Por Jorge Carrano
Em 312 a.C, os romanos começaram a construção da Via Appia, uma estrada de pedra com cerca de 300 km de extensão, que ligava Roma à cidade de Cápia. Seu nome era uma homenagem ao político Ápio Cláudio. A partir dessa estrada, muitas outras surgiram, contribuindo para a manutenção das conquistas romanas.
Com caminhos pavimentados, era muito mais fácil mover as legiões do exército, sendo também importante fator para a expansão do comércio. A origem da expressão “todos os caminhos levam a Roma”, nada mais é do que a constatação de uma verdade histórica.
Num certo modo, a internet tornou-se a Via Appia do nosso tempo, pois permite que ideias, produtos e serviços trafeguem de um lado a outro do planeta em segundos. Igualmente, representou uma impressionante força a favor das transações comerciais.
Mas há uma diferença fundamental. Não há um ponto de partida (“Roma”) ou de chegada. Todas as estradas virtuais se conectam, simultaneamente, a muitas outras. Chegam e partem de praticamente qualquer lugar do planeta. Aqui, “todos os caminhos levam a outros caminhos”.
Se as estradas romanas tinham como principal objetivo assegurar o poder, a internet tem como principal característica sua potencial resistência ao poder.
Essa moderna Via Appia digital tem sido usada para driblar a censura, emitir opiniões ou divulgar fatos que seriam, de outro modo, sufocados por regimes pouco democráticos, alguns deles bem perto de nós. Potencializada pelas redes sociais, tornou-se um espaço onde somos, a um só tempo, produtores e consumidores de conteúdo.
Ironicamente, a facilidade de locomoção criada pelos romanos foi um dos fatores que contribuiu para a própria decadência do Império, que os historiadores assinalam em 476 d.C.
Diariamente, temos notícias de fraudes e crimes cibernéticos, e também de fatos em que essas ferramentas salvaram vidas ou deram voz aos que estavam oprimidos. Num momento em que as sociedades – inclusive a nossa – discutem os limites da internet, é preciso cautela.
Para que a internet não tenha o mesmo destino da antiga via romana, é preciso monitorar os bandidos que nela praticam seus crimes, mas não proibir que circulem livremente ideias e visões de mundo, tão importantes para o fortalecimento de nossas fronteiras mentais e culturais. Como todo caminho, uma internet sem censura é indispensável para preservar valores fundamentais como a liberdade de expressão e o livre trânsito de ideias, e não apenas de mercadorias.
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Artigo publicado em 26/03/2014 no Jornal do Commercio.
O autor, homônimo do manager blog, não por acaso é filho deste.
ResponderExcluirÉ diretor da TAU, agência virtual de comunicação.
Parabéns ao pai e ao filho.
ResponderExcluirBoa análise comparativa.
Helga
Belo texto.
ResponderExcluirInfelizmente a censura já é praticada na Internet. Não raro desaparecem postagens de notícias, vídeos, em redes sociais, no YouTube, ou os mecanismos de buscas escondem os links. Sem que se perceba a não ser quando o censurado vem a público bradar contra a retirada da matéria.
Há maneiras de fazê-las voltar a circular, mas o medo maior é se um dia em vez da notícia desaparecer o autor dela é que some... Como já aconteceu não faz muito tempo atrás...
Abraço
Freddy
Como sempre, o autor se expressa com clareza e perspicácia. Sou sua fã incondicional.
ResponderExcluirExiste tia-coruja ?
ResponderExcluirO Congresso está aprovando o Marco Civil da Internet. Teremos semáforo e quebra-mola nestas vias.
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