25 de fevereiro de 2010

Pardais

Os pardais estão em extinção. Claramente. Quem primeiro alertou, que eu tenha ciência, foi o João Ubaldo Ribeiro, em sua coluna dominical, já há alguns poucos anos. Estamos falando do pardal ave, plenamente adaptado às condições urbanas, verdadeira praga, cuja população se multiplicava em espantosa progressão, inobstante todas as condições adversas. Se prestarem atenção, irão constatar que já são raros os indivíduos desta espécie, pelo menos em Niterói.

Em seu lugar, de porte maior, e isto deve exlicar em parte o fenômeno, entram os bem-te-vis. Não que eu esteja insinuando que os bem-te-vis estão expulsando os pardais na base do embate físico, na medida em que estes têm menor porte. Até poderia ser, posto que aqueles são pássaros agressivos. Mas acho que é sobretudo pelo apetite voraz, que deixa pouca alimentação para a concorrência, que os bem-te-vis estão tomando o lugar dos pardais.

Outra espécie de ave urbana que vem tendo que modificar seus hábitos é a dos pombos. Mas com relação aos pombos está acontecendo um fenômeno interessante. Eles certamente irão se transformar em aves marinhas, pelo menos os que vivem em cidades litorâneas, como Niterói. Não levará muito tempo, quem sabe um século, e os pombos estarão disputando com as garças alimentação proveniente do mar. Sejam pequenos peixes e moluscos, sejam os detritos trazidos pelas marés e despejados nas praias.

Imagino que a concientização das pessoas fez com que estas resolvessem não mais alimentar os pombos, responsáveis que são pela sujeira de monumentos públicos, pelo emporcalhamento dos peitoris de janelas dos prédios e cúpulas das igrejas. Além, dizem, de serem transmissores de doenças. Hoje a imagem do pombo é a de que se trata de um rato ao qual faltam as asas.

O fato é que atualmente poucas pessoas vêem o pombo como a ave da paz, inofensiva, mansa e sociável, que vinha comer em nossas mãos, fazendo a legria de crianças e adultos. Aquela imagem da Praça de São Marcos, em Veneza, que todos conhecem, nem que seja através da tela de cinema, virou coisa politicamente incorreta.

Volto ao mar, que vejo como fonte futura de alimentação dos pombos, e me fixo por enquanto na praia.

Quem jamais percebera a presença de pombos nas areias de Icarai? Ninguém. Eles eram vistos nas sacadas dos prédios, ou na fiação. Eram, sim, presença constante em todas as praças ou grandes espaços públicos. Não se aventuravam, sequer, a ciscar na areia, ali mesmo junto ao calçadão e longe do mar. Mas foi exatamente por aí que eles começaram. Inicialmente uns poucos, na areia fofa. Entretanto agora tenho visto uma enorme presença deles, mais de uma centena, recuando no avanço da maré, em pequenos saltos que não chegam a vôos, mas voltando a buscar alimentos deixados no refluxo das ondas, esgaravatando onde fica aquela areia molhada. Já não se assustam nem com o ruído e nem mesmo fogem assustados com o avanço do mar. Simplesmente se afastam com naturalidade.

Estão sendo obrigados a esta adaptação porque já não têm o miolo de pão atirado e tampouco a quirera que lhe era oferecido na palma da mão estendida.

Não verei os pombos apenas como aves marinhas, mas quem viver verá.

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