Já contei alguns micos, mas nunca alguns ocorridos no estrangeiro. Sim, sou internacional em matéria de micos.
Berlim me surpreendeu. Toda vida ouvi falar mal dos alemães. Afinal nasci em 1940. Muito embora contasse apenas cinco anos de idade e tivesse pouca ou nenhuma percepção do tamanho do conflito, lembro de alguns inconvenientes e efeitos colaterais do pós-guerra, como por exemplo o racionamento: leite, pão ( por causa do trigo), carne, etc.
Além de ouvir que a culpa era da guerra e dos alemães, ainda tinha o cinema de Hollyood que nos trazia as imagens daquele povo perverso, que matava até o Errol Flynn, em “ Um Punhado de Bravos”.
As cenas de guerra, nas revistas e nas telas, colocaram na minha cabeça que Berlim era uma cidade inóspita, árida, cinza e, por isso, feia.
Quando cheguei à capital da Alemanha tive uma agradável surpresa. A cidade é moderna, elegante ( a parte oriental precisava melhorar um pouco), muito arborizada e com vários atrativos para visitantes.
E, como não poderia deixar de ser, a cidade tem seus hábitos.
Caminhei bastante na cidade, sentindo-me sempre absolutamente seguro. Sem receio de violência ou qualquer tipo de ameaça.
Numa destas caminhadas, nas cercanias do hotel e indo em direção a um restaurante argentino (pela carne e pelo idioma), ouvi atrás de mim, mas muito próximo, um estridente TRRRIMMM, TRRRIMMM, típico de campainha de bicicleta.
Instintivamente saltei de lado, num átimo de tempo suficiente para que a mulher, esguia e loura, passasse com sua bicicleta, ao tempo em que pronunciava o que me pareceu uma frase, mas que no decurso do tempo em que permaneci na cidade, descobri que era apenas uma palavra. Era um palavrão (palavra grande) na acepção da palavra e deveria ser também no significado. Enormes palavras soam como frases inteiras.
Os berlinenses utilizam bastante a bicicleta como meio de locomoção e a cidade tem muitas ciclovias, algumas das quais sobre as calçadas, em faixas bem delimitadas para quem mora lá e conhece a regras, mas não para um turista desavisado e distraído.
E não é que paguei, de novo, o mesmo mico. Só que desta feita, o som já não me assustou e deixei a faixa demarcatória balbuciando um sorry (na esperança de que fosse entendido) e juntei as mãos espalmadas como numa prece. Para minha alegria, não é que a ciclista esboçou um sorrido a um só tempo de simpática desculpa e também por achar engraçada minha reação, imagino.
Mas foi um mico repetido.
Se calhar, como dizia minha avó Ana, ainda escrevo mais, outro dia, sobre minha visita, agradável, à Alemanha.
Consegui a proeza de pagar mico em Portugal.
Entramos na confeitaria e ficamos extasiados com a variedade de doces de cara apetitosa. Trocamos impressões, eu e minha mulher, e pedi em alto e bom som: quero duas bombas de chocolate. O máximo que consegui foi uma sonora gargalhada da atendente do balcão. Refeita da risada, perguntou, já sabendo a resposta, “são do Brasil, pois sim?”
Ao meu sim, arrematou que já havia visitado uma tia no Rio de Janeiro, há anos, e por isso sabia que a éclair deles aqui chamamos de bomba.
Fiquei com meu mico no ombro e saboreei a bomba de chocolate com muito gosto. Ou melhor, a éclair.
Todas estas histórias são deliciosas, principalmente a seguna que deve mesmo ter sido deliciosa, mas só depois de pagar um mico básico! Adorei! Bjs
ResponderExcluirJu,
ResponderExcluirObrigado pela visita.
Acredite que uma história que envolve bomba de chocolate (ou éclair), só pode ser deliciosa.
Beijo