11 de agosto de 2014

Words words words







Polonius para Hamlet:
I’ll speak to him again. What do you read, my lord?
E Hamlet:  words, words, words.





Vou escrever  sobre palavras, e/ou seus empregos.
Os dicionários são repletos de palavras, mas nem todas têm valia, ou são necessárias.

Abundam os sinônimos, incorporam-se neologismos, galicismos e outros ismos e os dicionários ortográficos da língua crescem em peso e volume.

Há uma forte corrente contrária ao rebuscado estilo de advogados e magistrados, utilizado nos petitórios e sentenças. Alegam os defensores da simplificação dos textos que por vezes eles se tornam ininteligíveis para o cidadão comum.

Ou seja, a proposta é pela simplificação.

Em alguns casos assiste razão aos  que reclamam por mudança na forma. Lembro de um juiz, festejado pelo saber jurídico e pela cultura geral, que era incapaz de prolatar um simples despacho de forma clara, simples e objetiva.

Quem é bacharel entenderá melhor o fato real que vou contar, como poderia adunar outros  de mesmo jaez, encontrável, ou encontráveis os outros que omitirei, no Diário Oficial da época.

Para os leigos tento explicar: quando um juiz decidia contra o Estado, e, claro, a favor do contribuinte, a lei processual exigia um duplo grau de jurisdição. Em outras palavras, o magistrado tinha que recorrer  ex officio (de ofício, por imposição), à instância superior, para que fosse ou não confirmada a sentença.

Os juízes, a maioria deles, ao final de suas decisões acrescentavam, de maneira simples e objetiva: “Recorro ex officio”. Ou “Ao Tribunal de Justiça, na forma da lei”. Ou, ainda, “recorro na forma da lei”. Ou seja, qualquer coisa assim simples, mas que atendia perfeitamente o espírito da lei e da praxe processual.

Mas não o Dr. Amorim da Cruz. As sentenças dele, contrárias aos interesses do Estado, terminavam com o seguinte parágrafo: “Destas palavras sentenciais, inclino-me perante o ínclito Tribunal de Justiça do Estado, no sentido recursal preconizado em lei.”

Exagero, rebuscamento, prolixidade, linguagem empolada desnecessariamente. Mas como regra geral, sou contrário à simplificação postulada pelo tal grupo. Não demora o idioma estará tão degradado, aviltado, profanado, que será impossível entender, nas petições, o que é pretendido como direito.

Alguns advogados maltratam o idioma por falta de conhecimento. As concordâncias verbais, a grafia, as regras de  acentuação e pontuação ficam ignoradas por completo. Se fosse aprovada a tese da simplificação, não demoraria e teríamos as abreviações e  as gírias das linguagens cifradas das redes sociais.

Já bastam estrangeirismo e as palavras oriundas da informática que estão sendo incorporadas ao idioma, aportuguesadas. E outras mantidas na forma original mas com significado diferente, mais genérico. Ninguém mais fala sobre “o contato que tem na Prefeitura.”  Agora fala-se “no link lá na Prefeitura”. Ninguém apaga, todo mundo deleta. E assim em muitos outros casos.

Os dicionários acolhem e preservam regionalismos, o que é muito útil porque não seria possível memorizar todas as palavras diferentes que designam coisas comuns.

Não me refiro à mandioca,  aipim ou macaxeira. Nem à abóbora ou jerimum. Tampouco a charque ou carne-seca.

Estas são fáceis e mais comuns. Mas e o verbo pongar, que só ouvi seu emprego em Cachoeiro de Itapemirim?

Em algumas regiões pandorga é a pipa, a cafifa, mas em outras refere-se à mulher gorda, obesa. Haja dicionário. Santo dicionário. Viva o Aurélio.

Volto amanhã contando casos reais de dúvidas surgidas em face de emprego de palavra inusual para o universo da pessoa, ou sua faixa etária ou mesmo ao seu reduzido vocabulário por pouca instrução.


9 comentários:

  1. Desde sexta-feira, à tarde, perdi sinal de internet em casa. A maldita Oi, assim como as demais provedoras, não prestam serviços eficientes aos seus clientes, inclusive a assistência técnica.
    Perder conexão, pelo que já apurei, acontece com todas, assim como a instabilidade da linha.
    No caso da Oi o problema é que o serviço de atendimento, pelo telefone, é irritante, estressante, e inútil.
    Para não cansa-los com os fatos, até porque isto aqui nem é um desabafo, finalizo informando que me disseram "vou agendar a visita de um um técnico, mas se o caso for no modem já antecipo que ele não terá outro para trocar pois estamos em falta deste modelo".
    Pode uma coisas dessas?
    Bem, com isso, sem contato com o mundo virtual, a liberação de comentários sofreu atraso. Ontem fui para a casa de meu filho mais novo para o encontro, pai e filhos e nora e netos.
    Os posts entraram no ar porque estavam programados.
    Foi isso que aconteceu.
    Bem, em casa continuo sem internet (acho que vou cancelar o plano e procurar outra operadora).Estou no escritório...
    Vida que segue aqui no blog.

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  2. Atenção Professora Rachel:
    Comentário enriquecedores serão muito bem-vindos.
    A propósito, ainda se usa o hífen no bem-vindo?
    Obrigado.

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  3. Segundo meu filho Ricardo, que é professor universitário na área de telecomunicações, na Faculdade de Engenharia da UFF (e foi escolhido como paraninfo da turma recém-formada - what a proud!) em conversa ontem brincou que a Oi não engana ninguém, ela ainda é a mesma e vergonhosa Telerj.

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  4. Parabéns pelo dia do advogado.

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  5. Obrigado Ana Maria. Seu notebook realmente está sonegando letras (rsrsrs).

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  6. Esta tradição remonta ao império. D. Pedro I criou os cursos jurídicos num 11 de agosto, em São Paulo e Salvador.
    Agora vejam vocês, por conta disto não haverá expediente forense hoje.
    Qualquer coisa é motivo para que o expediente seja suspenso:
    Carnaval, Semana Santa, Jogos da Copa do Mundo, ninguém trabalha neste país.

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  7. Parabéns pelo Dia do Advogado. Só parabenizo os competentes.

    Sou 1000% a favor da simplificação, até porque nosso povo é simples também. Mas nem por isso .... é porque os textos são realmente complicados de se entender. Eu tenho dificuldade em algumas decisões. Nada justifica o emprego de uma linguagem tão confusa.

    E os médicos ? Quando serão obrigados a ESCREVER numa caligrafia "entendível", como diria o Magri ?
    Eu escancaro. Pego a prescrição, e com a minha letra, pergunto item por item ao médico, e escrevo ao lado.

    Carrano, vc já deu muito calote em restaurante ? rsrsrs

    Abraços

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  8. Obrigado pelos cumprimentos, Riva. E o enquadramento como competente foi, como direi... muito justo (rsrsrs).
    Já respondi a sua pergunta sobre calotes. Esta em comentários no post http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2014/08/do-isqueiro-descartavel-ao-celular.html

    Meus problemas de conexão, em casa, criaram uma defasagem entre a publicação de comentários, com as respostas, revides, revanches e retaliações (rsrsrs).

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  9. Paulo Bouhid, que frequenta de forma bissexta este espaço virtual, enviou uma colaboração:
    [O bom humor contra o “juridiquês” também está presente no artigo que o ex-presidente da AMB, desembargador Rodrigo Collaço, escreveu aos juízes em 2005 na Tribuna do Direito para defender a simplificação da linguagem jurídica. O primeiro parágrafo é assim:
    “O vetusto vernáculo manejado no âmbito dos excelsos pretórios, inaugurado a partir da peça ab ovo, contaminando as súplicas do petitório, não repercute na cognoscência dos frequentadores do átrio forense. Ad excepcionem o instrumento do remédio heróico e o jus laboralis, onde o jus postulandi sobeja em beneplácito do paciente (impetrante) e do obreiro. Hodiernamente, no mesmo diapasão, elencam-se os empreendimentos in judicium specialis, curiosamente primando pelo rebuscamento, ao revés do perseguido em sua prima gênese”].

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