4 de agosto de 2010

Livre arbítrio? Balela!

Pode ser absurda e que tangencie a idiotice, mas a minha conclusão é de que nada é por acaso, nada é premeditado, nada é de livre escolha, todas as coisas ocorrem no exato momento em que deveriam acontecer, nem antes e nem depois, e todas as decisões, certas ou erradas, não tinham alternativa naquela hora em que foram adotadas.

Ou seja, lamentar o que passou não faz nenhum sentido. Ah! Se eu tivesse estudado mais, não teria sido reprovado. Se eu tivesse casado com Maria seria mais feliz. Se não tivesse perdido a hora, teria embarcado naquele avião que caiu, pois era o meu voo.

É óbvio que continuarei a nortear minha vida pelos meus valores, minhas crenças, mas não imputarei à falta de sorte, ao açodamento, à insensatez, os meus fracassos. Eu teria que conviver com eles, em razão disso agi segundo o que estava prescrito.

Assim, casei com a única mulher que poderia. Achei que estivesse usando minha margem de livre arbítrio, de livre escolha, mas o momento em que a conheci, o local onde nos vimos pela primeira vez, tudo, tudo mesmo, até a nossa convivência de 45 anos, é fruto de um roteiro adredemente traçado.

Quando fui parar na Fuculdade de Direito, foi em obediência ao destino. Para mim, era uma opção civil, já que minha vontade era ser militar da Marinha. Ou da Aeronáutica. Todavia, hoje, depois de viver 70 anos, de refletir, de ler, de estudar, estou seguro de que o que eu imaginara ser uma opção pessoal, bacharelar-me em Direito, nada mais era do que dar cumprimento ao que já estava estabelecido.

Então, o caminho percorrido, com todos os incidentes, teria que ser aquele. Assim, fiz o curso científico, e não o curso clássico, que havia na época para quem pretendesse carreira na área das ciências humanas. Porque queria ser militar. Ser possuidor de discromatopsia (daltonismo), perturbação de visão das cores, oficialmente foi o fator que me alijou da carreira militar que pretendia, mas na verdade minha reprovação nos examos médicos, teria que ocorrer.

A tal discromatopsia, de grau leve, no meu caso, que em nada mais infuiu na minha vida, aparaceu para colocar nos trilhos, contrariando meu desejo, minha jornada rumo a advocacia.

As oportunidades que perdi na vida eram inevitáveis. Não tem essa de pensar que se eu tivesse estudado com mais empenho, seu eu não tivesse dito não, naquele momento, as coisas seriam diferentes. Não seriam, porque as alternativas não existiam. Eu disse não porque não poderia dizer sim. Eu não me empenhei porque era assim que tinha que ser, para que se consumasse a minha história tal qual a estou vivendo.

Este texto está sendo escrito agora, porque não haveria outro momento para faze-lo. E sei que não escolhi este momento. Até para dizer que não escolhi este momento, estou cumprindo o que já estava determinado.

Mas a vida segue, e continuarei achando que tenho o privilegio da autodeterminação, e até de planejar meu futuro, fazendo as coisas que penso corretas, nas horas que imagino adequadas. E assim, como num jogo de espelhos, vou refletindo que esta minha tese tinha que ser exposta agora. Porque estava determinado que seria agora. Até este pensamento, que teria que ser agora, também já estava determinado. Assim como esta última frase. E assim num moto perpétuo.



N.A: em dezenas de canções encontramos versos com a afirmativa de que o que tiver que ser será. Eis alguns:

1) E o que tiver que ser será (música de André Aquino e Alexandre Castilho)
2) E do jeito que tiver que ser será (música de Jorge e Mateus)
3) I finally learned to say:
   Whatever will be will be (Composição: Carl Falk / Jake Shultze / Savan Kotecha
   Finalmente aprendi a dizer:
  O que tiver de ser será.

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