14 de agosto de 2011

Comoção e indignação passageiras


Juiza
Patricia Acioli

Quais as consequências do assassinato da juíza Patrícia Acioli, em Niterói, executada com 21 disparos de armas de diferentes calibres? A resposta, simples e dolorosa é: 3 órfãos, uma família enlutada, uma vaga na magistratura e um certo e justificável pânico entre aqueles que devem faze cumprir a lei: promotores e juízes.

Decisões pontuais, midiáticas, como compra de carros blindados e oferecimento de proteção policial, com guardas-costas em tempo integral, não solucionarão o enorme problema que temos,  e que permitimos que crescesse, pela leniência, omissão, populismo e demagogia da parte de políticos e de  pseudos intelectuais hipócritas.

A comoção e indignação de parte da sociedade, dos meios jurídicos e das autoridades públicas terá a efemeridade dos fogos ornamentais de final de ano. Veremos muita pirotecnia e pouca ação efetiva, que levarão, passado o brilho e a luz momentânea, de novo às trevas dominadas pelo terror.

Que outra solução será mais eficaz do que banir, definitivamente do seio da sociedade estes marginais, assassinos frios e cruéis? A única solução que oferece resultado palpável é a pena de morte. Pelo menos seria reduzido o número de bandidos e malfeitores à solta.

A ação ameaçadora, atemorizante, de bandidos irrecuperáveis, chegou à magistratura e avançará sobre demais instâncias de poder, porque a impunidade é um alimentador dos objetivos insanos.

Enquanto a hipocrisia for marca registrada de legisladores, jurisconsultos e filósofos de plantão, teremos que conviver com a bandidagem, com o crime organizado, com o medo.

Qual será o limite de tolerância com este estado de coisas? Certamente haverá um, eis que nem Deus, todo poderoso, deixou de se indignar e agir, em Sodoma e Gomorra. Alguns inocentes pagaram, pois não foram poupadas nem as crianças.

Aqui e agora, entre pobres mortais que somos, princípios religiosos mal interpretados e mal aplicados, impedem a adoção de medidas que tragam resultados práticos, concretos, como a eliminação de cânceres. Demagogia, populismo e hipocrisia fazem parte do perfil de legisladores e doutrinadores de ocasião.

Perdoem a frieza, mas qual o significado, melhor, qual o obejtivo da grande cruz fincada na areia de Icaraí, adornada com flores? Qual é a expectativa?



7 comentários:

  1. Ricardo dos Anjos14/08/2011, 23:22

    Nada mais espanta, e assim caminha a humanidade. Atentem para o que Paulo escreveu a Timóteo:"Nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis. Os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais,ingratos, ímpios, sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus(...)" Isso no Novo Testamento. No Antigo Testamento, o salmista já constatava de maneira radical: "Todos se corromperam e cometeram atos detestáveis; não há ninguém que faça o bem, não há um sequer".
    Aliás, o cotidiano atual está mais pra Augusto dos Anjos do que pra Olavo Bilac. Canta o poeta paraibano: "Acostuma-te à lama que te espera!/ O Homem, que nesta terra miserável,/mora entre feras, sente inevitável/ necessidade de também ser fera". E mais: "“Continua o martírio das criaturas:/O homicídio nas vielas mais escuras/O ferido que a hostil gleba atra escarva/O último solilóquio dos suicidas./ E eu sinto a dor de todas essas vidas/
    Em minha vida anônima de larva..." (In Monólogo de uma Sombra).
    Pra finalizar: "Meti todos os dedos mercenários/ na consciência daquela multidão.../ E, em vez de achar a luz que os Céus inflama,/
    só encontrei moléculas de lama/ e a mosca alegre da putrefação!"
    (In Idealização da Humanidade Futura)

    ResponderExcluir
  2. Amigo Ricardo,
    Tenho o maior respeiro por sua cultura, humanística em especial, e admiração por sua sensibilidade poetica, mas pessoalmente o que mais temo é vir a perder minha capacidade de indignação.
    Enquanto puder defenderei a tese da seleção natural (lato senso) e, se para os justos e tementes a Deus viverem em paz, harmonia, respeito e amor ao próximo, for necessário expurgar os que não se adaptam a vida em sociedade, então façamos o que deve ser feito, sempre sob o manto da Justiça.
    Não posso aceitar que Paulo estisse certo em sua advertência e prédica para Timóteo. É preciso reagir à eminência deste risco.
    Abraço forte.

    ResponderExcluir
  3. Se fosse realizado um plebiscito sobre a implantação da pena de morte no Brasil, como fizeram para a questão do desarmamento, a maioria seria favorável.
    Minha dúvida é se na hora da execução, o sentimentalismo, os princípios religiosos e o coração mole do brasileiro não falaria mais alto e muitos iriam se apiedar, inclusive alguns dos que teriam votado a favor da pena máxima, e iriam as ruas pedindo clemência.
    O sentimentalismo (não os sentimentos puros) é um entrave para punições rigorosas, até para confisco de mercadoria de camelôs.
    Não digo que ambos tenham razão (os 2 comentários acima), mas se expressaram com propriedade.
    Abraços
    Gusmão

    ResponderExcluir
  4. Ricardo dos Anjos15/08/2011, 12:06

    Paulo não entrou no mérito da ação ou reação. Apenas constatou, profetizou sobre o comportamento, o caminhar da Humanidade em desumanização. Justiça é outro papo, se impõe necessária. Pois, dentre outras coisas,há a injustiça, que se manifesta quando os agentes da justiça tornam-se injustos. "Olha a polícia, chamem o ladrão!", já cantava Chico Buarque. René Kivitz,teólogo, diz que "o desespero é buscar justiça e perceber que o próprio agente da justiça se incumbe de pervertê-la"
    Faço minha a sua indignação,amigo, pois também nos causa revolta o fato de que os que mais precisam de consolo, de justiça, são os que menos o recebem, porque são os opressores que vivem em conforto e segurança.
    "Vi as lágrimas dos oprimidos, mas não há quem os console; o poder está do lado dos seus opressores"(Eclesiastes 4.1)
    No momento é isso: o poder nas mãos dos apressores, as lágrimas dos oprimidos e a ausência de solidariedade prática - ninguém de pé pra defender a justiça e o fraco. É o que se vê, apesar dos impotentes estertores intelectuais
    que tentam sensibilizar e mobilizar as massas. Que, ao primeiro tiro de canhão das forças defensoras do Estado, se retraem.
    Importante, amigo, é sacar o sentido de toda geléia existencial.
    E a logística de Deus. E isso requer um estudo acurado das Escrituras.

    Abraço
    ex corde.
    Ricardosanjos

    ResponderExcluir
  5. Meu amigo Ricardo:
    Dominus vobiscum.

    NB: lembro de meus tempos de coroinha na paróquia da Vila Pereira Carneiro.

    ResponderExcluir
  6. Carlos Frederico15/08/2011, 15:14

    Entender a Bíblia implica em conhecer o contexto histórico de quando foi escrita e isso é coisa pra muitos anos de estudos de história, sociologia e teologia. Difícil leigos (como eu) debatê-la.

    No entanto arrisco opinar que a Bíblia precisa ser revista e atualizada. Primeira frase a ABOLIR, com a urgência que a humanidade pede:

    "Crescei e multiplicai-vos"

    Daí em diante discutiríamos o restante, em particular quando ela afirma que o homem seria senhor de todas as coisas (animais e plantas) sobre o solo do planeta, podendo delas tirar o proveito que quisesse.

    Abraço
    Carlos

    ResponderExcluir
  7. Nunca vou esquecer o dia, em que como síndico do prédio onde vivo com minha família há 29 anos, capitulei e levei à assembléia geral a instalação de uma grade frontal no edifício. Fomos o último prédio da rua Otávio Carneiro a instalar as grades da prisão das pessoas de bem.
    Hoje, 20 anos depois, as projeções do nosso futuro são estarrecedoras : em 2050 teremos uma população carcerária igual à não carcerária. E estamos falando de um sistema penitenciário que não recupera nenhum presidiário (amigo carrano, desculpe se uso termos/nomes inadequados).
    Vemos muitas crianças na rua, nos sinais de trânsito, ou assaltando impunemente sob o manto da justiça. Escola ? Pra que ? Que perspectiva ?
    Não vou estar no lindo Planeta Azul em 2050, mas tenho certeza que não vai ser legal : nada está sendo realizado para reverter essa tragédia.
    O pior disso tudo é o que você comentou, amigo Carrano : a perda da capacidade de indignação pela sociedade. Viver sob o domínio do espantoso.
    Não acredito que o brutal assassinato da juíza vai ser um divisor de águas .... apenas mais um.
    Abraço.

    ResponderExcluir