Antigamente, muito antigamente, nos jogos noturnos, quando
chegava o intervalo da partida, olhava-se ao redor das arquibancadas e o que se
via era uma profusão de isqueiros descartáveis acendendo e apagando até que os
cigarros fossem acesos. Alguns poucos ainda riscavam seus palitos de fósforos. Eu inclusive.
O efeito produzido era o de vaga-lumes (pirilampos) piscando.
Eram tempos dos Bic e
Stick, sucedâneos dos fósforos, que ficavam como se estivessem piscando, quando
na verdade não eram os mesmos isqueiros
que eram acesos. O efeito era produzido pela proximidade das pessoas nos
estádios lotados. Sim, os estádios lotavam.
Noutro dia, convidado por meu filho Jorge, que por sua vez
foi convidado pelo amigo Pedro, fui ao
Estádio de São Januário, onde não punha os pés desde 1962.
A proposta era irrecusável. Condução, ingresso de cortesia e
boa companhia, num sábado vadio. O jogo, pela segunda divisão do campeonato
brasileiro, seria contra o time do Paraná Clube. Logo, boas chances de vitória.
Embora o jogo tivesse início às 16:10 h, como estamos no
inverno, quando chegou o intervalo entre os dois tempos da partida, já escurecendo,
o que se via nas arquibancadas, nos dois lados, eram as luzes provenientes dos
celulares. Imagino que acionados para fotos ou filmagens. E, porque não, conversa com namoradas, esposas e amigos.
Mas o efeito lembrou-me o dos isqueiros no passado. As luzes
um pouco mais difusas, mas ainda assim produziam o mesmo resultado dos
vagalumes.
Naquelas priscas eras em que frequentei estádios atrás do
Vasco da Gama, périplos que me levaram à Moça Bonita, à Rua Bariri, em Olaria
ou à Avenida Teixeira de Castro, em Bonsucesso, o nosso, localizado na colina em
São Januário, era o mais importante do país.
Era o estádio onde se apresentava a seleção brasileira.
Era o estádio desde onde o presidente da república – Getúlio Vargas – anunciava aos trabalhadores o novo salário-mínimo, direito por ele mesmo outorgado, juntamente com um conjunto de lei protecionistas para a classe trabalhadora.
Era o estádio desde onde o presidente da república – Getúlio Vargas – anunciava aos trabalhadores o novo salário-mínimo, direito por ele mesmo outorgado, juntamente com um conjunto de lei protecionistas para a classe trabalhadora.
O presidente sempre iniciava sua fala com a frase: “Trabalhadores
do Brasil, brasileiros”....., e então prosseguia sua peroração. A piada na época
era que ao se referir aos trabalhadores
estava se dirigindo aos portugueses, donos de padarias, armazéns e botequins,
que abriam suas portas pela manhã
cedinho. Já os brasileiros éramos os burocratas do serviço público, ou privado,
ou operários de fábricas.
Poucas fábricas, pois nossa economia era ainda bem rural e extrativa. A industrialização do país, para valer, só começou mais tarde.
Poucas fábricas, pois nossa economia era ainda bem rural e extrativa. A industrialização do país, para valer, só começou mais tarde.
São Januário mudou um pouco. Não sua arquitetura básica. Mas
internamente. Agora tem lá um monstrengo, que é o placar eletrônico, um telão
colocado numa estrutura feia. E tem um camarote utilizado pela presidência do
clube. Ocorre-me agora que não reparei na estátua do Romário. Estaria lá ainda?
Se o gramado melhorou bastante porque o estádio serviu de
apoio para treinamento de seleções
durante a Copa do Mundo, o resto me pareceu meio abandonado, mal cuidado. Como de resto o Clube - a instituição - está.
O restaurante, embora grande, é muito precário no conforto e
no atendimento. Estava lotadíssimo e não só para o chope de lei. Havia muita
gente almoçando e alguém comentou que a comida é até palatável, boa. Vez ou
outra alguém puxava o grito de “casaca” tradicional, e a algazarra elevava em muito o barulho
natural das conversas. Cada qual falando mais alto para superar o volume das
conversas ao lado.
A sala de troféus, que não conhecia pois era frequentador de
arquibancada, no lado oposto às sociais, onde ficamos desta afeita, trouxe-me à
memória tempos idos quando o Vasco era sempre convidado para os torneios do
verão europeu.
Campeão do Troféu Tereza Herrera - 1957 |
Os maiores troféus no salão de exposição, são os relativos aos torneios espanhóis:
Tereza Herrera (disputado na cidade de
La Coruña) e o Ramon de Carranza (disputado na cidade de Cadiz). Mas estão lá
os troféus dos torneios de Lorena (Metz, França); Cidade de Palma (Palma de Mallorca–Es); Cidade
de Zaragoza (Zaragoza-Es); Troféu Bortolotti (disputado e conquistado em Bergamo–It), e dezenas de outros de campeonatos e torneios nacionais e
internacionais.
Quanta saudade deste time vencedor |
Os dois troféus espanhóis, Tereza Herrera e Ramón de Carranza, chamam
mais a atenção pelo porte, são grandes e muito bem trabalhados.
Bons tempos, que espero voltem um dia, não com dirigentes como
Roberto Dinamite, saudoso artilheiro nos gramados, mas um perna-de-pau como
dirigente.
Caso típico de sapateiro que não deveria ter ido além das sandálias.
Imagens: Google
Imagens: Google
Belo texto, Carrano, bela homenagem ao seu time do coração. E sinto uma certa emoção em cada parágrafo - devem ter sido as lembranças.
ResponderExcluirAproveito para deixar aquele abraço apertado pelo Dia dos Pais, e por amanhã, Dia do Advogado.
Agora conta pra nós .... você dava ou dá o famoso calote nos restaurantes ? Deve ter umas histórias pra contar ... rsrsrs
Bom domingo a todos junto aos seus.
Obrigado Paulo. Espero que você tenha tido um dia bastante alegre junto a sua prole.
ResponderExcluirNunca dei calote porque nunca andei em patota. Este golpe nunca é individual, é sempre coletivo (no mínimo dupla), porque precisa ser muito cara de pau para aplica-lo sozinho.
Em comentário no post de hoje justifico o atraso de minha manifestação.
Exemplo dado pela torcida vascaína é seguido pelas do Botafogo e Flamengo.
ResponderExcluir"O projeto do Botafogo sem dívidas não é inovador. Começou com a torcida do Vasco que pagou R$ 952 mil da dívida ativa de R$ 94 milhões. O projeto Vasco Dívida Zero começou em março de 2013, quase um ano antes da torcida do Botafogo se mobilizar."
Leiam em:
http://espn.uol.com.br/post/432130_sem-dar-dinheiro-a-dirigentes-torcedores-se-mobilizam-e-ajudam-a-pagar-dividas-fiscais-de-seus-clubes
Conheçam um pouco da sala de troféus do Vasco da Gama:
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=yuEuJ8qKPtI