Carlos Frederico M B March
Eu fui um assíduo leitor de ficção científica por muitos anos, até que a tecnologia ultrapassou os limites das previsões mais improváveis e hoje o gênero está em crise. Mas sempre se pode aprender algo olhando o passado.
Os grandes autores começaram a escrever na década de 40 - alguns um pouco antes - quando a energia nuclear estava em voga, foguetes já eram realidade na Segunda Grande Guerra e muitas invenções saíam da esfera teórica e caíam na prática, como radar, aviões a jato, etc.
Acompanhando o progresso na década de 50, já se falava em computação e conquista espacial. E mesmo na década de 60, quando a maior parte das obras primas da FC foi escrita, ainda não tínhamos computadores compactos, já havíamos lançado animais ao espaço mas nem a Lua havia sido conquistada. A revolução sexual estava começando a alterar os costumes, a escalada do rock mal havia começado, os LPs de 33 rotações se popularizaram - antes eram apenas bolachas pesadas de 78 rotações, 10 polegadas e uma música de cada lado com cerca de 3 minutos.
O que poderia então um escritor de ficção científica bolar? Viagens espaciais era o óbvio, teletransporte e um monte mais de asneiras tais como bichos que invadiam a Terra e tentavam nos conquistar, guerras interplanetárias, uso de antigravidade em veículos, videofones (máquinas enormes e desajeitadas)... O "quente" de 1968 foi o filme 2001, lembram dele? Estamos em 2012 e nada daquilo aconteceu, a menos da ISS - International Space Station - que é uma nave desengonçada perto daqueles círculos bonitos e confortáveis do filme..
International Space Station - ISS |
Três coisas, entrementes, foram desenvolvidas e popularizadas no final do século XX e que NUNCA foram previstas por nenhum (que eu saiba) escritor de ficção científica, e que mudaram a face da sociedade humana: o MICROCOMPUTADOR PESSOAL, a INTERNET e o TELEFONE CELULAR (para uso cotidiano, não aqueles aparelhinhos de pulso dos heróis de estórias em quadrinhos). O desdobramento é mais impressionante ainda, com a convergência digital juntando os três num pequeno dispositivo que cabe na palma da mão.
Steve Jobs (1955-2011) operando sua criação - iPad |
Esse trio revolucionou os costumes e duvido que algum pensador saiba exatamente aonde vamos chegar como sociedade daqui a alguns anos. Nunca houve na Terra uma experiência em ciências humanas como a que estamos vivendo agora.
Para dar uma noção da velocidade das mudanças, havia escrito no texto original em novembro de 2009:
" Todo mundo com o poder de processamento de uma firma inteira disponível sobre sua mesa em casa. Todos conectados em âmbito mundial, notícias, informações e descobertas ao alcance de um click de mouse. Todas as pessoas conectadas via celular e não demora todo mundo saberá onde cada um está pelo uso de GPS ".
Hoje, março de 2012, já tenho de postar:
"Todo mundo com o poder de processamento de um conglomerado de firmas disponível na palma de sua mão. Todos conectados em âmbito mundial e tempo real, notícias, informações e descobertas ao alcance de um toque de tela ou esfregar de dedos. Todas as pessoas conectadas via dispositivos dotados de convergência digital, integrando computador, telefonia com vídeo, filmadora e câmera fotográfica incorporados, com possibilidade de localização geográfica imediata por GPS e acesso a inúmeros tipos de redes, destacando-se as sociais."
Esqueci algo? As pessoas flagram um fato do cotidiano, capturam-no e postam-no imediatamente nas redes sociais disseminando aquele fato em âmbito mundial. Sempre sem crítica e muitas vezes sem um travo de bom-senso, causando não raro dissabores e prejuízos impossíveis de reverter. Estamos quase na era do Big Brother (ref.: livro 1984, George Orwell) onde tudo que cada um fazia estava disponível para um controlador. Hoje não há mais necessidade dos olhos onipresentes do Grande Irmão, o computador central que regia o mundo. Ele apenas se disseminou numa espécie de processamento distribuído. O resultado é similar, mas mais contundente e incontrolável, pela inexistência de um elemento central pensante. O que cada um faz está disponível para todo mundo.
Apple iPhone 4s |
Para piorar, as pessoas nascidas recentemente, digamos de 1982 em diante (gerações Y e Z, mas isso é outro assunto), já pegaram o mundo nessa situação, de modo que têm pouca ou nenhuma experiência de como era antes. Para eles, mais ainda para os nascidos no séc. XXI, a realidade é fluida, o mundo está conectado, é assim mesmo que funciona, etc et al.
Não, não há previsão possível. Mas uma coisa eu arrisco dizer: a velocidade tecnológica ultrapassou de monte a capacidade da humanidade de se adaptar política e socialmente às mudanças. Isso pode levar à convulsão social, guerra civil, guerra entre países, ou um mix disso => um verdadeiro Apocalipse.
Cenários antes impensáveis tais como ditaduras religiosas e perseguição fanática a cientistas e pessoas ligadas ao desenvolvimento de tecnologia podem vir a ser realidade. Já foi tema de alguns livros de ficção científica no passado, sabiam? O dedo-duro da Inquisição e do Nazismo já renasceu das cinzas, não é ficção. Pode ser aquele sujeito sentado ali no bar vendo você dar uma sacudidela no seu filho insolente. Um pequeno filmete de sua ação cairá imediatamente nas redes sociais como crime contra a criança e o adolescente.
Na minha visão, esse Apocalipse não vai demorar muito. Quiçá ainda teremos o desprazer de vivenciar essa desordem toda...
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International Space Station - ISS: foto tirada pela tripulação da Endeavour (NASA) em 29/05/2011, ao se afastar pela derradeira vez da ISS, quando os voos dos ônibus espaciais estavam com os dias contados. A ISS é um projeto conjunto da NASA (EUA), ESA (consórcio europeu), RKA (Rússia), CSA (Canada) e JAXA (Japão) e sua construção começou em 1998, com expectativa operacional até 2020, ou pouco depois.
Steve Jobs operando sua criação, o iPad - foto captada via Google
iPod Touch 4s - foto de anúncio na Amazon
DESABAFO
ResponderExcluirParece que algumas pessoas não são bem acolhidas nesse blog. Aconteceu comigo e agora acontece com o Sr. Fernandez (seja lá quem for).
Basta que seja feita alguma critica e o visitante é linchado.
Parece um clube fechado, onde os colaboradores e amigos têm suas opiniões respeitadas e quem não pertence a este grupinho não pode ter opinião divergente.
Lamento pois vez ou outra são publicados temas interessantes, culturais e do dia-a-dia. Mas os estranhos são afugentados, com ironias e gracejos.
Desculpe o desabafo, mas é o que penso.
Helga
Helga,
ResponderExcluirA publicação de seu desabafo, é uma prova cabal de que não somos um clubinho fechado.
Antes pelo contrário achamos que o debate só enriquece.
É preciso entender, por outro lado, que o criticado tem direito de defesa.
Se houve um ou outro comentário contestativo mais agressivo ou indelicado, asseguro que não houve a mais remota intenção de ferir, magoar ou constranger. É questão de estilo, de pernonalidade.
Aceite minhas escusas, de qualquer forma.
Saudações cordiais.
Prezada Helga, não houve linchamento. Muito pelo contrário. Pelo que li no "Caso Mr.Z", o Carlos Frederico resolveu criticar o fato do Mr.Z querer manter seu anonimato, mas depois desse comentário, só li apoio total ao FernandeZ.
ResponderExcluirApoio quase total mesmo.
Sds
Quanto à ficção científica, eu acho que o grande visionário/gênio nessa área foi a dupla Hannah-Barbera com o incrível desenho animado OS JETSONS !!
ResponderExcluirhttp://pt.wikipedia.org/wiki/The_Jetsons
Sds
Fiz um rastreamento para tentar identificar os comentários que feriram, de um modo ou outro, suscetibilidades.
ResponderExcluirParece que a Helga achou repetitivos os posts sobre os Lagos Andinos e o Carlos retrucou, em http://jorgecarrano.blogspot.com/2011/08/puerto-varas-e-arredores-atraves-de_26.html
E o Fernandez parece não haver gostado de ser intitulado Sr. Z (uma blague com o Z final de seu sobrenome) por querer preservar o anonimato. Está em
http://jorgecarrano.blogspot.com/2012/03/rescaldo-de-fevereiro.html
Ao fim e ao cabo, todo mundo tem um pouco de razão. Como quero preservar a paz e harmonia neste espaço, proponho darmos o dito pelo não dito e ficamos por isso mesmo. Que acham?
E vamos comentar este post do Carlos.
Abraços
A todos: o meu mordaz comentário acerca do Sr.Z foi instigado por repetidas solicitações para que o Sr.Z se mostrasse, recebendo dele constantes evasivas.
ResponderExcluirNão fora isso, Sr. Z teria seguido despercebido, já que todo mundo tem direito de postar opinião e ser Anônimo é uma opção existente no Blog, portanto pode ser usada.
Continuemos, pois!
Abraços em todos, inclusive nos anônimos.
Carlos
Quanto à Helga... Decerto fiquei uma vez amuado por ter sido criticado por postar textos e imagens de lugares que eu prezo (na América do Sul, incluindo Brasil), quando textos e imagens relacionados com a Europa ou EUA são saudados até com entusiasmo - por exemplo Paris ou NY.
ResponderExcluirO resultado é ter textos prontos e que não serão postados - Bariloche é um deles.
Mas o mundo segue.
Vamos em frente.
Abraços, inclusive na Helga.
Carlos
Carlos,
ResponderExcluirMande, por favor, os textos prontos, inclusive sobre Bariloche que é, ao lado de Mendonza, uma cidade argentina de meu agrado.
Abraço
Bem, deixemos esse negócio de Apocalipse pra Bíblia que também diz que nos últimos dias a ciência se multiplicaria e que o aumento acelerado da ciência produziria (e produz) tristeza, pois a maioria dos humanos demoram a alcançar tal aprimorada tecnologia.
ResponderExcluirVamos nos deter então ao polêmico Z.
Como minha memória é falha pra resgatar o que aprendi, recorro ao google. Eis o que diz sobre essa letra que anda incomodando os caríssimos (ou baratíssimos, como eu) blogueiros:
O Z tem suas origens no alfabeto fenício, era a letra zain que significava arma e era representado pela figura de uma adaga. Na Grécia Antiga foi rebatizado passando a ser zeta e seu desenho não tinha nenhuma semelhança ao de um z , lembrava mais um i maiúsculo. O zeta também foi usado pelos etruscos porém, assim como o y só passou a aparecer na língua latina após a conquista da Grécia por Roma sendo usado para palavras de origem de grega. O z pode ser também um kapagina do alfabeto miríaco que eram rituas que usavam uma lança em forma de Z e assim os rituais ficaram conhecidos como Z da Mízaa.
Significados de Z:
Na Matemática, Z representa o conjunto dos números inteiros.
No mundo da ficção, Z é a marca do Zorro.
Em química "Z" é usado para representar o número de prótons de um átomo.
E tem mais, além de Zorra (total ou não)... Pode-se referir a Z (letra), a última letra do alfabeto.
Z (Costa-Gavras), filme de Constantin Costa-Gavras.
Z (livro), livro de Vassilis Vassilikos que deu origem ao filme.
SINOPSE DO FILME
O filme se inicia com a advertência nos créditos iniciais de Costa-Gavras e Jorge Semprún que qualquer semelhança com eventos e pessoas da vida real não é coincidência - é intencional.
Suspense político, trata de fatos reais ocorridos em 1963 na Grécia. Em cenário político tenso, professor de medicina e deputado grego, um dos líderes da oposição esquerdista, organiza juntamente com correligionários Shoula, Matt e Manuel e o deputado George Pirou, uma reunião pela paz e contra a permissão de instalação de mísseis balísticos americanos em território grego. Com dificuldades, a reunião é realizada mas ao concluir sua fala, o deputado é atropelado e acaba morrendo dias depois. A polícia conclui que foi um acidente mas há indícios que levam o juiz de instrução a suspeitar da versão da polícia e aprofunda a investigação. Com ajuda indireta de um fotojornalista, e testemunhas como Nick, ele consegue revelar uma trama de membros do governo grego, como o general de polícia, o coronel da polícia, outros militares e Yago e Vago, os autores do crime. São todos indiciados mas as testemunhas morrem em circunstâncias estranhas e os envolvidos são condenados a penas leves. Pouco tempo depois os militares lançam um golpe militar. O novo regime persegue os aliados do deputado morto, o fotojornalista e o juiz de instrução. Proíbem comportamentos e assuntos como a matemática moderna, liberdade de expressão, e a letra z, em grego antigo significa "ele está vivo".
No elenco principal encontramos
Yves Montand no papel do deputado.
Irene Papas como Helene, esposa do deputado e Jean-Louis Trintignant, o Juiz de Instrução.
Bem proponho a língua do Z. Zamos zerar, zerminar zor zaqui ezze zapo zurado e zolêmico.rzrzrzrzrz
E zesculpe a zextenzão zo zexto.
Carrano, posta isso no Blog!
ResponderExcluirrs rs rs
Abraços
Carlos
Caro Ricardo,
ResponderExcluirVocê não mencionou que "CONTROL Z" apaga tudo.
Era o que estava sugerindo: zerar o assunto.
Grato e parabéns pelo brilhantismo, as always. Tri legal, tchê.
Abraço
é, maz neze mar de poztz, Mr. Z dezapareceu ..... eztá zateado, e com razão ....
ResponderExcluirPode ser que o Sr. Z tenha razão em ficar chateado, mas não é motivo para sumir do blog. Eu mesmo já cansei de levar pedrada mas continuo me expondo e abusando da boa vontade do Carrano em postar meus textos, todos eles sujeitos a mais pedras - e que vêm chegando com certa regularidade...
ResponderExcluir;-) Abraços
Carlos