Polonius para Hamlet:
I’ll speak to him again. What do you read, my lord?
E Hamlet:
words, words, words.
Vou
escrever sobre palavras, e/ou seus
empregos.
Os
dicionários são repletos de palavras, mas nem todas têm valia, ou são necessárias.
Abundam os sinônimos,
incorporam-se neologismos, galicismos e outros ismos e os dicionários
ortográficos da língua crescem em peso e volume.
Há uma forte
corrente contrária ao rebuscado estilo de advogados e magistrados, utilizado
nos petitórios e sentenças. Alegam os defensores da simplificação dos textos
que por vezes eles se tornam ininteligíveis para o cidadão comum.
Ou seja, a
proposta é pela simplificação.
Em alguns
casos assiste razão aos que reclamam por
mudança na forma. Lembro de um juiz, festejado pelo saber jurídico e pela cultura
geral, que era incapaz de prolatar um simples despacho de forma clara, simples
e objetiva.
Quem é
bacharel entenderá melhor o fato real que vou contar, como poderia adunar
outros de mesmo jaez, encontrável, ou
encontráveis os outros que omitirei, no Diário Oficial da época.
Para os
leigos tento explicar: quando um juiz decidia contra o Estado, e, claro, a
favor do contribuinte, a lei processual exigia um duplo grau de jurisdição. Em
outras palavras, o magistrado tinha que recorrer ex officio (de ofício, por imposição), à
instância superior, para que fosse ou não confirmada a sentença.
Os juízes, a
maioria deles, ao final de suas decisões acrescentavam, de maneira simples e
objetiva: “Recorro ex officio”. Ou “Ao Tribunal de Justiça, na forma da lei”.
Ou, ainda, “recorro na forma da lei”. Ou seja, qualquer coisa assim simples,
mas que atendia perfeitamente o espírito da lei e da praxe processual.
Mas não o
Dr. Amorim da Cruz. As sentenças dele, contrárias aos interesses do Estado, terminavam
com o seguinte parágrafo: “Destas palavras sentenciais, inclino-me perante o
ínclito Tribunal de Justiça do Estado, no sentido recursal preconizado em lei.”
Exagero,
rebuscamento, prolixidade, linguagem empolada desnecessariamente. Mas como
regra geral, sou contrário à simplificação postulada pelo tal grupo. Não demora
o idioma estará tão degradado, aviltado, profanado, que será impossível
entender, nas petições, o que é pretendido como direito.
Alguns
advogados maltratam o idioma por falta de conhecimento. As concordâncias
verbais, a grafia, as regras de
acentuação e pontuação ficam ignoradas por completo. Se fosse aprovada a
tese da simplificação, não demoraria e teríamos as abreviações e as gírias das linguagens cifradas das redes
sociais.
Já bastam
estrangeirismo e as palavras oriundas da informática que estão sendo
incorporadas ao idioma, aportuguesadas. E outras mantidas na forma original mas
com significado diferente, mais genérico. Ninguém mais fala sobre “o contato
que tem na Prefeitura.” Agora fala-se
“no link lá na Prefeitura”. Ninguém apaga, todo mundo deleta. E assim em muitos outros casos.
Os
dicionários acolhem e preservam regionalismos, o que é muito útil porque não
seria possível memorizar todas as palavras diferentes que designam coisas
comuns.
Não me
refiro à mandioca, aipim ou macaxeira.
Nem à abóbora ou jerimum. Tampouco a charque ou carne-seca.
Estas são
fáceis e mais comuns. Mas e o verbo pongar, que só ouvi seu emprego em
Cachoeiro de Itapemirim?
Em algumas
regiões pandorga é a pipa, a cafifa, mas em outras refere-se à mulher gorda,
obesa. Haja dicionário. Santo dicionário. Viva o Aurélio.
Volto amanhã
contando casos reais de dúvidas surgidas em face de emprego de palavra inusual
para o universo da pessoa, ou sua faixa etária ou mesmo ao seu reduzido
vocabulário por pouca instrução.
Desde sexta-feira, à tarde, perdi sinal de internet em casa. A maldita Oi, assim como as demais provedoras, não prestam serviços eficientes aos seus clientes, inclusive a assistência técnica.
ResponderExcluirPerder conexão, pelo que já apurei, acontece com todas, assim como a instabilidade da linha.
No caso da Oi o problema é que o serviço de atendimento, pelo telefone, é irritante, estressante, e inútil.
Para não cansa-los com os fatos, até porque isto aqui nem é um desabafo, finalizo informando que me disseram "vou agendar a visita de um um técnico, mas se o caso for no modem já antecipo que ele não terá outro para trocar pois estamos em falta deste modelo".
Pode uma coisas dessas?
Bem, com isso, sem contato com o mundo virtual, a liberação de comentários sofreu atraso. Ontem fui para a casa de meu filho mais novo para o encontro, pai e filhos e nora e netos.
Os posts entraram no ar porque estavam programados.
Foi isso que aconteceu.
Bem, em casa continuo sem internet (acho que vou cancelar o plano e procurar outra operadora).Estou no escritório...
Vida que segue aqui no blog.
Atenção Professora Rachel:
ResponderExcluirComentário enriquecedores serão muito bem-vindos.
A propósito, ainda se usa o hífen no bem-vindo?
Obrigado.
Segundo meu filho Ricardo, que é professor universitário na área de telecomunicações, na Faculdade de Engenharia da UFF (e foi escolhido como paraninfo da turma recém-formada - what a proud!) em conversa ontem brincou que a Oi não engana ninguém, ela ainda é a mesma e vergonhosa Telerj.
ResponderExcluirParabéns pelo dia do advogado.
ResponderExcluirObrigado Ana Maria. Seu notebook realmente está sonegando letras (rsrsrs).
ResponderExcluirEsta tradição remonta ao império. D. Pedro I criou os cursos jurídicos num 11 de agosto, em São Paulo e Salvador.
ResponderExcluirAgora vejam vocês, por conta disto não haverá expediente forense hoje.
Qualquer coisa é motivo para que o expediente seja suspenso:
Carnaval, Semana Santa, Jogos da Copa do Mundo, ninguém trabalha neste país.
Parabéns pelo Dia do Advogado. Só parabenizo os competentes.
ResponderExcluirSou 1000% a favor da simplificação, até porque nosso povo é simples também. Mas nem por isso .... é porque os textos são realmente complicados de se entender. Eu tenho dificuldade em algumas decisões. Nada justifica o emprego de uma linguagem tão confusa.
E os médicos ? Quando serão obrigados a ESCREVER numa caligrafia "entendível", como diria o Magri ?
Eu escancaro. Pego a prescrição, e com a minha letra, pergunto item por item ao médico, e escrevo ao lado.
Carrano, vc já deu muito calote em restaurante ? rsrsrs
Abraços
Obrigado pelos cumprimentos, Riva. E o enquadramento como competente foi, como direi... muito justo (rsrsrs).
ResponderExcluirJá respondi a sua pergunta sobre calotes. Esta em comentários no post http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2014/08/do-isqueiro-descartavel-ao-celular.html
Meus problemas de conexão, em casa, criaram uma defasagem entre a publicação de comentários, com as respostas, revides, revanches e retaliações (rsrsrs).
Paulo Bouhid, que frequenta de forma bissexta este espaço virtual, enviou uma colaboração:
ResponderExcluir[O bom humor contra o “juridiquês” também está presente no artigo que o ex-presidente da AMB, desembargador Rodrigo Collaço, escreveu aos juízes em 2005 na Tribuna do Direito para defender a simplificação da linguagem jurídica. O primeiro parágrafo é assim:
“O vetusto vernáculo manejado no âmbito dos excelsos pretórios, inaugurado a partir da peça ab ovo, contaminando as súplicas do petitório, não repercute na cognoscência dos frequentadores do átrio forense. Ad excepcionem o instrumento do remédio heróico e o jus laboralis, onde o jus postulandi sobeja em beneplácito do paciente (impetrante) e do obreiro. Hodiernamente, no mesmo diapasão, elencam-se os empreendimentos in judicium specialis, curiosamente primando pelo rebuscamento, ao revés do perseguido em sua prima gênese”].