14 de novembro de 2012

Bacalhau do Natal - 69 anos.


Se considerarmos que provavelmente fui desmamado e me livrei das papinhas aos 3 anos de idade, passando a comer o que era servido a todos na casa, completarei,  neste próximo Natal,  69 anos de bacalhau. Ininterruptos.

Embora Carrano, nome paterno, tenha origem italiana, da província de Tramutola, em Potenza, capital da região da Basilicata, meus natais sempre foram passados junto a família de minha mãe, que era de origem portuguesa.

Minha avó materna, nascida em Viseu, foi uma típica matriarca, e reunia em torno dela as filhas, em número de seis, e mais tarde os respectivos genros e netos. Enviuvou duas vezes.


Vista de Viseu, certamente muito diferente do século XIX, quando nasceu minha avó
Destas filhas, as duas mais velhas nasceram em Portugal. E casaram-se no Brasil, com portugueses.

Então nada mais natural que nos encontros anuais para a ceia natalina (noite de 24 para 25), a mesa fosse tipicamente portuguesa.

Bacalhau como prato de resistência. E os indefectíveis coquinhos (nozes, avelãs, amêndoas) frutas secas uva (passas), figos, ameixas e doces cristalizados. As rabanadas não podiam faltar, fossem as de leite tradicionais, fossem as de vinho tradicionais na terra natal da avó. E as castanhas, obviamente, eram indispensáveis, ó pá!

Assim como muito vinho tinto, que embora português chegava a granel em garrafões. Não eram vinhos finos e por isso mesmo, no linguajar da época, eram rascantes. Não se dizia (acho que nem sabiam) que eram ricos em taninos.

E foram anos assim: Natal, casa de minha avó ou da tia mais velha (portuguesa).

Com o tempo a ceia passou a um sistema de rodízio, sendo cada ano realizada na casa de uma das filhas da matriarca, a esta altura já ela mesma itinerante pois as filhas temiam por ela viver (sua preferência) sozinha numa casa.

Bem, avó faleceu, as tias faleceram, meus pais faleceram. A ceia ficou restrita ao núcleo niteroiense da família e passou a ser organizada na casa de minha irmã mais velha, Sara.

Por fim, a Sara mudou de Niterói, levando com ela duas filhas (minhas sobrinhas). A terceira filha casou e também mudou de Niterói.

Disto resultou que a ceia nos últimos, sei lá, 12  anos, está limitada a meus filhos, noras e netos, e é realizada em minha casa.

Sempre, em todos estes anos, como uma regra não escrita, mas consuetudinária, de ter como prato principal o bacalhau.

O que mudou, ao longo destes anos, foi a forma de prepara-lo: à Gomes de Sá, gratinado e com batatas ao murro; desfiado e com arroz de Braga; torta; com grão de bico, enfim várias formas que já não lembro.

Fui criado com bacalhau no Natal, meus filhos idem e meus netos vão pelo mesmo caminho. No caso dos netos, melhor (ou pior) para eles que os avós maternos são portugueses. Com isso comem bacalhau na noite do dia 24 comigo e no dia 25 almoçam bacalhau com os avós maternos.

Foto colhida do Google

De uns tempos a esta parte, a Wanda o prepara segundo a receita abaixo, que experimentamos há uns 8 anos e desde então, porque inteiramente aprovada, nunca mais mudamos:
Ingredientes
Bacalhau em postas grossas dessalgado (procure tirar as espinhas)
Cebolas cortadas em rodelas grossas
Batatas (tipo inglesa) cortadas em rodelas grossas
Azeite (de boa qualidade, baixa acidez)
Modo de preparo
Numa panela grande (no diametro), coloque azeite o suficiente para cobrir o fundo. Em seguida coloque uma camada de cebolas em fatias; sobre as cebolas coloque uma camada de batatas fatiadas, e finalmente coloque umas quantas postas de bacalhau. Regue com quantidade generosa de azeite. Reinicie o processo com camada de cebola, depois batata e depois bacalhau. De novo regue com azeite, sem economizar.
Faça isso sucessivamente, até o limite da quantidade de bacalhau que pretende fazer.
Deixe cozinhar pelo tempo necessário até que as batatas estejam cozidas. Dá uma espetada para ver se já está macia.
Arrume numa travessa grande, separando os ingrediente: bacalhau, batata e cebola.
Se gostar e quiser, cozinhe ovos e já na travessa, coloque algumas fatias. Assim como azeitonas se fizer questão. Brócolis é facultativo.
Comemos com arroz, feito da seguinte maneira:
Na caçarola ou panela própria, refogue alho no azeite. Estando douradinho, acrescente bacalhau desfiado (dessalgado), arroz e uma pitada de sal. Deixe cozinhar normalmente até que fique pronto. Abafe a panela para manter quentinho até servir.
Nota: o importante é que o bacalhau cozinhe em bastante azeite.
Se fosse para 10 pessoas, as quantidades seriam mais ou menos as seguintes:
Entre 3,5 e 4 quilos de bacalhau de boa qualidade. Um vidro de azeite (500 ml); 2 quilos de batata; 1 quilo de cebola. Tudo aproximadamente.
Em separado, se quiser, faça um molho, com azeite, um pouco de vinagre, um dente de alho, azeitonas picadas, para colocar no prato já servido e ficar mais umedecido.
Bom apetite!

Nota do autor: a partir de agora e até o recesso, em 14 de dezembro, estaremos publicando uma série de posts alusivos as festas de final de ano.

2 comentários:

  1. Minha avó materna, assim como suas filhas, (minhas tias), com duas exceções, moravam nas cercanias dos bairros vizinhos de Andaraí, Vila Izabel e Grajaú. Todas próximas.
    Minha mãe morava em Niterói e outra tia em Botafogo.

    O primo Ricardo, atualmente morando na Carolina do Sul, foi criado mais próximo da nossa avó paterna, com seu pai Hamilce e os tios (meus primos) Terezinha, José Carlos e João Carlos, por isso não aparece neste relato.
    Abraço, primo. Estou aguardando o post sobre as comemorações ai no país do Tio Sam.

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  2. Hmmmm pendências .... driblei Viseu nessa viagem, para chegar mais rápido a Aveiro, a partir de Amarantes.
    Cada vez mais a certeza de uma nova viagem a Portugal ... muito por ver ainda.
    Abrs

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