14 de janeiro de 2012

Despedidas e reencontros

Quando ia mudar para São Paulo, em busca de melhores horizontes profissionais, no início da década de 1970, nosso grupo de amigos resolveu nos oferecer um encontro, uma festa de despedida. Não seria um adeus, talvez um até mais ver. Mas pretexto era o que não nos faltava para encontros e comemorações. E naquele caso a desculpa era muito boa, afinal seriam 400 quilômetros de distância entre nós.

Por iniciativa do Helio e da Marly, a comemoração da despedida foi realizada no salão de festas do edifício onde então eles residiam (na Mariz e Barros). Melhor para o Senna e a Hermínia, outro casal de amigos que residia no mesmo prédio.

Nós costumávamos sair juntos com relativa frequência, para shows (Chico, Juca, Costinha), boates ou simplesmente tomar chope e comer linguiça calabresa e batata frita, jogando conversa fora,  no Bier Strand, na praia de Icaraí, esquina hoje ocupada por um edifício bem conceituado.

As boates eram no Rio de Janeiro, e ainda não havia a ponte ligando as duas cidades, Niterói, onde morávamos, e a antiga capital da república. Atravessávamos a baia de lancha e no Rio rachávamos o taxi, assim como as despesas nas boates e bares.

Helena de Lima
(utilize o link ao final)
Variávamos as boates: Bacará (Helena de Lima/ Leny Andrade), Drink (Cauby e irmãos), Dominó, Sucata (Caetano, Gil e Mutantes), Cangaceiro (Helena de Lima*) e outras, todas com ambiente enfumaçado, pouca iluminação, e música ao vivo, em geral de fossa; e tomavamos invariavelmente cuba libre ou hi-fi (vodka com laranja – Fanta ou Crush), mais barato do que uísque.

Como podem ver, tínhamos uma ligação grande. Um convívio estreito.

Pois muito bem, bastaram oito anos em São Paulo, e as coisas mudaram. As coisas não, digo melhor, as pessoas mudaram, inclusive eu e Wanda.

E o reencontro, em nossa volta para Niterói, foi frustrante. Imagino que para todos.

Os orientais em sua sabedoria já haviam afirmado que “não é possível entrar duas vezes no mesmo rio”.

Busco socorro nos seguintes versos do poeta Milton Nascimento, em Encontros e Despedidas**:


"A  hora do encontro
É também de despedida
A plataforma desta estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida"




* Helena de Lima, não Helen de Lima, outra grande intérprete quase homônima, consagrou várias músicas, mas em especial “Estão voltando as flores”. Ouçam em http://www.youtube.com/watch?v=MrnfTTArHSc

** Ouçam na interpretação de Maria Rita, em http://www.youtube.com/watch?v=mFMsnSyCYSI

14 comentários:

  1. Estive uma vez no chamado Beco das Garrafas, uma pequenina rua, sem saída, que tem início na rua Duvivier. Grandes artistas se apresentavam lá, nas diferentes casas existentes.
    Lá se apresentavam, num dos bares, ao mesmo tempo, Dolores Duran e Helena de Lima.
    O nome oficial da rua não era Beco das Garrafas. O nome foi dado pelo Stanislaw Ponte Preta, por causa das garrafas atiradas pelos moradores dos prédios próximos, reclamando do barulho.
    Conheci também as boates Jirau, Bolero, Zeppelin, que me lembre neste instante. Minha cantora preferida era a Leny Andrade.
    Mas os enturmados iam muito aos bares Veloso e Jangadeiro, na Rua Teixeira de Melo.
    Mal comparando, tal concentração de bares só se encontra na Lapa e Gamboa.
    Boas lembranças. Bom final de semana.

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  2. É, Gusmão, acho que fizemos uma boa salada de épocas, casas noturnas e artistas.
    Nossa memória começa a trair.
    Na mesma época, aproximadamente, saiamos (eu e Wanda) com os casais Alfredo e Nancy, Alvaro e Yara, Joel e Jailza.
    O que pintava de novidade, a gente ia conhecer e experimentar.
    Os primeiros galetos ao primo canto, em São Conrado. O primeiro boliche e até o tobogã, quando virou moda. E as casquinhas de siri, de siri mesmo, servidas na carcaça do próprio, na Barra da Tijuca, bairro incipiente, onde começaram a se instalar os primeiros bons motéis.
    Bom domingo!

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  3. Caramba, Carrano, o pessoal mais jovem pensa que sempre existiram o galetinho, o boliche e o tobogã. Mas é verdade, aqui no Brasil, ou mais precisamente no Rio, são coisas que surgiram, e no caso do tobogã, também desapareceram na nossa juventude. Onde funcionou o Canecão, era para ser um baita boliche, mas aí a moda acabou...
    Niterói teve tobogã, não teve?
    Você não citou o drive in como sendo ponto obrigatório dos bnamorados, antes dos motéis.
    Bom domingo para você também.
    Tou saindo para a praia, antes que o sol vire um maçarico.
    Abraço

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  4. Praia de São Pedro, bem entendido, onde permanecerei até o dia 22.

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  5. Sobre a Leny Andrade também gosto muito, ela tinha uma levada jazistica muito interessante. Por isso ia bem com a Bossa Nova.
    Abraço

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  6. Putz, tô fora dessa! Minha juventude se deu com Beatles, Rolling Stones e cenário internacional do rock e suas variações e correlatos. De música brasileira, "aceitávamos" alguns da Jovem Guarda.
    Destaco no post a sabedoria oriental... Já me havia sido dito por uma psicanalista que se eu voltasse a Munique - onde vivi 7 meses numa verdadeira lua-de-mel pois casara cerca de um mês antes - eu teria uma imensa decepção.
    Pode ser... Mesmo que a cidade seja a mesma (e não é), NÓS ficamos diferentes. E como!
    Abraço
    Carlos

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  7. Amigo, li e não entendi o que aconteceu .... o que aconteceu ? O que esses 8 anos lá e cá fizeram ? Apenas "curiosity" ... rs

    Quanto ao rio, os orientais estão 3.000.000% corretos .... não existem 2 rios iguais no mesmo leito ....eles mudam a cada milésimo de segundo.

    Nosso corpo também é assim, nossas bilhões de células de modificam eternamente .... somos outro ser, 100% diferentes do que fomos em qualquer idade ... uns com mais e outros com menos (há quem escreva "menas" ... rsrsrs ) transformações/mudanças.

    Seus registros de locais frequentados fazem-me sentir muito mais velho que os meus bem vividos 59 anos .... embora, como diz meu irmão, eu ainda pense que tenho 18 anos.

    abrs e que venha logo o futebol !!!

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  8. Você entendeu sim, caro amigo Paulo.
    Não foi possível, em nossa volta de São paulo, restabelecer os vínculos mais estreitos de convívio frequente, porque as pessoas mudaram, as áreas de interesse mudaram, família, etc.
    Nem eles eram os que aqui deixamos e nem nós eramos os que partiram 8 anos antes.
    O rio pode parecer o mesmo, mas não é, a água que está fluindo em seu leito é outra. Aquela que tínhamos visto correndo em direção ao mar, depois de oito anos já estava misturada no oceano há muito tempo.
    O rio definitivamente mudou.
    Abraço

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  9. Bem, Carlos, tenho um filho com 46 anos de idade.
    Beatles, Pink Floyd, Supertramp, Dire Straits e Stones, só conheci por causa dele.
    Se considerarmos que hoje, sob o ponto de vista antropológico, a cada 14 anos temos uma nova geração, você estaria mais para a de meus filhos do que para a minha.
    Azar seu, lamento.(rs)
    Abraço

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  10. Pode ser... rs rs
    No entanto, não se preocupe. Hoje eu estou, musicalmente falando, colado na geração que curte a música dos anos 95 em diante. Mesmo considerando (como muitos afirmam pejorativamente) que podemos identificar nela elementos do passado, estou com o século XXI e não abro!
    Abraços
    Carlos

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  11. Relendo o post, mais uma vez acho que a sabedoria oriental marcou o texto. Minha filha voltou a New York ano passado, retornando depois de 11 anos => decepção. Nem ela entendeu, esperava extasiar-se como antes...
    Baixando a bola, outro dia tive de visitar a PUC para pegar um histórico. Pensei que fosse ficar emocionado, afinal passei 5 anos ali e já fazia 35 anos.... Nada...
    Voltar ao passado pode ser frustrante, pois o rio já não é mais o mesmo... Nem nós!
    Abraço
    Carlos

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  12. Sou um ser 100% emocional. Em relação à música, não a classifico por geração/época de criação. Classifico-a como música simplesmente. No entanto, o que ocorre comigo é que realmente, na minha modesta opinião, as músicas "antigas" são muito mais bonitas em melodia e em letras (muito mais inspiradas em outras épocas, em função de fatos que ocorreram aqui e no mundo). Tirando umas raridades mais recentes como Cazuza e Renato Russo, o conteúdo/mensagem das letras é muito fraco. E também, minha juventude foi muito marcante e marcada, e isso ocorreu nos anos 60 (graças a Deus !!).Por isso, adoro tudo realcionado à essa época.
    Quanto a cidades, não há condição de pensar que grandes cidades são as mesmas de 20/30 anos atrás ...sem comentários. As cidades menores, do interior, sim ...essas ainda guardam costumes e construções que nos arremessam a lembranças diversas (sempre boas para mim). Outro dia fui passear no Pé Pequeno, onde nasci e fui criado. Só o cheiro do bairro (o mesmo) já é uma viagem no tempo ... emocionante !!!
    E quanto a nós, seres humanos, mudamos sim e muito, em função das trajetórias que acabamos percorrendo, além do fator biológico. Eu talvez seja um ponto fora da curva, pois ainda tenho 18 aninhos !!! rsrsrs
    Abrs
    PS : anteontem eu e a Isa ouvimos uma cigarra cantando à meia-noite !!!! Com todo o respeito ...que porra está acontecendo com as cigarras ?? rsrsrs

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  13. Leitura e comentários bons de se ler.Estou folheando seu blog a ou há dois dias,para mim tanto faz.Muito futebol nos assuntos.Só me interesso quando é a seleção em Copa do Mundo.Não tenho um time de coração apenas uma torcidinha em família pelo Flamengo.

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