Por
José Frid
No dia 1 de março passado foi comemorado os 40 anos do lançamento do disco "The Dark Side of the Moon", do Pink Floyd, quarenta e dois minutos e meio de puro rock progressivo inglês. Aquele do LP com capa negra e um prisma central transformando um raio de luz em arco-íris. Para festejar, tirei o bolachão da capa de papelão e coloquei na vitrola, ou melhor, no toca-discos, ou ainda no pick up Garrard e deixei rolar as dez faixas, lógico com pausa para virar de lado. Enquanto degustava as músicas, lia as letras no encarte central, os músicos participantes, etc. Aconteceu?
Sonho apenas...
Na verdade, entrei na internet e encontrei no YouTube um "vídeo" com a capa e o som do disco inteiro. Depois de degustá-lo, fui ouvindo as músicas conforme as encontrava, ora na versão original, ora por banda cover. E assistindo aos videos no YouTube. Modernidades ....
(Pausa para os mais novos: disco, LP e bolachão eram formas de chamar um disco de vinil (plástico duro), normalmente preto, com diâmetro de uns trinta centímetros, no qual eram feitos sulcos para gravar as músicas, entre 4 a 7 de cada lado, que depois eram lidas por uma agulha magnética, que decodificava o sinal e enviava para um amplificador e dele para as caixas de som. O disco vinha dentro de um saco de celofane, ou plástico fininho e transparente, este acondicionado em uma capa de papelão com fotos, desenhos, textos, etc.
Alguns dos LPs tinham encartes impressos com mais fotos, as letras das músicas, os músicos envolvidos em cada faixa, detalhes de gravação, etc. Os saudosos dizem que o som do vinil é melhor que o do CD, da música digital, mas a maioria não tem ouvido para perceber e/ou o barulho ambiental não permite ouvir a diferença.
Voltando ao lado escuro da lua, a primeira faixa - Speak to me – já traz surpresas, apresentando vários efeitos sonoros que, depois vão aparecer em outras faixas. Ela engata em "Breathe", lindíssima, segue por "On the run", outro ponto alto, até "explodir" no espetáculo de "Time". O que era aquilo???
Lembro como se fosse hoje o impacto ao ouvir a música: um longo silêncio inicial (muitos, na primeira vez que a escutavam, achavam que havia algum defeito no disco), quebrado por um despertador barulhento, um som ou outro, num crescendo, o tic-tac do relógio, a batida do coração, até explodir na canção!
Imperdível, inesquecível. Até hoje ela provoca impacto em todo mundo. Quem não cantou com eles "Ticking away the moments that make up a dull day.... guitarras, teclado, batera ... tudo perfeito. Segue a lenta "The Great Gig in the Sky", um vocal para dançar coladinho... vira o disco!
O lado B começa muito bem com "Money" e suas registradoras. Depois "Us and Them", saxofones, sintetizadores, guitarras... até Eclipse, última faixa do LP quarentão, na qual o grupo conclui que "...there is no dark side of the moon, really. Matter of fact, it's all dark.", Será?
Ouvir as diversas faixas trouxe-me recordações daquela época.
Lógico que no Bananão, como dizia o contemporâneo Ivan Lessa no Pasquim, o LP em versão nacional só chegou muitos meses depois, mas as pessoas antenadas já o conheciam e divulgavam nas rádios, como o Big Boy em seus programas na Rádio Mundial (alguém ainda escuta música no rádio, sem ser no do carro? Alguém ainda escuta programa musical de rádio?).
Para um garoto como eu, naqueles tempos as músicas eram divididas em três grupos: para ouvir, para dançar separado e para dançar juntinho. Algumas músicas integravam mais de um grupo, é claro, pois adolescentes e jovens nunca foram muito rígidos.
Para ouvir seriam as músicas com muitos solos de guitarra, teclados infinitos, solos de bateria, etc., normalmente mais longas que o usual, que a gente escutava sozinho ou em grupos de amigos, numa aparelhagem de som estéreo ou quadrifônica (?). Chegava a dar um "barato".... Led Zeppelin, Alice Cooper, Black Sabbath, Rick Wakeman, Deep Purple, Gênesis, The Hollies ... As músicas dos Beatles, já separados, também faziam parte das ouvidas e não dançadas.
As músicas para dançar separados eram aquelas muito animadas, com refrão, que se ajustava alguns passos para fazer bonito nos bailinhos. Muito comum cantar/berrar junto com o artista, mesmo não sabendo inglês. Ninguém ficava parado, valia até dançar com mulher feia (nos casos delas, homens feios, que naquela época, como Tim Maia cantava, valia tudo, só não podia homem com homem, mulher com mulher. Dançava-se e examinava-se o mulheril (homarada para elas) em volta, preparando-se para o set das músicas lentas, o ponto culminante das paqueras. Um sorriso aqui, uma piscada acolá, um aceno, um movimento de corpo, eles anotando a ordem de ataque...
Hoje nas baladas não há necessidade de músicas lentas, todo mundo já sai de casa para beijar muito, pegar, ficar, etc. Combinado por celular, e-mail, Face, Twitter, etc. Tudo muito descontraído, direto ao ponto. Naquele tempo era mais complicado, tinha que seguir as regras sociais.
Ápice das festas e dos bailinhos era o set das músicas lentas, onde se dançava coladinho. Carly Simon, Billy Paul, Elton John, Michael Jackson, Roberta Flack, Paul McCartney, John Lennon, Cat Stevens, Stevie Wonder, The Carpenters, Bee Gees, Marvin Gaye, Doobie Brothers, entre outros, não podiam faltar. Decorava-se as letras para poder cantar (?) ao pé do ouvido da selecionada daquela noite e, quem sabe, encantá-la e se dar bem.
Era mais ou menos assim: nos primeiros acordes da canção lenta inicial, o cidadão rapidamente se dirigia à escolhida da noite. Se desse sorte, ela aceitava seu convite e iam para a pista. Caso contrário, ele disfarçava o insucesso, dava uma volta pelo salão e atacava a segunda incauta, a terceira, os padrões de exigência caindo, a quarta, o desespero por estar acabando a música, a quinta ...
Bem sucedido, na pista, ele se controla e põe educadamente as mãos na cintura dela, ela envolve seu pescoço com os braços. Dois pra lá, dois pra cá.
Neste primeiro movimento ainda há um oceano entre os corpos do casal. Mais balanços no compasso da música e o oceano se esvai lentamente à medida que os corpos vão aproximando-se lentamente, conforme o interesse recíproco, achegando-se, aconchegando-se, nenhum homem é uma ilha, corpos colados, ele cantando no ouvido dela, ela não ligando para o mal inglês dele, ele sentindo o corpo dela junto ao seu, ela o dele suando juntos, um roçar na nuca, a cintura dela gingando entre os dedos nervosos dele, ela encosta a cabeça no ombro dele, que afasta delicadamente os cabelos e arrisca um leve roçar de lábio na orelha dela, ela estremece, ele percebe, os rostos se aproximam, Paul MacCartney ataca de “My Love”, os narizes se tocam, respiração ofegante dos dois, inclinam as cabeças num balé mágico e ... The Kiss!! A lua se ilumina por completo, Pink Floyd, não há lado escuro para os amantes!
Nota do editor/blogueiro: o José Frid, estreante aqui no blog, é cunhado do Rick Carrano, colaborador assíduo deste espaço virtual.
Nota do editor/blogueiro: o José Frid, estreante aqui no blog, é cunhado do Rick Carrano, colaborador assíduo deste espaço virtual.
Este é um bom álbum, sem dúvida, mas prefiro "The Wall".
ResponderExcluirA fase com Roger Waters foi mais rica e criativa. Com seu afastamento a banda perdeu.
Abraços
A banda já foi pincelada neste espaço em, por exemplo, http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2012/08/musica-nas-olimpiadas-de-londres.html
ResponderExcluirAs opiniões não se anulam, antes pelo contrário se complementam.
Sou fã do rock progressivo. Eles foram e são ótimos, mesmo com as perdas de integrantes ocorrida ao longo do tempo.
ResponderExcluir:D Fernandez
Quero agradecer de público (já o fiz via email)ao José Frid, por compartilhar conosco sua opinião sobre o grupo musical e um de seus álbuns mais conhecidos.
ResponderExcluirAbraço.
Também prefiro o The Wall, talvez pq teve um significado na minha vida, mas, como diz a Cristianne Torloni: "É rock and roll, baby!"
ResponderExcluirOlá Incógnita.
ResponderExcluirBom te-la de volta.
Gostei muito do post. Voltei no tempo com Big Boy, etc ...
ResponderExcluirO parágrafo abaixo é sensacional !!
...."Era mais ou menos assim: nos primeiros acordes da canção lenta inicial, o cidadão rapidamente se dirigia à escolhida da noite. Se desse sorte, ela aceitava seu convite e iam para a pista. Caso contrário, ele disfarçava o insucesso, dava uma volta pelo salão e atacava a segunda incauta, a terceira, os padrões de exigência caindo, a quarta, o desespero por estar acabando a música, a quinta" ...
Lembro que ouvíamos as músicas ou lançamentos de LPs no Big Boy, e só íamos botar as mãos nesses discos mais de 6 meses depois. Uma laternativa era comprar em Copacabana, na Gramophone ou na Modern Sound. Mas como eram caros esses LPs importados, chegamos a montar um consórcio na nossa turma do Pé Pequeno, em Niterói (Nikity na época). Lembro que fui sorteado com um do Grand Funk Railroad.
Em relação ao progressivo, tive minha fase de gostar muito : Deep Purple principalmente. Mas tinha o Genesis, o Pink, entre outros.
Do PINK, o álbum que mais gosto não é da era do genial Syd Barret : chama-se FINAL CUT.
Sds !
A diversidade de opiniões sobre o melhor álbum é uma demonstração de que toda a obra do (a) Pink Floyd é muito importante.
ResponderExcluirPara mim, Pink Floyd inseriu seu nome na história do rock (desde o início até hoje) como a melhor banda do mundo. O que ela fez e quando fez não tem paralelo.
ResponderExcluirNão vou eleger o melhor ou pior álbum, todo trabalho musical tem altos e baixos.
Existe uns concertos gravados em vídeo que, quando assisto, passo depois uns 3 dias sem conseguir ver mais nada, tudo vira bobagem...
<:o) Freddy
Melhor disco de rock de todos os tempos. Pronto falei!
ResponderExcluir"Melhor disco de rock de todos os tempos" ... Aí já entrou o componente emocional, porque discos/músicas sempre marcaram etapas das nossas vidas, aliado claro à qualidade musical.
ResponderExcluirNesse tipo de classificação, no meu caso, com todos os componentes indexados, sem dúvida nenhuma eu citaria mais alguns de rock:
Rubber Soul dos Beatles
Sgt Peppers dos Beatles
Led Zeppelin I
Led Zeppelin II
Band of Gypsys - Jimi Hendrix
Aqualung - Jethro Tull
Ten - o 1º do Pearl Jam
Cabeça Dinossauro - Titãs
#prontofalei
Se eu fosse voltar ao passado musical, coisa que evito com todas as forças (meu gosto musical atual foca dos anos 90 pra frente)eu citaria alguns que foram muito importantes pra mim, com receio de esquecer outros:
ResponderExcluirThe Rolling Stones: Out of our Heads e As Tears Go By
Pink Floyd: Meddle, Atom Hearth Mother, Dark Side, Aninals, Wish we were here, The Final Cut
The Beatles: Sgt Peppers e Abbey Road
Led Zeppelin: I e II
Iron Butterfly: In-A-Gadda-Da-Vida
Genesis: The Nursery Cryme, Foxtrot e Selling England by the Pound
Queen: A Night at the Opera
Deep Purple: In Rock
Yes: The Yes Album e Fragile
Vangelis: Heaven & Hell
Putz, são tantos e tantos que deixar de fora dá até uma tristeza...
<:o) Freddy