12 de abril de 2011

Acreditem, sou testemunha ocular e auditiva

As vezes parece ficção, mas asseguro que não é. Eu não teria tanta inspiração.

A Fiat Lux, fabricante de fósforos, tinha uma fábrica no bairro de Neves, em São Gonçalo. A população conhecia a fábrica como “marca olho”, eis que era uma das marcas registradas da empresa. Provavelmente a marca de fósforos mais popular do país.

Vai daí que pequenos incêndios ocorriam vez ou outra. Num destes, o fogo ameaçava alcançar os relógios de ponto que estavam fixados numa divisória entre duas seções da fábrica. A brigada interna de incêndio, e operários da seção, combatia o fogo, quando alguém gritou: tirem os relógios!

Ariel, um dos operários, mais que depressa pegou seu Mondaine* retirou do pulso e o arremessou longe.

Na mesma empresa, num torneio interno de futebol de salão, Jair era técnico de uma das equipes. Se esguelava na margem da quadra e ficava rouco; e ninguém o atendia.

Ao final da partida comentou: no próximo jogo “vou trazer um porta voz”. Ele queria dizer um megafone.

Hermes Santos, advogado, professor e poeta, não necessariamente nesta ordem, trabalhava num banco cujo nome não declinarei pois o caso que vou narrar envolve traição de confiança e infidelidade. E pode causar constrangimentos.

Posso dizer que era (foi vendido depois) um banco pequeno. O banqueiro, mulherengo, tinha uma amante que trabalhava no banco.

Certa feita procurou o Hermes -  que, naquela época, antes de formado, também trabalhava lá - e perguntou se ele toparia alugar um apartamento, que seria uma garçoniere para seus encontros amorosos. Evidentemente que ele – o banqueiro – pagaria todas as despesas; o que ele queria era não se expor, preservar seu nome.

O Hermes topou, até porque já estava de olho na Anita, a tal amante, funcionária do banco. E era correspondido na paquera.

Para abreviar a história, Hermes inventou um nome para a Anita, que, utilizando-se do recurso do anagrama**, chamava de Tânia, e a quem se referia como se fosse sua namorada, inclusive com o banqueiro.

Bem, o Hermes começou a transar com a Anita, a quem se referia, como dito, como sendo Tânia. Chegou a ponto de pedir licença ao banqueiro para levar sua namorada Tânia ao apartamento para um encontro mais íntimo. E traçou a Anita, com todas as despesas pagas. Ficou com a mulher do cara, na garçoniere paga por ele e ainda bebeu um champagne que estava na geladeira.

Este mesmo personagem – Hermes – era professor no Colégio Nilo Peçanha, em Niterói.

Numa partida de futebol de salão entre alunos e professores criou-se uma celeuma sobre a marcação de uma penalidade a favor dos professores. O juiz era um professor. O jogo estava empatado e o penalty poderia decidir.

Muita discussão, cobra, não cobra. Até que o Hermes falou para o capitão da equipe dos alunos: - vamos acabar com a discussão. Aceita a marcação porque eu vou chutar para fora. O aluno, seja por respeito, seja por ingenuidade, topou.

O Hermes pegou a bola, colocou na marca do penalty, tomou distância, correu em direção a bola e... encheu o pé, fazendo o goal. Protestos dos alunos foram em vão.

Falta de caráter? Ele, professor de psicologia, tinha outra explicação.

A Rádio Mapinguarí funcionava em São Gonçalo. Numa partida entre o Mauá e o Tamoio, que disputavam o campeonato municipal, transmitida por narrador que torcia pelo Mauá, ouvimos a seguinte pérola: - Fulano avança com a bola pela direita, cortou seu marcador, entrou livre na área, vai chutar... PQP (pronunciou por extenso) bateu na trave. Segue-se um silêncio sepulcral e depois entram os comerciais.

Volto ao Hermes, para encerrar com o seguinte episódio, na já fase em que ele passou a advogar.

Ele havia sido procurado por um casal (conhecidos seus) que pretendia se separar judicialmente. Feitas aquelas considerações habituais,”vocês têm certeza que é isso mesmo que querem?”, e coisas que tais, acertaram os honorários, recebeu uma parte dos ditos honorários e pediu os documentos necessários que deveriam ser lavados ao escritório no dia seguinte. No dia seguinte, toca o telefone e o cliente conta para ele que depois de saírem do escritório, ele e a mulher foram para casa e refletiram muito sobre a situação, puseram tudo em pratos limpos e resolveram se dar uma nova oportunidade.

A reação do Hermes foi muito espontânea e explosiva: “vocês vão fazer besteira, não vai dar certo”. Esta reação tinha explicação lógica: ele ainda não depositara o cheque da primeira parcela de honorários e já tinha planos para aquele dinheiro.

Devolver? Nem pensar, já basta perder o saldo que não receberei.

Como diria aquele filósofo de frases vazias: “assim como são as pessoas, são as criaturas”.

* Poderia ser Tissot, Mido ou Technos.


** Um anagrama (do grego ana = "voltar" ou "repetir" + graphein = "escrever") é uma espécie de jogo de palavras, resultando do rearranjo das letras de uma palavra ou frase para produzir outras palavras, utilizando todas as letras originais exatamente uma vez. Um exemplo conhecido é o nome da personagem Iracema, claro anagrama de América, no romance de José de Alencar. (Wikipédia)

Nenhum comentário:

Postar um comentário