Fé e religião

Não tenho religião, mas tenho fé. E não é em Deus. Não pelo menos no Deus apresentado  pelas religiões como o idealizador e mestre de obras do universo.

Minha fé é depositada em São Jorge, ou na Entidade que ele representa, qualquer que seja o nome que atribuam a mesma.

Para orar, peço emprestada aos católicos, agradecendo ou pedindo, mais agradecendo do que pedindo, a oração do “Pai Nosso” porque se prestarmos  atenção,  e quem me despertou para o fato foi o João Ubaldo Ribeiro, numa crônica há alguns anos, tudo que se pode querer está lá.

Salientou, na citada crônica, o mestre baiano, vascaíno e acadêmico imortal, que tentou criar uma oração na qual pudesse expressar seus sentimentos e fazer seus pedidos. Não conseguiu nada melhor. Tudo que pretendia dizer estava contido no “Pai Nosso”.

Não concordo com a íntegra da oração, assim como não adoto a “Oração de São Jorge”, bastante conhecida e divulgada, porque não me comove o inteiro teor da mesma.

Mas os trechos “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como perdoamos a quem nos tem ofendido”  e “Não nos deixeis cair em tentação e livrai-nos do mal”, são perfeitos.

Precisamos ter coragem e sabedoria para pedir perdão por nossos erros, principalmente os conscientes, pois afinal, como disse o poeta popular,  “perdão foi feito pra gente pedir”;  e ter a humildade, o desprendimento e a vontade de perdoar àqueles que nos ofendem, porque guardar raiva, rancor, ódio não nos faz bem. 

E pedir para que não sejamos tentados a enveredar pelo caminho  da mentira, da falsidade, da ambição desmedida, na busca de vantagens imerecidas ou que levem o próximo a prejuízo, também me parece bem salutar. Daí que “não nos deixeis cair em tentação” tem sua razão de ser.

Mas se queremos ficar imunes às tentações, também é legítimo que queiramos estar protegidos do mal, da inveja, do “olho grande”, logo, o “livrai-nos de todo mal” é um dos trechos mais importantes da prece.

Em suma, penso que não conseguiria, como não conseguiu o João Ubaldo,  escrever uma breve oração contendo  tudo o que penso ser essencial,  melhor do que o já dito na prece do “Pai Nosso”.

E “o pão nosso de cada dia” fica por minha conta.