10 de agosto de 2014

Do isqueiro descartável ao celular multiuso

Antigamente, muito antigamente, nos jogos noturnos, quando chegava o intervalo da partida, olhava-se ao redor das arquibancadas e o que se via era uma profusão de isqueiros descartáveis acendendo e apagando até que os cigarros fossem acesos. Alguns poucos ainda riscavam seus palitos de fósforos. Eu inclusive.

O efeito produzido era o de vaga-lumes (pirilampos) piscando. 


Eram tempos dos  Bic e Stick, sucedâneos dos fósforos, que ficavam como se estivessem piscando, quando na verdade não eram os mesmos   isqueiros que eram acesos. O efeito era produzido pela proximidade das pessoas nos estádios lotados. Sim, os estádios lotavam.

Noutro dia, convidado por meu filho Jorge, que por sua vez foi convidado pelo amigo Pedro,  fui ao Estádio de São Januário, onde não punha os pés desde 1962.

A proposta era irrecusável. Condução, ingresso de cortesia e boa companhia, num sábado vadio. O jogo, pela segunda divisão do campeonato brasileiro, seria contra o time do Paraná Clube. Logo, boas chances de vitória.

Embora o jogo tivesse início às 16:10 h, como estamos no inverno, quando chegou o intervalo entre os dois tempos da partida, já escurecendo, o que se via nas arquibancadas, nos dois lados, eram as luzes provenientes dos celulares. Imagino que acionados para fotos ou filmagens. E, porque não, conversa com namoradas, esposas e amigos.

Mas o efeito lembrou-me o dos isqueiros no passado. As luzes um pouco mais difusas, mas ainda assim produziam o mesmo resultado dos vagalumes.

Naquelas priscas eras em que frequentei estádios atrás do Vasco da Gama, périplos que me levaram à Moça Bonita, à Rua Bariri, em Olaria ou à Avenida Teixeira de Castro, em Bonsucesso, o nosso, localizado na colina em São Januário, era o mais importante do país.

Era o estádio onde se apresentava a seleção brasileira.

Era o estádio desde onde o presidente da república – Getúlio Vargas – anunciava aos trabalhadores o novo salário-mínimo, direito por ele mesmo outorgado, juntamente com um conjunto de lei protecionistas para a classe trabalhadora.

O presidente sempre iniciava sua fala com a frase: “Trabalhadores do Brasil, brasileiros”....., e então prosseguia sua peroração. A piada na época era que ao  se referir aos trabalhadores estava se dirigindo aos portugueses, donos de padarias, armazéns e botequins, que abriam  suas portas pela manhã cedinho. Já os brasileiros éramos os burocratas do serviço público, ou privado, ou operários de fábricas. 

Poucas fábricas, pois nossa economia era ainda bem rural e extrativa. A industrialização do país, para valer, só começou mais tarde.

São Januário mudou um pouco. Não sua arquitetura básica. Mas internamente. Agora tem lá um monstrengo, que é o placar eletrônico, um telão colocado numa estrutura feia. E tem um camarote utilizado pela presidência do clube. Ocorre-me agora que não reparei na estátua do Romário. Estaria lá ainda?

Se o gramado melhorou bastante porque o estádio serviu de apoio para treinamento de seleções durante a Copa do Mundo, o resto me pareceu meio abandonado, mal cuidado. Como de resto o Clube - a instituição - está.

O restaurante, embora grande, é muito precário no conforto e no atendimento. Estava lotadíssimo e não só para o chope de lei. Havia muita gente almoçando e alguém comentou que a comida é até palatável, boa. Vez ou outra alguém puxava o grito de “casaca” tradicional,  e a algazarra elevava em muito o barulho natural das conversas. Cada qual falando mais alto para superar o volume das conversas ao lado.

A sala de troféus, que não conhecia pois era frequentador de arquibancada, no lado oposto às sociais, onde ficamos desta afeita, trouxe-me à memória tempos idos quando o Vasco era sempre convidado para os torneios do verão europeu.

Campeão do Troféu Tereza Herrera - 1957
Os maiores troféus no salão de exposição,  são os relativos aos torneios espanhóis: Tereza Herrera (disputado na cidade de La Coruña) e o Ramon de Carranza (disputado na cidade de Cadiz). Mas estão lá os troféus dos torneios de Lorena (Metz, França); Cidade de Palma (Palma de Mallorca–Es); Cidade de Zaragoza (Zaragoza-Es); Troféu Bortolotti (disputado e conquistado em Bergamo–It), e dezenas de outros de campeonatos e torneios nacionais e internacionais.


Quanta saudade deste time vencedor


Os dois troféus espanhóis, Tereza Herrera e Ramón de Carranza, chamam mais a atenção pelo porte, são grandes e muito bem trabalhados.

Bons tempos, que espero voltem um dia, não com dirigentes como Roberto Dinamite, saudoso artilheiro nos gramados, mas um perna-de-pau como dirigente.

Caso típico de sapateiro que não deveria ter ido além das sandálias.

Imagens: Google

4 comentários:

  1. Belo texto, Carrano, bela homenagem ao seu time do coração. E sinto uma certa emoção em cada parágrafo - devem ter sido as lembranças.

    Aproveito para deixar aquele abraço apertado pelo Dia dos Pais, e por amanhã, Dia do Advogado.

    Agora conta pra nós .... você dava ou dá o famoso calote nos restaurantes ? Deve ter umas histórias pra contar ... rsrsrs

    Bom domingo a todos junto aos seus.

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  2. Obrigado Paulo. Espero que você tenha tido um dia bastante alegre junto a sua prole.
    Nunca dei calote porque nunca andei em patota. Este golpe nunca é individual, é sempre coletivo (no mínimo dupla), porque precisa ser muito cara de pau para aplica-lo sozinho.
    Em comentário no post de hoje justifico o atraso de minha manifestação.

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  3. Exemplo dado pela torcida vascaína é seguido pelas do Botafogo e Flamengo.
    "O projeto do Botafogo sem dívidas não é inovador. Começou com a torcida do Vasco que pagou R$ 952 mil da dívida ativa de R$ 94 milhões. O projeto Vasco Dívida Zero começou em março de 2013, quase um ano antes da torcida do Botafogo se mobilizar."

    Leiam em:
    http://espn.uol.com.br/post/432130_sem-dar-dinheiro-a-dirigentes-torcedores-se-mobilizam-e-ajudam-a-pagar-dividas-fiscais-de-seus-clubes

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  4. Conheçam um pouco da sala de troféus do Vasco da Gama:
    https://www.youtube.com/watch?v=yuEuJ8qKPtI

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