25 de novembro de 2011

Jobs, a biografia

Por
Jorge Carrano
http://www.cavernaweb.com.br/?p=2066



Acabo de completar uma jornada de quase 600 páginas pela biografia de Steve Jobs, escrita por Walter Isaacson.

Não seria novidade comentar sobre os inúmeros casos de explosões emocionais, discussões e brigas que o genial fundador da Apple protagonizou. Por isso deixo esses aspectos de lado.

O livro tem muitos méritos. O primeiro deles é contar toda a história da computação pessoal, desde os primórdios da indústria do hardware e do software, fazendo um relato interessante do que aconteceu nos últimos 40 anos, e que resultaram no mundo super conectado que temos hoje.

Um aspecto curioso diz respeito ao processo de desenvolvimento de vários produtos. Uma verdadeira guerra de egos envolveu Jobs, Bill Gates, Michael Eisner (ex-presidente da Disney), John Sculley (ex-presidente da Pepsi) e tantos outros. E muitas decisões foram tomadas apenas para “derrubar” o concorrente, ou provar que produtos da Apple eram superiores.

Há também muitos lances de genialidade. Poucas pessoas sabem, por exemplo, que o iPad foi concebido (como projeto) antes do iPhone. Mas Jobs percebeu que os celulares, que já haviam impactado fortemente o mercado de câmeras digitais, poderiam também roubar uma parcela de mercado de seu iPod, que na época (2005) era o produto mais rentável da Apple (vendeu mais de 20 milhões de unidades naquele ano), respondendo por mais de 40% do faturamento.

Resolveu então que a Apple inovaria no segmento de celulares, e alocou seus melhores desenvolvedores e designers (que trabalhavam na interface multitoque, base do que viria a ser o iPad) no projeto iPhone, e o resultado é conhecido. Quando o iPhone foi lançado, Steve Ballmer, da Microsoft, ironizou: “é o celular mais caro do mundo.” O fato é que, em 2010, a Apple tinha transformado o iPhone no produto de consumo mais desejado, com 90 milhões de aparelhos vendidos, e um enorme lucro.


Seu temperamento intuitivo e sua obsessão com a perfeição o levaram a exigir niveis de acabamento nos produtos que nenhuma outra empresa sequer considerava. Podia perder dias discutindo o formato de um parafuso que ficaria invisível, escondido dentro do equipamento, e obrigava os engenheiros a mudarem toda a configuração de placas, circuitos e componentes apenas para atender às características do design.

Sua obsessão com os detalhes e a perfeição eram como as de Walt Disney, que Jobs admirava profundamente. “Todos os detalhes importam”, era uma das crenças do criador do Mickey Mouse, que o fundador da Apple levou para o mundo digital.

Entre as poucas personagens capazes de influenciar Steve Jobs – tarefa nada fácil – quero destacar Mike Markkula. Como relata o autor da biografia:

“Markkula escreveu seus princípios em um documento de uma página, intitulado “A filosofia de marketing da Apple”, que destacava três pontos. O primeiro era empatia, uma conexão íntima com os sentimentos do cliente…. o segundo era foco. Com o objetivo de fazer um bom trabalho das coisas que decidimos fazer, devemos ignorar todas as oportunidades sem importância.” O terceiro e igualmente importante princípio, batizado com um nome canhestro era imputar. Dizia respeito ao modo como as pessoas formam uma opinião sobre uma empresa ou um produto com base nos sinais que eles transmitem. “As pessoas de fato julgam um livro pela capa”, escreveu Markkula.” (pág. 97)

Para o resto da vida Steve Jobs levaria em consideração esses pontos em tudo o que faria. São princípios que se materializaram, por exemplo, no cuidado com as embalagens dos produtos e na abordagem inovadora das campanhas publicitárias. Assunto para o próximo post.




Written by Jorge Carrano in: Artigos,Cultura,Digital,Marketing
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Um comentário:

  1. Sobre Markkula: muitos designers menosprezam essa empatia com o sentimento dos clientes, projetando os mais variados produtos, até carros, na esperança de que os usuários acabem gostando das novas ideias.
    Sobre o terceiro princípio, lembro-me de frase de um chefe que tive: "não basta a uma mulher ser honesta, ela tem de APARENTAR ser honesta". É a "capa do livro". Grande Jobs.
    Abraço
    Carlos

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