A
página do Facebook “Rio $urreal - NÃO PAGUE!” está bombando na rede com
centenas de milhares de visitas em poucos dias. Como algumas outras páginas recém
criadas por indignação com o aumento galopante de preços nas cidades que
receberão a Copa do Mundo e especialmente no Rio de Janeiro, que também sediará
as Olimpíadas em 2016, o Rio $urreal já foi tema de reportagem na TV e começa a
alcançar repercussão internacional.
Inspirada
pela referida página, a moeda fictícia Surreal foi criada por Patrícia Kalil,
com uma efígie de Salvador Dali, e passou a ser símbolo do movimento em várias
instâncias.
De
início, fui a favor. Claro, eu também fico absolutamente irado com os preços de
determinados estabelecimentos comerciais, e não raro tenho abordado
pessoalmente seus donos, mesmo aqueles mais conhecidos e com quem tenho maior
intimidade, e feito minha reclamação.
O
movimento aumentou e na inocência da colaboração espontânea muita gente,
inclusive eu, entrou na onda. Como subproduto apareceu o movimento
“Isoporzinho”, que sugere que as pessoas se encontrem em lugares
pré-determinados (no típico esquema rolezinho) e ali degustem seus itens a
preços mais educados.
Acompanhando
o desdobramento e as postagens no Facebook, no entanto, comecei a formar a
ideia de que eles já poderiam estar começando a contabilizar lucros por sua
iniciativa. É bom esclarecer que o denunciante tem de enviar um e-mail para um
endereço, é feita uma verificação e triagem, e só então uma ou outra denúncia é
publicada na referida página.
Além
de denúncias, a página Rio $urreal começou a postar anúncios positivos, de
estabelecimentos que cobram preços educados. A argumentação é não ser justo
apenas reclamar, elogiar também é preciso.
Porém, brasileiro e escolado que sou, me dei o direito de duvidar: não
estarão começando a usufruir de benefícios pela indicação de locais com preços
mais educados? Ou pela não publicação de
certos abusos?
Efetivamente,
logo após uma reportagem na Rede Globo, onde ganharam uma exposição expressiva
na mídia, a página “Rio $urreal - NÃO PAGUE!” postou reclamação quanto ao uso
indevido, na rede, de sua ideia e nome. Hmmm...Dá azo a se refletir: se é um
mero movimento social de denúncia contra exageros, não há porque ficar
melindrado por estar sendo copiado, até porque já havia outras páginas
similares antes dele. Ou já há interesses financeiros por trás?
É
uma pena se o movimento desvirtuar, enveredando para o lucro pessoal dos
idealizadores, pois que o Brasil precisa de alguém ou de algo que chame a
atenção para os desmandos empresariais. Não só de bares, restaurantes, mas
também de outros empreendimentos, como nas áreas de turismo (hotelaria,
transporte e serviços associados), lançamentos imobiliários (minúsculos e
caríssimos), material escolar (absurda a relação exigida na hora da matrícula),
e por aí vai...
Isso
tudo dito, dou um passo atrás e reflito um pouco mais profundamente sobre o
início de nosso texto, o movimento $urreal no comércio varejista: não seria
válida a prática do preço abusivo com o mero intuito de separar os
frequentadores em classes sociais? Alguém já disse que não tem gente feia, tem
é gente pobre sem dinheiro pra se tratar e se apresentar.
Há
uma famosa cervejaria em Campos do Jordão onde só senta gente bonita nas mesas.
Pode-se ficar apreciando o vaivém da bela moçada na calçada, pois não só esse
estabelecimento, mas os que ficam próximos também, todos praticam preços
salgados! Pois bem, não seria essa cervejaria um local de frequência indesejada
se o preço do chopp ali servido (absolutamente $urreal) fosse a metade do
preço? Quem sabe o “beautiful people” até procuraria outro point para se
encontrar?
Um
chopp pode custar R$ 2,90 na Praça Tiradentes. Mas será que deveria custar apenas isso no
Arpoador, de frente para o mar, com o famoso e aplaudido pôr-do-sol, a lua
nascendo no horizonte?
Se
o preço do misto quente num hipotético quiosque na beira da praia de Ipanema
fosse o “justo” e não 4 vezes isso, não seria o referido quiosque um antro de
gentalha mal ajambrada em vez de frequentadores selecionados, que mui
provavelmente não gostariam de se misturar à plebe?
É
uma situação social complicada, mexe com o conceito polêmico de classes. Fazendo
um paralelo, um cara que escolhe pagar por um BMW ou Mercedes, em vez de adquirir
um similar Hyundai ou Honda tão bom quanto ele porém mais barato, não está
preocupado com o preço, nem com custo x benefício, e sim com a imagem. Poder
frequentar um local $urreal também pode ser a intenção de quem paga,
justificando a existência de quem cobre!
Fotos obtidas através da página do Rio
$urreal - Não Pague
Caríssimo (no sentido de estima) Freddy,
ResponderExcluirTambém sou um pouco elitista, mas você radicalizou, com "gentalha".
Quanto a ganhar dinheiro com ações sociais, isto é corriqueiro. Vide as ONGs espalhadas mundo afora.
Não sendo um frequentador habitual de praia, quando vejo um ajuntamento em torno de uma barraca pra comprar cerveja, refrigerantes, pastel, salgado, etc, a imagem que eu tenho é de gentalha, apesar de reconhecer que se trata apenas de um ajuntamento de pessoas em trajes sumários, suadas, gosmentas, sujas de areia...
ResponderExcluirFoi um deslize, ou um ato falho como diria um psicoterapeuta.
Abraço
Freddy
Aproveitando para falar de futebol, o Alecsandro que vem encantando a urubuzada seria aquele que você malhava?
ResponderExcluir<:o)
Freddy
Eles não perdem por esperar. Quem viver verá.
ResponderExcluirComo diria meu neto, "pegou pesado" o nosso caro Sr. Carlos Frederico.
ResponderExcluirHelga
Com certeza esse post nada tem a ver com um apreciador de heavy metal gótico romântico ..... rsrsrsrs
ResponderExcluirTalvez só heavy metal !
"U took heavy", mano ! rsrs
Li o post aqui no trabalho, mas o BigBrother não me permite ficar muito tempo.
Vou "grokar" o assunto para o meu comentário mais tarde, porque vejo no post um gancho para falar do grotesco cenário que passamos a ver todos os dias, incluindo o garoto nu agarrado no poste, e a recente postagem de uma sumária execução em B Roxo, na web.
FLUi
My God! What does "grokar" means? Is it portuguese?
ResponderExcluirFreddy, explica para o nosso amigo o significado do verbo "grokar" .... rsrsrs
ResponderExcluirDicionário Houaiss:
ResponderExcluirGentalha = gentaça = conjunto de pessoas da classe mais baixa da sociedade.
Sinonímia: Ralé, arraia-miúda, populacho, plebe
Talvez a palavra que causasse menos desconforto fosse plebe. Mas no fundo significa tudo a mesma coisa.
Estou falando de classes e a que sustenta o atual governo é a mais baixa, a que se beneficia com os programas assistencialistas. Como defini-la? Conjunto de cidadãos pertencentes a comunidades carentes? Façam-me o favor. É plebe, é ralé, é gentalha. O dicionário me apoia!
Então repito: pode ser que o preço alto force a ... plebe... a se manter afastada do “beautiful people” e, ao contrário do que o movimento Rio $urreal preconiza, tem quem apoie o surrealismo e pague, só pra não ter de se misturar.
Essa é a tese que fecha o post.
Abraços
Freddy
Freddy,
ResponderExcluirComo anda sua pressão arterial?
Ingressar no quadro social do Country Club, pode custar ao interessado algo como R$ 370.000,00.
ResponderExcluirSeriam R$ 250.000,00 (aproximadamente)pelo título, se houver um a venda, mais R$ 120.000,00 de taxa de transferência.
Entretanto dinheiro (ter ou não), não é o único critério para você ser aceito com bolas brancas.
Consta que, há anos, o Silvio Santos não foi admitido no Clube Harmonia de Tênis, em São Paulo.
Coisas como "berço" e comportamento social também discriminam.
Grokar...
ResponderExcluirO renomado e falecido escritor de ficção científica Robert Anson Heinlein escreveu um romance chamado “Um estranho numa terra estranha”, que conta a estória de Valentine Michael Smith, um humano que foi criado em Marte e absorveu toda a cultura espiritual daquele hipotético povo. Nesse livro ele cunhou a palavra e respectivo verbo (to grok), um neologismo. Segundo a estória, seria um termo marciano que não teria explicação simples em línguas (ou culturas) terrestres.
A Wikipedia tem uma entrada que tenta explicar o que é “grok”, ou o verbo “to grok”:
Grok /ˈɡrɒk/ is a word coined by Robert A. Heinlein for his 1961 science-fiction novel, Stranger in a Strange Land, where it is defined as follows:
Grok means to understand so thoroughly that the observer becomes a part of the observed—to merge, blend, intermarry, lose identity in group experience. It means almost everything that we mean by religion, philosophy, and science—and it means as little to us (because of our Earthling assumptions) as color means to a blind man.
The Oxford English Dictionary defines to grok as "to understand intuitively or by empathy; to establish rapport with" and "to empathise or communicate sympathetically (with); also, to experience enjoyment".
Não vou tentar traduzir porque vai estragar em vez de esclarecer. O que gostaria de comentar é que o referido livro foi considerada a mais famosa novela de ficção científica já escrita e ganhou o mais prestigiado prêmio do ramo, o Hugo de 1962. Há polêmica envolvendo essa novela por conta de seu conteúdo sócio-político-religioso.
Abraços
Freddy
Nossa! O tamanho de minha ignorância me surpreende a cada dia.
ResponderExcluirNunca li a mais famosa novela de ficção científica e nunca ouvi falar do prêmio Hugo. E olha que em 1962 eu tinha 22 anos de idade e já sabia ler.
Obrigado Freddy.
Essa novela custou MUITO a ser lançada no Brasil, por ser polêmica. Eu a li uma versão portuguesa da Editora Europa-América, que lançava livros de bolso de ficção científica.
ResponderExcluirO gênero é pouco apreciado no Brasil por conta da dificuldade de entender o enredo, que como o nome indica, exige conhecimentos científicos dos leitores (e dos escritores, decerto!). Só pra ter uma ideia, os contos de Arthur C. Clark vinham com um anexo onde ele justificava com rigor científico todas as criações citadas no texto. Se o cara não distingue um salto quântico de uma prova olímpica, ou uma supernova de uma fofoca do momento, não tem jeito...
Hoje o gênero está em queda, já que a realidade em muito tem superado a ficção.
Abraço
Freddy
Pois é, meu caro Freddy, neste mesmo ano de 1962, Anthony Burgess lançou Laranja Mecânica (A Clockwork Orange). É um romance ficcional sobre uma juventude futura, que usaria uma linguagem própria (gírias) ininteligível, mais ou menos como o seu "grok".
ResponderExcluirNão passei daí e mais uns dois ou três ficcionais, sem rigor científico, tais como O Admirável Mundo Novo (Brave New World), de Huxley e 1984, do Orwell. Nesta linha, e ainda de Orwell, gostei muito de A Revolução dos Bichos (Animal Farm), mais do que o sempre recorrente 1984.
Não confunda Animal Farm com o Fazenda Modelo, do Chico Buarque, que não deveria ter abandonado os versos musicais para escrever uma obra inspirado em George Orwell. Ficou devendo muito.
Estes livros por mim citados povoaram minha estante até que meus filhos desenvolvessem o gosto pela leitura (o que ocorreu).
Esse BLOG é sensacional !!!
ResponderExcluirAproveitem !
Ainda grokando o que escrever sobre o post .... JN me inspirando, negativamente ....
Freddy, um show de explanações !
Nepotismo explícito no blog. Perdão leitores. Coisa de irmãos.
ResponderExcluirBrincadeirinha gente. Realmente o Freddy nos esclareceu com muita propriedade, sobre o verbo "to grok" e sobre a obra e o autor que pela vez primeira utilizou (criando-a), a palavra grokar.
Valeu, Freddy!
Ainda sobre surrealismo de preços, gostaria de saber porque a população se mobiliza absolutamente irada contra um aumento ridículo (em valores absolutos) na passagem de ônibus e deixa passar verdadeiras caravanas de abusos em outros segmentos da economia!
ResponderExcluir=8-(
Freddy
Realmente precisamos ampliar as manifestações de desagrado pelos absurdos preços praticados no Brasil. Vejam só o escorchante preço do Champagne Louis Cristal Roederer en Coffet: está por 350,00 euros; estão cobrando R$ 47.000,00 o quilo do caviar beluga e o whisky Royal Salute, 38 anos, na garrafa de 700 ml está por R$ 6.800,00 em promoção (o preço normal é de R$ 7.300,00).
ResponderExcluirPrecisamos nos mobilizar contra estes abusos.
E não é que pagaram mais de 80 milhões de euros pelo Neymar?
ResponderExcluirNão deram, de presente, mais de 1 milhão de reais pro Delúbio? E ele nem precisava de tanto, vai doar o excedente!
Realmente, o movimento $uerreal não está com nada!
<:o)
KKKKKKKKKKKKKkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirDesculpem, mas não vou comentar nada por enquanto.
ResponderExcluirO gancho a que me referia era sobre o último parágrafo do Freddy, referindo-se à polêmica das classes sociais no Brasil.
Não vou conseguir escrever nada, por enquanto. As manchetes de qqer mídia dos últimos dias empobreceram meu espírito rebelde ... fico me lembrando de um funcionário meu, por 18 anos da minha vida,que se chamava Manoelino de Castro. Era ferreiro.
No meio de qqer crise social, financeira, brigas dentro de canteiros de obra, qqer coisa, ele estava sempre sorrindo, feliz da vida .... não sabia ler nem escrever.
Era um alienado, e era (é)feliz.
Freddy, olha isso :
ResponderExcluirhttp://oglobo.globo.com/educacao/professora-que-ironizou-passageiro-em-aeroporto-pede-desculpas-11527463
Fecha o Pano
Caro Freddy,
ResponderExcluirSeu irmão atingiu o ponto nevrálgico da questão.
Touchée!
Hipocrisia.
ResponderExcluirHoje ninguém mais pode dizer o que pensa. Ou melhor, ninguém mais pode criticar nem sacanear as classes "menos favorecidas".
Na minha época podia fazer piada de preto, índio, cocho, gago, mudo, cego, fanho, dentuço, perneta... Ninguém morria, até porque muitos de nós convivíamos com alguns desses tipos em nossas turmas de rua. Eram "pele", decerto, mas eram bem tratados pelos colegas e protegidos de assédio de outras turmas.
Hoje não pode mais nada!
Minto, pode-se fazer piada de gordo, e não me dão o direito de protestar!
Hipocrisia!
http://oglobo.globo.com/pais/the-guardian-governo-brasileiro-colocou-favela-classe-media-um-contra-outro-11548545
ResponderExcluirViram? "The Guardian" não precisa usar de eufemismos, como "comunidades carentes de morros", mandou logo "Favela"! E virou manchete!
Ah, sim, pra guerra civil falta pouco.
<:o)
Freddy,
ResponderExcluirEsta matéria do The Guardian e mais estes dois vídeos cujos links estão abaixo, dão uma boa ideia da imagem do Brasil no mundo:
http://www.liveleak.com/view?i=cbc_1388001539
https://www.youtube.com/watch?v=oCMhL_MVyT4
Chegamos há pouco de um footing pelo calçadão de Icaraí, e pelo Campo de São Bento. É desanimador ..... e não é o calor não ...
ResponderExcluirCarrano, sabe aqueles cercados na areia da praia, cultivando vegetações desérticas ? Pois bem ... naquela última lá perto do canal, na entrada da estrada Fróes, tem .... um sem teto acampado dentro, com barraca e tudo. E uma poltrona do lado de fora da barraca.
Os "postes" do cercado servem para pendurar roupas .....
O calçadão está desnivelado, esburacado e imundo ! Se alguém cair ali e se arranhar, com certeza morre rapidamente de septicemia ! Uma vergonha essa prefeitura de merda, incapaz de tantas coisas, de uma simples limpeza semestral nos calçadões.
Lisboa, com 3 milhões de habitantes, tem as ruas e calçadas impecáveis ....
Olhem a reportagem de hoje do GLOBO NITERÓI sobre a invasão dos traficantes naquele "condomínio" das Charitas ; vejam também a matéria do Gílson Monteiro sobre a desordem urbana nas Charitas !
Campo de São Bento : na entrada pela Gavião Peixoto, tem uma barraca de pastéis à direita e uma de empadas à esquerda. Por que vcs acham que só tem essas duas, sem concorrência ?
Vou conversr com Johnnie, the Walker !
Freddy, não é hipocrisia não .... é REALIDEZ