta no tornozelo. Pra quê?

    Preferi comparar a candidata a índia do que a uma vaca (que leva marca da fazenda, feita a ferro quente), por ser menos ofensivo.

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  3. Não faria tattoo. Sou contra qualquer alteração definitiva no corpo. Vai que vc se arrepende?

    Quanto a piercing, é como brinco. Você põe e tira, no máximo fica um buraco. Eu mesmo autorizei uma de minhas filhas a fazer um no umbigo enquanto menor de idade - acompanhei a operação. Hoje ela não mais o usa. Se fosse tattoo...

    Voltando ao tattoo e piercing, não vejo por que discriminar uma pessoa por causa disso, guardadas as devidas proporções. Há casos escabrosos.

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  4. Um dia, em OFF, conto a vocês uma que o meu tatuador me contou .....

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