O conceito de família é de que se trata da unidade básica da
sociedade, e é formada por indivíduos com ancestrais em comum, ligados por laços
afetivos.
Tendo em mente ou não este conceito, o fato é que minha
família, aquela em cujo seio passei a maior parte de minha infância e juventude,
sempre teve um sentido de união, de fortalecimento
muito acentuados. Acho que por conta da origem lusitana de seus membros mais velhos.
Meus avós maternos eram portugueses, assim como minhas duas
tias mais velhas nascidas do primeiro casamento de minha avó – com outro português, em Lamego, distrito de Viseu - PT.
Estas tias, irmãs mais velhas de minha mãe, por sua vez,
casaram-se, já no Brasil, com portugueses. O núcleo central da família era,
portanto, de origem portuguesa, da região então denominada de Trás-os-Montes ou Alto Douro
Interessante porque a matriarca, a velha senhora dona Ana –
ou Donana – era quem no fim e ao cabo decidia mesmo as coisas. Ou em função
dela as coisas eram decididas; mas um dos dois genros mais velhos, portugueses,
de nome Manoel, casado com sua filha mais velha – Arminda – assumiu o papel de
homem da família.
Assim, os pretendentes a mão, ou a corte, das outras filhas
mais novas – e foram mais quatro (nascidas no Brasil), tinham que além de pedir
licença a Ana, a matriarca, também senão ao Manoel que era o genro, futuro
concunhado, o seu consentimento.
Os genros que foram sendo admitidos na família acabavam por
incorporar aquele sentimento da importância da união familiar, do convívio estreito
e da ajuda recíproca.
Num dado momento de minha adolescência, moravam todos
praticamente no mesmo bairro e até na mesma rua. Na rua Paula Brito, por
exemplo, no bairro do Andaraí, moravam três da filhas.
Havia uma vila, de casas
chamadas geminadas, coladas umas as outras, que começava lá no alto da rua (era
subida), à relativamente poucos metros da encosta do morro, na qual moraram,
num mesmo momento duas de minhas tias. E quando de lá se mudaram outras foram
lá morar, nas mesmas casas ou outras mas na mesma vila. Inclusive meus pais.
Ou
seja, meus primeiros passos foram dados na vila de casas que tinha na rua Paula
Brito, no Andaraí. Esta rua tem início na rua Barão de Mesquita e sobe até as fraldas do morro.
E minha vó morava na rua Ferreira Pontes, paralela a rua Paula Brito, logo em seguida, começando ambas na rua Barão de Mesquita.
E minha vó morava na rua Ferreira Pontes, paralela a rua Paula Brito, logo em seguida, começando ambas na rua Barão de Mesquita.
Quando começaram a se dispersar um pouco, passaram a morar
em bairros limítrofes, de sorte que entre Tijuca, Vila Izabel, Andaraí e
Grajaú, concentrava-se toda a família.
Destas casas guardo mais lembrança da residência de meus
padrinhos, na citada rua Paula Brito, mas numa casa independente, a duas
quadras de onde ficava a vila onde morei na infância.
Antes de falar da casa de meus padrinhos, vale registrar que
a madrinha era um das irmãs de minha mãe, a mais velha nascida no Brasil, mas ainda do primeiro leito de minha avó.
Este era um hábito, quase uma regra na família. Todos eram
compadres e comadres, pois uns eram padrinhos de batismos dos filhos de outros,
e até mesmo padrinhos de casamentos, os mais velhos dos mais novos.
Eu e minhas irmãs fomos batizados por tias, irmãs de minha
mãe. Assim como meus primos eram afilhados de outras tias e tios. Os padrinhos
de casamento de minha mãe foram duas irmãs e seus respectivos maridos.
Acho que a ideia central era fortalecer os laços, mas tinha
uma outra razão, oriunda de uma filosofia reinante na época. Os padrinhos eram
os “segundos pais”, como se fossem tutores que cuidariam das crianças em casos
de dificuldade ou ausência dos pais.
Nesta linha, de serem os padrinhos os pais substitutos, era melhor que fossem
membros da família. Acho eu. Era muito
criança para entender estes mecanismos familiares e afetivos.
A casa de minha madrinha – Eliza – irmã de minha mãe - era
ampla e ficava no centro de um grande terreno. Havia um jardim na frente, e nos
fundos árvores frutíferas, um enorme galinheiro, um grande viveiro de pássaros
e canteiros onde eram cultivadas ervas aromáticas, temperos e verduras.
Este terreno estava sempre invadido de rolinhas e pardais,
por causa do milho das galinhas e do alpiste dos pássaros do viveiro e o que
caia das gaiolas onde ficavam os pássaros canoros.
Não era politicamente incorreto manter pássaros em
cativeiro. Não havia esta consciência. Eu mesmo, quando passava lá alguns dias
de férias, adorava preparar arapucas no chão para pegar rolinhas.
Juro que as
soltava em seguida porque não teriam serventia. Tentei certa feita solta-las
dentro do galinheiro, mas a tela protetora era de malha grande (furos grandes) e elas
escapavam.
Por conta das arvores frutíferas da casa e da casa do
vizinho, onde também havia muitas delas, conheci, e provei frutas hoje quase
desconhecidas, tais como tamarindo, sapoti, carambola, abio, cajá, e outras
mais comuns, como mamão e manga.
E os pássaros? Lembro do azulão, do galo-da-serra, do galo-da-campina,
do tiê-sangue, todos com belas plumagens. Agradava-me em especial vê-los
banharem-se, logo cedo, tão logo meu padrinho, antes de sair para o trabalho,
colocava algumas frutas, o alpiste e a mistura que os alimentava.
Azulão |
Galo-da-campina |
No fundo do viveiro era colocada uma vasilha com água, trocada
diariamente, na qual os passarinhos tomavam banho. Parecia um pequeno lago. Depois ficavam nos poleiros sacudindo as asas
para secarem. Viviam em harmonia, sem brigas, embora de espécies bem distintas
e portes diferentes.
E lembro dos mantidos em gaiolas individuais e que cantavam
alegremente o dia inteiro: coleiro-do-brejo, canário-da-terra, pichanchão,
curió, pintassilgo, sabiás. melro.
Pichanchão |
Pensam que exagero? Não mesmo, ele possuía todos estes
pássaros distribuídos em gaiolas individuais e em convivência no grande
viveiro.
E eu não podia cuidar dos pássaros, tarefa que só ele
executava. Eu podia e isso minha madrinha gradecia, varrer o grande quintal com
um ancinho de sorte a recolher somente as folhas das árvores preservando a terra.
Bem eles tinha um cachorro de nome zum-zum, da raça basset do
qual sempre mantive uma certa distância, uma certa cerimônia, pois não
confiava nele.
Que infância invejável eu tive, não?
Notas do editor:
1) imagens Google;
2) com este texto o blogueiro volta as origens do blog, quando a ideia era documentar para os pósteros, seus descendentes, como foi sua infância e criação.
3) a história terá sequência oportunamente.
Melro me lembra uma das festas dos anos 60, quando S. Bastos resolveu fazer um open house para a turma de vândalos do Pé Pequeno.
ResponderExcluirDescobrimos que o melro de estimação dele não curtia um cuba-libre .....
(pano rápido)
Lembro desses cenários, onde a família se reunia. Em especial os Natais na casa da tia Arminda.
ResponderExcluirPois é, Ana Maria, o núcleo vai crescendo. Netos se casam, constituem (e integram) novas famílias e o eixo vai se deslocando, até que as raízes se espalham, dão origem a novas raízes das quais brotam outros núcleos.
ResponderExcluir