24 de fevereiro de 2012

Carnaval

Passou muito rápido. Quando já me acostumava ao ócio saudável, o carnaval acabou.

E com ele as caminhadas matinais mais vagarosas, mais indolentes e meditativas.

E a cerveja estupidamente gelada ao chegar a casa de volta, logo após a chuveirada refrescante, com a água fria jorrando no rosto ainda suado.

Leitura de jornais e da revista semanal que recebo aos sábados. Filmes na TV, retirados na locadora e mesmo no cinema, onde fui assistir a magnífica interpretação da Meryl Streep. Com a cidade vazia, fica tudo mais fácil. Cinemas sem filas, trânsito fluindo bem. Restaurantes com movimento, mas sem os atropelos e burburinhos rotineiros.

Se tiver discernimento, um mínimo da função cognitiva funcionando (dizem estar com demência senil), a Dama de Ferro há de estar impressionada com o que o maquiador conseguiu fazer na atriz e o que esta, por sua vez, conseguiu transmitir de realidade.

Refiro-me, claro, ao filme “A Dama de Ferro” (The Iron Lady), e a atriz Meryl Streep que recebeu sua 17ª indicação ao Oscar. Acho muito difícil que ela não seja anunciada,  como praxe,  “and the Oscar goes to...”

Em matéria de interpretação e caracterização de personagens reais, só me ocorrem, no mesmo nível,  as de Jamie Foxx, fazendo Ray Charles; a de Ben Kingsley, no papel de Gandhi e de Forest Whitaker, interpretando Charlie Parker, no filme “Bird”. Todos premiados com Oscar, exceto o Forest Whitaker que ganhou a estatueta cobiçada não por fazer o Charlie Parker, mas sim pelo  ditador Idi Amin.


Sempre se poderia duvidar das intenções reais da personagem Thatcher, eis que o biógrafo, assim como os críticos, muitas vezes fazem leituras e interpretações nem tangenciadas na realidade das intenções.

Talvez tenha havido uma tentativa de humanizar a Dama de Ferro, mas vai saber o que se passa nos corações e mentes das pessoas.


Voltando a leitura, a disponibilidade de tempo me levou a retomar e enfrentar Humberto Eco. Estou quase no final do “Cemitério de Praga”, cuja leitura não conclui, ainda, porque fiz uma pausa para pesquisar sobre o caso Dreyfus. Trata-se, depois se descobriu, de um dos maiores casos de erro judiciário da história recente (ocorreu no final do século XIX). Ele era inocente.



Na verdade nem foi questão de erro judiciário, mas sim de montagem fraudulenta de um processo que incriminava Alfred Dreyfus, oficial do exército francês, de origem judaica, num caso de alta traição.



Dreyfus cumpriu, parcialmente, pena de prisão perpétua, na Ilha do Diabo ( a mesma do Papillon – Henri Charrière). Em 1906 foi inocentado da acusação e reabilitado, porque o autor da fraude confessou a tramoia.







Poster do filme


Lembrava vagamente do filme (acho que britânico), realizado há muitos anos, com o título de “O Julgamento do Capitão Dreyfus”, com o ator Jose Ferrer no papel do capitão.







O Caso Dreyfuz
Louis Begley







Este processo desencadeou toda uma onda antissemítica na França e na Europa. Para bem entender o caso, além de ler o citado livro do Humberto Eco (“O Cemitério de Praga”), que é o que estou fazendo, seria muito importante a leitura da obra “J’accuse” (Eu acuso), de Émile Zola e do livro “O Caso Deryfus”, do escritor Louis Begley, editado pela Companhia das Letras.






Foi possível, durante os dias de carnaval, assistir duas partidas de futebol internacional, pela “Copa dos Campeões da Europa”, e, ainda, a semifinal da Taça Guanabara. Deu Vasco 2X1 Flamengo. ÔBA!

Sobre carnaval propriamente dito, o que posso dizer é que assisti os compactos exibidos pelo Globo, na segunda e terça- feira, às 14 horas, que me deram uma visão boa de como estavam as Escolas.

O resultado foi justo, a Unidos da Tijuca estava bem legal. Minha Escola – Portela – está mal num quesito: Natal. Os mais velhos que acompanham as Escolas, hão de lembrar do “homem de um braço só”. Natal era um bicheiro valente e respeitado. Foi celebrizado num samba do João Nogueira. Faz muita falta. Duvido que alguns dos jurados, parciais, vendidos, fizessem o que têm feito com a Portela, se é que me entendem.

Poucas mudanças, desde a inauguração da Passarela do Samba: uma criatividade maior, aqui e ali, nas comissões de frente; carros alegóricos enormes; fantasias com grandes alegorias na cabeça e nas ombreiras, de sorte a fazerem volume e serem percebidas pelos expectadores mesmo no último degrau das arquibancadas.



Sophie Charlotte - Salgueiro

Muita mulher desnuda. Rainhas e madrinhas de baterias que nada têm a ver como o mundo do samba – com as chamadas comunidades - geralmente atrizes, modelos e apresentadoras, de bela plástica, que nada acrescentam, senão visual.O que, admito, não é pouco. Até porque o visual, como disse o poeta, virou quesito.

Os sambas feitos por cooperativas há muito deixaram de ter o andamento do passado. Interesses comerciais de grande vulto envolvidos, levam inclusive, por vezes, a decisões insólitas, como a conjunção das letras concorrentes. Vale lembrar que o samba que será usado no desfile é decidido num julgamento feito na Escola, entre os integrantes. Assim, os autores “negociam” e pegam uma estrofe do samba de um, um pedaço do outro, o refrão de um terceiro e pronto.

As baterias também inventaram paradinhas e paradonas, absolutamente dispensáveis.

Se é verdade que o desfile virou um grande teatro ambulante e agrada aos olhos, também não é menos verdade que de escola de samba pouco restou.


Este post estava redigido e pronto para publicação, quando recebi do amigo Ricardo dos Anjos um link com o depoimento de uma jornalista da Paraíba, que coloco abaixo. O Ricardo, no email que me mandou, chamou de choque de realidade. Confiram! 


7 comentários:

  1. O filme que deu o Oscar ao Forest Whitaker interpretando Idi Amin foi "The Last King of Scotland".
    No futebol, ainda há pouco o Flu ganhou do Bota e será o adversário do Vasco na final da Taça Guanabara.

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  2. Já o meu Carnaval começou com um engarrafamento de 30 minutos na Manilha no sábado à tarde. Fiquei monitorando a estrada pelo Twitter, e confiei em informações erradas (como tem gente ruim hoje em dia, usando a mídia social pra sacanear os outros). Consegui um retorno e voltei para Niterói, entrando na Ponte, para ir para Friburgo via Rio-Magé-Parada Modelo. Deu certo, tranquilo, mas isso tudo levou 3 horas.
    Friburgo é o seguinte : comer,comer(rsrs), beber, ler, dormir, ouvir um sonzinho, caminhada básica, ou seja, engordar !
    E como sempre, no 3º dia já estou olhando atravessado para as sabiás e bentevis(está escrito assim no livro 1822 do Laurentino).Começo a sentir falta da agitação de Nikity. Ainda não me acalmei ...
    Não gosto dos desfiles de Carnaval, mas confesso que achei legal a letra do samba da São Clemente, e o lance do violino bem sacado. No mais, o de sempre.
    Uma coisa é certa : em 2013, não vou trabalhar na 6ª feira e vou para a estrada na 5ª, quem sabe até na 4ª feira. Ninguém merece um engarrafamento daqueles. Lamentável.
    Sds TRIcolores

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  3. não consegui terminar de ler o cemitério, carrano. e olhe que acho um impropério largar um livro antes do final. mas o curso da história é repetitivo e lento. em busca do tempo perdido poderíamos dizer que é lento mas você é pego por um grande contador de histórias e palavras mágicas, o que não acontece com o cemitério. Entretanto, devorei os deuses americanos de neil gaiman e o estou relendo. muitos filmes bons, e um especial, o cavalo de turim. jornais não leio mais,sempre dizem as mesmas coisas, revistas somente bravo e piauí. a internet mudou o mundo em informação precisa e não divulgada por outras mídias.

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  4. Estava esperando alguém comentar sobre Umberto Eco ...rsrs
    Pra mim também não existe coisa mais frustrante do que não conseguir terminar de ler um livro.
    Levei 8 longos anos para conseguir terminar de ler "E a Bíblia tinha razão..." (não é Umberto), mas terminei.
    E lembro que parei de ler na metade a biografia de Freud - está abandonado nas prateleiras de Friburgo.
    Frustrante mesmo.
    Sds

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  5. O que mais me causou impressão no post foi o link com o depoimento da jornalista. Não disse mais do que já sabemos, mas ouvir tudo num resumo bem sintético deixa-nos absolutamente frustrados.
    Sim, porque pode-se estender o depoimento para outras áreas e dá aquela sensação de... mais uma vez... "os cães ladram e a caravana passa".
    Nada vai mudar, pois a falácia de que o povo ou que nós, a elite do povo, podemos fazer alguma coisa esbravejando e postando críticas e apontando falcatruas... bem, já estou bem crescido para acreditar em Papai Noel.
    Abraços
    Carlos

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  6. Carlos,
    Amanhã tem mais carnaval, no blog.
    Abraço

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  7. Só para arrematar: paradinha da bateria, durante 2 minutos, na Mangueira, é bobagem, não acrescenta nada. Estas paradinhas, que começaram com pouquíssima duração quando apareceram, ainda vá lá. Mas dois, três minutos é exagero. Vai chegar a um ponto em que levará 82 minutos, tempo de duração máxima do desfile. E chegarão a conclusão de que a bateria não é necessária.
    Por fim, que sacanagem fizeram com a Império Serrano.
    O carnaval é decidido nos bastidores, na calada da noite.

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