Em sete décadas a cidade mudou muita coisa. Perdeu a condição de capital do Estado do Rio de Janeiro que, então, não englobava a cidade do Rio de Janeiro, que tinha o papel de Capital da República, chamada de Distrito Federal.
Em minha certidão de nascimento, datada de abril de 1940, consta Distrito Federal. Quando minha família mudou para Niterói, eu tinha apenas 3 anos de idade. Sou niteroiense por adoção.
Já mudei da cidade em três oportunidades, mas sempre retornei, porque aqui criei raízes.
Já mudei da cidade em três oportunidades, mas sempre retornei, porque aqui criei raízes.
A mais visível das mudanças é a presença, na paisagem da Baia da Guanabara, da ponte que liga a cidade à antiga capital federal, que no mesmo período perdeu o status de capital do país, passou à condição de capital do Estado da Guanabara e, com a fusão, à capital do Estado do Rio de Janeiro.
O Estado do Rio de Janeiro na configuração de hoje é maior do que à época em que Niterói era sua acapital.
Este fator, a construção da ponte, contribuiu em muito para outras mudanças bem significativas na "Cidade Sorriso".
Vou tentar, no correr da pena (ou dedilhamento do teclado) com base na memória meia desgastada, apontar algumas, sem ordem estabelecida de importância ou cronologia.
A primeira que me ocorre, está no comércio da cidade. E alterou para melhor.
Antigamente era necessário atravessar a baia, nas velhas e boas barcas da Cantareira, para ir fazer compras.
Em Niterói era possível comprar, apenas, artigos de armarinho, miudezas. Tecidos e calçados populares. Tinhamos quitandas e armazéns de secos e molhados. Supermercados nem pensar.
Vestuário, masculino ou feminino, só mesmo no Rio de Janeiro, onde se encontrava maior variedade e qualidade. Eletrodomésticos a mesma coisa. Dizíamos que as lojas da capital tinham maior sortimento.
As mulheres que podiam, iam as lojas prêt-à-porter, como a Sloper, instaladas na avenida Rio Branco e nas ruas do Ouvidor e Gonçalves Dias, apenas para citar as mais importantes artérias ou vias públicas (linguagem da época) onde se concentrava o comércio mais, como direi, sofisticado? Elegante?
Sim pelo menos para os padrões da época. Hoje Niterói abriga um sem número de butiques, filiais de grifes famosas no Rio e em São Paulo, e uma grande quantidade de outras criadas na própria cidade, por empreendedores locais.
Os grandes magazines, tais como Mesbla e Sears, ficavam do outro lado da baia. Bem depois instalaram filiais aqui na cidade, os quais, a exemplo das matrizes cariocas, desapareceram do cenário comercial.
Os magazines, que vendiam de um tudo e pertenciam a um só dono ou sociedade, deram lugar aos Shoppings Centeres.
Hoje a cidade tem Shoppings bem movimentados e comporta, certamente, pelo menos mais um de grande porte, a julgar pelo movimento que se verifica no Plaza.
Algumas lojas mais conceituadas atraiam consumidores e faziam com que as pessoas fossem até o Rio de Janeiro (DF) para comprar. Por exemplo, calçados era na Clark ou Casa Pedro (sapatos femininos forrados); Casa José Silva e Ducal (confecção masculina) e outras que, no correr dos anos, abriram filiais em Niterói (com exceção da Casa Pedro). Bem mais tarde todas as citadas lojas desapareceram tragadas pela concorrência e/ou má administração.
A compra de material ótico, como binóculos, lupas, microscópios e outros itens que tais, era efetuada na Lutz Ferrando, no Rio de Janeiro.
Assim como relógios era de bom alvitre comprar na Casa Masson.
Os chapéus na Ramenzoni, as meias na Casa Olga, e luvas nas luvarias Gomes ou Monteiro, todas no Rio de Janeiro.
Material de papelaria, em especial escolar, era comprado no centro do Rio de Janeiro, na Casa Mattos ou na Casa Cruz, que posteriormente vieram se instalar com filiais em Niterói. Até mesmo os uniformes eram adquiridos n'A Colegial, que também acabou por se instalar aqui na cidade. E já não existe.
Penso que este tipo de comércio, de venda de uniformes escolares, despareceu, pelo menos como lojas estabelecidas em frente de rua, como se diz em relação aos pontos de venda não localizados em shoppings.
Sombrinhas e guarda-chuvas era imperioso comprar na Vezuvio, loja tradicional na então capital do país.
Lojas de eletrodomésticos, fundamentais para compras de utensílios, máquinas e equipamentos domésticos, que chegavam ao Brasil via importação, como Rei da Voz, Casa Neno, J. Isnard, Castelo do Rio, Lojas Palermo e outras, só existiam na capital federal.
Mais tarde, vieram para Niterói a Casa Neno e a J. Isnard, que me lembre as primeiras do ramo, assim como já tinham vindo os magazines Mesbla e Sears.
No terreno da gastronomia então, foi enorme a transformação. Surgiram na cidade, nos últimos anos, vários bons restaurantes, bistrôs e lanchonetes. E foram criados pólos em alguns pontos da cidade.
Daquela época distante, anos 1940/1950, há uma honrosa exceção de sobrevivência, embora tenha perdido seu caráter de encontro de políticos, empresários e profissionais liberais, no horário de almoço. Falo do restaurante Monteiro, na Rua da Conceição, onde ainda se come um bom filé de namorado com arroz de brócolis (tradicional da casa).
As redes de fast food mais conhecidas, como MacDonald’s e Bob´s levaram algum tempo até aportarem na cidade. Mas se espalharam por vários pontos.
Em Niterói, nas décadas supracitadas, o point para degustação dos recém-chegados deliciosos e nutritivos lanches, era a (havia somente uma) Lojas Americanas onde eram encontrados o Milk Shake, o Sundae, a Banana Split e outras tentações geladas.
Em se tratando de casas de chá e doceria, tínhamos, aqui em Niterói, a Leiteria Brasil, mas em nada se comparava ao charme e elegância da Confeitarias Manon e Cavé, que ainda existem no Rio de Janeiro, e andam as turras em briga no Judiciário. E a mais bonita, sofisticada, charmosa e elegante de todas as confeitarias era, como até hoje, localizada no Rio de Janeiro. Refiro-me a Colombo.
Ao mesmo tempo e na mesma intensidade, com que o comércio de Niterói ganhou impulso, do outro lado as lojas mais elegantes e sofisticadas foram se deslocando para a zona sul e o do centro do Rio de Janeiro foi perdendo expressão.
Quem possuía carro europeu, como pai, que tinha um "Austin A70", inglês, enfrentava uma enorme dificuldade para aquisição de peças. Em Niterói havia apenas uma loja especializada, chamada Auto Europeu a qual, não raro, não tinha em estoque a peça ou componente que precisávamos. Então a solução era atravessar a baia. Ou encomendar lá mesmo na Auto Europeu e aguardar dois meses, até que chagassem via São Paulo.
Outra lastimável alteração ocorreu com a praias internas, na Baia da Guanabara, que aqui deste lado também eram bastante frequentadas: Icarai, São Francisco (que na época ainda carregava o Saco), Flechas, Boa Viagem. Locais de lazer, paquera, prática de esportes.
Atualmente apenas as chamadas praias oceânicas são balneáveis. Esta mudança foi para pior. Como piorou o trânsito. E o sistema de saúde e o de ensino público, nos níveis fundamental e médio.
Tínhamos algumas boas escolas públicas de nível então chamado primário, tais como o Raul Vidal, o Portugal Pequeno, o Pinto Lima e outros. E no nível médio (ginasial, clássico e científico) tínhamos o Liceu Nilo Peçanha, referência em ensino, que só encontrava rival no Pedro II, no Rio de Janeiro. E o Instituto de Educação, que formava professoras primárias.
No terreno das escolas técnicas profissionais, as Escolas Henrique Lage, na zona norte e o Aurelino Leal, no Ingá, que agora perdeu o caráter de escola técnica.
Os bondes, e os ônibus elétricos que os sucederam, que atravancavam, segundo diziam, o trânsito, pela morosidade e exclusividade de linha ou traçado de tráfego, desapareceram e deram lugar a uma cada vez maior frota de automóveis particulares, que transformou a cidade num gigantesco engarrafamento.
Não demora estaremos engarrafados na saída da garagem do prédio. Correndo o risco de dali não sair.
Num balanço das modificações ocorridas nas últimas décadas, acho que o ponteiro pende para o lado "piorou", na maioria dos quesitos.
Ou não?
A última vez que pisei em Niterói foi em abril de 2011, quando do falecimento de minha irmã Ana. E notei que tudo (força de expressão) tinha mudado. Icaraí então... A pior mudança que considerei deu-se no trânsito, uma loucura. E o volume avassalador de construção de prédios de apartamento, o que prejudica sensivelmente o clima, a temperatura nas ruas da Zona Sul, sem vantilação nas vias internas, salvando-se apenas a orla marítima.
ResponderExcluirFiquei também impressionado com o número de novos restaurantes (à la carte e self-service)e tratorias e pizzarias e bares e lanchonetes (que aqui no Sul são chamadas de lancherias)
Bem, um dia, quem sabe, farei uma visita a Niterói, tipo "De volta para o Futuro"?
SAUDAÇÕES TRICOLORES!!! (Sem o trocadilho ofensivo e escatológico do tal de Anonimous em postagem anterior.)
Vários campos de futebol da cidade desapareceram, como os do Ipiranga, Niteroiense, Fluminense, Vital Brazil, Vianense e Manufatura. Além do famoso campo de pelada do Diário Oficial, na Av. Jansem de Melo. E olha que a cidade teve campeonatos locais muito bem disputados.
ResponderExcluirAlém dos clubes cujos campos desapareceram, disputavamm o campeonato o Cruzeiro, o Fonseca e o Sepetiba.