Por JORGE CARRANO
Presidente da agência digital Tau
Virtual
Em recente
evento no Canadá, Edward Snowden não entrou no palco. Apareceu em cena via
robô, que operava de algum lugar no território russo. Sua localização é
segredo, pois é procurado pelas agências de segurança dos EUA e da Europa. O
que fez Snowden? Revelou segredos da NSA (National Security Agency) sobre o
programa do Governo Obama para espionar pessoas, empresas e governos.
Quando perguntado por que resolveu
vazar as informações para a imprensa, Snowden deu uma declaração interessante.
Disse que poderia ter ido a uma comissão do Congresso, mas percebeu que, sendo
um funcionário de uma agência de segurança, provavelmente "desapareceria"
junto com sua história.
Mas a Constituição americana garante liberdade de
expressão da imprensa. Isso nos remete à vital necessidade de uma imprensa
livre. Livre não quer dizer inconsequente ou irresponsável. Mas livre tem que
significar o direito de pesquisar, investigar, entrevistar e dar voz aos
cidadãos sobre qualquer assunto, por mais crítico e sensível que seja.
Transparência é uma característica imprescindível do nosso mundo conectado.
Algumas empresas e raros governos já perceberam isso.
O caso Snowden, de certo modo, remete
ao de Julian Assange, fundador do site Wikileaks, do grupo Anonymous ou da
blogueira cubana Yoani Sánchez, igualmente importantes por revelarem coisas que
governos e empresas tentam manter em sigilo.
Apesar de essas iniciativas serem
repelidas pelos porta-vozes dos governos, e seus autores serem taxados de
criminosos, começa a surgir um perigoso senso comum de que abrir mão do sigilo
e da privacidade é um preço aceitável para se ter acesso ao novo universo de
interações das redes sociais e aplicativos.
As novas gerações parecem
importar-se pouco com o fornecimento de dados pessoais ou para a forma como
eles são tratados pelos sites.
No entanto, abrir mão de seus
direitos - neste caso, o direito à privacidade - é uma atitude muito arriscada.
Como disse Snowden, "seus direitos importam muito porque você nunca sabe
quando vai precisar deles".
Sob o impacto do terrorismo e da violência, as
pessoas cedem às revistas, ao raio X, ao excesso de câmeras, ao monitoramento
das comunicações. Isso movimenta uma poderosa indústria de serviços de
segurança, equipamentos, de big data, de anúncios "sob medida" nos
sites e redes sociais.
Mas a tecnologia que permite aos
governos espionar as pessoas é a mesma que dá também poderes às pessoas de
fiscalizar os governos. Edward Snowden não teria dado sua palestra no Canadá se
não fosse pela tecnologia.
A internet tem a possibilidade de ser usada para o
bem ou para o mal. Mas se queremos uma internet para o bem, em primeiro lugar,
ela precisa ser livre. Sem isso, não poderá agir a favor da liberdade. O que
queremos fazer com a internet, como sociedade, diz mais sobre quem somos do que
aquilo que ingenuamente postamos no Facebook.
Nota do editor: publicado originalmente em 20 de Abril de 2014
Quem acompanha o blog já sabe, mas informo a você que passou aqui ocasionalmente, que o post é de autoria de meu primogênito, este sim profissional e empresário da área de comunicação.
ResponderExcluirDessa vez não teve o retratinho dele para facilitar a identificação.
ResponderExcluirHelga
Não tem porque na publicação original, no jornal Tribuna de Minas, não tem foto. E eu não quis alterar o original.
ResponderExcluirNos outros casos em que a foto dele aparece nos artigos é porque foi publicada no veículo de origem.
Obrigado pela visita e bom final de semana.
A privacidade sempre foi frágil. Mesmo no tempo em que não existia internet e realitys shows, nossa intimidade era violada pelas vizinhas fofoqueiras. A internet, as câmeras de segurança e o próprio celular nos identificam a cada momento e como diz o autor da postagem, as novas gerações não parecem dar importância a isso. Pelo contrário; aumenta cada dia mais a necessidade e exposição, a vontade de ser "famosinho".
ResponderExcluirNo excelente post, o Sr. Jorge Carrano expõe com propriedade que sempre existe um preço a pagar pelo avanço tecnológico.
Parabéns pelo texto, como sempre claro e elucidativo.
Só não digo que é meu sobrinho, porque seria acusada de emitir opinião "nepótica". Mas que ele escreve bem é inegável.
ResponderExcluirCaramba!!! Depois deste elogio o mínimo que ele tem que fazer é telefonar e agradecer. Eu mandaria flores (rsrsrs).
ResponderExcluirBj.
Tenho a impressão (ou certeza mesmo) que estaremos (eu não mais aqui) todos debatendo o mesmo problema daqui a 100 anos.
ResponderExcluirA internet, bem como qualquer outra tecnologia desenvolvida para atender ao bicho homem, acaba servindo às pessoas mal intencionadas.
E não existe verba para pesquisar o MAL, de forma proativa. Seria muito caro.
O remédio só é pesquisado e desenvolvido a partir da doença, do sintoma detectado.
Ou seja, estaremos eternamente desenvolvendo antídotos para os artifícios do MAL. Sim, eternamente, porque não houve, nem haverá, um período em que o bicho homem só pratique o BEM.
Percebam agora que, para desespero das famílias envolvidas, o desaparecimento do Boeing 777 simplesmente não faz mais parte das notícias dos principais noticiários do planeta !
Dá para aceitar que nos dias de hoje, isso possa ter acontecido, sem deixar rastros ?
Não ? Mas aconteceu, bem debaixo dos narizes dos cientistas e tecnólogos. E o desespero agora é descobrir o que houve, para desenvolver o antídoto.
É o cachorro correndo atrás do proprio rabo, em loucas rotações !
O cachorro correndo atrás do rabo sempre existiu. Chopin compôs a "Valse de le petit chien" inspirado nesse tema. A posteridade a conhece como a Valsa do Minuto.
ResponderExcluir<:o)
Freddy