30 de abril de 2011

Quando será o fim do mundo?

Ontem tive que fazer, por razões profissionais, uma pesquisa na internet. Queria me situar sobre a opinião doutrinária e a corrente jurisprudencial predominante sobre certo tema.

Pois muito bem. Estava tudo lá no Google.

Encontrei teses e pareceres, encontrei a jurisprudência majoritária, não só no Tribunal do Rio, onde atuo, bem como de outros tribunais pelo país. Se fosse o caso, teria argumentos de direito para, com consistência, arrazoar na linha do direito comparado e intertemporal, eis que é possível conseguir informações relativas à existência de legislação - e hermenêutica - sobre a matéria em outros países.

Quem conhece um pouco de inglês, então, consegue tudo.

Hoje pela manhã, na caminhada matinal no calçadão, estava refletindo sobre isto e cheguei a seguinte absurda (?) conclusão.

O mundo está contido na internet. Sons e imagens, mapas e croquis, teses, biografias, doenças, suas origens e terapias, enfim, é só colocar algumas palavras relacionadas ao tema na ferramenta de busca e, em segundos, diante de nossos olhos, está tudo ali.

A teoria do Big Bang é a mais aceita, com relação a criação do universo. Nessa linha de raciocínio, se o mundo se contraiu e aglutinou na grande rede, se e quando a internet explodir, por saturação, o mundo irá terminar.

Teremos que começar tudo de novo. Não o começo bíblico, com maçã e serpente, mas com outros Bill Gates e Steve Jobs.

29 de abril de 2011

Últimos ecos do casamento do século

Tenho feito piadas e ironias, mas o fato é que sendo apaixonado por civilização tenho que louvar a organização, a pontualidade, a elegância, a pompa comedida e a disciplina e educação do povo nas ruas. Até os brasileiros, lá presentes, se comportaram direitinho.


Tudo funcionou à perfeição e a julgar pela aclamação teremos monarquia ainda por muito tempo na Inglaterra. O alto custo, mesmo se considerado que não houve ostentação, parece não irritar o povo, que ao final da linha pagou por aquilo tudo.

Imposível não falar da sobriedade, elegância e classe do Rolls Royce Phantom VI, que levou Kate do hotel para a Abadia, embora as mulheres em geral suspirem mais pela carruagem.

Um registro especial para a irmã da noiva – Filipa Middleton - que estava muito bem num vestido apertado que denunciava um corpo bem desenhado. No lugar do Harry e, claro, com a idade dele e com a grana dele, eu iria assediar a irmã da cunhada.

Catherine, que é também Elizabeth, agora duquesa de Cambridge, é simpática e parece bem adaptada à realeza.

William tem porte de príncipe, boa estampa, e transmite simpatia.

Em vez de ficar em Londres, William e Kate decidiram morar em uma casa de campo alugada na ilha de Anglesey, no norte do País de Gales. O príncipe já reside no local, onde serve como piloto de busca e resgate da Força Aérea Real britânica e deverá cumprir até o fim seu serviço junto à RAF, o que deverá ocorrer em 2013.

O lugar, pelas imagens já divulgadas, é um charme. Eu adoraria viver ali. Há um clima de campo, com ovelhas pastando, mas de lá se avista um lindo litoral pertinho. Ou seja, terão mar e campo a disposição.

Últimos comentários ácidos, corrosivos, prometo:

A mãe da noiva, para alívio dos cerimonialistas e do protocolo real, não mascava chicletes.

Alguns chapéus eram muito, como direi, ridículos, como um parecido com uma parabólica da SKY.

William foi agraciado pela avó com vários títulos, antes do casamento: de Duque de Cambridge, Conde de Strathearn e Barão Carrickfergus, e fez de tabela sua mulher Duquesa de Cambridge, Condessa de Strathearn e Baronesa Carrickfergus.

Eu e você já nos contentamos por não termos nenhum protestado, não é mesmo?

Ecos do casório

Ainda magoado pela descortesia de não haver sido convidado, e chateado por não ter podido acompanhar a transmissão até o final, destilo meu veneno e revelo fofocas e intrigas dos bastidores.

O Charles e a Diana, pais do noivo, foram um casal no mínimo estranho. Ele comia fora de casa com freqüência e ela fornecia comida para fora; mas ao que parece ele não gostava do tempero dela, preferindo comer, olhem o absurdo, maracujá de gaveta.
Sim, porque a Camila, cá entre nós, com aquela cara enrugada, parece mesmo um maracujá de gaveta. E já tinha esta cara amarrotada há mais de 10 anos, quando Charles resolveu acabar com a dieta. Bem, posso estar enganado, mas a Diana, à distância, parecia um pouco sem sal. Sem sal ou não, é possível que a princesa fosse do agrado de outros, em especial daqueles que, por prescrição médica tinham que se abster de sódio.

O casal formado pelo irmão Harry e a namorada Chelsy Davy, mais parecem personagens de um quadro do Jô Soares, que fazia um padre, acompanhado de um sacristão, que entrevistava casais que pretendiam marcar o casamento. E que por esta ou aquela dizia não casar, mas resolvido o impasse marcava a data e assim ia o quadro humorístico, até que o padre Carmelo (Jô), dizia: - vamos acabar com este casa não casa.
Pois não é que Harry, o levado da breca, e a advogada neozelandesa Chelsy, já desmancharam e reataram o namoro várias vezes. Embora na fase separados, ela compareceu ao casório.

David Beckham, jogador de futebol e sua mulher Victoria, cantora (?) também foram convidados e estavam muito elegantes. Contra ele pesa o fato de não ter jogado no Arsenal, por isso leva só um oito.

No remo, nas disputas acirradas no tamisa*, as conquistas se alternavam a cada ano, mas parece que para a rainha Elizabeth, a segunda, o condado de Cambridge é mais importante do que o de Oxford. Tanto é assim, que o neto querido foi nomeado duque de Cambridge. Na nobiliarquia inglesa, o duque só perde em importância para os príncipes e, claro, o soberano da vez. Se e quando William for coroado rei, o titulo de duque de Cambridge vagará. Aliás estava vago há mais de século.

Acabei vendo, nos telejornais,  que houve o beijo na sacada, que de tão frio teve que ser repetido. De lingua só na câmara palaciana, longe das cameras.

* Há muitos anos as equipes destas duas universidades estiveram no Rio, para disputa de uma regata. Eu era menino e não lembro qual delas venceu.

Casamento cinematográfico

Nem mesmo na Hollywood dos áureos tempos, sob a batuta de Cecil B. DeMille, teria sido produzir um filme tão grandioso, tão pomposo. Neste caso foi a realidade que superou a ficção em cuidados com a produção.

A transmissão da solenidade foi sensacional. A quantidade e a localização das câmeras, propiciaram um show de imagens, que nos transportaram para o recinto da Abadia. Eu me senti no interior de Westminster, sem convite.

Os protagonistas foram muito bem escolhidos, o casal Big Willie e Kate, forma uma dupla bonita e simpática. Vida longa aos dois e à união.

Não tendo sido convidado, irei, magoado, aviltar e ridicularizar o que vi. Puro rancor.

A rainha Beth parecia o submarino amarelo. Levava na cabeça um chapéu panamá, com flores.

O casal Charles, que na intimidade trato por Tampax, e sua Meméia, a bruxa Camila (que baranga, hein?) não teve destaque.

Já o casal Elton John, na verdade Sir Elton Hercules John, estava muito elegante.

Harry, irmão traquina do noivo, com seu cabelo de Victor Mature, todo paramentado, parecia um porteiro de boate nos anos 60.

Os cavalos não foram bem treinados, ou um deles faltou ao ensaio geral, porque defecou em plena avenida. Ou seja, “cagou e andou”, para a cerimônia e o protocolo.

Gostei da charrete, mas também ali havia uma falta de harmonia. Tinha um cavalo, de uma das parelhas, que insistia em se esfregar no parceiro.

Na chegada em Buckingham tive que botar o paletó e vir para a dura realidade. O dever me chamava. Nâo vi o tão esperado beijo na sacada. Houve?

28 de abril de 2011

Outras histórias de meu sogro

João Campagna era homem difícil de ser avaliado e rotulado. Aparentemente contraditório, alternava sagacidade, boa percepção dos fatos, com incredulidade, ceticismo e a inocência dos puros.

Rude e de pouca instrução formal, de trabalhador agrícola, saído da lida da piaçaba, em Leopoldina, MG, migrou para Cachoeiro de Itapemirim, ES, onde exerceu múltiplas atividades sem relação entre si. Foi dono de bar/restaurante, de serraria e de pequena fábrica de calçados rústicos, como sandálias e botinas.

Valorizando o estudo, conseguiu formar os filhos até o limite do nível escolar existente na cidade naquela época. Assim é que todas as filhas concluíam o curso normal, formando-se professoras; mais tarde as outras 4, tirante minha mulher Wanda, lecionaram nas escolas locais, públicas e particulares. Wanda casou e mudou da cidade.

Os filhos - exceto um deles que foi acometido de tuberculose e teve tratamento demorado - concluiram o curso técnico de contabilidade, máximo possível em Cachoeiro na época. Não havia curso de nível superior, senão em Vitória.

Quem imaginava que o tumor na medula o prenderia definitivamente numa cama ou cadeira de rodas, após a cirurgia inevitável, se surpreendeu com o fato dele voltar a andar, trôpego, amparado certamente por bengala, mas ainda assim com autonomia de locomoção. Sem fisioterapia. Na base da força de vontade, orgulho e determinação.

Mas não pretendo, pelo menos aqui e agora, fazer uma biografia de meu sogro. Pretendo, apenas, mostrar algumas facetas de seu caráter, de sua filosofia de vida, de seus hábitos e crenças, complementando as histórias já narradas neste blog. Avaliem só.

Eu viajava cerca de 500 quilometros para namorar uma de suas filhas, com a qual me casei há 46 anos. Não ficava na cidade mais do que 3 dia consecutivos, em geral finais de semana e não podia, obviamente, perder um só minuto de convivência com minha namorada. Entretanto vejam o que acontecia. À noite, após o jantar, refeição que fazia numa pensão próxima a casa deles, eu ia namorar na varanda, onde ficávamos sentados num banco de madeira daqueles clássicos de 3 lugares.

Invariavelmente às 22 horas, acreditem, às 22 horas, ele aparecia numa das janelas da casa, de onde era possível ver a varanda, e anunciava: “Jorge, a Wanda vai dormir, mas você pode ficar aí se quiser. Boa noite”. E fechava a janela. Tempo apenas para um fortuito beijo e Wanda se recolhia.

Mas João Campagna era um homem bem humorado e espirituoso. Certa feita  queixou-se dos filhos homens (eram 3), e, brincando, contou uma invencionice. Disse que quando os meninos ainda eram pequenos, cansou de dar banho, pentear os cabelos, colocar sapatos e roupas limpas e coloca-los sentados na varanda pra ver se alguém os levava. Mas qual o quê, ninguém nunca se interessou em sequestra-los, mesmo limpinhos e arrumados.

Outra história que contava, provavelmente fruto de seu espírito gozador, era a de que tinha um amigo, de nome Victor, que por sua vez tinha um irmão surdo-mudo. O tal Victor ia sempre à pequena fábrica de calçados acompanhado do irmão deficiente.

Isto irritava um pouco meu sogro, porque o tal ficava no caminho atrapalhando a passagem. E contava: - “eu resolvi fazer aquele mudo falar. Na primeira oportunidade, estando o mudo no caminho, dei-lhe um pisão intencional no pé. O mudo gritou: Aaáiii!”

E, contada a façanha de ter feito o mudo falar, sorria discretamente como era de seu feitio. É bom que se diga que meu sogro era um homem corpulento. Deve ter doído mesmo o pé do mudinho, com perdão da incorreção política.

Mas a história que a Wanda conta a respeito dele que mais me agrada, é a de que quando faziam refresco em casa, por exemplo uma laranjada, depois de beber dois copos, ele comentava que estava muito forte e que deviam botar mais água. Eram 10 pessoas na família (casal e 8 filhos), fora os agregados.

Jamais acreditou que o homem tivesse pisado o solo da lua. Para ele era truque de americano, feito num deserto qualquer. Nunca retruquei, ouvindo calado, menos por respeito ou receio de contrariá-lo, mas por decepção. Não conseguia entender como um homem que gostava de ler, era razoavelmente bem informado e ia ao cinema duas vezes por semana, podia descrer do fato do homem ter, finalmente, alcançado a lua. Para a geração dele era mera ficção, era um sonho.

Para ele uma imagem não valia mais do que mil palavras, ao contrário do que diz o velho provérbio, repetido à exaustão mundo a fora.

26 de abril de 2011

Joio e trigo

Queixas do pai
Devo ter tido algumas queixas de meu pai. Não consigo lembrar de nenhuma em especial, porque com o tempo elas de diluíram, fruto da melhor compreensão dos fatos e a experiência de ser pai. As queixas, mágoas ou raivas, se o caso, foram inteiramente sobrepujadas pela saudade.
De uma coisa estou absolutamente seguro. Uma queixa nunca tive e não terei. Ele, torcedor do Flamengo, nunca tentou me influir, deixando-me livre para optar pelo Vasco.
Agora a explicação para a abordagem deste fato.
Vinha caminhando pelo calçadão, na minha frente um casal, ele empurrando um carrinho de bebê. No sentido contrário um homem, certamente amigo do casal, fez meia-parada e comentou, “que menino bonito, como se chama?”.
O pai emendou rapidamente: - Lucas... é vascaíno.
Ora, o que teria motivado a qualificação, tão sem sentido naquele momento?



A força da mídia
Numa crônica dominical o Artur Xexeo, falou sobre aqueles que seriam os melhores sorvetes do mundo. A ênfase, claro, era para os italianos.
Mandei um e.mail, através do qual, sem desmerecer os italianos – seria heresia - elogiei o da Confeitaria Gerbaud, em Budapeste.
Na crônica seguinte, ele fez alusão a minha mensagem, para grifar que a matéria, despretensiosa, acabou na Hungria.
Uma socialite, minha cliente, telefonou marcando uma consulta, na qual deixou evidente que o propósito era especular até que ponto eu seria íntimo do Xexeo, posto que entre perguntas de algibeira, sempre retomava a conversa sobre minha opinião publicada pelo celebrado cronista.
Ainda por conta da publicação de minha opinião na coluna, meu filho, de mesmo nome, recebeu ligação de uma amiga, jornalista, que queria algumas dicas sobre o leste europeu, já que estava de viagem marcada para a região. Coitado, meu filho, inocente quanto a repercussão de minha opinião sobre sorvetes, ficou sem entender a razão pela qual sua amiga o imaginava capaz de dar boas informações sobre o equivocadamente denominado leste europeu.

O que é bom é eterno
Verifico, feliz, que “O pequeno príncipe”, que freqüentava a lista dos mais vendidos nas últimas semanas em posições secundárias, chegou ao topo.
Desbancou os sucessos editoriais efêmeros, pontuais, tais como “Querido John”, “Diário de uma Paixão” e A última Música”, todos de um certo Nicholas Sparks.
Que bom constatar que o ser humano, contrariando Millôr, poderá dar certo.
O livro do Saint-Exupéry é sem dúvida um clássico da literatura. Ia acrescentar infanto-juvenil, mas estaria equivocado. É um livro definitivo, embora o estigma de ser leitura das misses.
A maioria delas sequer teve em mãos o livro. Mas era “in” mencioná-lo como livro predileto.
Assim como no Liceu, em Niterói, nos idos anos 1950,/1960, ninguém lera o livro uma única vez. Todo mundo já lera duas vezes, ou estava lendo pela segunda vez, agora nas entrelinhas.
Não obstante todo este folclore em torno da obra. Ela é indispensável, nas linhas e entrelinhas.

Dilma versus Lula
Torço muito pela presidente Dilma. Lógico que os brasileiros, de todos os matizes políticos, de todas as crenças, temos que torcer pelo bem do país.
Mas a torcida tem um aspecto especial neste momento. Afastar o fantasma de um possível retorno do Lula. Vontade não lhe falta e, se a presidente Dilma vacilar, ele acaba se elegendo.
Por enquanto a restrição que faço à presidente, é por um motivo de somenos importância.
Seria normal ela querer reafirmar a condição de mulher e denominar-se presidenta, se, como diz o João Ubaldo, ela também adotasse a forma feminina ao se referir genericamente a condição de governante. Ela quer ser chamada de governanta?
Certamente não.

Aécio Neves
Interessante o comportamento, até mesmo de adversários políticos, no episódio da transgressão, de natureza grave, de norma da lei de trânsito.
Com efeito, dirigir com a carteira vencida é falta grave. Sem contar a recusa de se submeter ao teste do bafômetro.
Mas até mesmo o senador Lindberg Faria, achou baixaria explorar o fato politicamente. Segundo ele, “poderia acontecer com qualquer um”.
A deputada Cidinha Campos, igualmente, comentando em seu programa, disse achar sensacionalismo barato esta exploração. Ressaltou ser adversária do partido do senador, mas entende que ele é bom caráter, e o fato repercutiu por causa da condição dele.
“Por que não foi divulgada a lista de todos os flagrados pela mesma infração?”. Perguntou.
E Zeca Pagodinho, brincando, disse “não dirijo, só bebo”. E acrescentou ser fã do Aécio.
Ou seja, Aécio, o mais carioca dos senadores mineiros é queridinho dos gregos e troianos.

Arsenal
O príncipe Harry, futuro cunhado da Kate, é torcedor do Arsenal.
O Arsenal, aliás, não tem torcida, tem platéia. É assim que seus torcedores se comportam no estádio – Emirates – como uma platéia de teatro municipal. Já o “Big Willie” parece ser torcedor do Aston Villa Football Club, sediado na cidade de Birmingham, sendo, no passado, um dos mais vitoriosos da Inglaterra. O clube foi fundado em 1874 e foi um dos membros fundadores do Campeonato Inglês em 1888.
O Arsenal, que era um clube amador, de uma fábrica de armamento, profissionalizou-se em 1891.
Tradição é isso aí.

PSD
Alguns dos fundadores/integrantes deste novo partido, já passaram por sete diferentes siglas. São parlamentares itinerantes em matéria de ideologia. Estarão do lado de quem oferecer mais.
Chama o Gastão, não é Jaguar?

Trem bala da Colina
O atual time do Vasco, apelidado de Trem Bala da Colina, está muito longe de se equiparar ao Expresso da Vitória dos anos 1940 e 1950. O Expresso ganhava tudo. O time atual ainda tem que provar seu valor. Conseguirá?

25 de abril de 2011

Primo distante

Ricardo, primo porque filho de primo, mora distante. Por isso o título acima. Não é assim tão distante pelos laços sanguíneos.

Mas Ricardo mora longe, nos Estados Unidos da América, no Estado da Carolina do Sul. Então é um primo que está distante. Logo, o título correto seria “primo que está distante”.

Mandou-me uma simpática mensagem eletrônica, através da qual, com certa cautela, procura me identificar como o parente que pensa que sou.

Informou filiação, irmão, tios e mencionou parentes que ele conheceu, indagando se eu seria irmão da Ana Maria e filho da Edith.

Sim caro primo, você bateu na porta certa e é bem-vindo neste espaço. Vejo que você até mesmo se colocou como seguidor, o que me alegra.

Que bom se, como você mencionou com palavras muito generosas, alguns dos posts aqui publicados o remeteram a sua infância.

Como você há de ter notado, não tenho aqui nenhuma pretensão literária. Os textos, é bem de ver, relatam fatos e histórias da minha vida, ao tempo que denuncio meus gostos literários, artísticos e esportivos e, vez ou outra, minha opinião sobre generalidades.

O propósito é deixar para os netos (são dois) alguns registros a meu respeito, para que não tenham, se o caso, a falta de informações sobre o avô paterno, fato que eu lamento em relação ao meu próprio – José Carrano y Segovia – que era seu bisavô.

Minhas lembranças dele são muito vagas, assim como as de minha avó Etelvina, mulher dele. Ele era de baixa estatura e na última imagem que tenho, tinha os cabelos bem branquinhos e ralos. Ela, que chamávamos de vó Inhorinha, era relativamente alta e morena.

Vó Inhorinha foi citada no post sobre carapicus e canhanhas, cuja leitura você aludiu em seu e-mail.

Aproveito para comentar como soube de você, há cerca de 11 anos.

Ocorreu que meu filho mais novo, seu xará, estava constituindo uma firma, que atuaria na área de informática. Precisávamos de um contador, e amigo meu indicou o profissional que prestava serviços pra a firma dele (um restaurante). Na verdade era um casal: Francisco e Glória.

Fomos ao escritório deles e tão logo declinamos o nome de meu filho – Ricardo Carrano –  a Glória comentou que já tinha um cliente com o mesmo nome e que a firma dele também atuava na área de informática. Olha a coincidência.

Foi assim que fiquei sabendo que havia um outro Ricardo, além de meu filho, em nossa família e tão próximo. Identificá-lo como filho de nosso primo Hamilce foi obra da Ana Maria, minha irmã, muito mais ligada a seu ramo da família, em especial seu avô, João Carrano.

Mas coincidência mesmo foi como tomei conhecimento de seu irmão Sérgio.

Estava na República Tcheca, e o guia que nos acompanhava, perguntou seu eu conhecia o Dr. Sergio Carrano, já que meu sobrenome era Carrano. Este Dr. Sergio, acrecentou, era o advogado que cuidava dos interesses trabalhistas dos ex-empregados da Soletur, operadora de turismo que faliu, sendo ele um destes ex-empregados. Disse que não, mas que provavelmente seria meu parente, embora distante.

E foi, de novo, Ana Maria que me esclareceu, quando a consultei na volta.

Não sei, Ricardo, que caminho você trilhou para me achar aqui neste blog. Mas fiquei alegre por ter sido localizado. Em minha resposta ao seu mail, falarei um pouco mais de mim e meus familiares mais próximos.

Um abraço e até sempre.  Espero!

24 de abril de 2011

Balanço do feriadão

Tivemos um feriadão de verdade, autêntico, sem pontes ou enforcamento de dia de trabalho. Estou falando de Niterói, eis que no Estado do Rio, o dia de São Jorge é feriado.

Logo, tivemos, Tiradentes (21), Paixão (22) e São Jorge (23), e na sequência, o domingo de Páscoa.

A natureza fez a sua parte. Tivemos 4 dias deslumbrantes. Sol brilhando intensamente, num céu azul da cor de anil. Nem mesmo os carneirinhos que costumam flutuar, leves como plumas, denunciando a condição de nuvem, apareceram.

O mar, mesmo sem Icaraí, com águas límpidas e de uma serenidade de lago. Não exagero dizendo que os lagos andinos têm mais marolas, provocadas pelo vento, do que o mar apresentava nestes dias radiosos.

Quinta, 21, comememorei meus 71 anos com a família a minha volta. Beijos, abraços e livros foram os meus presentes. Os melhores que poderia receber, e rigorosamente nesta ordem. Telefonemas e e-mails também alegraram meu coração.

Sexta-feira, uma Paixão diferente dos meus tempos de criança, quando éramos proibidos de cantar e até mesmo falar um pouco mais alto. Nos veículos de comunicação, ao invés da sacra ou erudita, muita música popular.

Praias lotadas. Muito chopinho. Corpos sarados.

No sábado, 23, dia de São Jorge, não obstante o veto da arquidiocese, que proibiu missas, procissão e quaisquer festejos, a igreja do santo mais popular estava lotada.

Os devotos, filhos e afilhados de São Jorge não deixam de visitá-lo, basicamente para agradecer , eis que aqueles que Nele confiam e têm fé, não precisam pedir. Ele está sempre a postos, permanentemente nos protegendo.

No meu caso, além do mais, é meu parceiro profissional. Ou vocês pensam que meus bons resultados  devem-se apenas a mérito meu? Na verdade eu levo a fama, mas sou apenas um “laranja”. A inspiração é toda do Santo Guerreiro.

Finalmente, domingo. Páscoa, dia de comer muito chocolate sem sentimento de culpa.

A chuvarada do final da tarde de domingo veio a calhar para atenuar a alta temperatura, e começarmos a semana com clima ameno.

22 de abril de 2011

Stan Laurel & Oliver Hardy

Anos quarenta e início dos 50. Em Niterói, então capital de estado, além das matinês do cine Odeon, podíamos assistir à fenomenal dupla de comediantes, conhecidos como ”O gordo e o Magro”, no cinema de rua.

Isto mesmo que você leu. Havia cinema de rua.

Era assim: patrocinado pelo comércio da cidade, o exibidor levava em sua perua (camionete), um projetor, rolos de filmes (geralmente comédias) e uma tela de pano.

Percorria os diferentes bairros da cidade e, em ruas onde fosse possível, sem causar transtornos no trânsito, fazia a exibição dos filmes que eram intercalados por comerciais dos patrocinadores.

Até hoje lembro do anúncio, com jingle, do Cicle São Bento, que vendia e alugava bicicletas.

Era assim, se me não falha a desgastada memória:

“Pedalando, pedalando

pedalando contra o vento,

com a sua bicicleta,

compre no cicle São Bento”

Era isso ou quase isso.

No bairro onde eu morava – Ponta D’Areia – pelo menos uma vez ao mês, tínhamos diversão garantida, à noite, pertinho de casa e de graça.

Acontecia na Rua São Diogo, ou num trecho da Visconde de Uruguai, entre Silva Jardim e Feliciano Sodré.

A tela era colocada num cavalete, que por sua vez ficava sobre o capô do veículo.O projetor era colocado a uma distância de aproximadamente vinte metros, e no espaço entre projetor e tela ficávamos, os espectadores, de pé, acompanhando as aventuras dos personagens apalermados, um magro, vivido por Stan Laurel, mais idiota, e outro gordo, interpretado por Oliver Hardy, que se imaginava mais esperto do que o seu parceiro magro, mas também um tolo.

Evidentemente que algumas pessoas levavam banquinhos ou cadeiras, para maior conforto. Principalmente os moradores na quadra da rua onde havia a projeção.Como a tela ficava no alto do veículo, ninguém atrapalhava a visão dos outros.

Riamos muito.

Eram exibidos desenhos animados e pequenos documentários relacionados a cuidados com higiene e saúde.

Durava cerca de duas horas e depois era escovar os dentes e dormir, lembrando das aventuras dos personagens interpretados por Laurel and Hardy e, ainda, das palhaçadas vividas pelos Irmãos Marx, que também protagonizavam situações bizarras e esdrúxulas, sob o comando de Groucho , o mais celebrado dos irmãos.

Os pipoqueiros faziam boa féria. E os vendedores da Kibon, com suas carrocinhas amarelas, vendiam bastante Chicabon

As ruas eram seguras e a cidade risonha e franca, com a devida permissão de Acácio Antunes, a quem parafraseio, pinçando de seu celebre “O estudante alsaciano”.

21 de abril de 2011

Meus 71 anos

Hoje, 21 de abril, eu e a rainha Elizabeth II fazemos aniversário. Ela, Elizabeth Alexandra Mary de Windsor, nasceu em Londres, em 21 de abril de 1926. Eu, Jorge Carrano, nasci no Rio de Janeiro, no bairro do Andaraí, na Rua Paula Brito, em 21 de abril de 1940.

A biografia dela está disponível no Google.A minha está por ser escrita.

Chego aos 71 anos com as seguintes mazelas, conhecidas:

Dois cálculos renais, um em cada rim, com 0.8 e 0.9, respectivamente no direito e no esquerdo.

Apresento também gordura no fígado, que precisa de alguma espécie de tratamento. Privar-me  de algumas guloseimas é coisa que repilo com veemência.

Exames de vista, revelaram que minha pressão ocular está muito elevada, no olho esquerdo, chega a 28 e, segundo o  oftalmologista, provavelmente teria glaucoma ou caminharia celeremente para o risco de fazer uma forma aguda do mal. Os exames descartaram, para surpresa dele, que meu campo visual esteja comprometido, mas a utilização de colírio, diariamente, se impõe até o final de meus dias.

Assim como a ingestão de anti-hipertensivo, já que estou rotulado de hipertenso.

A carótida, com comprometimento de 30%, e o agravamento, risco que corro, do aumento das plaquetas obstrutivas, em face de altíssimas taxas de colesterol, levaram-me a tomar medicamento controlador de colesterol. Dietas apenas e exercícios físicos, não serão suficientes para controle.

Uma micose na unha do dedão de pé esquerdo, adquirida nas minhas caminhadas nas areias de Icaraí, felizmente já em fase final de cura, obrigou-me a exatamente um ano de tratamento: lixar a unha, e passar um esmalte especial, limpando a cada dia, com acetona, virou rotina de todas as noites.

Bem, no campo ortopédico, a situação não é menos critica. Na cervical, tenho bicos de papagaio, artrose e hérnia de disco, que se não estão causando grande desconforto, tornam clara a possibilidade de que venha a sofrer com muitas dores. Fisioterapia e anti-inflamatórios aliviarão, mas estou condenado a ter que conviver com o desgaste natural de minha coluna.

Sim, porque o ortopedista, examinando a radiografia e me explicando, comentou calma e serenamente, com a maior naturalidade do mundo: "pois é, sua coluna é a de uma homem de 70 anos (foi no ano passado)".

Encerro esta narrativa de problemas médicos, comentando que de um tempo a esta parte, as ceratoses seborreicas aumentaram e a dermatologista me tranqüiliza dizendo que são erupções benévolas e que não devo me preocupar. Todavia, dado o caráter genético do problema, tenho que me contentar com as cauterizações que ela faz uma vez ou outra, de sorte a eliminar as degenerações do tecido, que se manifestam como grandes berrugas, que se não têm em si mesmas o rico de mal maior, influem na estética corporal.

Acreditem, nada disso, a não ser a ceratose e a micose, eram de meu conhecimento até há 6 meses.

Com efeito, foi  o AVC que fiz no dia 3 de outubro de 2010 e suas - felizmente pequenas e reversíveis - sequelas que, tendo me levado a procurar hospital desencadeou a série de exames que identificaram tudo isto aí em cima relatado. Nunca, em minha vida, havia sido submetido a ultrassonografia, tomografia ou ressonância magnética. Aliás nem sabia distinguir uma coisa da outra. Acabei tendo que fazer os 3 exames e mais os tradicionais como radiografia e os laboratoriais de praxe, como sangue, urina e fezes.

Alguém já utilizou a imagem, que repito aqui: é como se um carro velho fosse levado a uma oficina mecânica para revisão. Após o exame e testes nas peças do veículo, o mecânico diagnosticasse que o volante ainda está bom, mas será preciso botar um automóvel nele.

No meu caso, diria, sem cabotinismo, que o volante em bom estado é a minha cabeça, ou a massa encefálica nela armazenada.

Não sei se no próximo ano estarei apto a contar como estou de saúde; o que melhorou (será?) e o que piorou. Pode ser até que um outro pico hipertensivo, como o que me levou ao AVC -  porque minha pressão arterial chegou a 24 - seja fatal.

Prefiriria que fosse fatal a ficar dependente pelo resto da vida, vivendo vegetativamente.

Parece absurdo que numa data que deveria ser festiva eu esteja falando de doenças e risco de morte.Mas entendo que ao falar de minhas limitações e tendo consciência delas, venha a me cuidar e,  quem sabe, ter uma sobrevida de boa qualidade.

19 de abril de 2011

First Lady of Song

No post do dia 7 deste mês, rememorei o aniversário de nascimento daquela que é considerada por muitos a melhor cantora de jazz de todos os tempos - Billie Holiday.

Quem não concorda acha que a melhor é aquela que carrega o epíteto reproduzido no título acima.

Trata-se, como já adivinharam, de Ella Fitzgerald, nascida Ella Jane Fitzgerald, em Newsport, no dia 25 de abril de 1917 e falecida, aos 79 anos, em Beverly Hills, no dia 15 de junho de 1996.

A exemplo de Billie Holiday – apelidada “Lady Day” - também era chamada por alguns de “Lady Ella", mas era mais pertinente ser reverenciada como "Primeira Dama da Canção", título em inglês deste post - First Lady of Song).

Teve uma carreira que durou 59 anos, de 1934, quando estreou aos 17 anos, até 1993, quando fez sua última aparição ao vivo.

Como é freqüente entre músicos de jazz, Ella teve uma infância difícil. Seus pais nunca se casaram e não ficaram juntos por muito tempo, o que fez com que ela tivesse que viver com o padrasto, que a maltratava.

Um de seus biógrafos, o escritor e jazzófilo Alain Lacombe, em "Ella Ftzgerald", publicado pela Editions du Limon, Paris, 1989, afirma que Ella seria um caso único na história do jazz, por não registrar escândalos decorrentes de drogas e sexo e não apresentar personalidade autodestrutiva.

Uma curiosidade é conhecer aquela que foi a grande inspiradora e espelho para Ella Fitzgerald.  Aquela "que ela gostaria ser" quando crescesse. Para nosso deleite auditivo, a menina superou àquela que idolatrava.

Sabem de quem se trata? Se você não é fissurado em jazz, dou um doce (folheado, bomba de chocolate, torta de nozes), a escolher, se adivinhar.

AHRÁ!!! Não sabia, não é? Trata-se de Connee Boswell. Ouçam em   http://www.youtube.com/watch?v=O7jAw6Ac9hI ,   e comparem.

Outras informações sobre sua vida particular ou sua carreira, poderão ser obtidas em seu website oficial  http://www.ellafitzgerald.com/,  ou no Google (Wikipédia) em  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ella_Fitzgerald

Eu prefiro falar de suas interpretações.

Em algum lugar, aqui ou no Primeira Fonte (http://primeirafonte.blogspot.com/search?q=tatum%2C+jamal) comentei que tenho os únicos três álbuns gravados em estúdio, pelo selo Verve, por Fitzgerald e Armstrong, interpretando standards do gênero, a saber: “Ella and Louis”, de 1956, e “Ella and Louis Again”, de 1957, o terceiro contém peças do musical (opereta) Porgy and Bess, de George Gershwin. Quem não ouviu não sabe o que está perdendo.

Para quem não conhece o libreto, de autoria de DuBose Heyward, a hitória foi ambientada  em Catish Row, uma rua de Charleston, na Carolina, onde vivia uma comunidade de pescadores negros. Como não  poderia deixar de ser, para dar cor local, as letras das canções, tiradas do original de DuBose e escritas também  por Ira Gershwin (irmão do George), são cheias de girias e erros de sintaxe.

Ella grava (interpreta) todo os papeis femininos (Bess, Clara, Maria, Serena), mantendo o mesmo timbre, mas variando os registros. Para entender é preciso ouvir e constatar como Ella consegue sentir e interpretar de forma diferente e convincente o drama, a tragédia e miséria de cada uma daquelas mulheres.

Deixando Porgy and Bess de lado, relutante, comento apenas que nem as ótimas gravações de Sarah Vaugham e Janis Joplin para Summertime, primeira das músicas compostas por George Gershwin  para a opereta,  se comparam à conseguida  por Ella Fitzgerald.

Já falei também sobre ótimos pianistas, que fizeram carreira solo ou em trio, que acompanharam Ella Fitzgerald em suas gravações: Tommy Flanagan, Oscar Peterson, Paul Smith, e Hank Jones, Outros consagrados solistas de outros instrumentos trabalharam com ela, quase sempre em pequenos grupos e em apresentações ao vivo, como por exemplo os trompetistas Roy Eldridge e Dizzy Gillespie, e o guitarrista Herb Ellis.

Além dos três álbuns acima mencionados, em companhia de Louis Armastrong, recomendo mais: “Ella Fitzgerald Sings the Cole Porter Songbook” e “Ella Fitzgerald Sings the Duke Ellington Songbook”, neste acompanhada pelo próprio compositor e band leader. Nota 10!

Aliás, todos os songbooks que gravou, de George Gershwin, Irving Berlin, Rodgers and Hart, Jerome Kern, Johnny Mercer e mais Cole Porter e Duke Ellington já citados acima, são imprescidíveis, porque são os  maiores "best sellers" musicais se me permitem esta livre comparação.

Pense num standard  da música americana, que lhe traga boas lembranças, ou pudesse ser a trilha musical de sua vida, e provavelmente o encontrará na voz d'Ella, em um destes songbooks.

Êta! Não é que o mês de abril é pródigo em talentos, grandes damas do jazz:  Billie, no dia 7; Ella Fitzgerald, no dia 25. E, ainda, Bessie Smith no 15, Carmen McRae, no dia 8.

18 de abril de 2011

Como foi?

Faz muito tempo deixei de perquirir sobre a origem do universo. Eram teorias e fantasias sem pé nem cabeça, com explicações inatingíveis para meu intelecto ou demasiadamente infantis para eu aceitar.

Criacionista sem fé e evolucionista sem convicção, resolvi vir para mais próximo de minha realidade, para mais perto de provas palpáveis, coisa de apenas alguns milhões de anos.

Aí me deparo com uma outra enorme interrogação. Se, de um lado, os animais pré-históricos são uma realidade concreta e palpável, de outro, nenhuma das teorias que tenho ouvido ou lido a respeito me convencem completamente.

Como seres de porte gigantesco, que reinaram absolutos durante mais de 160 milhões de anos, dotados de força descomunal, boa mobilidade, com recursos naturais incríveis, tais como a capacidade de voar da qual alguns eram dotados (Archaeopteryx), podem ter desaparecido da face da terra. Pior, sem que o homem tenha contribuído para a extinção das espécies, como sói acontecer com o mico-leão-dourado e algumas espécies de baleias, por exemplo.

Naquela era, não desmatamos, não poluímos rios e mares e não caçávamos dinossauros para de seus coros fazer sapatos e bolsas.

Os paleontólogos fazem o que podem. Escavam, localizam esqueletos, por vezes pequenos pedaços de ossos , uma falange, e conseguem reconstituir, montar tudo como se fosse um quebra-cabeça. Mas cientistas, pesquisadores e nem mesmo os autores e cineastas de ficção, satisfazem minha curiosidade, com suas explicações para o desaparecimento de tais seres.

A comunidade acadêmica (e alguns palpiteiros) informa sobre a alimentação dos mesmos, se eram carnívoros ou herbívoros, se o sangue era frio ou quente, a velocidade que alcançavam , dão detalhes sobre a blindagem, processo reprodutivo e sobre os sons que emitiam, mas porque desapareceram, de repente, não mais que de repente, há tão pouco tempo, cerca de 65 milhões de anos? O que verdadeiramente aconteceu?

Como explicar que uma indefesa barata, da ordem dos insetos denominada Blattodea, que teriam ancestrais no planeta há aproximadamente 400 milhões de anos tenha resistido a seja lá que fenômeno que dizimou os Tyrannosaurus ? E o mais intrigante, segundo consta, os mamíferos, as aves, os crocodilos, as tartarugas e os lagartos, que conviveram com eles, sobreviveram.

Bem, movido pela curiosidade, e na impossibilidade de saber como foi criado o universo e nem mesmo como nós - homens - viemos parar aqui, fui ao Google, maior enciclopédia disponível, em busca de resposta para o sumiço dos Tyrannosaurus.

Vejam o que encontrei, entre bizarrices, teorias consistentes, palpites e piadas. Mais detalhes em http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/caracteristicas/extincao-dos-dinossauros.php

A partir deste ponto, reproduzo, como se contém,  o que achei bem interessante:

“Muitos até hoje tentam explicar esse sumiço repentino. Sendo assim muitas teorias sobre essa extinção em massa foram propostas, algumas absurdas e outras bastante convincentes.
Comecemos pelos absurdos e maluquices:

Incompetência e estupidez: Essa idéia foi a mais aceita no início, quando os dinossauros acabavam de ser descobertos. Os paleontólogos vitorianos acreditavam que sendo criaturas com cérebros tão minúsculos os dinossauros eram extremamente estúpidos e não tiveram competência para continuar a existir. Hoje essa teoria foi abolida. Sabemos que as coisas não são bem assim. Os tamanhos dos cérebros não medem a inteligência. Se sendo incompetentes eles viveram mais de 160 milhões de anos, imaginem se fossem inteligentes.

Tédio evolutivo: Alguns cientistas propuseram que todas as espécies tem um tempo certo de existir. Para eles os dinossauros viveram demais e já não tinham mais para onde evoluir. Assim passaram a desenvolver estruturas aberrantes e sem função como os espessos crânios dos paquicefalossauros ou as cristas exóticas dos hadrossauros. Sabemos hoje que essas estruturas desempenhavam uma função importante na vida desses animais. Assim essa teoria está descartada.


Catarata: Alguns acreditam que os dinossauros desenvolveram um tipo de catarata causada por um aumento na emissão de raios ultra-violeta na Terra. Sem poderem se guiar, podiam cair de abismos ou acabarem presos em armadilhas naturais.

Desinteria: Segunda essa teoria os dinossauros teriam desenvolvido uma doença que causavam desinteria crônica. Assim eles teriam encerrado seu reinado soterrados pel seu próprio excremento.


Praga de lagartas: Uma praga de lagartas teria dizimado todos os vegetais do planeta, acabando com a fonte de alimento dos herbívoros. Haja lagarta ! ! !


Câncer de pele: A emissão excessiva de raios ultra-violeta teria causado câncer de pele nos dinossauros, levando-os à morte. Também, eles não tinham bronzeador Sundown . . .

Ovnis: Alguns "cientistas"(?) um tanto malucos propuseram que os dinossauros teriam sido caçados por extraterrestres incansavelmente até a extinção. Falam também que eles podem ter preservado alguns deles e terem os levado em suas naves espaciais sabe-se lá para onde. Que piada . . .

Depois dessas pérolas da ciência passemos para as teorias realmente sérias:

Vulcanismo: Acredita-se que durante o final do Cretáceo, com o movimento de afastamento das placas continentais um intenso processo de vulcanismo teria lançado na atmosfera uma espessa camada de poeira de enxofre que, além de bloquear a passagem de luz do Sol com o tempo provocaria a queda das chuvas ácidas, destruindo as fontes de alimento dos dinossauros e levando-os à morte.

Frio: Com o aparecimento de estações do ano mais diferenciadas, nas épocas mais frias os dinossauros de sangue frio acabariam não agüentando e morrendo.


Mamíferos: Alguns paleontólogos acreditam que pequenos mamíferos comiam ovos de dinossauros e poderiam ter prejudicado de forma permanente o processo de reprodução dos mesmos. Realmente existiam mamíferos que poderiam se alimentar de ovos de dinossauros. Mas fazer isso a ponto de levá-los à extinção é um pouco de exagero. Seriam necessários centenas de milhôes dessas criaturas para provocar esse efeito. Além disso sabemos que as mamães dinossauro não arredavam pé dos ninhos e não permitiam tão facilmente que tais ladrões obtivessem êxito.

Doenças: Propôs-se que os dinossauros desenvolveram novas doenças e que sendo migratórios por natureza acabavam levando-as para outras regiões, contaminando outros dinossauros.

Decadência gradual: A diminuição do número de espécies no final do Cretáceo leva alguns cientistas a imaginar que talvez a sua extinção se deva a uma decadência gradual do grupo. Como nesse período as mudanças ambientais eram rápidas e radicais, os dinossauros, sendo seres super-especializados sofreram com isso.


Sabemos que a especialização pode ser útil para uma espécie, pois torna seus representantes mais aptos para sobreviver em determinados ambientes. Só que isso funciona só em ambientes onde não ocorrem mudanças repentinas, pois esse processo é longo e complexo. Quando ocorrem essas repentinas mudanças, os especializados são os primeiros a desaparecer. Ficam vivos apenas os não-especializados, que podem se adaptar mais rápido a qualquer ambiente.
Assim no final do Cretáceo, com as mudanças rápidas, os dinossauros, pterossauros e répteis marinhos especializadas morreram, enquanto os crocodilos e tartarugas, aves e mamíferos, não-especializados, agüentaram e sobreviveram.

Meteoro: É a teoria mais aceita e difundida em todo o mundo. Uma enorme cratera de vários quilômetros de diâmetro encontrado no Golfo do México evidência que há 65 milhões de anos um enorme meteoro caiu na Terra, provocando uma explosão de impacto com potência maior que o de todas as armas nucleares juntas.
A própria explosão em si matou milhares de animais não só onde houve a queda como também por milhares de quilômetros de distância. O impacto também causou um enorme maremoto que varreu todas as áreas costeiras do planeta.
Causou ainda inúmeros terremotos e erupções vulcânicas que expeliram lava (que destruiu extensas áreas do planeta) e gases tóxicos. Esses gases, juntamente com a poeira levantada pelo impacto formaram uma espessa camada ao redor de todo o planeta, que impediu a entrada de luz solar, talvez por alguns meses ou até anos. Sem a luz as plantas não podiam fazer fotossíntese e acabaram morrendo. Os dinossauros herbívoros, que necessitavam de enormes quantidades de plantas para se sustentarem acabarem morrendo de fome. Com tantas carcaças os carnívoros fizeram a festa. Só que o que é bom dura pouco. As carcaças acabaram e até eles sucumbiram. É o fim dos dinossauros.”
E se os dinossauros não foram, efetivamente, extintos do planeta?

Com o tempo, os dinossauros já bem próximos das aves podem ter finalmente desenvolvido o mecanismo de vôo.
Alguns acreditam que pequenos dinossauros arborícolas desenvolveram o vôo ao saltarem dos altos galhos das árvores. Inicialmente eles apenas planavam. Com o tempo aprenderam a bater as asas para voar verdadeiramente.
Há quem acredite, porém, que os dinossauros aprenderam a voar a partir do solo mesmo. Os carnívoros corredores como o Unenlagia batiam os braços para equilibrar-se e ter estabilidade. Com o tempo aprenderam a dar saltos para alcançar mais rápido as presas. Mais adiante teriam aumentado a distância dos saltos usando suas asas para planarem. A partir daí o próximo passo seria o vôo propriamente dito.

Pensar nessa teoria é muito interessante pois se ela estiver realmente certa então os dinossauros podem nunca ter se extinguido da Terra. Eles ainda podem estar entre nós..."

Quando olhar para um pomba ou pardal na rua, ou até mesmo para o periquito, papagaio ou canário que tiver em sua casa, pare e pense nisso... Você pode estar olhando para o último remanescente de um mundo há muito esquecido...

15 de abril de 2011

Carapicus e canhanhas

As pessoas de minha geração até hoje se referem a Rua Visconde Rio Branco, que vai do Bairro Ponta D’Areia até o Centro da cidade de Niterói, como sendo a “rua da praia”.Na minha infância, com efeito, antes do aterramento que fizeram, havia um pequeno trecho de praia. Um não, na verdade eram dois. Um deles, realmente praia, embora pequena e estreita ficava na altura da Rua Silva Jardim. A outra, também estreita, que fivaca mais para o centro da cidade, diante do antigo cinema Eden, tinha destinação específica.

Esta praia mais para o centro, defronte ao cinema, era utilizada pelos pescadores que ali estacionavam seus barcos e construíam barracas rústicas, onde guardavam apetrechos de pesca. O mercado de peixe ficava bem próximo. Logo, nunca poderia ser utilizada para banhos de mar. Com isso o trecho era ignorado como praia.

Entre estas duas faixas de areia, que com boa vontade chamavamos de praias, o mar avançava até o paredão da calçada, sendo que as ondas, antes de se chocarem com o aludido paredão, eram amortecidas por enormes pedras empilhadas e alí colocadas para tal fim.

Duas coisas precisam ser esclarecidas. Ao contrário da Rua da Praia de Porto Alegre, que termina no Rio Guaíba, a “rua da praia” de Niterói está localizada na orla marítima.

A segunda coisa que precisa ser dita, é que esta praia (aquela diante da Rua Silva Jardim) era muito suja, poluída e, logo, imprópria para banho, embora muita gente nela se banhasse: os que não podiam ir para Icarai, Boa Viagem, Charitas, ou São Francisco.

Onde entram os carapicus e as canhanhas, devem estar se perguntando. Em primeiro lugar o distinto leitor sabe do que estou falando (escrevendo)? Já ouviram falar de carapicu?

Estou me referindo a dois tipos de peixe, pequenos, abundantes naquele trecho de mar, costeiro a rua da praia. Abaixo, nas notas explicativas, mais detalhes sobre os mesmos.

Os carapicus, quando tirados d’água,  fisgados pelos anzóis denominados mosquitinhos, reluziam à luz do sol, em virtude de sua cor prateada.

Eram pescados com facilidade, porque em geral os cardumes eram enormes. Bastava jogar o anzol e puxar a linha, levantando o caniço e lá vinha um carapicu pendurado.

Como disse, antes do aterro, o mar vinha até a calçada oposta aquela onde se localizavam os cinemas e ainda hoje funciona o Colégio Plinio Leite. E até da calçada era possível pescar carapicus, embora o ideal fosse descer até as pedras que funcionavam como quebra-mar.

Já as canhanhas só eram fisgadas no quebra-mar localizado mais mar a dentro, e era preciso transitar por dependência da Marinha, para chegar até lá.

As canhanhas, ardilosas, quando inexoravelmente fisgadas, nadavam rapidamente para debaixo das pedras, onde se refugiavam, dificultando a puxada delas. Em alguns casos a linha chegava a se romper.

Lá, em mar um pouco mais profundo, instalados sobre as pedras que visavam abrandar a fúria do mar na maré alta, era possível pescar, também,  as famosas e populares cocorocas, cuja característica da qual me recordo, passados tantos anos, sessenta precisamente, era que as mesmas emitiam um som, um ronrosnado, ao serem tiradas d’água.

Nenhum destes peixes era considerado nobre. Mas eram devidamente degustados.

Certa feita, chegando em casa com uma fieira de carapicus .Abro parênteses para explicar o que vem a ser uma fieira de peixes, pois certamente meus netos nunca ouviram falar disso : para guardar e manter os peixes pequenos frescos, pois expostos ao sol secariam, o processo consistia em pegar um pedaço de barbante ( + ou – 50 cm) e nas extremidades amarrar um pedacinho de bambú, sendo um deles pontudo. Enfiava-se este pedacinho de bambu pontudo pelas guelras do peixe até que saisse pela boca. Pronto puxava-se até o final do barbante, onde o outro pedaço de bambu impedia que o peixe caísse. E asssim sucessivamente até que ao final da pescaria, tínhamos um grande fieira de peixes. Para conserva-los frescos, este barbante era mantido dentro d’água e a outra extremidade presa nas pedras.

Voltando à “certa feita” onde parei lá em cima, minha avó Etelvina, que estava conosco alguns dias, ao me ver chegar com a fieira de reluzentes carapicus ficou impressionada. E adorou come-los bem fritinhos.

Enfiei minha avó paterna na narrativa, porque a reação dela, moradora de São Gonçalo, que nunca vira peixes, senão os namorados comprados no tal mercado de peixe, que vez ou outra, num domingo, meu pai levava para comermos na casa dela, jamais esqueci. Fiquei orgulhoso com minha demonstração, ressaltada por ela, de bom pescador.

Aos 10, 12  anos de idade até mesmo uma fieira de carapicus, pescados facilmente, enchem-nos de orgulho, principalmente se a façanha foi alvo de encômios da avó.

Notas explicativas, extraídas do Aurélio:

Carapicu - Bras. Zool. Peixe actinopterígio, teleósteo, perciforme, gerrídeo (Eucinostomus gula), do Atlântico, desde a América do Norte à BA, de coloração prateada, dorso esverdeado, comprimento de até 0,14m e pequeno valor comercial; carapicupeba, acarapicu, carapicu-branco. [Cf., nesta acepç., carapicuaçu.]

Canhanha - Bras. Zool. Peixe, actinopterígio, teleósteo, perciforme, esparídeo (Archosargus unimaculatus), do Atlântico, de coloração esverdeada tirante ao plúmbeo no dorso e prateada no abdome, várias estrias no dorso, e uma placa circular negra na região escapular. Comprimento: até 0,33m. Alimenta-se de outros peixes. [Sin.: frade, guatucupajuba, mercador, salema, sambuio, sambulho, sargo.]

Cocoroca - Peixe teleósteo, perciforme, pomadasídeo (H. plumiere) de cor bronzeada, com listas azuis apenas na cabeça e parte anterior do corpo. [Sin. (nas acepç. 1 e 2): abiquara ou biquara, arrebenta-panela, boca-de-fogo, boca-de-velha, cambuba, capiúna, cocoroca, corocoroca, corocoroca-boca-de-fogo, corocoroca-mulata, crocoroca, macaca, negra-mina, pirambu, sapuruna, uribaco, xira.]

14 de abril de 2011

Mochilas

O sucesso e a quase unanimidade no uso de mochila só encontra paralelo na calça jeans e na t-shirt, que se tornaram febre mundial. A calça jeans entrou para nunca mais sair de moda. Um fenômeno.

Estou em Niterói, em abril de 2011. Fixados local e época, posso afirmar, sem medo de erro, que 80% dos homens, na faixa etária entre 15 e 45 anos de idade, utiliza e tem a mochila como um complemento essencial.

Observando, constato nas ruas, nos meios de transporte, nas escolas, nas universidades, no fórum, onde seja, que  principalmente os homens, mas também algumas poucas mulheres, aderiram definitivamenete à mochila.

Enquanto me dirijo ao escritório, caminhando pela manhã, vejo o desfile interminável de passantes usuários de mochilas. A maioria das mulheres prefere enormes bolsas que levam penduradas no ombro, quase equivalentes a uma mochila.

 Os padrões, cores, tamanhos, claro, variam, mas os mochileiros são muitas legiões.

O que fico me perguntando é o que estas pessoas, principalmente, como disse, homens, carregam no apetrecho, ou, no dizer baiano, breguete.

Cruzando com um que porta uma mochila enorme e estufada de tão cheia, e aparentemente pesada, por exercício mental imagino tratar-se de um peixeiro. Se fosse, estaria carregando um cação, dois robalos, cinco tainhas, três badejos e uns cinco quilos de corvina.

Um outro, de terno e gravata, que entra no elevador do Fórum, leva uma menor, mas igualmente cheia. Deve conter, imagino como diversão, todos os códigos: civil, penal, tributário, florestal e os mais existentes, e, ainda, os estatutos: dos idosos, do desarmamento, da infância e juventude, da pequena e média empresa, enfim, pelo menos metade das mais de milhão de normas legais vigentes no país.

Um outro caminha levando a casa completa nas costas. Tá certo, exagero. Mas pelo menos um guarda roupa completo ele leva: uma dúzia de camisas, três calças, cuecas, meias, lenços e sapatos. Coisa pouca, apenas para uma semana.

Santo deus! Que será, efetivamente, que estas pessoas levam às costas? São mochilas grandes, geralmente cheias e pesadas.

Bem, isto não é da minha conta. Mas é da minha conta, porque incomoda, a falta de educação generalizada destes usuários de mochilas. Safanões e empurrões são comuns em elevadores, ônibus e barcas.

Quando se viram nos elevadores, quando caminham no corredor do ônibus e, pior, quando tiram suas mochilas para sentar, invariavelmente esbarram nos vizinhos.

Gosto e imaginá-los caindo e, como já estão com a cangalha nas costas, nunca mais conseguirem se levantar, vivendo de quatro para o resto de suas vidas. E irão se adaptar bem, pois nasceram para quadrúpedes.

Meu filho caçula, professor concursado em Universidade Federal, também ele usuário de mochila, não deve concordar com minha implicância contra os mochileiros.

Todavia, compreensivo e tolerante, abro minhas exceções: para filhos e netos o uso está liberado.

Quousque tandem mochileiros...*


* Quousque tandem abutere Catilina patientia nostra? ou,  Quo usque tandem abutere Catilina patientia nostra.
A frase acima é a primeira do primeiro discurso do romano Cícero contra Catilina em 63 A.C., quando o famoso orador era Cônsul Romano.

12 de abril de 2011

Acreditem, sou testemunha ocular e auditiva

As vezes parece ficção, mas asseguro que não é. Eu não teria tanta inspiração.

A Fiat Lux, fabricante de fósforos, tinha uma fábrica no bairro de Neves, em São Gonçalo. A população conhecia a fábrica como “marca olho”, eis que era uma das marcas registradas da empresa. Provavelmente a marca de fósforos mais popular do país.

Vai daí que pequenos incêndios ocorriam vez ou outra. Num destes, o fogo ameaçava alcançar os relógios de ponto que estavam fixados numa divisória entre duas seções da fábrica. A brigada interna de incêndio, e operários da seção, combatia o fogo, quando alguém gritou: tirem os relógios!

Ariel, um dos operários, mais que depressa pegou seu Mondaine* retirou do pulso e o arremessou longe.

Na mesma empresa, num torneio interno de futebol de salão, Jair era técnico de uma das equipes. Se esguelava na margem da quadra e ficava rouco; e ninguém o atendia.

Ao final da partida comentou: no próximo jogo “vou trazer um porta voz”. Ele queria dizer um megafone.

Hermes Santos, advogado, professor e poeta, não necessariamente nesta ordem, trabalhava num banco cujo nome não declinarei pois o caso que vou narrar envolve traição de confiança e infidelidade. E pode causar constrangimentos.

Posso dizer que era (foi vendido depois) um banco pequeno. O banqueiro, mulherengo, tinha uma amante que trabalhava no banco.

Certa feita procurou o Hermes -  que, naquela época, antes de formado, também trabalhava lá - e perguntou se ele toparia alugar um apartamento, que seria uma garçoniere para seus encontros amorosos. Evidentemente que ele – o banqueiro – pagaria todas as despesas; o que ele queria era não se expor, preservar seu nome.

O Hermes topou, até porque já estava de olho na Anita, a tal amante, funcionária do banco. E era correspondido na paquera.

Para abreviar a história, Hermes inventou um nome para a Anita, que, utilizando-se do recurso do anagrama**, chamava de Tânia, e a quem se referia como se fosse sua namorada, inclusive com o banqueiro.

Bem, o Hermes começou a transar com a Anita, a quem se referia, como dito, como sendo Tânia. Chegou a ponto de pedir licença ao banqueiro para levar sua namorada Tânia ao apartamento para um encontro mais íntimo. E traçou a Anita, com todas as despesas pagas. Ficou com a mulher do cara, na garçoniere paga por ele e ainda bebeu um champagne que estava na geladeira.

Este mesmo personagem – Hermes – era professor no Colégio Nilo Peçanha, em Niterói.

Numa partida de futebol de salão entre alunos e professores criou-se uma celeuma sobre a marcação de uma penalidade a favor dos professores. O juiz era um professor. O jogo estava empatado e o penalty poderia decidir.

Muita discussão, cobra, não cobra. Até que o Hermes falou para o capitão da equipe dos alunos: - vamos acabar com a discussão. Aceita a marcação porque eu vou chutar para fora. O aluno, seja por respeito, seja por ingenuidade, topou.

O Hermes pegou a bola, colocou na marca do penalty, tomou distância, correu em direção a bola e... encheu o pé, fazendo o goal. Protestos dos alunos foram em vão.

Falta de caráter? Ele, professor de psicologia, tinha outra explicação.

A Rádio Mapinguarí funcionava em São Gonçalo. Numa partida entre o Mauá e o Tamoio, que disputavam o campeonato municipal, transmitida por narrador que torcia pelo Mauá, ouvimos a seguinte pérola: - Fulano avança com a bola pela direita, cortou seu marcador, entrou livre na área, vai chutar... PQP (pronunciou por extenso) bateu na trave. Segue-se um silêncio sepulcral e depois entram os comerciais.

Volto ao Hermes, para encerrar com o seguinte episódio, na já fase em que ele passou a advogar.

Ele havia sido procurado por um casal (conhecidos seus) que pretendia se separar judicialmente. Feitas aquelas considerações habituais,”vocês têm certeza que é isso mesmo que querem?”, e coisas que tais, acertaram os honorários, recebeu uma parte dos ditos honorários e pediu os documentos necessários que deveriam ser lavados ao escritório no dia seguinte. No dia seguinte, toca o telefone e o cliente conta para ele que depois de saírem do escritório, ele e a mulher foram para casa e refletiram muito sobre a situação, puseram tudo em pratos limpos e resolveram se dar uma nova oportunidade.

A reação do Hermes foi muito espontânea e explosiva: “vocês vão fazer besteira, não vai dar certo”. Esta reação tinha explicação lógica: ele ainda não depositara o cheque da primeira parcela de honorários e já tinha planos para aquele dinheiro.

Devolver? Nem pensar, já basta perder o saldo que não receberei.

Como diria aquele filósofo de frases vazias: “assim como são as pessoas, são as criaturas”.

* Poderia ser Tissot, Mido ou Technos.


** Um anagrama (do grego ana = "voltar" ou "repetir" + graphein = "escrever") é uma espécie de jogo de palavras, resultando do rearranjo das letras de uma palavra ou frase para produzir outras palavras, utilizando todas as letras originais exatamente uma vez. Um exemplo conhecido é o nome da personagem Iracema, claro anagrama de América, no romance de José de Alencar. (Wikipédia)

9 de abril de 2011

Os especialistas

Diante de catástrofes de causas naturais, de conflitos bélicos internacionais, de tragédias sanguinolentas que têm como personagem principal psicóticos de todos o gêneros, ou quando de pleitos eleitorais, surgem especialistas dos quais jamais ouvíramos falar, famosos quem (famous who?) que acabam por ganhar espaço na mídia conseguindo seus quinze minutos de fama. E heróis acidentais, ocasionais.

Comecei a prestar atenção neste fato, quando da guerra das Malvinas. E, mais tarde, na invasão do Kwait; e mais recentemente na invasão do Iraque.

Aparecem especialistas em armamento, que sabem não somente o nome dos mísseis e foguetes, se é que existe alguma diferença entre eles, como conhecem o alcance, a precisão de lançamento, seja a partir de bases móveis (porta-aviões), seja do espaço (aeronaves), seja ainda de bases terrestres.

Conhecem todos os tanques, os que rodam sobre pneus e os que avançam sobre lagartas, fazendo que se movam em terrenos inacessíveis a viaturas comuns.

Tomahawks, Scuds, mísseis balísticos intercontinentais de todas as origens (um míssil balístico intercontinental, ou ICBM, é um míssil balístico que possui um alcance extremamente elevado - maior que 5 500 km ou 3 500 milhas - normalmente desenvolvido para carregar armas nucleares - Wikipédia).

Miras telescópicas, armas químicas, torpedos, fuzis e metralhadoras de vários calibres, alcance e precisão, tudo, tudo isto, especialistas absolutamente deconhecidos, anônimos, conhecem em detalhes (quem  fabrica, desde que data, quem compra e quem vende).

Nas catastrofes naturais, como o recente terremoto seguido de tsunami no Japão, aparecem, do nada (para nós leigos), geógrafos, meteorologistas, engenheiros, pesquisadores (todas as áreas de conhecimento têm os seus), que nos explicam, detalhadamente, o que são placas tectônicas, porque periódicamente se movem, a energia que liberam em sentido vertical, a diferença entre terremoto e maremoto, a intensidade que atingem na escala Richter (veja nota de rodapé).*

Conhecem o solo, os solos, como se formaram, em que era, quais são as espessuras e grau de resistência. Enfim, humilham e realçam nossa ignorância na matéria.

A manchete da vez é esta  coisa bestial ocorrida no Rio de Janeiro, quando um portador de transtorno psíquico (esquizofrenia)** matou covardemente vários adolescentes, alunos da escola que frequentou no passado.

As causas do ato? Aí entram os psicanalistas, psicólogos, psiquiatras, antropólogos e afins, e nos explicam as diferanças entre os transtornos psíquicos, as carcterísticas comportamentais dos possuidores, tratamentos, reações e tudo o mais que  (não fora o fato de ter estudado medicina legal) jamais ouvira falar. Mas ampliei minhas informações, porque no curriculo da faculdade o assunto era tratado muito superficialmente.

Esta mesmo lamentável e brutal ocorrência, deu espaço para pedagogos, educadores genéricos, assistentes sociais e... heróis ocosionais.

Ficamos sabendo que as cenas presenciadas pelos adolecentes são traumatizantes, chocantes, e provacaram sequelas que poderão se manifestar em até quarenta anos. O que vemos, em todos os canais de TV, é um desfile de profissionais daquelas especialiadades supracitadas, todos a recomendar acompanhamento psicológico para os alunos sobreviventes, para os pais dos que faleceram vítimas da chacina e também para os professores. Há um consenso.

Entretanto, divergem e discutem se as crianças devem ser transferidas para outras escolas ou se devem permanecer na mesma da tragédia. E as opiniões divergentes são respaldadas por bons argumentos. Tanto os que defendem a idéia de que um novo ambiente escolar seria salutar, quanto aqueles que, ao contrário, entendem que é positiva a permanência no mesmo colégio, acabam por ter um pouco de razão.

Divergem também sobre a conveniência de aumentar normas de segurança, botando mais grades, detetores de metais e outras medidas. Há quem entenda que a escola há de ser o mais aberta possível. Não um prédio gradeado como um presídio. Especialistas também divergem e têm opiniões controversas.

Falam dos remorsos que alguns carregarão por um bom tempo, por não terem podido ajudar seus colegas, arrastando-os ou fazendo-os correr, ou quem sabe?, fazendo com que se deitassem ou se abrigassem atrás da porta. É, pode ser.

Recomendam providências, criticam o modelo, tudo genericamente, embora sejam especialistas.

E os heróis? É o professor que conseguiu proteger seus alunos trancando a porta da sala de aula e escorando-a com tantas cadeiras quantas as existentes no local.

È o dono de uma camionete que passando diante da escola naquele momento, socorreu vários feridos colocando-os na carroceria, levando-os ao hospital mais proximo.

È o policial militar que, contatado por aluno ferido, acorreu ao local da tragédia e atirou no assassino, atingindo-o e levando-o a se matar.

Tirante os heróis acidentais, que embora desconhecidos não são, necessariamente, profissionais, e muito menos especialistas, como seria o policial, todos os demais que mencionei são experts, peritos ou consultores.

Lembram dos períodos eleitorais? No dia da eleição e antes da apuração, surgem os estatísticos, os cientistas sociais, os jornalistas políticos, que analisam pesquisas, palpitam, fazem previsões sobre o perfil que terá o governo e, muitas das vezes, erram por muito.

São muitos os especialistas “nisto ou naquilo” que nadam por aí, anonimamente, até que chegue a vez de cada um deles aparecer e ter seu momento de brilho.

Este blog também tem sua especialidade : generalidades.

Notas:
* A escala Richter, que mede a intensidade dos terremotos, foi desenvolvida pelo sismólogo americano Charles Francis Richter e começou a ser usada em 1935. Um pêndulo, com oscilação controlada, é fixado em uma base de concreto que registra tremores em três direções: duas horizontais e uma vertical. A escala vai de zero a nove e os tremores fracos receberam valores próximos de zero. Cada unidade representa dez vezes a magnitude do tremor.


** A esquizofrenia (do grego σχιζοφρενία; σχίζειν, "dividir"; e φρήν, "phren", "phrenés", no antigo grego, parte do corpo identificada por fazer a ligação entre o corpo e a alma, literalmente significa "diafragma"[1]) é um transtorno psíquico severo que se caracteriza classicamente pelos seguintes sintomas: alterações do pensamento, alucinações (visuais, sinestésicas, e sobretudo auditivas), delírios e alterações no contato com a realidade. Junto da paranoia (transtorno delirante persistente, na CID-10) e dos transtornos graves do humor (a antiga psicose maníaco-depressiva, hoje fragmentada na CID-10 em episódio maníaco, episódio depressivo grave e transtorno bipolar), as esquizofrenias compõem o grupo das Psicoses[2]

Fonte – Wikipédia






7 de abril de 2011

Lady Sings the Blues

Hoje se comemora o aniversário de nascimento daquela que é considerada, por muitos, a melhor intérprete de jazz e blues de todos os tempos - Billie Holiday - apelidada Lady Day, por Lester Young, band leader com quem gravou mais de 50 canções.

Segundo os próprios músicos, a voz de Billie era um instrumento; o mais expressivo e sensual que o jazz conheceu, o mais emocionante e arrasador.


“Nascida Eleanor Fagan Gough, na Filadélfia, em 7 de abril de 1915, foi criada em Baltimore por pais adolescentes. Quando nasceu, seu pai, Clarence Holiday, tinha quinze anos de idade e sua mãe, Sarah Fagan, apenas treze. Seu pai, guitarrista e banjista, abandonou a família quando Billie ainda era bebê, seguindo viagem com uma banda de jazz. Sua mãe, também inexperiente, frequentemente a deixava com familiares.


Menina americana negra e pobre, Billie passou por todos os sofrimentos possíveis. Aos dez anos foi violentada sexualmente por um vizinho, e internada numa casa de correção para meninas vítimas de abuso.  Aos doze, trabalhava lavando o chão de prostíbulos. Aos quatorze anos, morando com sua mãe em Nova York, caiu na prostituição.”


Estas informações estão disponíveis no Google (Wikipédia), mas se a sua curiosidade vai além de querer saber que ela nasceu na Filedélfia, foi criada em Baltimore (Maryland), e que morreu aos 44 anos de idade, em New York, em 17 de julho de 1959, pode comprar o livro biográfico, lançado pela Editora L&PM Pocket, de autoria de Sylvia Fol, com tradução de William Lagos. Ou, se você domina bem o inglês, pode ler sua autobiografia, publicada com o título deste post.

Leia a aseguir uma ementa da obra de Sylvia Fol:


"Negra, pobre, prostituída, vulnerável e com uma voz lânguida e vigorosa,Billie Holiday (1915-1959) – desde as ruas do Harlem até as mais prestigiosassalas de espetáculo – lutou a vida toda para se impor. Sexo, álcool, drogas,Lady Day queria experimentar tudo. Foi no palco, cantando músicas que se tornariam clássicos, que ela viveu a única experiência verdadeira do amor. Seu nome virou sinônimo de jazz, e sua vida – numa época em que a população dos Estados Unidos estava dividida entre brancos e negros – foi um caminho para a liberdade".


Além da banda de Lester Young, cantou com as big bands de Artie Shaw, Count Basie, Duke Ellington e Teddy Wilson,  e apresentou-se ao lado de Louis Armstrong. Foi uma das primeiras negras a cantar com uma banda de brancos, em uma época de segregação racial nos Estados Unidos, nos anos 1930.


Muitos tentam qualificar sua voz, como etérea, flexível, levemente rouca. Eu sugiro ouvi-la e perceber a emoção em cada palavra, em cada verso. Segundo ela mesma : “Ninguém canta como eu a palavra ‘fome’ ou a palavra ‘amor’. Sem dúvida porque eu sei o que há por trás destas palavras”.


Sua característica mais marcante, que me chama a atenção, é que, deliberadamente, atrasava um pouco o fraseado, resultando num estilo interpretativo inconfundível.


No cinema foi representada por Diana Ross, com roteiro adaptado de sua autobiografia, publicada em 1956, com o título de Lady Sings the Blues. Estou seguro que se tivesse sido a Etta James, por exemplo, a retrata-la, teriam obtido um melhor resultado. No álbum  "Mystery Lady",  Etta James presta um homenagem a Lady Day, cantando canções de sua autoria, como "Don't Explain", ou que a dama da canção consagrou. Recomendo sem reservas.


Billie morreu de overdose, como dezenas de outros artistas que você conhece de cor, em especial do mundo do jazz.

Como visto, não acrescentei nada de novo; vale como informação sobre a biografia lançada pela  L&PM Pocket e, principalmente, por traze-la à lembrança. A melhor maneira de homenagea-la é ouvi-la. Escolha sua canção preferida.

6 de abril de 2011

Nelson Cavaquinho

Corria o ano de 1963. Eu, aos 23 anos de idade, era estagiário no Departamento Jurídico, da Companhia Fiat Lux, de Fósforos de Segurança, cuja sede, à época, ficava na Rua Visconde de Inhaúma, 134, num prédio bem próximo do Largo de Santa Rita, no Centro do Rio de Janeiro.

No lado oposto ao prédio onde funcionava a Fiat Lux, existia um bar e café, praticamente pegado à igreja da santa que dá nome ao largo: Santa Rita.

Certo dia, por volta das 7:30 ou 7:40 da manhã (o expediente começava às 8:00h) fui tomar um cafezinho no tal bar, coisa que não fazia diariamente, mas com certa frequência.

Neste citado dia, ao entrar - de paletó e gravata - fui abordado por um mulato, baixo, blusão para fora da calça, o que lhe conferia uma estatura menor do que a real, abraçado a um violão aparentemente grande, considerada sua altura.

A pergunta veio de chofre e exatamente como reproduzirei a seguir: - “Vai pagar um trago para o poeta?”

Passada a surpresa, respondi cheio de moralismo e conservadorismo atávico: - não é muito cedo para começar a beber? Pago um cafezinho, serve?

O homem não respondeu e afastou-se, deixando o bar.

O balconista ao vir me servir o café na xicrinha comentou: - “ele não está começando, está terminando a noite dele; deve ter passado por vários bares desde ontem.”

- E quem é, ainda que mal pergunte? Indago pedante (pela locução prepositiva) e ignorante (desconhecedor) a um só tempo.

- É o Nelson Cavaquinho*.

- Ah! Já ouvi falar, respondi e tomei meu cafezinho sem qualquer remorso ou vergonha, o que só veio a ocorrer muito tempo depois.

Quando, mais bem informado, tomei conhecimento da obra do “poeta”, como ele mesmo se intitulara, fui tomado de um grande remorso, que ainda hoje me acomete - sempre que lembro do episódio - e morro de vergonha pela ignorância do estudante e estagiário de Direito alienado em relação a cultura popular.

O destino não me deu outra oportunidade de encontro redentor.

Passados tantos anos (48, precisamente), ao invés de estar aqui, agora, arrostando minha falta de informação e meu remorso por não ter pago a pinga para Nelson Cavaquinho, poderia estar apregoando que paguei o último trago daquela noite que terminava às 7:40h, para o autor dos preciosos versos abaixo transcritos:

“Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca flor
Eu só errei quando juntei minh´alma à sua
O sol não pode viver perto lua”

* Wikipédia - Nelson Cavaquinho, nome artístico de Nelson Antônio da Silva, (Rio de Janeiro, 29 de outubro de 1911[1] — Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 1986) foi um importante músico brasileiro. Sambista carioca, compositor e cavaquinista na juventude, na maturidade optou pelo violão, desenvolvendo um estilo inimitável de tocá-lo, utilizando apenas dois dedos da mão direita.

5 de abril de 2011

Coisas inúteis

Para que serve um cartão de visita? Para muitas pessoas é um veículo importante.

Se você é um profissional liberal, entrega a um cliente em potencial para que ele possa fazer contato.

Ele é permutado entre empresários e/ou executivos, num ritual oriental, em seminários, congressos ou encontros de negócios. A finalidade é darem-se a conhecer e abrir canais de comunicação.

É entregue pelo contato de empresa (gerente, supervisor, ou mesmo vendedor), quando comparece a uma entrevista previamente agendada, na qual irá tentar vender ao big boss, produtos ou serviços da empresa que representa.

Políticos utilizam. Muita gente usa e precisa. Mas há casos em que o cartão seria mais do que desnecessário, seria inútil, absurdo, até mesmo risível só de pensar.

Quer um exemplo? O Papa, o que faria com um cartão de visitas?

Hipótese um: Vindo ao Brasil, ao chegar no Rio de Janeiro iria procurar o Cardeal Arcebispo e, ao chegar à casa de sua eminência reverendíssima, entregaria seu cartão ao mordomo que viesse recepcioná-lo e pediria que fosse anunciado. Hipótese dois: Em visita a Londres, iria o Papa até Buckingham e entregaria no portal do palácio o seu cartão pedindo para verificar se a rainha poderia recebe-lo.
Hipótese três: o Papa recebe Lula, no Vaticano, em encontro privado, e na saída deste ao término da visita, o Papa lhe entrega o cartão de visita com o comentário: “me liga para marcarmos uma cervejada”.

Ao que tudo indica um Papa não precisa de cartão de visitas, não é mesmo?

Mas existem outras inutilidades que nos afrontam e nos impingem, e como ninguém reclama vão se consagrando e arraigando.

Existem muitas destas inutilidades, mas uma que me irrita em especial é a função de comentarista de arbitragem. Ora, quem acompanha futebol conhece as regras. Ademais, hoje em dia as transmissões nos oferecem um festival de imagens, tomadas de vários ângulos, e são utilizados recursos eletrônicos que permitem demarcar a linha do impedimento, ou a distância da barreira em relação a bola, nas cobranças de faltas.

Ainda assim alguns árbitros aposentados comentam o lance, muitas das vezes de forma apaixonada, explicitando bairrismo, contrariando a imagem e , várias vezes, a sua (your) opinião pessoal.

E de que vale a opinião do comentarista de arbitragem? O juiz do jogo altera o que marcou? Invalida um goal porque o Arnaldo Cesar da vez tem opinião diferente?

As opiniões destes comentaristas não servem, sequer, como depoimentos de defesa em tribunais de justiça desportiva. Já imaginou, num julgamento, o advogado de defesa do jogador agressor, expulso da partida, dizer para os auditores que “foi injusta e expulsão”, segundo a opinião do José Roberto Wright?

E nas discussões das segundas-feiras, ninguém que tenha visto o jogo confia mais na opinião do comentarista do que na sua própria.

Quando eu pensava que a inutilidade do comentário de arbitragem era o limite da falta de imaginação das emissoras de TV, vem a Globo e inventa umas historietas, sob o título de “Paixão do Torcedor” que me irritam pela inutilidade, falta de graça e idiotice. Ainda bem que aproveito para fazer xixi.

3 de abril de 2011

A palavra é ...

Certas palavras definem uma pessoa, um povo, uma situação.

Se havia dúvida, e eu tinha algumas - por ignorância pessoal, falta absoluta de cultura – de que os japoneses preferem a morte do que viver em desonra, esta última catástrofe que assolou o país, eliminou todos os resquícios de cepticismo, de descrença, de desconfiança.

Foi há poucos anos, com a leitura do “Shogun”, do James Clavell*, que tive aguçada minha curiosidade pela filosofia oriental, e foi com o comportamento do povo japonês diante do maremoto, seguido de tsunami, que provocou milhares de mortes e bilhões em perdas materiais, que eliminei dúvida de que eles são um povo com muita dignidade.

O que vemos nas imagens dos telejornais, o que lemos na imprensa, o que relatam os correspondentes internacionais, deixa patente a coragem, a solidariedade, o respeito e amor ao próximo, a civilidade, a honradez do povo japonês. Se tivesse que escolher uma palavra para defini-los, esta seria DIGNIDADE. Que inveja!

E porque inveja? A inveja se manifesta em ocasiões como a que vivemos recentemente, quando a mais alta corte de justiça do país, contrariando talvez o desejo de boa parte da sociedade, decidiu ser inaplicável no ultimo pleito eleitoral a lei chamada de ficha limpa. Não importa o clamor popular, não importa nosso anseio, mesmo que nobre, pois nada justifica o atropelamento da Constituição. O respeito às leis, em especial a maior delas, é pilar da democracia. A decisão, juridicamente, está correta.

Alguém pode perguntar onde entra a inveja neste episódio. Responderia que me envergonho de um sujeito condenado por apropriação de dinheiro público, muito dinheiro (consta que 1 bilhão de reais), que chegou a ser preso e algemado, tenha recebido, nas urnas, 1 milhão e 800 mil votos, ou, em última análise, a aprovação de seus atos pelos mesmos cidadãos aos quais privou de assistência médica mais efetiva, mais escolas para as crianças e moradias humanas.

A palavra para definir estes eleitores seria DESAVERGONHADOS. Um povo com vergonha na cara não elegeria um salafrário do quilate de Jader Barbalho. E outros da mesma laia, mesma estofa.

Precisar de lei que restrinja a candidatura e a posse de condenados criminalmente, significa falta de vergonha do povo. A população deveria fazer a triagem, independentemente de lei.

Há 9 anos, apareceu no cenário político nacional um senhor de fala mansa, coragem e desprendimento para criticar ações do governo do qual participava, sem que tal caracterizasse rebeldia ou deslealdade para com o presidente da republica. Que assumindo em várias oportunidades a presidência do país, sempre se comportou, naquele papel, de maneira sóbria, discreta e elegante. Que enfrentou com coragem e persistência um câncer devastador. E que me fez admira-lo, não só pelas atitudes, mas também pelas palavras. É dele, e guardarei na memória a frase: “não tenho medo do câncer, tenho medo da desonra”.

Uma palavra definiria José Alencar – EQUILÍBRIO.

                                                            Requiescat in pace.

N do A: nas entrevistas, nas reportagens, o que vemos é muita serenidade, muita confiança no futuro, muita disposição para a reconstrução, muito respeito mútuo, muita dignidade. E com um fantasma de contaminação nuclear rondando suas mentes.
Será que algum dia, no Brasil, diante de uma tragédia coletiva, o comércio reduziria o preço de gêneros alimentícios e produtos essenciais, em nome do bem estar dos mais desvalidos? Pois lá aconteceu.

* Link para resumo da obra http://en.wikipedia.org/wiki/Sh%C5%8Dgun_(novel)

1 de abril de 2011

Continuo achando...

Uma piada muito antiga, e bota antiga nisso, mencionava uma gíria já inteiramente fora de uso: rosetar.

Segundo o Aurélio tem os seguintes significados: Bras. Gír - Divertir-se à larga; folgar. Bras. Gír. - Divertir-se com pessoa do sexo oposto.

Vai daí que numa pequena cidade do interior, de população beata e costumes e tradições extremamente conservadores, um gaiato qualquer, mulherengo, tendo comprado um automóvel, mandou escrever no pára-choque a frase “eu quero é rosetar”.

Indignação total entre as vetustas senhoras, que procuraram o padre e se queixaram.

Este nada podia fazer senão utilizar o púlpito da igreja para recriminar o sacana.

Procurado, o delegado alegou não haver “dispositivo legal aplicável à espécie”, eis que sequer ele usava palavras de “baixo calão” , os chamados palavrões. E sugeriu que fossem ao prefeito, ou melhor, à primeira dama, pois certamente também ela não estaria satisfeita como aquela indecência.

O prefeito, instigado pela mulher,  foi categórico, ameaçando não renovar a licença anual do veículo.

Outra alternativa não restou ao proprietário, o tal safardana, senão mandar apagar a frase “eu quero é rosetar” que mandara gravar no pára-choque.

E foi assim que passados dois dias, está o sacana desfilando com seu automóvel pelas ruas e no pára-choque escrito: CONTINUO QUERENDO.

Lembrei desta história hoje pela manhã, indo para o escritório. Chuviscava, e não havia como aproveitar as marquises para não me molhar. Debaixo delas, uma infinidade de motocicletas que além de impedir o livre trânsito na calçada, levava os transeuntes, ao se desviarem das motos, exatamente para debaixo das goteiras das marquises, molhando ainda mais.

Continuo odiando motoqueiros. Este assunto é recorrente, e está, entre outros posts, em
http://jorgecarrano.blogspot.com/search?q=mochilas+e+motocicletas

E, antes que me esqueça, mochileiros também. Em alguns casos, a julgar pelo portador, não se trata extamente de mochila, mas de cangalha.