6 de março de 2011

Entrevista com Ricardo Campanha Carrano

Ricardo é meu filho mais novo e ainda não frequentou minhas postagens; ao contrário do mais velho, meu homônimo, de quem já falei inúmeras vezes e de quem publiquei  prosa e verso aqui neste blog.
Ricardo não chega a ser um low profile, mas precisa ser fustigado para dar mostras de sua inteligência privilegiada e excelente cultura geral. O Jorge, exatamente como o pai, atento observador acompanha o crescimento da floresta como um todo; o Ricardo pesquisa cada árvore de per si, desde a raiz até a copa.
Tenho enorme orgulho dos dois.
Formado em engenharia de telecomunicações, Ricardo é professor universitário e tem trabalhos, individuais e em parceria, publicados em revistas especializadas, em português e inglês.
Como sei que tem muito a dizer mas sempre alegou não ter tempo para escrever um post,  resolvi entrevista-lo tendo a paciência necessária para aguardar as respostas. 

Pergunta: Você teve oportunidade de vivenciar um pouco os ambientes universitários e acadêmicos de Boston e New Jersey. Quais as suas impressões?

Resposta: Boston é uma das minha cidades favoritas. Por um lado é muito importante para a história dos Estados Unidos, por outro, tornou-se bastante internacional, por conta dos estudantes do mundo todo, que frequentam suas excelentes universidades. Harvard e o MIT* são duas referências, mas existem várias outras instituições de qualidade por lá. Em relação a New Jersey, conheço razoavelmente apenas Princeton, onde vivi durante três meses. É uma bela cidadezinha, que gira em torno da educação e da ciência, sem outros atrativos.
As universidades americanas de primeira linha são muito ricas, lastreadas em fundos de doação bilionários. São bem equipadas, com campi belos e agradáveis. Tudo favorece o estudo. Por isso atraem bons alunos e professores do mundo todo. Mas o ponto chave talvez seja o grande respeito da sociedade americana por sua academia. Talvez seja essa a lição para nós, brasileiros. O estudo tem que ser levado a sério.

Pergunta: É fato que existe uma fogueira de vaidades e jogo de poder entre os acadêmicos?

Resposta: Claro. Como em todas as áreas onde existe gente, existe vaidade e também jogo político.

Pergunta: Das personalidades reconhecidamente brilhantes em suas áreas de atuação, qual foi ou foram, as que deixaram melhor impressão no contato pessoal?

Resposta: Não sei dizer. No geral, os grandes nomes são pessoas acessíveis. Os mais novos é que costumam ter egos muito inflados e causar impressões desagradáveis. Coisa de jovem. Mas aqui no Brasil, convivo com pessoas tão brilhantes como as que encontrei no MIT ou em Princeton.

Pergunta: Harvard é a melhor referência mundial no campo da web, no desenvolvimento de programas ou ferramentas?

Resposta: Penso que não. É verdade que muitas das inovações da web são criações de egressos das grandes universidades americanas, mas não necessariamente de Harvard.

Pergunta: Fora dos USA, em que outro país tem aparecido mentes brilhantes neste campo?

Resposta: Já há alguns anos os orientais estão em alta em termos de produção acadêmica. Primeiro os japoneses e coreanos, agora os indianos e os chineses. O Brasil está melhorando, mas no geral todos estão, e nossa participação na produção acadêmica mundial ainda é mínima. Precisamos levar o ensino mais a sério. Não basta quantidade de diplomados, precisamos de qualidade também.
Apesar da ascenção dos estudantes de outros países, a sociedade mais inovadora ainda é a americana. A inovação surge de uma conjuntura complexa. Não basta ter bons alunos, é preciso capital de risco, incentivo a inovação e parceria da universidade com a iniciativa privada. Também estamos melhorando nesse campo, mas são precisos ajustes na nossa mentalidade.

Pergunta: A IBM perdeu hegemonia no mercado de fabricação de hardware?

Resposta: Os grandes fabricantes de hardware foram reduzidos a integradores que colocam suas etiquetas em produtos fabricados na China. Poucos estão preocupados com aspectos de qualidade como, por exemplo, a durabilidade. É a cultura dos descartáveis.

 Pergunta: Como professor universitário, que avaliação sobre o ensino superior, no Brasil, você poderia fazer? Podemos ter esperanças de que iremos atingir o nível de excelência das maiores universidades do mundo?
Resposta:  Já falei um pouco disso. Em resumo, precisamos de uma mudança de mentalidade. Talvez de uma grande "estratégia de marketing" para que o brasileiro perceba que seus estudantes, professores, cientistas e pesquisadores são tão importantes quanto os jogadores de futebol e os pagodeiros.

Pergunta: Passando para amenidades, fale de seu gosto musical, literário, cinematográfico, esportivo e coisas que tais.

Resposta: Hmm! Assunto extenso e desinteressante. Dizer que meu gosto é eclético é cair no clichê. Listar os favoritos é um exercício de memória cansativo e com resultados injustos. Então, vamos ao que estou consumindo agora:
Ouvindo: Radiohead, Rachmaninoff e Puccini.
Lendo: Bernard Cornwell, Robert Harris e José Saramago.
Assistindo: Woody Allen e Christopher Nolan
Esportes: Nenhum, atualmente. Curling feminino, eu talvez parasse para assistir.

Pergunta final: Qual é a sua religião, crença ou filosofia seguida?

Resposta: "A metafísica é uma consequência de estar mal disposto".



Nota do editor: MIT é a sigla em inglês do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, uma das mais prestigiadas instituições de ensino no mundo.


3 comentários:

  1. Conforme noticiado na imprensa, nenhuma universidade brasileira figura na lista das 100 melhores do mundo, segundo a Times Higher Education.
    What a shame!!!

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  2. Vale atualizar o perfil do entrevistado, informando que desde o início do corrente ano de 2013, foi-lhe outorgado o título de doutor, conforme abordado no post http://jorgecarrano.blogspot.com.br/search?q=proudly

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  3. O trabalho, tese, apresentado, para obtenção do grau de doutor, está na internet, e tem o titulo de
    “Schedule-based asynchronous duty cycling with Nested Block Designs”.

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