29 de julho de 2010

Descarte de alfarrábios, lixo impresso e anotações inúteis

Época de descartes. Arquivos abarrotados com pastas estufadas de tanta tralha.

Encontro coisas do arco da velha. Recortes de jornais e revistas, anotações e correspondências tão antigas quanto a expressão “do arco da velha”. *

Encontro duas pasta intitulada “JAZZ”. São daquele tipo suspensas, que ficam penduradas no gavetão. Nelas, matérias sobre lançamentos de discos, isto mesmo, discos de 33 rotações, cartuchos, fitas cassete e CDs.

Páginas de jornais, envelhecidas e por isso mesmo amareladas e com cheiro característico, que veiculam biografias, discografia, lançamentos de discos, e matérias sobre generalidades jazísticas.

Críticas, como as publicadas regularmente por Luiz Orlando Carneiro, nas páginas do Jornal do Brasil**. Um expert de respeito.

E cadernos especiais comemorativos. Quando morreu a Ella Fitzgerald, por exemplo, o jornal O Estado de São Paulo, em sua edição de 2 de abril de 1995, dedicou 12 das 16 paginas do Caderno 2, à morte da fantástica cantora. Tem tudo sobre a vida e a obra daquela que era, em minha opinião, a primeira-dama do jazz.

Preciso abrir um parêntesis, para comentar sobre este Caderno 2 do Estadão (como era ou é conhecido o tradicional jornal paulista/paulistano). Nas outras 4 páginas, das 16,  estão publicadas colunas de Paulo Francis, João Ubaldo Ribeiro e Luiz Fernando Veríssimo, entre outras. Sempre se poderia dizer que passados 15 anos, o Ubaldo e o Veríssimo continuam a nos enriquecer com seus textos cheios de ironias, humor fino, críticas mordazes e muito talento no manejo do idioma, nas edições dominicais de O Globo. Mas os conteúdos das colunas de 1995, são relíquias históricas.

Retorno às pastas sobre jazz, e antes de avançar nos cometários sobre o que nelas encontro, preciso explicar que frisei que a Ella Fitzgerald era a primeira-dama do jazz, em minha opinião, porque há divergências sobre se lhe cabia este epíteto. Alguns entendiam que o título ficaria melhor se atribuído a Billie Holiday. Façam suas escolhas.

Eu era leitor do jornal O Estado de São Paulo, mas lia também o seu maior concorrente, ideologicamente e, portanto, editorialmente, mais à esquerda, que era, e parece que ainda é, a Folha de São Paulo.

Deste último jornal diário, encontro em uma das citadas pastas de arquivo, o caderno Informática, da edição de 26 de fevereiro de 2003. Nela está publicada uma lista dos 110 sites selecionados, todos de lendas do jazz e do blues: Ben Webster, Keith Jarrett, Miles Davis, Ray Brow, Ron Carter, Thelonious Monk, B.B. King, Muddy Waters, Big Joe Turner e muitos outros mais. Como escrevi, são 110 sites interessantíssimos.

Tenho um recorte a respeito do lançamento do livro “The best 100 jazz records”, do crítico Ira Gitler (editado pela Pasquim). O autor consultou 50 críticos de jazz de vários países (um do Brasil), para que apontassem 40 títulos cada um. O disco mais votado foi “Potato head blues” de Louis Armstrong.

Tenho matérias, coligidas de diferentes fontes, sobre as big bands, que tiveram sua época de ouro: Glen Miller, Benny Goodman, Harry James, Tommy Dorsey, Artie Shaw e outros.

E porque eu guardei tudo isto por tanto tempo? Primeiro, por mania de guardar curiosidades. E a segunda razão, mais objetiva, é que eu julgava que um dia, sei lá, aposentado, teria tempo para escrever sobre o assunto – jazz - e disporia de um acervo interessante, para notas remissivas. As contracapas dos discos (long play) e os encartes, também eram excelentes fontes de informações e por isso mesmo anotava tudo que fosse interessante.

Bem, não me aposentei e surgiu a Internet. Com um click de mouse tudo que eu tenho nas tais pastas sobre jazz, virou apenas abrigo para ácaros. Não só está tudo lá, no mundo virtual, sobre todos os artistas, vivos ou mortos, como ainda se consegue ouvir trechos de algumas gravações.

O tempora! O mores!

* Segundo o professor de literatura brasileira Deonísio da Silva, da Universidade Federal de São Carlos, a expressão nasceu a partir de ilustrações medievais que mostravam velhas senhoras, possivelmente bruxas, sentadas sobre o arco-íris. Segundo a superstição popular dos séculos XIII a XVIII, as bruxas faziam do arco um meio de transporte para roubar ouro de um lugar e depositar em outro. A expressão passou a ser usada para se referir a algo fantástico. Coisas inacreditáveis.

** Lamentavelmente deixará de circular a edição impressa do centenário Jornal do Brasil.

27 de julho de 2010

Os nomes próprios

Se não me falha a atribulada e já esgotada memória, em algum lugar, há algum tempo, foi baixada norma legal fixando os únicos nomes passíveis de registro civil de nascimento, inclusive quanto a grafia dos mesmos.

Se não me engano foi em Portugal. Não riam porque não é piada. Eu até aplaudo a idéia.

Se tal lei vigorasse no Brasil, eu jamais iria ter dúvidas, ou escrever erradamente, o nome de minha sobrinha Andréa.

Embora tenhamos contatos freqüentes, poucas vezes tenho que endereçar a ela quaisquer correspondências. O mais da vezes, no passado mais recente e atualmente, utilizo o e-mail. Nada adianta, porque está na memória da máquina o endereço eletrônico dela como a.carrano. Este “a” é de Andréa. Mas já grafei, sei disso, algumas vezes, Andreia. Até porque, na minha cabeça, o nome é masculino, pelo menos na Itália. Conheci um Andrea em especial. Um Matarazzo.

Mas não é somente com o nome da Andréa que me confundo vez ou outra. Daniela é outro nome que me põe em dúvida com freqüência. Seria Daniele? E com dois “eles”, tipo Danielle? Ainda bem que este nome permite, em certos casos, um truque: escrever Dani. Assim como escrevo Bia, para Bianca.

Se houvesse a lei, no Brasil, e estivesse em vigor, simplificaria as coisas. Chega o pai no Cartório, para registrar a filha que acaba de nascer, e diz: vai se chamar Izabel. Diria o escrevente: tudo bem, só que terá que ser escrito com “s”. Será Isabel. É assim, ou nada feito. Escolha outro nome que tenha “z”, se é isto que quer. Que tal Tereza? Tereza pode ser com “z”.

Lembro dos cuidados que tive com o nome de minha mãe. Tinha sempre que alertar que era Edith com “th”, senão grafavam Edite. E aí estaria criado um enorme problema burocrático.

E a acentuação tônica? Acreditem que a eficiente escrevente judiciária, que atuou nas 3ª e 9ª Varas Cíveis em Niterói, e agora está lotada no Forum Central, no Rio de Janeiro, para todo mundo se chama Priscila. Não para ela. Sempre corrige o interlocutor explicando que o nome é Príscila, com um acento agudo no primeiro “i”.

Lembro ainda da Dna. Mariá, inspetora de alunos no Liceu Nilo Peçanha, em priscas eras. Cá entre nós, ela se chamava mesmo era Maria. Aquele acento que apareceu em seu nome, deveu-se a erro do tabelião na hora do registro. Só pode ser. Por que razão ela discreparia e seria Mariá? Com o “a” pronunciado inteiramente aberto?

A lei que restringiria os nomes passíveis de registro, a par de evitar anglicismos e outras macaquices, tipo Richarlisson, evitaria constrangimentos para algumas pessoas cujos nomes são fruto da aglutinação dos nomes dos pais. Por exemplo, Juventina, que seria filha de Juvêncio e Clementina. Ou Francelina? Que é fruto da mistura de Francisco com Celina? Estes ainda passam, mas existem alguns que faça-me o favor.

E ainda tem pai que transmite ao filho o nome, digamos, incomum, que recebeu. Como Leovigildo. E acrescenta o Junior.

A lei, por outro lado, na minha visão, deveria facultar que todas as pessoas maiores de 12 anos, pudessem mudar, uma única vez, seus nomes. Com um ritual ou via crucis simples. Iria ao Cartório e diria: Quero me chamar Rosa, e não Tulipa, como fui registrada.

Apolília e Eufrásia, amigas de minha mãe lá pelos idos da metade do século passado, ficariam felizes com esta possibilidade. Já imaginaram o alivio por poderem trocar seus nomes para os triviais Ana e Amélia.

Bem, a mudança seria apenas do pré- nome, não dos nomes de família, para evitar as legiões de Rockefeller e Getty que surgiriam.


Vide: http://www.irn.mj.pt/
Vocábulos Admitidos ou Não Admitidos como Nomes Próprios
O IRN disponibiliza informação cujo conteúdo corresponde a listas de vocábulos admitidos ou não admitidos como nomes próprios, submetidos a apreciação destes serviços após consulta formulada pelos interessados junto da Conservatória dos Registos Centrais.
Estas listas de vocábulos admitidos ou não admitidos como nomes próprios publicitam apenas os despachos proferidos face às referidas consultas efectuadas até Dezembro do respectivo ano.
As listas são, assim, meramente exemplificativas, não estando nas mesmas englobados os nomes próprios relativamente aos quais não subsistem dúvidas quanto à sua admissibilidade (por exemplo - Maria, José, António, Ana, Carlos, Cristina, etc...)

20 de julho de 2010

Dia do amigo

Hoje é o dia do amigo. Fiz e recebi telefonemas, enviei e recebi emails, abracei uns poucos - porque tivemos encontros acidentais - e refleti muito durante o almoço e no trânsito da cidade, sobre alguns amigos cujos espíritos seguiram seus caminhos (torço que com muita luz), fora do corpo que habitavam aqui entre nós, e, também, sobre aqueles que o destino, como uma roda viva (Chico Burque) carregou p’ra lá, afastando-nos.

Mas houve um, em especial, sobre o qual me detive em pensamento algum tempo mais. E não foi a primeira vez. E este amigo nem está no rol dos mais chegados ou mais fiéis ou mais presentes. Antes pelo contrário, foi um amigo efêmero.

Guardo pouco de suas feições, de sorte que posso até ter cometido o desaforo ou a ingratidão ou quem sabe uma deselegância não cumprimentando em passagens ocasionais nas ruas da cidade, ou num cinema ou por aí.

Deu-se o seguinte. Corria o ano de 1972, mês de março, e eu estava de férias. Por causa disso era irrelevante o fato de ser domingo.

Levantamos cedo e fomos, eu, Wanda e os meninos, para a praia de Itacoatiara. Tinha uma prainha, rasa, ideal para as crianças ficarem sem risco.

Aí pelas dez e meia, o sol já esquentando além da conta, fomos embora. Deixei mulher e filhos em casa, e voltei para Itacoatiara, não para a praia, mas para a casa do Maurício Millar, que lá morava na época.

Tomamos cerveja, contamos piadas, fofocamos e, aí pelas quatorze horas, resolvi voltar para casa. Afinal precisa almoçar com a família.

Vale registrar que minha sogra estava lá em casa e que no dia seguinte viajaríamos para Cachoeiro de Itapemirim, onde ela morava, e passaríamos lá alguns poucos dias.

Pois muito bem. É sabido que álcool e direção não combinam. Mesmo que a ingestão de cerveja estivesse dentro de limites, digamos, sociais, a verdade que eu bebera um pouco.

A estrada para ou da região oceânica era, como de resto ainda é, um verdadeiro martírio no verão. O trânsito pára mesmo. E o sol escaldante das quatorze horas nos miolos, agravado pela presença de gases etílicos, fez-me cometer uma imprudência trafegando na contramão de direção para ganhar tempo.

Não poderia acontecer nada diferente. Fui surpreendido por um veículo que vinha em minha direção e, para retornar a pista on eu deveria estar, fiz um movimento brusco na direção, derrapei e... rumo ao precipício. Ou seja, cai num barranco, só parando alguns metros abaixo, porque uma árvore no caminho deteve o carro.

Enquanto eu ainda meio zonzo tentava deixar o carro, entender o que aconteceu e subir a pirambeira até o asfalto, comecei a ouvir algumas vozes que chegavam aos meu ouvidos como vindas de muito distante dizendo coisas como: quanta irresponsabilidade; que maluco; e outras afirmativas correlatas além, claro, de impropérios mais exaltados.

Foi aí que apareceu este amigo, inesquecível, anônimo, era e anônimo ficou, abraçou-me pelos ombros, rechaçou a presença dos curiosos recomendando que seguissem seus destinos e me perguntou para onde eu queria ir.

Ainda tonto, mas lúcido o suficiente para saber que não seria recomendável chegar a casa naquele estado (a árvore onde o carro finalmente bateu tinha espinhos e por isso arranhei o peito e filetes de sangue apareceram), pedi que me levasse de volta para Itacoatiara, para a casa do Millar.

No trajeto, me dei conta de que no carro dele (o meu ficou preso no barranco e foi preciso um guincho, depois, para retira-lo) havia uma jovem, sua namorada. Pedi um cigarro, pois na época eu ainda fumava (só deixei o vicio em 1982) e ele me cedeu um, dos dois últimos do maço muito amarrotado.

Bem, na casa do Millar despedimo-nos, agradeci pela ajuda e sequer perguntei seu nome. Nem ele o meu.

Este amigo, de passagem curta em minha vida, foi extremamente importante num momento de aflição e insegurança.

Que ele sempre encontre em seu caminho pessoas solidárias, humanas, que o ajudem sendo preciso.

Quero encerrar esta homenagem ao amigo desconhecido, fazendo um chiste, para esclarecer o seguinte: quem bebe não deve mesmo dirigir. É irresponsabilidade sim. Por isso, como álcool e direção são incompatíveis, fiz minha opção: vendi o carro.

16 de julho de 2010

Falar de copa, agora, só em 2014

Chega de vuvuzela, jabulani e Soweto.

Como o Brasil não terá que competir nas eliminatórias, só voltarei ao assunto d’aqui a 4 anos.

Encerro o tema com minha seleção, e os 3 reservas que, eventualmente, como técnico, poderia utilizar substituindo os que estivessem em campo e que aparecem na escalação entre parêntesis:

Casillas, Lahm, Piqué (Lúcio), Puyol e Coentrão; Schweinsteiger, Iniesta, Sneijder e Müller (Xavi); Robben (Furlan) e Villa.

É engraçado como as grandes estrelas não reluziram. Messi, Rooney e Fernando Torres, por exemplo, grandes goleadores, não fizeram nem um. O Cristiano Ronaldo fez um sem querer.

Nossa participação foi pífia.

Tht’s all.

15 de julho de 2010

Tamanho é documento... e força também.

Não existe esse negócio de “melhor futebol do mundo”. Já se foi o tempo em que o futebol brasileiro se destacava e impunha um padrão. Aliás, pensando bem, nós nunca impusemos um padrão vencedor. Na verdade tivemos boas fases, bons momentos. Assim como outros países.

Em 1958 a França tinha um timaço, e só ganhamos porque tínhamos um menino-gênio chamado Pelé e um semi-deus de nome Garrincha. Em 1982 e 1986, com toda arte de nossos jogadores, não nos impusemos.

Em 1954 quem se impôs foi a Hungria, que deslumbrou. Em 1974 foi a vez da Holanda encantar, com seu carrossel. E nos dois casos citados, Hungria e Holanda sucumbiram à força da Alemanha.

Diferentemente do futebol, o vôlei brasileiro conquistou espaço e prestígio no cenário internacional, no passado mais recente, com muitas conquistas. Graças ao crescimento do time. Crescimento na estatura, na técnica, no preparo físico, na força. Uma cortada de nosso ponta na entrada de rede, seja qual for, no momento, é forte o suficiente para superar bloqueio.

E esta evolução aconteceu em quanto tempo? Cinquenta anos? Por aí, talvez cinquenta e cinco, a julgar pelo fato de que estou com setenta e me recordo de muitos dos nossos atletas, que moravam em Niterói, jogando na areia de Icarai.

Lembro de Borboleta, Quaresma e outros, que integravam a seleção nacional e que tinham baixa estatura e mãos, como direi, delicadas.

Para se ter uma idéia, na última Olímpiada Estudantil Secundarista a que compareci, com muito orgulho como chefe da delegação de Niterói e técnico da equipe de futsal (então futebol-de-salão), e que foi realizada em Volta Redonda, a seleção de vôlei masculina era dirigida por uma professora de educação física, chamada Nelize. E Niterói conquistou o título. Os tempos mudaram, não? Os professores não se interessavam muito por vôlei e os rapazes mais altos, um pouco mais, digamos, másculos, optavam pelo basquete.

Mudou muito o biotipo do jogador de vôlei e a preparação atlética.

Não quero comparar a seleção brasileira com a equipe estudantil de Niterói, mas entre Nelize Tortelli, frágil, delicada, e Bernardinho, explosivo, cobrador, há uma diferença abissal.

Nosso futebol perdeu espaço no futebol internacional na mesma época em que o vôlei começou a se destacar. Isto nada tem a ver com concorrência entre os esportes. Os praticantes continuam sendo de vertentes diferentes.

Todavia, o futebol no mundo todo evoluiu e não estamos acompanhando as modificações que estão ocorrendo.

O futebol que se praticava antigamente acabou. Quando, nos dias de hoje, um Danilo conseguiria matar a bola no peito, levantar a cabeço, localizar um companheiro desmarcado e lançar-lhe a bola? Quando a bola chega no jogador, se o passe for perfeito, porque se não for não tem remédio, já estão colados, ou chegam juntos, dois ou três adversários para bloquear.

O Futebol ficou corrido, não há mais espaço. O miolo do campo, onde jogavam os cerebrais armadores (Didi, Gerson, Danilo e outros), ficou congestionado com os cabeças-de-área. Os zagueiros cresceram, em estatura, e ganharam mais impulsão, graças ao preparo físico.

Sim, é verdade que Xavi e Iniesta são relativamente baixos. Por isso mesmo a Espanha, que joga bonito, teve enorme dificuldade para vencer seus jogos. Ganhou 4, dos 7 disputados por 1 a 0. E olhe lá. Perdeu para a Suiça, que joga no sistema de ferrolho desde que eu tomava mamadeira. Alias que os suíços é que tomam muita mamadeira, por isso são corpulentos e difíceis de superar.


Até no tênis, tendo em vista o crescimento médio dos praticantes, e a força física que vêm ganhando, mais cedo ou mais ocorrerão mudanças. Seja elevando a altura da rede, seja diminuindo, com pisos especiais, a velocidade da bola. O que se vê de aces é incrível.

Assisti ontem um pedacinho (2 sets) de uma partida do sueco Soderling. Pois muito bem. Teve um game que ele fechou rapidamente, sendo que 3 dos 4 pontos necessários (15, 30, 40 e game), ele obteve com aces. Até o 2º set já eram 13 aces dele contra 8 do adversário, cujo nome não me lembro. De qualquer forma foram 21 aces em 2 sets.

Consta que o americado Andy Roddick conseguiu, num saque, imprimir à bola uma velocidade de 242 Km. Como é possível rebater uma bola nesta velocidade e com efeito?

Tamanho e força viraram quesitos importantes.

Nota do autor: nos remotos anos 40 e 50 do século passado, nas desavenças entre colegas de escola, era costume os de menor porte físico anunciarem para os maiores: "tamanho não é documento". Esta frase virou bordão e foi largamente aplicada. Hoje caiu em desuso. Ou então está restrita às briguinhas de estudantes, portanto longe do autor.

12 de julho de 2010

José Carrano y Segovia

Minha porção espanhola está contente. Este Segóvia que consta como sobrenome de meu avô, lá no título, tem origem na minha bisavó Tereza de Segóvia, espanhola, que foi casada com Carlo Michele Carrano, meu bisavô italiano.

O ramo italiano predomina entre meus ascendentes, pelo lado paterno. A inclusão de uma espanhola foi circunstancial e caso isolado. Consta que o Carlo Michele saiu de Tramutola, província de origem da família, que fica na região da Basilicata e teve uma passagem pela Espanha, onde conheceu e casou com a supramencionada Tereza, antes de vir para o Brasil trazendo o primogênito José Carrano y Segovia.

Lamentavelmente meu avô não transferiu para o filho Fernando, meu pai, o nome materno de família e, por conseqüência, também não herdei o Segóvia, ou melhor, “y Segovia”, que cairia muito bem.

Foi uma pena. Não fora isto e estaria comemorando com mais razão o merecido título conquistado pela Espanha na Copa FIFA 2010.

Não foi surpresa a vitória espanhola, para quem acompanha a trajetória da seleção deles nos últimos anos, principalmente desde a conquista da Eurocopa 2008.

Que belo time, não? Futebol bonito e eficiente, com base na posse de bola, com jogadores habilidosos, principalmente no meio de campo. E dizer que não puderam contar com Fernando Torres, seu grande artilheiro, em plenas condições físicas. Niño Torres, como é conhecido, foi o grande herói da Eurocopa, mas esteve mal nesta campanha agora finda. Apareceu mais o Villa.

De qualquer sorte, com ascendência espanhola ou não, torci muito pela Espanha, que sabe jogar a um só tempo futebol vistoso e competitivo

Viva a fúria !!!

8 de julho de 2010

Tipo inesquecível: João Jorge Elias Bazhuni

Há três anos, quando completou quarenta anos de casamento com a Cristina, por volta de meia-noite pediu silêncio, com sua possante voz, pois queria “proferir algumas palavras”.

O burburinho, decorrente das conversas paralelas dos muitos amigos e parentes presentes, distribuídos em várias mesas, cessou e o Bazhuni começou a falar.

Enalteceu a mulher, mencionou os filhos, e por cerca de três minutos discorreu sobre nossa amizade, mencionando o quanto ela era duradoura, sólida, e importante para ele. Entre tantos presentes, distinguiu somente a mim. Porque, não sei. Generosidade seria a resposta mais adequada.

Fiquei tão emocionado, que abracei Wanda, minha mulher, pelos ombros, como um mecanismo de proteção, a fim de que as lágrimas não corressem pelo meu rosto. Não esqueci deste momento gratificante.

Conhecemo-nos há cinquenta e três anos, nas lides estudantis. Ele, tesoureiro e eu diretor social, depois de esportes, da Federação dos Estudantes Secundários de Niterói, que mais tarde ele veio a presidir.

Ao longo deste mais de meio século compartilhamos bons momentos, e sonhos.

Quando “dei baixa” do serviço militar, em 1958, lá estava ele fornecendo o arak (nome genérico de uma bebida muito forte, aromatizada com anis), para comemoração. Voltamos de Copacabana - éramos ao todo seis pessoas - muito tontos.

Também nas idas ao puteiro (porque não, se éramos solteiros e saudáveis), na Rua Alice, em Laranjeiras, estivemos juntos algumas poucas vezes (era caro e eu não tinha cacife para ir mais frequentemente).

Pescaria foi uma só, mas de gratas recordações. Passamos a noite de 1º para 2 de novembro, em 1971, véspera de finados, na vã esperança de que pescaríamos o suficiente para o almoço. Nem ele, nem os irmãos e muito menos eu pescamos alguma coisa.

Foi uma noite fria, com o vento soprando forte na praia de Piratininga, esquentados, apenas, pela batida de côco que consumimos rapidamente. Quando, vencido pelo cansaço e, porque não dizer, nocauteado pela batida de côco, adormeci na areia, foi ele quem conseguiu, não sei como, uma japona velha para que eu não ficasse congelado. Coisa de amigo.
Pela manhã, logo cedo, antes das seis, apareceu a bola e, mesmo de ressaca, jogamos três contra três até as pernas não mais obedecerem. Ai fomos em direção a peixaria, pois não poderaimos chegar em casa de mãos abanando.

Viajamos, juntamente com vários outros amigos, para Juiz de Fora, nos idos de 1959, quando transformamos numa farra a viagem de negócios que ele empreenderia, para fazer compras de mercadorias (meias e outros artigos) para abastecer a loja de tecidos e armarinho da família, na qual ele trabalhava, auxiliando o pai.

Outra viagem não menos emocionante, já aí com outro grupo de estudantes, entre outros, Silvio Lessa, Emetério Rodrigues Leitão, fizemos à cidade de Cachoeiro de Itapemirim, onde também aprontamos. 

O que aconteceu nestas duas cidades, não contarei nem sob tortura, pois não quero que meus netos tenham mau exemplo. Minha imagem vai ficar comprometida.

Tadavia, para que imaginações mais férteis não exagerem na avaliação, afirmo que era tudo muito inocente se comparado com o que a juventude apronta hoje.

Querem um exemplo? Tirar foto limpando a bunda de uma estátua, de corpo desnudo, existente no Parque Mariano Procópio, em Juiz de Fora. Sobre Cachoeiro de Itapemirim não mencionarei coisa alguma, posto que acabei casando lá, há 45 anos, não muito tempo depois da malsinada viagem.
Casados, nos últimos anos reuníamos com freqüência para jogar buraco, em duplas, alternando o local das partidas, entre a minha e a casa dele.

Bazhuni era rotariano, sócio fundador e mais tarde presidente do Clube Líbano Fluminense. Com sacrifício pessoal e da família (tinha 3 filhos), construiu a sede campestre deste clube, lá passando os finais de semana acompanhando as obras.

Foi, durante anos, diretor da Escola do SENAC, em Niterói e dono de restaurante.

Gourmet e gourmand, cozinhava muito bem, em especial as iguarias árabes. Aprendeu com seus pais libaneses.

A loja Leão de Ouro, que pertencia ao pai e foi passando, primeiro para ele, e depois sucessivamente para os irmãos mais novos, era o ponto de encontro dos amigos comuns. Ficava na Trav. Alberto Victor, no centro de Niterói.

Aos sábados, durante anos, costumávamos nos reunir na loja e depois de muita conversa jogada fora disputávamos na porrinha quem pagaria a fatia de pizza no italiano ao lado.

Ajudou muita agente. Muita gente mesmo. Até pessoas que talvez não merecessem. Mas ele era assim, um coração generoso.

Como somos de uma mesma geração, é possível que nos reencontremos ainda em alguma parte. Seria uma alegria.

7 de julho de 2010

Futebol tem lógica

Há quem diga que não. Tudo bem, até porque este negócio de lógica é muito filosófico* para meu gosto.

Na “minha lógica” os mais bem preparados ganham. Por isso foi possível apontar, antes mesmo do início da Copa, que Espanha e Holanda eram duas favoritas ao título.

Não fui o único, muitos as apontaram como candidatas. Todavia, sempre faziam a ressalva de que estas seleções “amarelam” nas decisões. Eu não fiz esta ressalva, porque ela não é verdadeira.

A Holanda, nas duas finais que disputou (1974 e 1978), perdeu para as anfitriões. E sabemos que ganhar dos donos da casa é sempre muito difícil. Até a Inglaterra ganhou a Copa lá disputada. E a Suécia chegou à final, em 1958. Quem diria,  o Chile fez bonito em 1962, quando recepcionou a competição.

A Espanha foi garfada em 1962, e fomos nós os beneficiários dos equívocos do juiz e da artimanha do Nilton Santos, no lance do penalty. E o seqüestro do juiz, com súmula e tudo, para que o Garrincha não fosse julgado? A seleção espanhola de 1962 era um timaço. Melhor do que a de agora, que também é boa.

Em 2008 a Espanha confirmou, na disputa da Eurocopa, ganhando da Alemanha no jogo final, a sua ótima fase, com um jogo cadenciado, de muito toque de bola, desenvolvido por um bom elenco, que tem como base o time do Barcelona, um dos melhores da Europa.

Por sua vez a Holanda vem fazendo até aqui (só falta o titulo), uma campanha como a do Brasil em 1970, ganhando todas as partidas das eliminatórias e as da disputa da copa até o título. São 14 partidas sem perder: as 8 das eliminatórias (100% de aproveitamento) e as 6 da copa até agora.

E a Holanda acrescentou ao bom futebol que já apresentou em outras oportunidades, um toque de pragmatismo, deixando sua seleção ao mesmo tempo jogando bonito e competitivamente. Também gosta da posse de bola e avança rápido em direção ao goal.

A Espanha tem no duo Xavi e Iniesta, no meio campo, seu ponto alto. A Holanda tem no armador Sneijder e no atacante Robben, que joga nas duas pontas, seus pontos mais fortes.

Ambas as seleções têm bons goleiros e na defesa jogadores combativos, trogloditas que dão o sangue pela equipe, como são os casos de Van Bommel, volante da Holanda e Puyol, zagueiro da Espanha.

Podemos alimentar a expectativa de assistirmos a uma das finais mais bem disputadas dos últimos anos, com muita técnica e jogadores com bom toque de bola.

Para esta Copa não poderia haver final mais adequada e merecida. Estarão envolvidas as duas melhores selções nacionais no momento.

No próximo domingo, na disputa inédita, uma delas será incluída no resrito ciclo de vencedores de Copas da FIFA.

* Platão, entre outros, transitou no tema. Aristóteles definiu a lógica do provável:  "Provável é o que parece aceitável a todos" . Assim, nesta linha, deu a lógica porque quase todos aceitavam Espanha e Holanda como candidatas à vitória.


5 de julho de 2010

Adeus, amigo!

Uma parte de meu passado deixou hoje o presente. Morreu João Jorge Elias Bazhuni*, levando o testemunho de muitas aventuras, de ideais compartilhados, de parcerias, tudo embasado pela amizade que se solidificou ao longo de mais de 50 anos. Amizade construída sobre lealdade e respeito.

Hoje, no velório, a única coisa que Cristina, sua mulher, companheira durante 45 anos, conseguiu dizer, segurando minhas mãos, foi “ele gostava muito de você”.

Devoto de São Jorge, tenho certeza que partiu muito depois do que estava previsto para sua passagem terrena. Resistiu bravamente a problemas circulatórios, cardiológicos e renais. Enfrentava a dificuldade de controle de diabetes perversa. Inúmeras foram, nos últimos anos, as internações de emergência em UTIs. E delas saia inacreditavelmente revigorado. Não se entregou nunca. Até hoje. Mas continuar lutando exigiria forças inumanas. E ele não passava de um ser humano. Digno, honrado, respeitável.

Que seu espírito siga seu caminho.



* Irá integrar minha galeria de tipos inesquecíveis. Hoje estou sob forte emoção.

Perdemos o hepta

Um torcedor entrevistado nas ruas por uma emissora de TV, fez um comentário pertinente: perdemos o hepta em 2014.

A julgar pela transformação do futebol pelo mundo afora, pode ser que demore bem mais do que gostaríamos.  Até mesmo o exa com o qual estavamos sonhando este ano.
Assim como a uva cabernet sauvignon se adaptou em várias partes do planeta, com solos distintos e climas variados, a ponto de serem produzidos, em regiões e países exóticos, vinhos muito parecidos com os fabricados a partir desta casta em países com maior tradição vinícola, também o futebol está se pasteurizando.

Sul-americanos e, principalmente, africanos, estão se europenizando; ao passo que alguns países europeus começam a ser berço de jogadores habilidosos, com ginga e malícia, pois as crianças estão acompanhando desde cedo jogadores menos robotizados.

O futebol moleque dos africanos; o futebol total da Holanda em 1974 e 1978; o futebol somente técnico do Brasil em 1982 e 1986; o excelente futebol técnico/tático da Hungria em 1954; o futebol bonito e eficiente da França em 1958 e o futebol pragmático, competitivo sempre, da Alemanha, a partir da globalização, acabaram por dar origem a um novo tipo de futebol que é quase um vídeo game. Tudo tem de estar programado. Se não, não funciona.
A própria Holanda já não adota somente o futebol total. A laranja mecânica, que tanto encantou e surpreendeu, mas nada conquistou, senão dois vices campeonatos, está com outra cara. A par de continuarem a ter jogadores habilidosos, sem dúvida, estão impondo ao selecionado uma disciplina tática rigorosa, que tem tudo para se tornar vencedora. Contra o Brasil já foi.

Os africanos, com seus técnicos sérvios, suecos, ucranianos e de outras nacionalidades européias, já se preocupam, eles africanos, com postura defensiva. Acabou a irresponsabilidade que os fazia jogar com alegria, como diversão, sem compromisso com resultados, senão os que vinham naturalmente. Hoje não. Eles já buscam o resultado, jogam pragmaticamente.

Há que considerar, ainda, a importação de estrangeiros por parte dos países onde o futebol é um negócio mais rico. Equipes da Inglaterra, por exemplo, estão cheias de africanos. A estes jogadores, lá, são impostas missões em campo, papeis que devem desempenhar utilizando a habilidade e a velocidade que em geral têm. Chegou a tal ponto a presença de africanos nos gramados ingleses, que a cada 4 anos, quando é disputada a Copa Africana de Nações, o campeonato inglês nivela as equipes, pois os jogadores diferenciados que integram as 4 principais equipes, ou seja, Manchester United, Chelsea, Liverpool e Arsenal, vão representar seus países de origem, desfalcando suas equipes inglesas.

Esta presença de africanos, e alguns poucos asiáticos, nos grandes centros, provoca uma simbiose interessante. Os importados acabam por assimilar a tática rígida imposta pelos técnicos europeus, mas por outro lado, levam a malícia, a habilidade nata no domínio da bola e a velocidade.

Quem, antes do início da Copa FIFA, iria prever que Itália, França, Inglaterra, Brasil e Argentina, para citar apenas vencedores, deixariam a competição antes do Uruguai, que apesar de bicampeão é um país com menos de 4 milhões de habitantes, onde o futebol está em baixa há muitos anos e é exportador de talentos, assim como Brasil e Argentina?
Isto é nivelamento, por baixo. Se estivermos falando do futebol como arte.

4 de julho de 2010

Seleções dos sonhos (ou pesadelos)

Se pegarem os cadernos de esportes dos maiores jornais, das maiores capitais mundo afora, e as revistas especializadas, nos últimos quatro anos, sem falar, para os que têm boa memória, dos comentários da crítica em rádios e TVs, poderão verificar e rememorar que os jogadores que integrarão as duas seleções abaixo, formadas unicamente por jogadores louvados e laureados como melhores do mundo, artilheiros das principais competições européias, envolvidos em transações de direitos federativos (passes) com cifras absurdas e festejados em seus países como fenômenos, estão todos fora das semi finais da Copa FIFA. Em outras palavras, não estão nas quatro equipes melhor qualificadas. E, no entanto, as duas seleções que com eles se poderiam formar, seriam qualificadas como dos sonhos. Senão vejamos:
Seleção A
Goleiro: Julio Cesar (Inter de Milão)
Zegueiros: Lucio (Brasil) e Terry (Inglaterra)
Laterais: Zambrotta (Inter de Milão) e Evra (Chelsa)
Meio campo: Gerrard (Liverpool),  De Rossi (Roma), Tevez (Manchester City) e Messi (Barcelona)
Atacantes: Rooney (Manchester United), Cristiano Ronaldo (Real Madrid) e Drogba (Chelsea).

Obs.: quero lembrar que o Chelsea foi o campeão inglês da última temporada, ganhando também a Copa da Inglaterra; e a Inter foi tríplice coroada, pois ganhou o campeonato italiano, a Copa da Itália e o Copa dos Campeões da Europa.

Para quem não conhece, identifico por país: Julio Cesar (Brasil), Lúcio (Brasil), Terry (Inglaterra), Zambrotta (Itália), Evra (França), Gerrard (Inglaterra), De Rossi (Itália), Tevez e Messi (Argentina), Rooney (Inglaterra), Cristiano Ronaldo (Portugal) e Drogba (Costa do Marfim)

Seleção B
Goleiro: Buffon (Juventus)
Zagueiros: Gallas (Arsenal) e Cannavaro (Juventus)
Laterais: Ivanovic (Chelsea) e Ashley Cole (Manchester United)
Meio campo: Lampard (Chelsea), Pirlo (Milan),  Yaya Touré (Barcelona) e Kaká (Real Madrid)
Ataque: Ribèry (Bayer Munich), Eto’o (Inter de Milão) e Henry (Barcelona)

Obs.: Nota-se a presença de muitos jogadores de equipes inglesas. É natural que assim seja. O futebol mais rico importa bons talentos, de todo o mundo. A justificar, é bem de ver que nas duas últimas temporadas, a Liga dos Campeões da Europa, o mais seleto e competitivo torneio de equipes, teve na penúltima edição três equipes inglesas entre as semi finalistas e na última, teve duas.

Para quem não acompanha futebol, identifico por pais de origem: Buffon (Itália), Gallas (França), Cannavaro (Itália), Ivanovic (Sérvia), Ashley Cole (Inglaterra), Lampard (Inglaterra), Pirlo (Itália), Yaya Touré (Costa do Marfim), Kaká (você sabe), Ribèry (França), Eto’o (Camarões) e Henry (França).

Nota explicativa 1) Os italianos citados, há quatro anos, na última copa, foram campeões mundiais e os franceses vice-campeões. Não esqueçam. Cannavaro está uma caricatura do jogador que foi eleito (lembram?) o melhor da Copa de 2006.

Nota explicativa 2) Juan, do Brasil, é disparado um dos melhores zagueiros que vi jogar. Está fora das listas como homenagem, pois não decepcionou.

Nota explicativa 3) Robinho é foca adestrada.