Aquela receita vinha passando de geração para geração, na
família, desde a bisa “Inhorinha”. E fazia sucesso.
Um dia uma visita gostou tanto que pediu a receita. Berenice,
a anfitriã, respondeu que era muito
simples e seria possível memorizar. Farinha de trigo, amido de milho, açúcar, leite,
ovos, manteiga e fermento. A ordem dos produtos possivelmente não seria esta,
mas não importa para contar o caso.
A visita estranhou. Amido de milho? Onde compro isso?
Isso aconteceu com a Maizena, como poderia ater acontecido
com o pó Royal.
Maizena era substantivo comum, designativo de amido de
milho, assim como pó Royal era o fermento.
As receitas, mesmo as publicadas na imprensa, estipulavam,
tantas xícaras de Maizena, uma colher de pó Royal, ao invés de mencionar os produtos amido e fermento. Acabava como se fosse fundamental
utilizar a marca mencionada, sob pena de não dar certo.
As pessoas não faziam pudim de leite condensado, mas sim de Leite Moça. A receita começava assim, uma lata de leite Moça, a mesma lata
cheia com leite de vaca, e assim por diante...
Algumas marcas eram tão conhecidas e tão presentes no
mercado, que seus nomes acabavam por designar tipo de produto.
Você já ouviu alguma mãe recomendar que o filho passe haste
flexível no ouvido depois do banho? Não, claro. A mãe usa e recomenda usar
Cotonete (marca registrada da Johnson &Johnson). Cotonete virou nome do item de consumo.
Algumas marcas até hoje conservam esta característica de
designarem, genericamente, como substantivo,
um determinado utensílio. Caso da Gillette (marca registrada da Procter&Gamble), que é sinônimo de lâmina de barbear. Até para apontar o lápis,
usávamos gilete nos tempos de escola.
Algumas marcas já não têm esta força, embora aqui e ali
ainda signifiquem um item de consumo
geral, com nome próprio. Exemplo clássico é a cerveja. No Rio de Janeiro,
durante muito tempo (agora um pouco menos), tínhamos tomado umas bramas na
noite anterior e não umas cervejas.
Consta inclusive que o folclórico e falecido ex-presidente do
Corinthians, de nome Vicente Matheus, certa feita numa entrevista teria dito
que iria comemorar um título com umas braminhas da Antarctica.
Piada ou não, com o Vicente Matheus tudo era possível, a
verdade era uma só: no Rio e em alguns outros locais, o nome Brahma era
genérico de cerveja, substantivo comum.
As mulheres usavam Modess, mesmo que o absorvente
fosse de outro fabricante que não a Johnson&Johnson, proprietária, também, desta marca comercial.
Apenas os mais antigos haverão de lembrar. Mas antes do
papel higiênico ser vendido em rolo, era comercializado em pacotes com folhas
retangulares, com as dimensões, sei lá, de 15cm por 20 cm, e cerca de 80 folhas
em cada embalagem. A marca mais vendida era a Sanitário. Então, quando nos
referíamos a papel sanitário, na verdade falávamos de papel higiênico.
Hoje poucas marcas atingem este nível de popularidade a
ponto de se tornarem substantivo ao invés de uma marca registrada desta ou
aquela empresa.
Talvez as cópias feitas pelo sistema e nas máquinas da
Xerox, seja caso cada vez menos comum de nome próprio que vira comum.
Ainda se diz e escreve que é necessário fazer xerox dos
documentos. E existem outras copiadoras no mercado e sistema reprográfico
diferente.
Muita gente não sabe que cotonete é uma marca registrada. Pensa que é o nome dado ao item de limpeza de ouvidos. Como se fosse mesmo substantivo comum.
ResponderExcluirA gilete, com o tempo, e por causa do lançamento, feito pela Gillette, dos novos aparelhos com as lâminas agregadas, perderá a condição de substantivo comum designativo de lâminas de barbear. Até porque, acho que estas lâminas tentem a desparecer do mercado.
Abraços
Putz, Carrano...
ResponderExcluirEssa do papel higiênico em pacotes de folhinhas dobradas foi braba! Eu me lembro delas porque meus falecidos avós as usavam em seu banheiro - eles morava conosco num apartamento anexo nos fundos de nossa casa.
Fora esses exemplares, eu nunca os vi em canto algum, nem sabia que eram comuns! Talvez eu seja novo demais...
rs rs
Abraços
Freddy
Pois é Freddy, acredite que o papel em folhas retangulares, vendidas em pacote, era muito usado pela classe média. A marca mais popular era a "Sanitário".
ResponderExcluirPor isso sanitário virou sinônimo de papel higiênico.
As pessoas diziam, por exemplo, está faltando papel sanitário no banheiro, como se fosse substantivo comum.
Verdade, Gusmão, a pessoas pedem aos balconistas, nas drogarias e lojas de produtos de higiene, "me dá uma caixa de cotonetes". Pode acontecer de levar hastes flexíveis de outra marca.
Mas, cá para nós, as verdadeiras, da marca Cotonete, fabricadas pela Johnson&Johnson são superiores as demais.
E olhe que não ganho cachê da Johnson para este comercial.
Abraços para ambos.
Em tempo:
ResponderExcluirA Berenice citada não é a esposa do Gusmão.
Mas é uma homenagem a ela, muito boa cozinheira de doces e salgados.
Papel higiênico/sanitário, é escatologia no duplo sentido.
ResponderExcluir:D Fernandez