Por
Átila Soares da Costa Filho
In
persecutione extrema S.R.E. sedebit Petrus Romanus,
qui pascet oves in multis tribulationibus,
quibus transactis civitas septicollis diruetur,
et Iudex tremêndus iudicabit populum suum.
Finis.
quibus transactis civitas septicollis diruetur,
et Iudex tremêndus iudicabit populum suum.
Finis.
(Na perseguição final à sagrada Igreja de Roma reinará
Pedro Romano, que alimentará o seu rebanho entre muitas turbulências sendo que,
então, a cidade das sete colinas (Roma) será destruída e o formidável juiz
julgará seu povo. Fim).
Talvez nunca na História estes versos atribuídos a São
Malaquias (1094?-1199), um bispo irlandês tido como um clarividente da sucessão
papal até seu fim, em 2013, estejam sendo tão lidos como após a recente
renúncia do Papa Bento XVI.
Aliás, como pudemos respirar aliviados, pois o Calendário Maia não havia previsto nenhum fim do Mundo, está certo que a humanidade precisava, urgentemente, pôr alguma outra profecia escandalosa pra nos privar, mais uma vez, de calma e saúde psicológica em nosso dia-a-dia por mais algum tempo.
Aliás, como pudemos respirar aliviados, pois o Calendário Maia não havia previsto nenhum fim do Mundo, está certo que a humanidade precisava, urgentemente, pôr alguma outra profecia escandalosa pra nos privar, mais uma vez, de calma e saúde psicológica em nosso dia-a-dia por mais algum tempo.
O caso é que os entusiastas de Malaquias deverão, como
os do Calendário, estar errados: A propaganda informa que o “vidente” teria
tido sua revelação sobre o papado e o fim da Igreja Católica durante uma viagem
de visita ao Papa Inocêncio II em Roma no ano de 1139.
Pela contagem, seriam
112 sumos pontífices a partir de Celestino II (1143-1144). Daí o último da
linha, forçosamente, ser o sucessor de Bento XVI (o suposto “De Gloria
Olivae”), referido como “Petrus Romanus” – às vezes, livremente interpretado
“Petrus II”. Entretanto, esta profecia fora publicada apenas – pasmem! –
quinhentos anos após o nascimento de Malaquias, em 1594.
Na verdade, esta
publicação se deu por meio de uma obra do monge beneditino Arnaldo Wion: a
Lignum vitae, ornamentum et decor Ecclesia. Wion jamais justificara as
circunstâncias da posse dos manuscritos “originais” e, consequentemente, sua
autenticidade.
A autenticação apenas viria, de maneira igualmente irregular,
pelas mãos de um dominicano espanhol chamado Don Alfonso Chacón (ou Alphonsus
Ciacconius), especialista em textos antigos, incluindo paleografia medieval.
Mais uma pista que nos leva à evidente conclusão de fraude é o fato do santo
apenas descrever com mais clareza e objetividade os papas que foram de
Celestino II a Pio II (1458-1464), ou seja, de antes do aparecimento de Wion na
história – ele próprio, um pretenso profeta.
Depois disto, as tais indicações
às identidades papais (rápidas referências quanto ao nome de batismo ou de
papado, lugar de origem ou peculiaridade no ministério) tornam-se extremamente
vagas, aceitando, facilmente, qualquer tipo de associação que se quisesse ali
encaixar.
Uma prova disto é quando analisamos as interpretações dos “experts em
profecias” antes da subida de Joseph Ratzinger ao Trono de Pedro com base nas
linhas deixadas por Malaquias/Wion: o resultado é, simplesmente, estarrecedor
no que concerne à realidade que se seguiu.
E, finalmente, ainda há o fato de São Bernardo, o
autor da biografia de Malaquias (a Vita Malachias) já durante os últimos anos
de sua vida em Claraval (Ville-sous-la-Ferté, França), não ter registrado
simplesmente nada a respeito desta profecia que tinha tudo pra ser,
inquestionavelmente, sua maior realização.
Em tempo: o título (ou definição) Petrus Romanus ao
último papa parece suspeitadamente ajustável a qualquer candidato ao cargo na
Santa Sé. Pois, além de um papa, de forma obrigatória, ser a Pedra (Mt 16,18) a
qual Cristo se refere como sustentáculo de sua Igreja, esta pedra (Petrus)
deverá governar seu rebanho desde Roma (Romanus)... Como sempre ocorre com
profecias, mais vago, impossível.
Nota do editor: ÁTILA SOARES
DA COSTA FILHO é professor de História da Arte, Filosofia e Sociologia, e autor
de “A Jovem Mona Lisa" (Ed.Multifoco, Rio).
Obrigado, Átila, pelo texto que enriquece o blog.
ResponderExcluirReitero o pedido de desculpas pela edição/diagramação, mas sou um amador neste mister.
Não ousaria pedir que volte sempre, mas ficarei alegre, todo pimpão, se receber para publicação outros textos de sua lavra.
Profecias são mais ou menos como horóscopo. Expressões vagas, genéricas, que permitem ajuste a diversas situações.
ResponderExcluirTenho quase nenhuma base teórica para debater o assunto, mas como ele foi colocado na mesa de nosso bar virtual (Pub Berê), posso opinar que essa profecia tem a ver com evolução do conhecimento. Um dia chegará em que a ciência vai colocar na mesa uma série de conceitos e provas que acabarão por desmontar a base sobre a qual a Igreja Católica sobreviveu. Sem desmerecer, a meu ver, seu papel histórico e político, com acertos e erros de maior ou menor impacto sobre a humanidade.
Fácil contestar a Igreja Católica. Ou o Islã, a Reforma Protestante, o Espiritismo de Kardec, ou quantas você elencar. Mais difícil será contestar Deus... Minha visão sobre o assunto, longe de ter a profundidade de quem tem formação acadêmica, foi expressa no post:
http://www.jorgecarrano.blogspot.com.br/2013/11/o-elefante-e-as-religioes.html
Em minha infância, anos 1940, pensava que jamais chegaria aos 60 anos. Isto porque ouvia alguma vezes, imagino que retirado de textos bíblicos, que "mil passara dois mil não chegara".
ResponderExcluirNa minha cabeça, quando chegasse o ano 2000 o mundo acabaria. Como eu estava com 8 ou 9 anos, e a expectativa de vida estava mesmo em torno dos 60 anos, preocupei-me pouco com o assunto.
Mais crescidinho li em algum lugar que a preocupante frase se originava de uma interpretação equivocada. A origem estaria em Lucas 21. Nos versículos 32 e 33.
Lucas 21:32
Em verdade vos declaro: não passará esta geração sem que tudo isto se cumpra.
Lucas 21:33
Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.
Bem, estou com 75 anos, donde aprendi que profecias geram matérias jornalísticas, livros, bons posts como este do Átila, ensaios, vendem traquitanas, mas são um blefe. Alias que as religiões são um blefe.
Nota explicativa: claro que não lembrava dos versículos, até porque não li ou leio a Biblia, embora tivesse sido coroinha exatamente naquela época (1948/1949), mas lembrava da tranquilizante tese de que tudo não passava de interpretação equivocada. Pesquisei agora na rede e encontrei os versículos supramencionados, para embasar este meu comentário.
Não sou ateu. Nasci católico e tenho me aventurado no espiritismo. Já li os 5 livros básicos de Allan Kardec e... vou ter de voltar a lê-los. Da Bíblia já li muita coisa, trechos inteiros de evangelhos e do Velho Testamento. São um bom apoio moral, mas nunca deixo de levar em conta que foi escrita segundo a tradição da época, que era a transmissão oral da história.
ResponderExcluirQuem conta um conto acrescenta um ponto, apesar de que na época existia gente especializada em guardar fatos para que a história não se perdesse. Coisa totalmente desnecessária hoje.
Contudo, fica a pulga atrás da orelha. Será que Jesus fez exatamente o relatado? Talvez por isso tenham divulgado 4 dos vários evangelhos elaborados à época. Cada um dá uma visão dos fatos e aos estudiosos cabe montar uma ideia global. Se fosse só um evangelho, seria menos crível.
Textos como o do Átila baseiam-se em informações históricas importantes. Aliás, é por isso que teólogos estudam anos e anos a fio. Para poder dar uma interpretação às escrituras e documentos afins com conhecimento profundo, filosófico, social e histórico, do que está registrado. E também para tentar entender erros, acertos, violências...
Será que existe mesmo Deus? Será que haverá reencarnação? Céu e Inferno? Quem tinha razão: Jesus, Maomé, Buda, Kardec? Ou a gente simplesmente desaparece no nada? Não adianta estresse, no máximo expectativa. Como se diz por aí, saberei em breve.
Esse post refrescou minha memória. Lembro de ter ouvido falar nas "Profecias de São Malaquias", mas ainda garoto. Possivelmente, numa daquelas aulas obrigatórias de "catecismo". E tb da história do "último papa", que tomaria pra si o nome de "Pedro II".
ResponderExcluirTb me lembro dessa "profecia" do Jorge mas, depois de crescidinho, não mais levei a sério... como tudo o mais escrito naquele livro de capa preta.
Como é dito com muita propriedade: "Não existem crianças religiosas; existem crianças filhas de pais religiosos."
O Carlos Frederico disse que saberá em breve sobre a existência, ou não, de Deus. Espero que ele escreva um post para que eu publique em primeira mão aqui no blog.
ResponderExcluirJá o Paulo, num contorcionismo de palavras falou de "profecia" do Jorge. Peraí, Paulo, não me comprometa, a profecia não é minha. Apenas repercuti. De qualquere forma não vingou.
Muito bem vindo Átila!
ResponderExcluirEspero que nos enriqueça mais vezes com textos históricos e ricos em cultura.
Ansiosa para o novo post!
Abraços!
Durante alguns anos me interessei pelo tema. Por conta disso conservo até hoje uns três livros sobre profecias, dos quais um contendo todas as centúrias de Nostradamus.
ResponderExcluirDesta maneira tomei conhecimento das previsões de São Malaquias sobre os Papas. Na ocasião fiquei bastante impressionada, inclusive com a informação de que o espaço destinado a fotos de todos os Pontífices é suficiente apenas para os relacionados na supracitada profecia.
Em tempo, conheci o autor do post há uns 30 anos, quando já se sobressaia por sua criatividade e educação.
ResponderExcluirDizem que filho de peixe peixinho é, e Átila confirma a tese, visto que sua genitora é uma pessoa de inúmeras qualidades que me honra com sua amizade.
Por este motivo ouso considerá-lo como “sobrinho” de coração.
Alguém dirá que estamos diante de um caso explícito de nepotismo (rsrsrs).
ResponderExcluirSobrinho de minha irmã, sobrinho meu é.
Mas não é verdade, o post foi publicado pela qualidade do texto. E espero outros do mesmo jaez.
ResponderExcluirProfecias, previsões, adivinhações... Em resumo: Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.
Ashuashuashua.
Kayla
Como assim? O caso não é de nepotismo. É de oportunismo, pois estou querendo aparecer às custas do talento do autor do post. Tipo assim, eu conheço este jovem de sucesso! rs
ResponderExcluirEstá certo, Ana Maria. Ponha em seu curriculum vitae (rsrsrs).
ResponderExcluirCaro Átila, como pode constatar o pessoal aqui é meio irreverente. Mas só quando gostamos das pessoas.
Interessante o texto. Parabéns
ResponderExcluirO que é Deus ?
ResponderExcluirPara mim é uma figura criada pelos humanos, por necessidade em virtude da incompreensão da nossa criação, à época.
Hoje sabemos que somos fruto exclusivamente do que entendemos como Física e Química. Mas não podemos falar sobre isso. Vai contra interesses medievais, que prevalecem até os dias de hoje, e com certeza, até a eternidade.
Por isso, esqueçam tudo isso descrito acima .... e vivam o resto de suas vidas, com muita alegria.
PS : Átila, seja super bem vindo ao Pub da Berê.
Olá, gente. Primeiramente, quero externar minha imensa satisfação pois, numa só tacada, ganhei 2 tios de presente ontem a noite... ô beleza! Realmente a Patronal fervilhava em Nikiti na época em que tive a alegria de conhecer a caríssima Ana Carrano. Depois, agradecer a todos aqui pelo acolhimento de meu texto. É sempre com imenso prazer que faço isso tudo, e, lógico, volta e meia, estarei trazendo mais curiosidades, e me entretendo no espaço com os textos de vossas senhorias. Aproveito pra convidar a todos pra visitarem minha página pessoal: http://professoratilasoares.weebly.com/
ResponderExcluire se tornarem membros do grupo no Facebook que criei, o INEXPLICADO:
https://www.facebook.com/groups/1652206225022474/?fref=ts
De resto, forte abraço a todos! Sucesso a todos nós!
Obrigado, Átila.
ResponderExcluirSalvo engano, ao enviar comentário ha uma opção para faze-lo com nome, habilitando o pequeno circulo e escrevendo o nome na janelinha que se abre.
Fica mais fácil, no futuro localizar seus comentários. E os demais participantes identificarão suas intervenções sem precisar de deduções pelo teor.
De qualquer forma, como Anônimo ou identificado, grato por autorizar a publicação do texto e também pela visita virtual.
Aguardamos novas contribuições.