Nosso número de telefone era 2-4806. Corria o ano de 1951. Era um privilégio ter
telefone em casa. Alguns números telefônicos possuíam apenas quatro dígitos.
Não havia “orelhões” de sorte que a maioria das pessoas
dependia dos telefones de estabelecimentos comerciais. No botequim do Sr.
Henrique, na Rua Santa Clara, era preciso pagar Cr$ 0,50 (cinquenta centavos)
se a ligação fosse local. Ou "incomodar" o vizinho que tinha linha instalada.
Na farmácia era impossível telefonar. O aparelho tinha até um
cadeado no disco, para que os empregados não facilitassem para algumas pessoas.
Eles recebiam ligações, mas só o proprietário – Demerval – podia fazer
chamadas.
Alguns destes estabelecimentos admitiam, excepcionalmente,
para fregueses conhecidos, chamadas interurbanas. Mas era muita mão-de-obra
porque ao final da ligação era preciso entrar em contato com telefonista e
pedir o custo da chamada para poder pagar ao dono do negócio.
Ligações interurbanas para o Rio de
Janeiro eram feitas através do prefixo 07, mas para o restante do país era
preciso discar 01 e pedir a ligação à
telefonista. Dependendo do local e hora, poderia levar horas. A telefonista fazia uma previsão do tempo de
espera.
A concessionária era a Companhia Telefônica Brasileira, e as
contas eram pagas na sede da empresa, ou seus escritórios, e não em bancos.
Vocês podem estar pensando que sou um decrépito, dos tempos dos
sinais de fumaça ou batida de tambor, para comunicação à distância. Nada disso
tenho só 75 anos, a caminho dos 76 brevemente. Já contei em algum momento neste
blog que quase não consegui me casar no dia aprazado por falta de comunicação
telefônica.
Esta dificuldade era para ligação entre o Brasil e a Cochinchina? Não, entre Niterói e
Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Tudo porque naquela que era a
segunda cidade do Estado não havia rede telefônica. Havia, apenas, um Posto
Telefônico onde era possível pedir ligações. No local havia três cabines,
pedida a ligação num balcão, a atendente apregoava: “Sr. Jorge, sua ligação
para Niterói, cabine dois.”
Mas deu-se que na véspera de meu casamento, surpreendido com
uma informação do pároco local de que para casar lá em Cachoeiro eu precisava
de um documento expedido pelo padre da paróquia da região onde eu residia em
Niterói, dando autorização, fiquei aturdido. E Wanda em pânico.
E aí como nada está tão ruim que não possa piorar, como ligar para Niterói,
para a casa de minha mãe, que tinha telefone em casa, e pedir que ela providenciasse
com o padre da igreja da Vila Pereira Carneiro o tal documento de autorização?
Sim, havia o Posto Telefônico, só que não sei porque cargas d’água,
ou melhor sei, problemas nas linhas de transmissão deixaram a cidade de Cachoeiro
sem comunicação com o resto do mundo, naquele dia.
Olhem a maratona necessária para pedir a minha mãe, em Niterói,
para conseguir a autorização do padre. Coitada, teria pouco tempo, num dia 30
de dezembro (eu casaria no dia 31), para achar o padre, negociar a expedição do
documento e depois levar para Cachoeiro, onde ela chegaria no dia 31 pela
manhã.
A gincana foi mais ou menos a seguinte: na sede da Viação
Itapemirim, em Cachoeiro, com
autorização do Camilo Cola, foi feito contato por rádio com o guichê da empresa
na Rodoviária do Rio de Janeiro. Foi
informado ao operador do rádio, no Rio de Janeiro, o número telefônico de nossa
casa, a fim de que ele telefonasse e reproduzisse o recado: “favor
providenciar, urgente, autorização do padre da igreja dos Sagrados Corações, para
o Jorge casar fora da jurisdição da paróquia em Niterói.”
Só deu certo porque tinha que dar. Nosso casamento civil
ocorreu às 11 horas da manhã, na casa de meus sogros, naquela cerimônia com o
Juiz de Paz, cumprindo as formalidades e ritos legais: “de portas e janelas
abertas, etc...”
Minha mãe já havia chegado, pouco antes, com o documento e
foi então possível, às 18 horas, casar na igreja na citada cidade capixaba. Ana
Maria, minha irmã, que costuma visitar este espaço virtual a tudo presenciou.
Se me engano em algum detalhe ela certamente atalhará. Era final do ano de
1964.
O objetivo do post não é meu casamento, mas evidenciar o
atraso que vivemos durante muito tempo com os serviços públicos concentrados
nas mãos do governo. Somente com a privatização, agora em anos mais recentes, é
que todo mundo se comunica com todo mundo. Posso até perpetrar estes relatos sem pretensões outras senão registrar fatos.
Wanda combina com a manicure e marca diarista pelo celular.
Eu fiz contato, hoje, com um estofador, utilizando o celular dele. Um dos porteiros do prédio onde moro
passa o dia no celular (até ser demitido, o que não tardará a acontecer). Ou seja, a comunicação telefônica, em aparelhos celulares, está absolutamente democratizada.
E o cancelamento de linha convencional, de telefone chamado fixo, é tão difícil quanto foi no passado conseguir uma linha. Depois de casado entrei em fila de plano de expansão, pagando carnê, e esperei 15 meses para receber meu telefone.
E o cancelamento de linha convencional, de telefone chamado fixo, é tão difícil quanto foi no passado conseguir uma linha. Depois de casado entrei em fila de plano de expansão, pagando carnê, e esperei 15 meses para receber meu telefone.
Nossa geração (rsrss) conheceu todos esses cenários do dia a dia com essa impressionante evolução nas comunicações. Registro algumas passagens minhas ...
ResponderExcluirEm 1969, quando cheguei nos EUA na casa da "minha" família americana, esperei quase 2 horas para a telefonista fazer minha ligação para o Brasil.
A 1ª cabine telefônica com orelhão na Praça XV, no Rio, não sobreviveu 24 horas. Amanheceu toda quebrada e caída no chão.
Meu 1º telefone celular era da empresa em que eu trabalhava. Era um Motorola com uns 40cm de altura, que devia pesar 1 kg !!
O tempo faz com que padrões mudem. Gosto de recordar aquele tempo,afinal, e nossa origem, nossa historia.
ResponderExcluirSem contar o contorcionismo necessário para falar num aparelho celular. Em alguma casas só dava sinal se você saísse para a varanda ou subisse no terraço.
ResponderExcluirE agora me ocorre o mais bizarro. Nos primórdios, no Brasil, o custo da ligação em aparelho celular era do titular da linha. As pessoas, de um modo geral, não forneciam seu número, a não ser para parentes, eis que teriam que suportar o ônus das pesadas tarifas.
As linhas telefônicas tinham tanto valor comercial que eram declaradas no imposto de renda, na relação de bens e direitos.
Na época em que a Embratel implantou o DDD e DDI no Brasil, disseminando os serviços pelo Brasil, começamos a pagar o FNT, Fundo Nacional das Telecomunicações, que era 25% da conta. Era dinheiro à beça, suficiente para dar continuidade à modernização dos serviços.
ResponderExcluirTanto dinheiro que o olho do governo cresceu e ele o transformou em imposto e jogou no Caixa Único.
Nunca mais foi aplicado em comunicações. Até que um dia, sem grana para a esperada modernização, justificou-se facilmente a privatização.
Garanto que se o FNT tivesse sido aplicado desde sua instituição apenas em teleco, não haveria justificativa para a famigerada privatização das empresas da Telebrás.
"A sobretarifa, intitulada FNT, surgiu com a lei nº4.117, de 27 de agosto de 1962, lei essa que criou o fundo nacional de telecomunicações, destinando-lhe, dentre outros recursos, o produto da arrecadação da citada sobretarifa – não além de 30% - incidentes sobre os serviços de telecomunicações (Lei 4.117/62, artº 51,”c”)
ResponderExcluirPrecitada sobretarifa, cuja arrecadação foi prevista, originariamente, em 10 anos, era destinada ao implemento do plano nacional de telecomunicações, mas com a constituição da TELEBRÁS,autorizada pela lei nº5.792, de 11.07.72 (artº3º), o FNT foi transferido para essa empresa, cujos recursos seriam aplicados de acordo com o programa aprovado pelo ministerio das comunicações (artº10º).
No entanto, sobrevindo a lei nº 6.093, de 29.08.74, foi criado um fundo nacional de desenvolvimento, destinado a financiar projetos de desenvolvimento, integrado, dentre outros recursos, os produtos de arrecadação da sobretarifa, que a partir da lei 6127, de 06.11.74, passou a ser encarada por período indeteminado.
No passo histórico, posteriormente foi editado o decreto-lei nº1754, de 31.12.79, prevendo a extinção do FND, a partir do exercício financeiro de 1983 e seus recursos continuam a compor “a lei orçamentária com recurso do Tesouro Nacional, sem qualquer vinculação a órgão, fundo ou despesa ( artº7º), extinção essa que acabou sendo antecipada para o exercício financeiro de 1982 pelo decreto-lei nº 1859 de 17.02.1981 (art. 1º) sem, contudo alterar a destinação dos seus recursos.
Por derradeiro, o Decreto nº 2.182, de 20.12.84, extinguiu a sobretarifa, instituindo o imposto sobre serviços de telecomunicações.
Assim, até o advento da lei nº 6.093/74, que criou o FNT, a sobretarifa, instituída pelo artº 51, “a”, da lei nº 4.117/62, cumpriu a sua destinação sob o manto da legalidade, de atender a expansão e melhoria dos serviços de telecomunicações, mas, a partir daquele diploma legal, os recursos do FNT (inclusive a sobretarifa) foram destinados a financiamento de projetos de desenvolvimento econômico e social, contaminando-se, destarte, com a eiva de inconstitucionalidade.
De modo que, há de se concluir que valida pelo poder judiciário a cobrança no período de 1962 à 1974, constituindo-se ilegalidade o período de cobrança entre janeiro de 1974 até 01.01.1985, quando pelo decreto nº2.182, foi extinta."
(PARECER JURÌDICO 0214-001-04
FUNDO NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES
LEI 4.117/62 – 6.093/74 – INCONSTITUCIONALIDADE
RESTITUIÇÃO – COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA, encontrável em http://sosempresarialltda.blogspot.com.br/2008/07/fnt-fundo-nacional-de-telecomunicaes.html
Numa boa ..... fui ali me enforcar ..... quem quer mais corda ?? rsrsrsrssss
ResponderExcluirJá está difícil manter os usuários .... mas assim, vai todo mundo dar o pira !!! rsrsrsrs
ResponderExcluirEnquanto existiram os recursos, houve expansão com excelente qualidade. Os recursos foram extintos e a sociedade, como num passe de mágica, quis que o Sistema Telebrás desse conta de uma nova expansão, verdadeiro desafio.
ResponderExcluirComo na década de 60, tínhamos a expertise necessária, mas sem recursos...
Abaixo a privatização!
Fim à concorrência predatória!
《:o)
Amigos,
ResponderExcluirO Freddy apoia o PT, é contra o impeachment, é a favor da presença do Estado na economia, usa uma boina como a do Che, hummmm! Não sei não.
Como respondeu Jesus:
ResponderExcluir- Você disse isso, não eu!
Posso até admitir que apoio a presença do estado na economia, mas não o estado a que estamos acostumados aqui, corrupto e indecente. Uma coisa assim tipo Suécia, digamos.
Um estado presente que deixe a iniciativa privada agir, mas ditando padrões. Eu faço assim, quem quiser faça melhor.
Conversa longa...
Essa foi estranha mesmo ..... kkkkkkkkkk
ResponderExcluirO Estado deveria investir sua/nossa grana 100% em Educação e Saúde. Nada mais.
Usei seu telefone, e recebi essa mensagem ......
ResponderExcluirhttp://veja.abril.com.br/noticia/brasil/manifesto-de-advogados-dribla-todas-as-questoes-honestas-sobre-a-lava-jato?utm_source=redesabril_veja&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_veja&utm_content=feed&
Advogados que defendem uma grande parte da quadrilha que está sendo acusada. Do tipo que recomenda ao cliente (réu), para assinar documentos com a mão esquerda para poder questionar mais tarde a autenticidade do confessado.
ResponderExcluirChamamos a isso de "jus esperneandis". Você acredita que o STF estaria referendando as decisões do Moro se houvesse tantas violações ao direito? Com Lewandowski, Toffoli, Zavascki e Barroso, ligados ao PT e/ou devedores por gratidão, em face de suas nomeações.
A opinião do Freddy, e seu engano sobre o FNT, é antiga. Aqui no blog vale o que está escrito, como no jogo do bicho (rsrsrs). Vejam o que ele comentou em:
ResponderExcluirhttp://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/02/eu-odeio-oi.html
Carlos Frederico disse...
Antes, quando era estatal, o foco era a qualidade. Dizer que não havia recursos para expansão da rede é compactuar com a roubalheira que impera desde governos passados, ainda na era dos militares. Eu lembro, porque trabalhei na Embratel do logotipo redondo.
Existia, na sua conta do telefone, a contribuição para o Fundo Nacional das Telecomunicações. O fundo cresceu, estático, o olho do governo também. Não dava para roubá-lo, porque era específico. Transformaram em imposto e ele caiu no "caixa único", que é distribuído segundo as necessidades do país.
Nem preciso continuar. Quando chegou a hora de investir em telecomunicações de novo, não tinha mais dinheiro algum! E resolveram privatizar, porque aí chegariam recursos (que não seriam roubados pelo governo).
Como o foco das empresas privadas é lucro, e não qualidade, e como o Brasil é um país sem regulação de mercado, elas se locupletam. Investem muito pouco, apenas quando se vêem acuados por uma concorrente mais próxima.
A Anatel é inoperante, como a Aneel, a Anac, e todas as demais agências reguladoras. Cabides de emprego, existentes apenas pró-forma, para justificar uma intenção do governo de monitorar o mercado. Na verdade, servem aos patrões, pois não vejo ação alguma que cerceie a busca de lucro fácil e a desordem na prestação de serviços.
O sistema de telecomunicações é um retrato do país, nada mais que isso. Não culpemos apenas o PT, isso veio de longe...
=8-( Freddy
03/02/15 21:25
Carrano tem uma linha de de argumentação igual à de minha falecida mãe quando debatia comigo questões diversas. Usa alguma inconsistência no que eu tenha dito para tentar desestabilizar a conversa.
ResponderExcluirNão me importo, passei anos e anos nisso. Mas prometo que vou pensar no assunto entre um vinho e outro aqui em Gramado. Boa leitura pra vocês.
《:o)
kkkkkkkkkkkkkkkk eu já tinha avisado.
ResponderExcluirQuando debatemos com ele, há que primeiro saber qual a personagem : Carlos, Freddy, Frederico, Carlos Frederico, Charles ..... rsrsrs.
Como disse Temer, as palavras voam, a escrita não.
PS : Freddy, já mergulhou no bacalhau do Bistrô ?
Ainda não. 98 pilas + 10%
ResponderExcluirMas estou tomando coragem!
Ah, lembre-se que Mary também gosta, logo são 2! Mais o vinho...
O Diego, ex-gerente do Bistrô, abriu uma casa do lado do Il Piacere. Comemos duas trutas divinas. Ah, o nome é La Divina... 😀
Ele tem um bacalhau similar e mais em conta. Talvez seja caso de experimentar.