Por
Carlos Frederico March
(Freddy)
(engenheiro aposentado, fotógrafo e astrônomo diletante)
A
existência de vida inteligente extraterrestre é um tema instigante. A partir da
2ª Guerra Mundial e durante mais de 2 décadas pulularam relatos de possíveis
UFOs, ou em português OVNIs (Objetos Voadores Não Identificados). Com o avanço
da ciência e o estudo cuidadoso dos relatos, chegou-se à triste conclusão que
essencialmente nenhum deles é digno de confiança.
No
entanto, persistem questões tais como quais as chances de haver vida em outros
planetas? Ou de virmos a ser visitados por ETs?
Bom,
vida é possível em diversos cenários mais inclementes que os da Terra, onde
aliás ela floresce em lugares os mais absurdos possíveis. Um deles é o entorno
de uma cratera vulcânica submarina, onde foram encontrados micróbios
anaeróbicos, ou seja, que não precisam de oxigênio para viver.
No
entanto, para vir a se tornar vida inteligente, entendemos que há de
desenvolver num ambiente estável e propício, por muito tempo, para que
organismos complexos consigam evoluir passo a passo até serem dotados de um
cérebro com a quantidade de camadas que descobrimos serem necessárias para que a
capacidade de raciocínio se estabeleça.
Para
manter as hipóteses de vida extraterrestre longe do terreno da ficção científica,
imaginemos que ela precise, para florescer, de ambientes mais ou menos
similares aos que temos na Terra. Principalmente água em estado líquido e uma
fonte confiável e estável de energia.
ZONA
HABITÁVEL
Entende-se
por zona habitável (abreviarei para ZH) a região do espaço em torno de uma
estrela em que um planeta rochoso com tamanho comparável ao da Terra (pouco
menor ou até umas 2 vezes maior) possa ter em sua superfície água no estado
líquido, ao menos em algumas épocas do "ano local". Receber uma boa
quantidade de energia dessa estrela e ter condições de reter uma atmosfera
consistente durante o longo período necessário ao florescimento de vida também são
considerados requisitos.
Referenciando
o diagrama, planetas muito próximos à sua estrela seriam por demais quentes
(too hot), como acontece no Sistema Solar com Mercúrio e Vênus. Muito
distantes, seriam frios demais (too cold) para que o eventual gelo existente se
derretesse. A Terra obviamente se situa dentro de uma ZH (just right). Ainda
exemplificando com nosso sistema solar, Marte estaria no limite máximo e
seguramente dali para a frente - cinturão de asteroides, Júpiter e além - não
haveria condições.
Outro
fator a considerar é que a localização e extensão da ZH nos diversos sistemas
planetários varia com o tipo de estrela. Fazendo referência ao diagrama abaixo,
se elas são pequenas e frias (cool stars), sua ZH é bem próxima a ela. Se são
grandes, quentes e luminosas (hot stars), a ZH se situa mais distante.
Variação da zona habitável com o tipo de estrela |
No
diagrama estão plotados uns poucos planetas conhecidos e identificados dentro
de zonas habitáveis com relação a suas estrelas. A estrela amarela representada
ao alto seria comparável ao nosso Sol e a posição da Terra (Earth) e de Marte
(Mars) é apontada do lado direito, acima.
Deduziríamos
deste diagrama que a Terra estaria na borda inferior de nossa ZH, o que se
trata com certeza de um erro de plotagem, já que ela está decididamente dentro.
Já a posição apontada para Marte está de acordo com a realidade.
Vale
observar que tanto Marte como também a nossa Lua (também na ZH do Sol) não
preenchem outros requisitos para serem habitáveis. Seus tamanhos não os permitem
ter capacidade de reter água em estado líquido nem uma densa atmosfera.
Olhando
os demais exemplos, o planeta denominado Kepler 22b estaria numa situação bem
parecida com a da Terra, em termos de posicionamento. Gliese 581d e Gliese 581g
seriam o caso de 2 planetas dentro de uma mesma ZH, a da pequena e alaranjada
estrela Gliese 581.
PLANETAS
CANDIDATOS
Planetas potencialmente habitáveis (representação artística) |
Observações
realizadas a partir dos anos 90 permitiram a detecção de centenas de planetas
extraterrestres orbitando estrelas de variados tamanhos e características. A
esmagadora maioria detectada até o presente momento, dadas limitações dos
equipamentos, são de planetas grandes demais, ou próximos demais à sua estrela,
para que especulemos sobre vida alienígena neles.
Os
métodos utilizados inicialmente focaram estrelas vizinhas do nosso sistema
solar (distantes até 25 parsecs ou 81 anos-luz), relacionadas no catálogo
editado pelo alemão Wilhelm Gliese em 1957. Eram as mais fáceis de estudar,
pela sua proximidade. Juntaram-se a elas outras como Tau Ceti (a 12 anos-luz) e
a Estrela de Kapteyn (a 13 anos-luz), já bem conhecidas por outros meios de
observação.
Em
2009 o telescópio espacial Kepler foi lançado especificamente para fazer a
detecção de planetas extraterrestres. Mesmo depois de ter suas atividades básicas
encerradas por defeito em 2013, os dados por ele enviados já permitiram a
identificação (até a data de hoje) de mais de 1.000 planetas e à medida que
dados remanescentes vão sendo analisados, outros milhares virão.
Planetas
menores e mais parecidos fisicamente com a Terra (chamados de exo-terras) começaram
a fazer parte dos achados.
Infelizmente grande parte deles se encontra em
situação orbital desfavorável - próximos ou longe demais, ou com órbitas
altamente elípticas, que implica em temperaturas extremamente variáveis.
Lembremos que uma das condições para desenvolvimento de vida inteligente é sua
estabilidade ao longo do tempo, para permitir a paulatina evolução das espécies.
A
quantidade de exo-terras já identificadas dentro da zona habitável de suas
estrelas-mãe ainda é pequena mas já passa de algumas dezenas, número crescendo
a cada mês. Recentes destaques incluem um planeta identificado como Kepler 186f
que seria o mais parecido com nossa Terra até então (abril/2014). Contudo, situado
a 495 anos-luz orbitando uma estela pequena e avermelhada (Kepler 186), está
muito distante para se determinar com elevado grau de certeza se ele é rochoso ou
que tenha água.
Essa
que seria a exo-terra mais parecida com nosso planeta azul foi desbancada em
janeiro/2015, com a descoberta do planeta Kepler 438b. Apenas 12% maior que a
Terra, ele recebe uma quantidade de luz e energia similar à que chega até nós,
apesar de sua estrela-mãe ser menor e ele estar bem próximo dela. Seu
"ano" dura apenas 35,2 dias.
VIDA
INTELIGENTE
Todos
esses dados trazem expectativa de que o Universo esteja coalhado de planetas
similares ao nosso, portanto com as mesmas possibilidades de produzir vida e de
permitir que ela evolua até o ponto de desenvolver seres inteligentes e, quiçá,
grandes civilizações.
Segundo
estudos compilados pelo falecido Carl Sagan em seu livro "Os Dragões do
Éden", a progressiva superposição de camadas cerebrais fez com que aos
poucos as espécies animais fossem ficando mais complexas, até que uma última
camada no cérebro do bicho homem os dotou de inteligência, raciocínio,
discernimento (mais ou menos - rs rs).
Seguindo
esse raciocínio evolutivo apresentado por Sagan, fica bem claro para mim que,
dado tempo suficiente, outras camadas mais podem se sobrepor às atuais, gerando
seres com inteligência tão maior que a nossa que o relacionamento deles conosco
seria da categoria do que nós temos com cães, macacos, gatos, peixes, ratos...
Suas atitudes para conosco se assemelhariam a magia incompreensível, como devem
parecer as nossas atitudes e realizações aos citados animais.
Posso
assegurar, portanto, que não vejo com bons olhos a eventual comunicação com
extraterrestres. Nós não temos tecnologia para alcançá-los e isso é um dado primordial
nesse meu receio. Se não conseguimos ir até eles, o contrário é que
provavelmente seria o verdadeiro.
Em
sendo contatado, sentir-me-ia como um índio brasileiro frente às caravelas
portuguesas, ou como os maias e astecas frente aos colonizadores espanhóis.
Isso para dizer o mínimo (poderíamos ser apenas como cães, gatos ou ratos).
Acrescendo
que muitos veem horrorizados a nossa emissão totalmente descuidada de energia
(rádio, TV, telefonia, etc), praticamente um farol identificando nossa posição
no espaço. Seria como um chamariz para piratas extraterrestres, que aqui
aportariam apenas para nos expropriar e, quiçá, levar nossas parcas riquezas,
deixando pra trás um planeta morto e desolado.
CONCLUINDO
A
chance de que inteligências superiores sejam mais cordatas e complacentes, espíritos
avançados e portadores de boas intenções, não é uma hipótese garantida. Até
onde sabemos o Universo progride às custas de lutas, com vitórias e derrotas,
nascimentos e mortes gerando evolução.
Nós
não estaríamos aqui se uma estrela próxima não houvesse explodido em supernova
gerando elementos mais pesados que hidrogênio e hélio. A poeira da qual somos
feitos, seres vivos ou minerais, só existe porque uma estrela morreu.
Em
assim sendo, prefiro que a humanidade continue só. Ou apenas que consigamos
detectar que há alguém mais no Universo,
só para aplacarmos nossa curiosidade e definirmos questões divinas e
religiosas, mas que esse alguém permaneça bem longe e ignorante de nossa
existência!
Crédito das imagens: pesquisas via Google.
Crédito das imagens: pesquisas via Google.
Nota do editor: acrescentamos, no crédito de autoria, a
profissão e as paixões amadoras do Autor, para deixar claro de que não se trata
alguém que está palpitando por “achismo”. Ele bisbilhota o firmamento, e com seus instrumentos de observação
(telescópios e lunetas), age como um voyeur de conjunções astrais e não
conjunções carnais, se me permitem a metáfora. Além de ser um estudioso da
matéria.
O melhor comentário, até agora, veio por e-mail. É do filho Jorge:
ResponderExcluir"Creio que esta seja uma das questões para as quais a humanidade busca respostas há milênios. Junto com "de onde eu vim", "pra onde vou", e "o que estou fazendo aqui"....rs
O universo é bem grande, e acho improvável que somente aqui haja formas de vida como as nossas....outras formas, certamente, são mais plausíveis.
Pensando bem, seria ótimo que não tivéssemos formas de vida iguais à nossa. Somos muito pouco evoluídos. Note que o ser humano é uma espécie inútil. Tire as abelhas do planeta e teremos um estrago. Tire as lagartixas. Tire a castanheira, ou as algas do mar. Todos fazem falta. Tire os seres humanos, e teremos paz e harmonia... "
O sol pode explodir de vez e desaparecer?
ResponderExcluirVez ou outra lemos coisas como esta:
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2015/03/nasa-registra-intensa-explosao-solar-na-tarde-desta-quarta-feira.html
O último parágrafo do comentário do Jorge "Filho" já me valeu o esforço de ter feito o post.
ResponderExcluirAbraço
Freddy
Sobre explosões solares, são comuns. Ocorrem em ciclos que têm um período aproximado de 11 anos, pouco mais, indo do mínimo ao máximo e retornando. Efetivamente algumas dessas explosões podem lançar nuvens de partículas carregadas que podem causar alguns prejuízos, mas não "destruir a Terra".
ResponderExcluirUm efeito desses ciclos solares, conhecido pelos cientistas e desprezado pelos políticos, são os ciclos de chuvas e secas, como a que provocou a atual crise energética brasileira.
Até onde a astronomia entende, o Sol vai durar ainda bilhões de anos à frente, apesar de que seu fim esperado é ser uma gigante vermelha com a Terra engolida por ela (!). Depois deve ejetar o excesso numa discreta explosão e terminar como uma anã branca, inofensiva.
<:o)
Ainda bem que não estarei aqui para ver a Terra ser engolida por uma estrela mixuruca.
ResponderExcluirPor mim, se o sol brilhar e aquecer a Terra por mais, digamos, 20 anos, está de bom tamanho.
Em conversas sempre menciono que gostaria de estar vivo para acompanhar contato de humanos terráqueos com seres inteligentes alienígenas.
ResponderExcluirIsto porque, a ser verdeiro o que o Autor do post afirma: "Até onde sabemos o Universo progride às custas de lutas, com vitórias e derrotas, nascimentos e mortes gerando evolução", tal contato talvez nos levasse a reflexões e atitudes mais sensatas, como por exemplo deixarmos de lado diferenças políticas, discriminações raciais ou religiosas, ódios e rancores, e o risco de um conflito nos levasse a união em defesa de "nosso planeta".
Alguém já leu sobre o que aconteceria com a produção de alimentos na Terra se exterminarmos as abelhas? Jorge (filho) tocou num tema extremamente profundo, que está intimamente relacionado ao sexo entre plantas (!).
ResponderExcluir=8-)
Freddy
Só queria que dessem uma passada por aqui e abduzissem o Lula e a Dilma !
ResponderExcluirMas falando sério, também temo um encontro, pois certamente eles estariam muito mais avançados tecnologicamente do que nós, e a dúvida seria : são do Bem ou são do Mal ? Existe Bem e Mal para eles ?
Enquanto isso não ocorre, a raça humana trata de se auto exterminar.
Avanço tecnológico não seria o maior problema. Pior, a meu humilde e parco juízo, seria a força da mente.
ResponderExcluirMentes (ou espíritos) mais evoluídos é nos deixaria em muita inferioridade.
Ou não?
ATUALIZAÇÃO
ResponderExcluirPeço desculpas aos leitores.
Pesquisa mais recente rebaixou os possíveis planetas Gliese 581d e 581g (citados no parágrafo antes do tópico PLANETAS CANDIDATOS) a erros de detecção.
Tentarei explicar:
Como podem imaginar, esses mais de 1.000 planetas descobertos, à exceção de um ou dois, nunca foram vistos. Situam-se a dezenas, centenas de anos-luz de nós. Eles foram detectados através de criteriosos métodos de medição.
No entanto, pela própria natureza do método, que tem a ver com observação de discretíssimas irregularidades na luminosidade das estrelas, vez por outra uma alteração periódica de brilho pode NÃO ser um planeta.
Pode ser, por exemplo, variação da própria estrela. Ou manchas imensas em sua superfície, versões gigantescas das nossas conhecidas manchas solares.
Apesar dos astrônomos estarem ligados nesse pormenor, errar é humano e, vez por outra, alguma descoberta vai ser negada no futuro.
Tentarei manter o post atualizado.
Abraços
Freddy
Se coisas mais triviais, palpáveis e visíveis, como colesterol no ovo, ou efeitos negativos da lactose são discutidos há anos sem parecer conclusivo, imagina segredos e mistérios do espaço inatingível em sua integridade.
ResponderExcluirNosso blog manager apontou um link de uma matéria do Globo que discorre sobre a possível existência de um oceano num planeta recém descoberto orbitando a estrela Próxima Centauri:
ResponderExcluirhttp://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/10/papo-de-astronomia-status-das-missoes.html
Tenho a tecer o seguinte comentário:
Qualquer planeta que esteja localizado dentro da ZH de uma estrela pode conter água e oceanos, ainda mais se seu tamanho estimado for parecido com o da Terra. É o caso de Próxima b, um dos planetas detetados orbitando a estrela Proxima Centauri, a mais perto do sistema solar em todo o Universo.
O sistema Alfa do Centauro é composto de 3 estrelas: Alfa Cen A, Alfa Cen B e Alfa Cen C (também chamada Próxima Centauri). 2 delas (A e B) estão muito próximas uma da outra e daqui da Terra as vemos como uma só: é a "guia" mais distante do Cruzeiro do Sul e uma das estrelas mais brilhantes e características de nosso céu brasileiro.
Já Alfa Cen C foi descoberta por telescópios e só depois de medições se percebeu que ela fazia parte do sistema Alfa Centauri, orbitando a dupla A/B uma vez a cada 1 milhão de anos. Ela é, hoje em dia, a estrela mais próxima do Sistema Solar e daí o interesse. Se um dia a humanidade chegar às estrelas, ela será o primeiro destino a ser tentado.
Muito bom, Freddy.
ResponderExcluirValeram os esclarecimentos.
Morre Stephen Hawking:
ResponderExcluirhttps://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/o-que-fez-de-stephen-hawking-um-dos-cientistas-mais-influentes-da-historia.ghtml