4 de novembro de 2015

Uma louca viagem




Por
Carlos Frederico March
(Freddy)







Sim, todos nós temos um pouco de médico e de louco.

Ou: olhado bem de perto, ninguém é normal.

Não me excluo, e pode ser que nem precisem olhar tão perto assim.

Às vezes, por conta de textos postados sobre vida no Universo,  religião, astronomia em geral, sou questionado quanto à minha visão do assunto: o que eu acho que somos ou o porquê de estarmos aqui. Meu irmão Paulo (o Riva do blog) cobrou direto no comentário do dia 19/10/15 no post KIC8462852:

“- Mas Freddy, qual a sua leitura disso tudo que você relatou? Em que você acredita, espiritualmente e racionalmente?”

Ah, se eu tivesse certeza de algo... Ninguém tem, creio que a verdade deve ter pinceladas de cada religião ou filosofia seguida pelos humanos. Quem sabe ainda falta percebermos algo mais determinante, alguma descoberta científica de alcance mais profundo...

Nascido católico e agora me enfronhando em espiritismo kardecista, luto para amansar minhas dúvidas e me agarrar em crenças. Como assim crenças, com tantas dúvidas? Contudo, como andei dizendo recentemente, não adianta estressar-me a respeito, já que é algo que estou prestes a saber, minha hora se aproxima. Quando? “Não sabeis nem o dia nem a hora”. 

Racionalmente... Ao estudar astronomia (mesmo que em nível de leigo) vivo lidando com os confins do universo.  Cosmologia é um dos temas. Interessa a mim e, pelo jeito, a grande parcela da humanidade. O que se gasta de bilhões de dólares na busca de uma resposta sobre a criação talvez nem faça sentido, com tantas outras coisas mundanas a tratar, mas...

Enfim... Que tal então embarcarmos numa louca viagem? Reservo-me agora o direito de mudar de dimensão, de enfoque a meu bel prazer. Ficar pequeno como um átomo ou grande como uma galáxia. Vamos lá?

A LOUCA VIAGEM

Começarei pedindo que lembrem de uma passagem do ano, um Réveillon lotado de fogos de artifício espocando. Concentrem-se numa única cabeça de morteiro. Lançada aos ares, segue uma parábola e, bem lá no alto, explode em cores e pontos fulgurantes.

Fogos de artifício

Por gentileza, dêem uma espécie de parada de cena nessa explosão. Concentrem-se num único dos múltiplos pontos que se desintegram naquela imensa esfera de luz, fogo e fumaça.

Pronto, assim procedendo mudamos totalmente nosso ponto de vista. Dali estamos vendo em torno uma multidão de outros pequenos pontos similares ao nosso, jorrando luz e queimando individualmente, formando pra quem vê de longe aquela imagem linda.

Podemos ver os demais morteiros em volta, aquela linda sequência pirotécnica? Difícil, perdidos que estamos dentro daquela confusão toda de luz, cor e fumaça geradas pelo nosso próprio morteiro.  

Entramos então dentro desse ponto efervescente que escolhemos e, diminuindo mais de tamanho, agora estamos dentro de uma das moléculas que a química prescreve para produzir aquela imensa fogueira controlada. Dentro da molécula, o que vemos em volta? Outras moléculas, algumas parecidas conosco, outras diferentes.

Conseguimos ter noção do todo? Hmmm... Difícil, estamos mais preocupados com o tempo que o combustível manterá nosso ponto de luz aceso. Quando queimar por inteiro, como sobreviveremos? Seremos apenas cinzas na escuridão?

Estão ainda comigo, leitores? Então, vamos em frente! Desculpem se faço agora a descrição em 1ª pessoa, é mais fácil de me expressar sem ter de perguntar aos amigos se estão me seguindo. Farei isso oportunamente, certo?

Olho pra dentro de mim, molécula que sou. Estudo mais a fundo minha composição e vejo uma expansão de universo ao contrário: sou formado de átomos. O núcleo de cada um deles é formado de partículas diversas: prótons, nêutrons e outras mais exóticas. Ao redor deles, minúsculos elétrons giram loucamente.

O espaço entre “eu molécula” e as demais que formam a peça efervescente do qual faço parte é, naquele ponto de vista, um imenso vazio. Tão longe uma das outras que tenho até dificuldade  de descobrir qual meu papel naquilo tudo.

Mas, curioso que sou, volto a olhar pra dentro. Cada partícula atômica que me constitui é formada de outro universo interior. Dentro de cada partícula (próton, nêutron) de cada núcleo atômico, mantido coeso por forças desconhecidas, há 3 quarks, em torno dos quais o espaço é de novo, relativamente, um vácuo imenso. Cada quark, por sua vez, é formado de cordas, também minúsculas em relação ao quark.

Se diminuo de tamanho em minha louca viagem (tudo é possível, condição inicial) e me vejo sendo uma corda, vou ter dificuldade em perceber que faço parte de um quark, tão imenso é o vazio que me cerca. Se sou um quark, a mesma sensação em relação ao próton, nêutron, etc. De repente, em sendo por exemplo um próton,  nem sei se faço parte de um átomo de oxigênio, hidrogênio, potássio... 

Putz, complicada minha formação, não? Ali estou, mera molécula no meio de um turbilhão, consciente apenas de que sou formada de minúsculas partículas cercadas de espaço vazio, com forças estranhas que as mantém unidas para que eu não não perca minha identidade físico-química, essas coisas todas. 

Ah! Olhei pra dentro e descobri um, não, vários universos complexos, cada qual com sua imensidão. E olhando pra fora, como era mesmo? Estamos ainda juntos, leitores?

Nós, modestas moléculas, quase nada vemos além. Contudo, “cientistas moleculares”, depois de muita pesquisa, chegaram à conclusão de que somos  parte de uma estrutura que arde ferozmente e tem um determinado tempo de vida.

E além? Sei lá, os “astrônomos moleculares” dizem que fazemos parte de uma imensa estrutura (de fogos de Réveillon, lembram ainda?) que é formada de grandes espirais de fogo espalhadas, que se consomem com o tempo, afastam-se umas das outras até a extinção pura e simples, e que essa imensa estrutura se formou a partir de uma grande explosão: um Big Bang!

Pausa para retomada de fôlego!

Vamos dar então um pulo na direção oposta. Estou, eu, ser minúsculo e pensativo, sabendo que vivo sobre uma partícula (a Terra) que gira em torno de um objeto que arde ferozmente (o Sol). Por quanto tempo? Não sei, mas sei que ele vai se extinguir um dia.

Onde estamos? Parece que eu, o lugar onde vivo e esse objeto ardente estamos numa grande espiral! Uma imensa fornalha recheada de estrelas como o meu Sol. Perto dela, outras. Meus astrônomos olham para longe e descobrem que há bilhões de outros pontos efervescentes de luz e energia espalhados até nem sabem onde! Chamam de infinito...

Aglomerado MACS 0717 em Auriga

Cada um desses redemoinhos apresenta um formato, tem um tamanho, emite mais ou menos energia, são mais ou menos coloridos. Coloridos? São, nós é que, dentro de nossas limitações de constituição física, não conseguimos enxergar a beleza das cores: nossos olhos só vêem uma parte do espectro. Mas os astrônomos garantem que são lindas, até tiram fotos com filtros que alteram a cor original para que possamos enxergar o que estamos perdendo...

Galáxia M101

Hmmm, parece que esses redemoinhos  estão se afastando uns dos outros com o tempo. Todas as medidas realizadas pelos astrônomos levam a essa conclusão. Significa que, quem sabe, um dia irão se apagar e depois? Cinzas e escuridão!

Como tudo isso começou? Bem, meus astrônomos e cientistas dizem que tudo isso nasceu de uma grande explosão, assim do nada: um Big Bang!

Segurem-se porque agora vamos acelerar! Todos juntos comigo!

Agora aumentamos de tamanho e estamos, bem de longe, olhando o nosso Universo. Conseguimos até identificar num canto o minúsculo pontinho que é nossa galáxia, onde arde um ponto de luz em torno do qual há partículas e todo um complexo ecológico vivendo sobre um deles.

Voltamos um tico no tempo (sim, podemos tudo nessa louca viagem) e até conseguimos ver a grande explosão que formou aquela imensa estrutura luminosa e esfumaçada, espalhando-se como uma grande esfera de fogos de artifício.

Esse artefato que explodiu e formou aquela miríade de espirais fulgurantes está sozinho? Hmmm, parece que não! Conseguimos testemunhar de nosso imenso e privilegiado ponto de vista externo que, aqui e ali, mais perto ou mais longe, outros artefatos explodem em Big Bangs similares.

E porque eles explodem?  Olhamos em torno com mais atenção e parece que está havendo uma festa! Ei, acho que tem gente! Tem prédios! Não apenas prédios, mas também grandes cidades! 

Deixamos passar um tempo (seriam bilhões de anos para os terráqueos) e chegamos à conclusão que essa celebração faz parte do cotidiano de uns seres (deuses?) que vivem numa grande cidade, que faz parte de um país, uma realidade muito maior. Só que jamais saberemos porque num determinado dia resolveram fazer a tal festa.

Festa essa na qual um determinado morteiro explodiu, produziu galáxias em espirais e esferas fulgurantes de cor e fogo, dentro de uma das quais um ponto arde, cercado de partícula menores, sobre uma das quais estamos... nós?




Créditos das imagens, todas obtidas através do Google: 
Foto 1 - Fireworks - www.riesenberg.com
Foto 2 - NASA / Hubble
Foto 3 - NASA / Hubble Subaru / Robert Gender

7 comentários:

  1. Well, li o post, e reli alguns parágrafos, e claro, as dúvidas continuam ... não poderia ser diferente.

    Onde fica esse "casa" onde rolou essa festa de arromba ??

    Quem acendeu o morteiro ?

    Onde arranjou um fósforo ou isqueiro para acendê-lo ?

    Tem mais morteiros na caixa para brincar ?

    Quantos foram convidados para essa festa ?

    E quem convidou ?

    Quem fabrica os morteiros ? E qual a produção a cada bilhão de anos ?

    Essa fábrica tem concorrentes ?


    E eu retorno para a caverna para uma hibernação, uma grokada infinitesimal. E continuo, óbvio, sem explicações para o Infinito.

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  2. PS : tem algum torcedor do ARSENAL por aqui no Blog ???

    Pelo menos o vexame foi menos pior que o da seleção da CBF CORRUPTA FC .... rsrsrsrs

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  3. Nós ainda estamos na fase de quem acendeu o morteiro...
    <:o)

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  4. Freddy, esse seu post me lembra imediatamente a história "A bolha e a formiga", construída mais ou menos em 68 ou 69, lembra ?

    E eu não me atrevo a colocá-la aqui, hoje em dia, embora tenta total sentido ... rsrsrs

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  5. Fiquei curioso! Manda por email !!!
    <:O)

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  6. Morre Stephen Hawking:


    https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/o-que-fez-de-stephen-hawking-um-dos-cientistas-mais-influentes-da-historia.ghtml

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  7. Universos paralelos:

    https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Espaco/noticia/2018/03/confira-o-ultimo-artigo-que-stephen-hawking-escreveu-antes-de-falecer.html

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