Ele mantinha alguns pássaros em gaiolas e num grande viveiro.
Um dia recebeu a visita de uma prima, ativista dos movimentos
de preservação do meio-ambiente e militante de uma ONG que defende a vida
animal.
A prima ficou horrorizada quando viu os pássaros “em
cativeiro”, segundo palavras dela. Ele argumentos que alguns estavam com ele há muitos anos e eram muito bem cuidados:
água fresca todos os dias, em bebedouros e banheiras lavados constantemente,
ração e frutas frescas (mamão, banana, laranja, tomate) pelo menos duas vezes por semana e todas as outras
preocupações cabíveis tipo o tempo de
exposição ao sol, diariamente, o jiló e a couve sempre colocados na parte
interna da grade das gaiolas, enfim todos os desvelos.
Alguns eram canoros,
outros atraiam pela plumagem.
Ainda assim a defensora da natureza não cedeu e continuou a
argumentar, agora já chantageando filosoficamente, que a liberdade não tem preço e não seria a alimentação diária que compensaria a prisão.
Ainda mais para os pássaros, que podem voar.
Naquela noite ficou insone, matutando sobre as palavras da
prima, visitante ocasional.
No dia seguinte, com o coração partido, pegou a gaiola do
canário-da-terra e ao invés de retirar o fundo para troca do jornal que substituía
diariamente e trocar também a água do bebedouro, num impulso abriu a porta da
gaiola e ficou observando o passarinho, que parecia feliz. Pulando de um
poleiro ao outro.
O canarinho aparentemente não se deu conta de que a porta
estava aberta para a liberdade. Aproximou a mão e finalmente o canário amarelo,
já na terceira muda, saiu voando.
Mas não foi longe, seja por falta de hábito, seja por falta
de fôlego, seja até mesmo por dúvida. Aqui me concedo uma licença poética para
admitir que ele hesitou entre a segurança e garantia de subsistência e a
possibilidade de voar. Parecia se indagar, para onde vou?
O fato, e agora já não é especulação do escriba, é que pousou
logo a uns dez metros adiante, justo no
muro da casa.
Não se sabe de onde, e sem prévio aviso, um gavião, do tipo
carcará, deu um rasante e capturou o
indefeso canário.
O homem, arrasado, pensou com seus botões: às favas a prima, militante
xiita da defesa da natureza.
A liberdade teve um preço... o mais alto para o canarinho.
Ele vinha pela estrada na velocidade de cruzeiro, apreciando
a paisagem que embora conhecesse de sobejo, a cada dia apresentava uma
tonalidade ou uma luz diferente.
De repente, adiante, um corpo na estrada, meio na pista de
rolamento, meio no acostamento.
Uma mulher aparentando desespero acenava com uma das mãos e com a outra apontava paro o corpo estendido no
chão.
Ele passou direto tentando olhar melhor o cenário. Já ia a
pelo menos cinquenta metros quando a emoção, superando a razão, fez com que ele
freasse o automóvel e engatasse ré.
Retornou a distância que o separava da mulher e do homem no
chão, inerte.
Parou no acostamento, desceu e se aproximou. Foi rendido de
surpresa pelos dois. Tanto o homem, que levantou de um salto, quanto a mulher,
estavam armados.
Ficou sem o carro, os
documentos, cartões de crédito e as roupas.
Só de cueca, na estrada, acenava mas nenhum imprudente parava para ajuda-lo. Ninguém
teve drama de consciência.
Seu teclado deve ser irmão gêmeo do meu .... tipo come-letras ! rsrsrs
ResponderExcluirLi e reli o post .... alguma analogia com a maioria do povo brasileiro ?
Come mesmo, Riva, e não rejeita nenhuma delas, vogais ou consoantes se lhe apetece, come (rsrsrs).
ResponderExcluirMinha preguiça para revisão é igual a do Douglas para jogar futebol (rsrsrs).
Mas e sobre o estranho post ? rsrs
ResponderExcluirFábulas ?
Meu amigo,
ResponderExcluirTudo que precisa ser explicado é porque não é bom.
O que tem a ver o preço da liberdade com o ônus da solidariedade?
ResponderExcluirHoje estou mais lesada que o habitual.
Paulo Bouhid, que nos alegra com a leitura do blog, mandou por e-mail uma fábula antiga, que ele associou ao post de hoje:
ResponderExcluir"Um passarinho voava para o sul, para se preparar para o inverno.
No caminho, encontrou uma forte nevasca. O frio era tão intenso que o passarinho quase congelou, e caiu ao chão.
Enquanto ele estava ali deitado, sem conseguir se mexer, quase morrendo, uma vaca, que passava pelo local, defecou em cima dele. Aos poucos, o passarinho começou a perceber o quão quente estava a merda, mantendo-o aquecido e isolado do frio. Ficou tão quentinho que começou a piar de felicidade.
Um gato que estava nas proximidades ouviu o canto e seguiu o som, até encontrar o indefeso passarinho. Limpou-o... e o comeu!!
Moral:
1. Nem sempre aquele que te põe na merda é seu inimigo.
2. Nem sempre aquele que te tira da merda é seu amigo.
3. Quem está na merda, não canta. Tem mais é que ficar calado!!
Com relação aos 2 relatos do post, dos quais gostei, o segundo preconiza a regra básica de segurança de hoje em dia nas estradas: na dúvida, passe por cima! E acelere, porque pode vir tiro em cima!
ResponderExcluirJá o primeiro é mais profundo... Há muitos meandros envolvendo a ideia de liberdade a todo custo, e são temas polêmicos. Não há como debatê-lo em poucas palavras.
=8-/
Caro Carlos Frederico,
ResponderExcluirVou fazer um chiste, contando uma conclusão a que cheguei há anos, a propósito de seu comentário de que o primeiro relato é mais profundo.
Em São Jose de Imbassaí, onde morei um tempinho, dependíamos de poço para ter água.
Pois muito bem os caras que furavam, poços anunciavam em rústicas placas de madeira ou lata. Num deles lia-se: "furasse poço". Em outro: "furo poço cartesiano".
A blogue que fiz quanto a este último foi que fazia sentido ser cartesiano porque era profundo.
Pano rápido, como diria o Riva.
Ah! Sim, mandei furar um poço artesiano por dentro do manilhado que já havia na casa, matando este último que foi todo revestido de argamassa.
Sobre "abertura de portas" :
ResponderExcluirTenho certeza de que se abrirem as portas das celas de muitos presídios por aí, muitos não vão querer sair .....
(pano rápido #1)
Quando vão abrir as portas do BNDES ?
(pano rápido #2)
Muitos nomes da lista são de pessoas comuns,os militares são de baixo escalão,isso traduz o clamor que partia do povo.Tinha 10 anos quando incendiaram a casa da família carreteiro no Fonseca.êles exploravam a travessia Rio-Niterói.Destruiram e incendiaram também a estação das barcas.As coisas iam mal,não funcionavam direito,alguma semelhança com nossos dias?
ResponderExcluirInicialmente a nação deseja "escancarar" a Petrobrás,depois certamente virão BNDES,Furnas etc,etc
ResponderExcluirantonio Augusto Sá
Vejam a esperteza destes dois americanos, simulando infarto:
ResponderExcluirhttp://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2014/12/homem-finge-infarto-enquanto-comparsa-roubava-loja-nos-eua.html