Mencionei, em post anterior, programas famosos, no rádio, na área de humor. Não mencionei, todavia, os locutores esportivos que eram líderes de audiência na época, como Oduwaldo Cozzi* (meu preferido pelas imagens poéticas que cunhava), Ary Barroso (o autor de Folhas Sêcas, este mesmo), Jorge Cury e Doalcey Camargo.
A religiosidade também tinha espaço reservado no rádio, que, como já escrevi anteriormente, era o maior veículo de comunicação.
Quando o sol já estava no poente, com tênue luminosidade, entrava no ar pelas ondas da Rádio Tupy, a “Oração da Ave Maria”, programa que com fundo musical da peça homônima de Gounod, era apresentado pelo radialista Júlio Louzada, uma das mais lindas vozes de locução da era do rádio (Woody Allen?) e que dava um tom bastante emocionado quando pronunciava palavras de fé e de esperança, e terminava o programa com a Oração da Ave Maria.
Muitos ouvintes, diários, colocavam sobre seus aparelhos de rádio, um copo com água, que julgavam adquirir poderes de cura.
Por outra lado, na Rádio Globo, outro jornalista, radialista, poeta e escritor, de nome Alziro Zarur, fundador e primeiro presidente da Legião da Boa Vontade, apresentava o programa “A hora da Boa Vontade”, de forte cunho religioso, destinado principalmente aos doentes do corpo e da alma. Obtinha índices estrondosos de audiência, e cunhou uma frase que celebrisou pronunciando-a nos encerramentos dos programas: “O Bem nunca será vencido pelo Mal".
Havia ainda uma terceira opção de religiosidade no rádio, através do programa “Melodias de Terreiro”, no qual Átila Nunes, seu criador e apreentador, defendia o direito à liberdade de culto e o respeito à religião. Sua frase de identidade era “Umbanda Unida Umbanda forte”. Este programa era apresentado ou na Rádio Tupy ou na Tamoio, e migrou depois para a Rádio Guanabara. Átila, nascido em Niterói, era autor de preces e poemas.
Lá em casa, durante algum tempo, reinou um sincretismo negociado. Meu pai tinha raízes na Umbanda e minha mãe de ascendência portuguesa, católica ferverosa, de receber em casa a imagem da Virgem Maria para novenas. Meu pai, da mesma forma como não me impos a torcida pelo Flamengo, não interferia no encaminhamento religioso dado por minha mãe. Assim, fiz primeira comunhão e fui até mesmo coroinha. Mais tarde virei ateu não praticante. Todos já sabem de minha fé em São Jorge, que atende, também, pelo nome de Ogum, sem que isso seja politicamente incorreto. Meu pai, pagando o preço cobrado, abandonou a Umbanda sem adotar, por outro lado, qualquer outra religião ou seita.
Muitos anos mais tarde, sem que exista relação entre uma coisa e outra, ingressou na Maçonaria.
Voltarei, uma vez mais, aos usos e costumes de uma época, ao comércio e ao lazer: teatros, cinemas ranchos, sociedades carnavalescas e escolas de samba, antes do visual como quesito.
* Oduvaldo Cozzi: “Fecham-se as cortinas e termina o espetáculo. Apagam-se as luzes e fica deserto e adormecido o gigante Maracanã”. Ou, ainda, “Dequinha é um lago azul sereno no mar tumultuado que é a defesa do Flamengo” (Dequinha era center-half).
Caro irmão, permita-me fazer uma correção. As raízes religiosas de nossa família paterna eram fincadas no catolicismo. Nossa avó "Inhorinha" frequentava diáriamente a Igreja e, aos domingos apresentava-se sempre com vestido novo. Coisa da qual se gabava. Papai frequentou o Colégio Salesianos em Niterói, de onde fugiu durante a gripe espanhola. Tempos depois, tornou-se Umbandista (de reconhecida mediunidade) e, através desta atividade veio a conhecer nossa mãe.
ResponderExcluirNossa ascêndencia portuguesa não impediu que nosss tias fossem Chefes de terreiro. E lá, no Centro dirigido por tia Arminda nossos pais se encontraram. Deu no que deu... Olha nós aqui...
Valeu, Ana Maria, obrigado pela correção.
ResponderExcluirMinha intenção é ser o mais fiel possível aos fatos e acontecimentos que embasam nossa família.
Todavia, involuntariamente, por traição de memória, ou incapacidade de relatar com precisão certos fatos, posso cometer equívocos como este que você generosamente corrigiu.
A idéia é historiar sem retoques.
Beijo