Por
Jorge Carrano
Original publicado em:http://www.cavernaweb.com.br/?p=2223
Em seu novo livro, As Esganadas, Jô Soares nos brinda com um personagem português, retirado do poema Tabacaria, de Fernando Pessoa, que apresenta uma curiosa versão de um conhecido ditado:
- Diga-me com quem andas e, se não for eu, não vou.
Ditados populares, em geral, são considerados pérolas de sabedoria. No recém-lançado livro “Tudo é Óbvio – desde que você saiba a resposta”, Duncan Watts, pesquisador-chefe do Yahoo! Research traz uma análise muito interessante sobre o que consideramos “senso comum”, e mostra a aparente contradição dos ditados usados na nossa sociedade. Diz ele (pág. 30):
“Como os sociólogos adoram apontar, muitos desses provérbios parecem contraditórios entre si. Todos somos farinha do mesmo saco, mas os opostos se atraem. É certo que o que está longe dos olhos está perto do coração, mas o que os olhos não vêem o coração não sente. Pense duas vezes antes de agir, mas quem pensa demais vive de menos.”
O que, de fato, ocorre é que escolhemos o ditado conforme a situação.
Além das análises sobre o chamado senso comum, o autor apresenta um estudo interessante sobre a forma como as redes sociais influenciam seus participantes na tomada de inúmeras decisões, desde a compra de uma música, o estilo da roupa, em que candidato votar ou mesmo a participação em uma manifestação pública.
Como o livro mostra, a partir de experimentos que buscam reproduzir algum rigor científico, é praticamente impossível prever “resultados de fenômenos sociais”, seja uma eleição, uma campanha publicitária, uma ação em redes sociais ou mesmo por que um filme ou produto faz sucesso e outro não.
Os fatores que levam ao sucesso ou fracasso de uma ideia ou produto no ambiente social são complexos, interdependentes e não-lineares e, no fundo, só refletem as contradições intrísecas em cada um de nós.
Se individualmente já somos complexos, imagine milhares de nós interagindo em tempo real.
“Diga-me com quem andas e, se não for meu amigo no Facebook, não vou”, poderia alegar uma versão on-line do personagem citado.
Nota do blogueiro: recomendo aos seguidores, amigos e leitores eventuais, que acessem o post abaixo, que trata de um assunto atual e de interesse coletivo. Está em http://www.cavernaweb.com.br/?p=2258
Também li o livro do Jô. Achei bem interessante. Fiel ao estilo já utilizado em obras anteriores, de colocar personagens reais em situações fictícias e/ou personagens de ficção frequentando locais realmente existentes ou participando de fatos que aconteceram.
ResponderExcluirPersonagens reais interagem com ficcionais, numa história bem bolada e bem desenvolvida. Foi boa a sacada de colocar um personagem português, que usa expressões típicas da língua tal qual falada na península.
O Jô tem me surpreendido positivamente na literatura, ao contrário do Chico Buarque que embora bom letrista, com ótimas músicas, não me empolgou em nenhuma da vezes em que se aventurou no romance.
Abraço
Ah! Esqueci de dizer que li o outro post (crime.com) utilizando o link. Seu filho escreve bem, Carrano, e fala com propriedade sobre os assuntos que aborda. Diga-se que é assustador saber o quanto estamos vulneráveis na grande rede.
ResponderExcluirAbraço
Pois é Gusmão, concordo com você.
ResponderExcluirComo sou um pouco mais velho, conheci lugares e muitos dos produtos mencionados.
Por exemplo: comprei muito, para meu pai, o cigarro Liberty Ovais, no botequim do Seu Henrique. Já falei disso no blog.
O sabonete Eucalol vinha com umas estampas que nós colecionávamos, com diferentes motivos: bandeiras, tipos regionais brasileiros, etc.
Enfim, o Lamas foi frequentado por meu pai, quando era solteiro e jornalista.Contava histórias do lugar.
O livro é bom, vale a pena ler, flui fácil, a trama é bem construída, personagens (de ficção) verossímeis e os reais bem caracterizados.
Mas o que o post pretende explicitar é que muitos provérbios populares são contraditórios. E nós os usamos segundo nossa conveniência de momento.
É verdade.
Abraço.
P.S: também colecionei estampas do Eucalol, embora o sabonete que minha mãe comprasse fosse o "Vale Quanto Pesa", principalmente pela parte final do slogan : "barato".
Estava meio indeciso sobre "As Esganadas", mais recente livro do Jô Soares.
ResponderExcluirMas tenho ouvido boas críticas, como a de voces. Vou comprar.
Li o livro do Ricardo Amaral e estou acabando o do Eike Batista, dois empreendedores, cada um no seu estilo e vocações.
Lerei também o do Boni, pois deve ter boas histórias da nossa TV, hoje uma das melhores do mundo.
Fernandez
Sei que muita agente utiliza este recurso, pois acompanho em outros blogs, mas acho estranho utilizar a opção "Anônimo", para envio, mas se identificar no texto, Fernandez.
ResponderExcluirNada contra, apenas estranho.
Abraço
Apareça sempre.
Pode ser o sobrenome dele .... Fernandez Anônimo ... rsrsrs
ResponderExcluirAbrs e bom feriadão a todos ! Paulo