Comentário ao post Icaraí, de morador do bairro, acusa-me praticamente de ser um profeta do apocalipse.
Outro, também morador, em e-mail, achou meio nostálgico o texto.
Preferiria que ele tivesse tachado de saudosista. No conceito de saudosismo está embutida a idéia de superestimação. Pode ser que eu tenha dado importância exagerada aos aspectos positivos que mencionei.
Quanto às previsões sombrias em relação ao inexorável destino de bairro comercial, vou fazer um paralelo com o centro da cidade.
Nos idos de 1940 até 1960, era chic morar no centro da cidade. Se não era chic, era, pelo menos, distinto.
Situando o centro como o trecho entre a Av. Feliciano Sodré e a Rua XV de novembro, e a direita e a esquerda limitado entre a Rua Visconde de Rio Branco e a Rua Barão do Amazonas, podemos dizer que sim, havia comércio neste quadrilátero. Mas era um comércio nobre, de casas comerciais tradicionais, que davam aos moradores deste mesmo centro da cidade, a comodidade de atender suas necessidades, sem depender de condução.
Cinemas eram 6: Rio Branco, Eden, Odeom, Central, Imperial e Rink. Colégios, além dos públicos, Liceu Nilo Peçanha e Instituto de Educação (que formava as normalistas), e as escolas Raul Vidal e Pinto Lima, tinha os particulares Plinio Leite e José Clemente. Padarias, confeitarias, lanchonetes e restaurantes, como a Esportiva, Casa Central, Leiteria Brasil, Modelo Pão Quente e o Monteiro, sendo que neste último estabelecimento citado, um restaurante, era onde faziam suas refeições os jornalistas, os empresários e até mesmo políticos do nível de governador, deputados estaduais e prefeito.
Vale lembrar que Niterói era a capital do originariamente Estado do Rio de Janeiro e a cidade do mesmo nome, do outra lado da Guanabara, era a Capital Federal.
Na Av. Feliciano Sodré, por exemplo, na primeira quadra a partir do mar, só havia casas térreas, de bom padrão de construção, nas quais moravam profissionais liberais, empresários, e pessoas de classe média.
Morei ali durante parte de minha infância/adolescência, no pequeno edifício, primeiro a ser construído naquele pedaço da avenida.
As tais casas, hoje, estão ocupadas por comércio e firmas prestadoras de serviços. Com a construção da Estação Rodoviária, a local se degradou de vez.
Tive um amigo, de boa família, filho do proprietário de uma das mais conhecidas joalherias/relojoarias da cidade, chamada Pendula Fluminense, que morava numa boa e confortável residência na Rua São Padro.
Outro amigo e colega de bancos escolares, filho de professor, morou num edifício na Av. Amaral Peixoto. Num bom apartamento, antes de mudar para São Frnacisco.
Este edifício onde morou meu amigo, hoje é eminentemente comercial, assim como é aquele onde mantenho meu escritório, que já foi de ocupação mista. Atualmente o Regimento Interno proíbe expressamente o uso residencial.
O próprio comércio existente, no passado, no centro da cidade, mudou de cara, e se vulgarizou, como regra geral.
As ruas centrais estão tomadas pelos camelôs, cheiram mal.
A rua da Conceição, que tinha um comércio pujante e selecionado, tem mais da metade de suas lojas fechadas. E algumas em funcionamento abrigam atividades secundárias.
A Rua Visc. de Rio Branco, que chamávamos simplesmente de rua da praia, antes do aterro que fizeram no quebra-mar, é uma calamidade. Tem todas as mazelas urbanas que se possa imaginar: mendicância, meretrício, venda ambulante de alimentos fritos e assados a céu aberto, assaltantes e tudo o mais que possa assustar e afugentar os transeuntes após as 19 horas.
E dizer que íamos à sessão das 22 horas nos citados cinemas, sem qualquer receio, voltando a pé para casa à meia noite.
Onde está, agora, o comércio mais sofisticado? Em Icaraí.
E a ocupação dos espaços pelas atividades comerciais, irá transformar a cara do bairro.
Este processo, que vai transformar o bairro de residencial por excelência, hà 4 ou 5 décadas, num bairro com vocação comercial, ainda demora. Mas será inevitável.
A título de curiosidade, informo aos mais jovens que até mesmo a natureza está modificando a paisagem do bairro.
Certamente a maioria dos que me lêem (3 de um total de 5), não têm idéia da razão do nome da “pedra do índio”, sempre presente nos cartões postais da praia.
Não tem nada a ver com Araribóia. É porque de um determinado ângulo, quem da calçada olhava a dita pedra, via claramente o perfil de um índio, com penacho.
Hoje, com a erosão, pouco se percebe. Só mesmo com muito boa vontade, alertado, o observador irá identificar o tal índio que deu nome a pedra.
O pai do amigo que morou na Av. Amaral Peixoto era médico, e não professor, como escrito no texto.
ResponderExcluirPor e-mail já me penitenciei com ele, que relevou o equívoco atribuindo-o à idade.
Não precisava ressaltar este ponto, CALF. Embora muito me orgulhe de nossa geração.